Solução para a falta de credibilidade do governo é regular as redes sociais?

Charge do Laerte (Folha)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Ainda é difícil quantificar o dano que a polêmica do Pix causará à popularidade do governo Lula. A repercussão negativa tomou o Brasil. Nas redes, nos táxis, nas redações; onde você vai, encontra alguém preocupado com o Pix; muitos já preferem negociar em dinheiro.

Defensores do governo atribuem esse receio às fake news. Se ao menos as redes —e, imagino, o WhatsApp— fossem severamente regulamentados, a mentira de que o governo criou uma taxa do Pix teria morrido no berço. As plataformas seriam obrigadas a deletar os posts com erros sobre a instrução da Receita.

FAKE NEWS – Na onda de críticas, há sim fake news. Mas nem todas as críticas podem ser classificadas assim. Muitos dizem que o governo, embora ainda não tenha criado uma taxa, no futuro criará. E há ainda quem alegue que, com as informações mais abrangentes do Pix, a Receita prepara uma investida contra trabalhadores informais.

Em qualquer fake news específica, mais importante do que a oferta —quem criou a primeira mensagem dizendo que o governo cobraria taxa do Pix, algo trivial— é entender a demanda; ou seja, por que uma fake news “pega”.

Lembremos que, no governo passado, Paulo Guedes defendeu literalmente um imposto sobre o Pix e demais transações. E, no entanto, isso não colou nele, porque não havia a percepção de que o governo estava ávido por arrancar mais moedinhas do cidadão comum.

AO CONTRÁRIO – Com o governo Lula, ocorre o oposto. Ao longo dos últimos dois anos, o governo se esmerou em arrecadar mais. Não criou novos impostos ou taxas, mas fechou uma série de exceções e brechas tributárias, inclusive sobre cidadãos comuns.

Foi no contexto da “taxa da Shoppee” que a própria primeira-dama veio a público garantir que consumidores não pagariam taxa nenhuma, apenas as empresas. O tempo mostrou que —óbvio!— os consumidores pagam a taxa sim. Se lá atrás o receio popular mostrou-se correto, por que agora não seria?

Meses atrás, centenas de memes com Haddad e taxas em nomes de filme rodaram a internet. O medo de que ele taxe o Pix ou feche o cerco contra trabalhadores informais alimenta a discussão sobre o monitoramento da Receita.

OUTROS EXEMPLOS – É comum que erros e mentiras se misturem ao debate de propostas. Ano passado, acusou-se o Congresso de querer “privatizar as praias”. Nada no projeto propunha privatizar praia alguma. No governo Bolsonaro, a proposta do voto impresso era criticada por supostamente destruir o segredo do voto ao permitir que o eleitor levasse o comprovante para casa. Isso jamais fora proposto, mas sempre volta para turvar o debate.

Curiosamente, em nenhum desses casos ouvimos brados indignados pela regulação das redes contra “fake news”. Pelo contrário: cabia aos defensores mostrar que os críticos estavam errados. E é assim mesmo que tem que ser.

GRAÇAS AO DEBATE – Agora, quando o alvo é o governo Lula, propor a supressão de parte do discurso da oposição é quase um sinônimo de lutar pela democracia.

É justamente no debate, e graças ao debate, que a população passa a conhecer temas politicamente relevantes. O debate público real não é e jamais poderá ser uma fria troca de análises técnicas. Nele estão presentes intenções, projeções, exageros, equívocos e, infelizmente, até mentiras.

Cabe ao governo melhorar sua comunicação e sua credibilidade, e não colocar suas esperanças numa regulação draconiana para suprimir vozes contrárias.

21 thoughts on “Solução para a falta de credibilidade do governo é regular as redes sociais?

  1. A falta de credibilidade do Lula é diretamente relacionada com o fato de ninguém ter cacife de ganhar uma eleição dele.
    A não ser por Lawfare.
    Essa é a realidade, podem se DIVERTIR com fakes a vontade.
    Os Shopings lotados e as churrasqueiras cantando.

    • O Lula só foi eleito pela censura imposta contra a direita. Num país onde quase setenta por cento população se diz de direita e onde o PT conseguiu eleger míseros cinco por cento dos prefeitos a eleição do Lula em 2022 soa, pelo menos, estranha. O grande problema do PT é que já sabem que com ou sem o Ladrão a disputa está praticamente perdida. O Lula é um morto insepulto e não existe ninguém para substituí-lo.

      • Senhor Paulo, vou-me permitir uma correção de uma declaração sua porque parece que já foi repetida mais de uma vez.
        Me refiro à sua afirmação de que Lula teria sido eleito em consequência da censura imposta contra a direita. Censura imposta por quem? O que eu sei é que a direita bolsonarista era governo e dominava a mídia e se eu estou bem lembrado a única manifestação similar à censura, foi a formidável conspiração e campanha contra a urna eletrônica.
        Assim eu acho!

  2. Dez comentários descascando em cima do status quo institucional e um ponto fora da curva, mas uma ideia ou uma sugestão para mudar algo, como sempre, NADA!
    Então? Assim continuaremos!!!

    • Começo, eu. Temos que começar destituindo o STF pois todos os membros foram indicados por corruptos e lá estão, para proteger os seus afilhados. O término da Lava Jato começou quando ela chegou nos caciques políticos e em alguns membros do STF. De lá para cá o que o STF produziu de bom?

      • MAS, SÓ ELES?
        Quanto à culpabilidade absoluta, que os senhores jornalistas, comentaristas e palpiteiros abusados atribuem aos ministros do STF, mesmo concordando integralmente no que se refere aos seus ocasionais comportamentos indignos e venais, gostaria de colocar um outro raciocínio.

        Eles, ministros, são responsáveis, logicamente, pelos seus julgamentos, atitudes e comportamentos, mas não são responsáveis por serem ministros.

        Seriam os presidentes da república que os escolheram para advogados particulares pagos pelos de sempre, nós?

        Também não, não poderiam fazê-lo se não tivessem uma licença legal para isso.

        E quem concedeu essa licença? Os de sempre, os senhores parlamentares, desta vez, ilustres constituintes, mas como sempre, legislando em causa própria e contra o infeliz povo brasileiro.

        Então? Fazer o que? Mobilização intensa e continua no sentido de conscientizar o povo de que é imperativo mudar a estrutura legal que garante a impunidade dessa odiosa máfia, fazê-los entender que nós somos os patrões que os escolhemos pelo voto e pagamos seus salários e mordomias e com certeza os substituiremos se não ficar satisfeitos com os serviços prestados.

        Mobilização, fiscalização e cobrança, esses têm que ser os objetivos desta tão sofrida sociedade e não saber quem é mais bonito, Lula ou Jair.

        Um Velho na Janela
        Enviado por Um Velho na Janela em 08/11/2021

    • Sr. Francisco.

      Tenho uma sugestão para todos os problemas do país, mas como causa pânico entre os comentaristas não citarei.

      Então fico com sua sugestão citada aqui algumas mensagens atrás.

      Aquele abraço.

  3. O governo Lula tem o menor número de Ministérios funcionando e bem aquém de como deveriam funcionar.

    Os ‘ministérios’, na sua maioria, existem apenas no papel servindo de ‘cabide de emprego’ e atuando como comitês eleitorais’ de campanha para reeleição de Lula ou para eleição de filiados de partidos que são seus ‘donos’.
    Alguns ‘ministérios’ do atual governo nunca existiram de fato como tais (é só olhar a relação dos mesmos e confirmar o número de inúteis) e outros foram deixando de existir nesses dois anos, como o Ministério do Meio Ambiente, cuja ‘ministra’ Marina também já desapareceu há algum tempo.

  4. O governo Lula tem o menor número de Ministérios funcionando e bem aquém de como deveriam funcionar.

    Os ‘ministérios’, na sua maioria, existem apenas no papel servindo de ‘cabide de emprego’ e atuando como comitês eleitorais’ de campanha para reeleição de Lula ou para eleição de filiados de partidos que são seus ‘donos’.

    Alguns ‘ministérios’ do atual governo nunca existiram de fato como tais (é só olhar a relação dos mesmos e confirmar o número de inúteis) e outros foram deixando de existir nesses dois anos, como o Ministério do Meio Ambiente, cuja ‘ministra’ Marina também já desapareceu há algum tempo.

  5. O que é um petralha senão uma ave de rapina com malas e cuecas abarrotadas?
    O apoio dos convertidos é fundamental inclusive para censurar as mídias sociais, isso garante que mazelas e trambiques não sejam denunciados.

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