Pedro do Coutto
A pesquisa que o Instituto Sensus realizou para a Confederação Nacional dos Transportes, publicada nos jornais de ontem, a melhor edição foi a de O Estado de São Paulo, matéria de Daniel Bramatti, apresenta uma lacuna que certamente contribuiu para distorcer as intenções de voto para presidente da República em 2010.
Trata-se da ausência de Ciro Gomes do palco central e mais provável da disputa. Seu nome foi colocado num cenário alternativo no qual a ministra Dilma Roussef está ausente. Prejudica a visão dos números. Pois a eleição, como se sabem é em dois turnos e vão para o desfecho final os dois mais votados no primeiro.Neste, claro, ninguém vai conquistar a maioria absoluta.
Todas as pesquisas até agora revelam esta impossibilidade. Há cerca de um mês o Datafolha fez u8m levantamento destacando José Serra, Dilma Roussef, Ciro Gomes, Heloisa Helena e Marina Silva, cujo nome surgia pela primeira vez logo após sua saída do PT e o ingresso no PV. Serra na frente com 36%, agora com 39 para o Sensus.
Mas a diferença de Dilma em relação a Ciro era de apenas um ponto: 16 a 15. Heloisa Helena registrava 12%. Tem lógica substituir Heloisa por Marina. Mas não a chefe da Casa Civil pelo ex governador do Ceará. Isso porque, hoje a questão que se coloca é uma só: quem irá ao segundo turno contra Serra?
O panorama, ao longo dos meses, apresenta-se sem maiores oscilações. Quando nas cogitações o governador Aécio Neves entra no lugar do chefe do executivo paulista, o favoritismo do PSDB cai à metade. Porém esta mudança é válida para comparar a força de Serra com a de Aécio Neves. A de reverzar-se os nomes de Dilma e Ciro é que não tem sentido. Obscurece o quadro de análise.
Em matéria de interpretação de pesquisa, como digo sempre, é preciso ter cuidado com os números, as tendências, as alternativas. Podem iludir e ofuscar a percepção do tema. É natural que para o presidente Lula seja importante afastar Ciro Gomes, tanto assim que o convidou para ser candidato a governador de São Paulo pelo PT, mas para efeito de aferir os impulsos da opinião pública a recíproca não é verdadeira.
Estamos falando de política. E em matéria de política, não podemos nos afastar da realidade sempre balizada pela opinião pública. O povo pode não ter o poder de veto em relação a uma série de questões que acontecem por aí. Mas tem o poder do voto que, no fundo da questão, decide tudo.
Voltando ao projeto do presidente da República, ele tenta, é claro, transformar a sucessão do ano que vem numa opção entre ele e as correntes anti Lula. Um plebiscito. Pode vencer assim. Até porque o índice hoje alcançado por José Serra é quase o mesmo daquele que registrou no segundo turno de 2002: teve 38 pontos, enquanto Lula atingiu 62%. Quatro anos depois, Geraldo Alckmim perdeu para o mesmo Lula por 61 a 39. Como se observa, a escala que vai de 38 talvez a 40 parece ser uma constância básica das oposições lideradas pelos tucanos.
Entretanto, as forças eleitorais não são imutáveis. Se assim fosse, o poder não perdia eleições no mundo. E isso não acontece. Por isso, quando se analisam tendências, tem que se levar em conta a parcela que depende da capacidade de atração dos candidatos. É mais importante do que as legendas partidárias. Mas esta é outra questão. No caso, relativamente ao Sensus, a não colocação de Ciro no palco central distorceu as intenções atuais de voto. Uma pena. Que fazer? Nada.