Carlos Chagas
Caso não tenha sido adiada, a reunião da bancada do PT no Senado, hoje, servirá para expor ainda mais as convulsionadas entranhas do partido. Porque poucos duvidam de que os companheiros confirmarão, em maioria, a vontade do presidente Lula de preservar e blindar o senador José Sarney na presidência da casa. Será mais uma capitulação aos desígnios do trono, mas sob risco de quatro senadores marcarem posição contrária, ainda que submetendo-se à decisão dos demais.
Tião Viana, Marina Silva, Paulo Paim e Eduardo Suplicy mostravam-se, ontem, dispostos a opinar contra a capitulação, que haviam antecipado no fim de semana. O primeiro numa entrevista à revista “Veja”, a outra em artigo assinado ontem na “Folha de S. Paulo” e os outros dois em sucessivas afirmações a jornalistas – eles discordam dos demais, insistindo no afastamento temporário de Sarney. Mas conformados em ser derrotados.
Correm perigo, os quatro, cujo signo não exige as investigações de Sherlock Holmes nem a imaginação de Connan Doyle. Porque contarão com a já manifesta má vontade do presidente Lula diante de dissidências. Se já eram mantidos numa espécie de quarentena virtual, mais serão isolados em seus planos para o futuro. São todos pré-candidatos aos governos de seus estados, Acre, Rio Grande do Sul e São Paulo, mas precisarão esperar sentados caso imaginem contar com o apoio do palácio do Planalto. Mesmo sua reeleição para o Senado sofrerá percalços.
Lobisomem de papel
A moda não é nova, vem de tempos imemoriais: sempre que algum potentado quer reafirmar seu poder, cria inimigos fictícios ou, pelo menos, sem a força a eles atribuída. O objetivo é unir suas bases, impondo-lhes maior sujeição e sacrifícios adicionais, sob a argumentação de estarem a um passo da dissolução e do malogro de seus brilhantes objetivos.
Assim acontece, hoje, com o presidente Lula e as oposições. Estas, coitadas, não valem um centavo do medo que o governo alega ter delas. Jamais conseguiriam desestabilizar a administração de quem dispõe de 80% de popularidade. Muito menos implodiriam a Petrobrás, se a CPI viesse a funcionar. Sequer Marconi Perilo, se ficasse alguns dias substituindo Sarney, conseguiria abrir a caverna do Ali Babá em que se transformou o Senado. Não é por aí, também, que a candidatura Dilma Rousseff seria abalada, na hipótese da licença do ex-presidente da República.
Mesmo assim, prevalece o pretexto, ou melhor, a sombra do lobisomem de papel, conveniente para a manutenção da monolítica estrutura de poder construída pelo grande companheiro.
Tucanos, democratas e ex-comunistas, juntos, não arranham sequer a pele da aliança que mantém o Lula no ápice da pirâmide, ainda que essa impressão venha sendo passada todos os dias por ele mesmo.
Indefinições mineiras
Tornando-se ou não candidato à presidência da República, Aécio Neves enfrenta razoável problema em Minas, quando se trata de sua sucessão. Embolou o meio campo. Alberto Anastásia, Hélio Costa, Eduardo Azeredo, Patrus Ananias, Fernando Pimentel e quem mais aspira subir as escadas do palácio da Liberdade? A quem o atual governador apoiará, já que mantém excelentes relações com todos? Agradar a um equivalerá desagradar os demais, coisa capaz de influir em seus planos de subir a rampa do palácio do Planalto.
As Gerais costumam surpreender, para quem consegue olhar um pouco adiante das montanhas. Seria a prorrogação de todos os mandatos por dois anos, até 2012, uma solução capaz de ser aceita por Aécio? Ao menos, ganharia tempo e espaço para enfrentar José Serra e deixar que as candidaturas à sua sucessão decantassem um pouco mais.
A oração de Demóstenes
Sem chegar aos dotes oratórios de seu homônimo grego, o senador Demóstenes Torres saiu-se com invulgar diagnóstico a respeito de mais uma dessas lambanças que assolam o país.
Porque no fim acabará sobrando mesmo a biografia escolar e política do Lula como a mais fiel aos fatos. O grande companheiro não se cansa de apregoar que só freqüentou o curso primário e mais uma escola técnica, para virar torneiro-mecânico e, depois, presidente da República. Não conquistou diplomas universitários nem obteve mestrados e doutorados.
Ao contrário de Dilma Rousseff, Celso Amorim, Fernando Henrique e quantos mais que tem apresentado em seus currículos realizações que não cumpriram. Indaga-se porque essa capacidade de enganar a opinião pública, quando o exemplo vindo de cima aponta origens diversas.