
Flávio disputa para preservar o capital político da família
Pedro do Coutto
O lançamento da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República, não foi apenas um movimento inesperado — foi um terremoto político com ondas sísmicas que redesenham, de imediato, todo o cenário sucessório. A decisão do ex-presidente não só desloca potenciais candidatos do campo conservador, como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Eduardo Leite, como também fecha portas que, pela legislação eleitoral, estavam prestes a se estreitar.
Para quem acompanha política há décadas, fica evidente que o gesto não é improviso: é cálculo estratégico, é sobrevivência, é antecipação de riscos. Pela legislação eleitoral, governadores que desejem disputar a Presidência precisam renunciar até seis meses antes do pleito — abril de 2026.
LIMITADOR – Essa exigência sempre pesou, mas no atual contexto se torna quase um limitador absoluto. Renunciar ao governo para entrar em uma disputa incerta é um salto no escuro, especialmente quando o candidato concorreria com o peso do bolsonarismo dividido, com Flávio já no páreo e com Lula praticamente garantido no segundo turno, segundo todas as projeções de institutos como Datafolha e Ipec, que consistentemente mantêm o presidente em patamar elevado de intenção de voto e rejeição estabilizada. O “campo de manobra” para os governadores, portanto, encolheu subitamente.
A candidatura de Flávio Bolsonaro, ao contrário do que alguns analistas sugeriram, não é um balão de ensaio. Jair Bolsonaro não arriscaria lançar algo tão sensível apenas como teste, sobretudo num momento em que enfrenta o desgaste acumulado pelos processos judiciais, pela inelegibilidade e pela perda de centralidade eleitoral.
SOBREVIVÊNCIA – Se fosse tática momentânea, corroeria a própria autoridade do ex-presidente. Não, a candidatura é para valer, ainda que não se saiba até onde pode ir. Flávio não disputa para vencer — disputa para sobreviver, para preservar o capital político da família e, de alguma forma, manter viva a chama do movimento que o pai liderou.
Mas, ao entrar no jogo, Flávio cria mais obstáculos do que soluções. Ele não só enfrenta a sombra pesada de Lula — que, salvo uma ruptura absolutamente improvável, estará no segundo turno — como disputa a mesma fatia do eleitorado conservador com figuras experientes e posicionadas em seus estados.
E há mais: enfrenta o próprio passivo judicial. A “rachadinha” na Alerj, o caso da loja de chocolates, a compra de imóvel subfaturado em Brasília e, sobretudo, o simbolismo de ser o herdeiro de um líder inelegível. Embora juridicamente isso não o impeça de concorrer, politicamente fragiliza seu discurso e fornece munição abundante aos adversários.
CONTRAPÉ – O Centrão, que historicamente se orienta por cálculo e sobrevivência, foi pego no contrapé. A expectativa de lançar um nome próprio — Ciro Nogueira, por exemplo — evaporou. A desincompatibilização eleitoral esvazia o estoque de governadores disponíveis e empurra o bloco para um beco limitado: apoiar Flávio, apoiar Lula ou tentar fabricar um nome improvável.
Nenhum dos caminhos parece simples. Ao lançar Flávio, Bolsonaro retirou do Centrão a prerrogativa de arbitrar o candidato do campo conservador. A reação interna, silenciosa, é de frustração: o bloco perdeu o protagonismo antes mesmo de entrar no jogo.
No meio das tensões da direita, surgiu ainda um movimento surpreendente na base institucional do Congresso. Davi Alcolumbre, presidente do Senado e figura-chave na engrenagem política de Brasília, fez um elogio enfático a Lula em evento no Amapá, onde o governo federal anunciou repasses expressivos ao estado.
DESORIENTAÇÃO – O gesto desorientou a oposição. Alcolumbre não apenas valorizou o presidente — fez isso diante de sua base local, conferindo a Lula um capital simbólico que ultrapassa o palanque imediato. Foi uma antecipação dos fatos, um aceno calculado num ambiente em que alianças se formam com base em resultados concretos, não em narrativas. Depois de um elogio daquela magnitude, não há espaço para recuos elegantes.
Esse episódio adiciona uma camada de complexidade ao quadro: se setores do Senado começam a se aproximar do presidente, a oposição perde âncoras estratégicas e reduz ainda mais sua musculatura para 2026. E, com as desistências forçadas de governadores — ou, ao menos, o estreitamento dramático das possibilidades —, o terreno fica ainda mais favorável a Lula, que caminha com vantagem estrutural e sem adversários consolidados.
NUVEM – A política, como lembrou o senador Mário Covas em frase tantas vezes repetida, é como nuvem: muda de forma e direção a qualquer instante. Mas o movimento de Bolsonaro não foi uma nuvem — foi uma muralha erguida no meio do caminho. Ele ingressa no tabuleiro não só como fato político, mas como limite estrutural imposto à própria reorganização das forças conservadoras. A entrada de Flávio, somada às restrições legais aos governadores e ao enfraquecimento do Centrão, estreita perigosamente o espaço da direita para construir uma candidatura competitiva.
A sucessão de 2026, que até poucas semanas atrás parecia aberta, agora se fecha de maneira abrupta. O gesto de Bolsonaro redefiniu o jogo — mas não necessariamente a seu favor. A depender do desempenho de Flávio, o que está em jogo não é apenas uma eleição, mas a própria sobrevivência política do bolsonarismo. Se o senador for derrotado de maneira acachapante, o movimento pode perder dimensão nacional e se recolher a nichos estaduais. Se chegar ao segundo turno, mantém-se vivo. É uma aposta alta, talvez alta demais, num tabuleiro em que o tempo — o mais implacável dos fatores — joga contra.
O quadro está montado: Flávio corre para garantir o futuro do clã; os governadores hesitam porque o relógio eleitoral não perdoa; o Centrão perdeu o barco; Lula navega com vento a favor; e Alcolumbre antecipa movimentos que podem reconfigurar o equilíbrio institucional. Entre miscalculations e atos de autopreservação, a política brasileira entra em 2026 com menos espaço para improvisos — e com um futuro em disputa mais estreito do que parece.
Se a promessa/compromisso for “encher o caixa” para satisfazer os próximos corruptos, estará eleito com os votos da ávida oposição!
Onde estão nossas reais forças armadas?
https://youtu.be/zHGOqVGkMio?si=vtYeu2ueenrS5NL4
Sobre política e nuvens, não foi Mário Covas o autor, mas Magalhães Pinto.
SR. PEDRO DO COUTO , COMO ANALISTA O SENHOR É UM ZERO A ESQUERDA, SAÍ DA SUA BOLHA E VÁ A RUA SABER O QUE GRANDE PARTE DO POVO JÁ SABE. LULA É LADRÃO E NÃO ENFRENTA O POVO DESDE 2007, NA CELÉBRE VAIA QUE LEVOU NO MARACANÃ, NAQUELE PANAMERICANO NO RIO DE JANEIRO.
Concordo!
É melhor votar numa família honesta e ilibada, que tem como lema: Deus pátria e família,.
Esses aí não roubam, né?
Jamais pegaram um centavo do erário público.
Por favor, retire os antolhos e seja imparcial.
O Lula é um ladrão e a família Bolsonaro, também e ladrona.
Além de tudo, respeitam a Democracia como ninguém. rsrs…
Talvez, a micheque seja a melhor opção, essa com certeza, é honesta. nunca se envolveu com cheques do Queiroz, jóias, Carpas, moedas roubadas do espelho d’água do planalto e vem de uma família aristocrática. rsrs
Confia!
José Luis
Ao ungir Flávio Rachadinha, o ex-mito mostra que sua prioridade não é derrotar Barba. O plano é evitar o fechamento da franquia familiar, mesmo que isso signifique perder a eleição de 2026.
Fonte: O Globo, Opinião, 07/12/2025 02h35 Por Bernardo Mello Franco