Carlos Chagas
Apesar da blitz incessante que a imprensa move contra ele e sua família, e mesmo sabendo que a campanha tem parte de sua origem no PT, não há hipótese de o senador José Sarney recuar. Licenciar-se da presidência do Senado ou renunciar ao mandato são cartas inexistentes no seu baralho. Joga com o fato de dispor de sólida maioria na mesa, no Conselho de Ética, no plenário e na bancada do PMDB. Além do apoio indiscutível do presidente Lula.
Apesar de cacife assim tão consistente, o ex-presidente da República tornou-se um homem amargurado. Em termos do dia seguinte, espera sempre o pior, quando chegam os jornais ou nas raras vezes em que fixa a atenção nas telinhas. Seus familiares temem por sua saúde.
Sem a emissão de juízos de valor diante dessa formidável cascata de denúncias e acusações que desaba sobre ele, importa ressaltar: Sarney não é apenas o político conciliador, amável e sempre disposto a transformar adversários em aliados. É bom não esquecer que nos idos de 1984, liderando o grupo do PDS que rejeitou Paulo Maluf e aderiu a Tancredo Neves, Sarney botou um revólver na cintura e foi para a reunião do partido. Reagiria à bala caso fosse ofendido em sua honra. Não foi, tornou-se candidato a vice-presidente e, logo depois, empossou-se como presidente da República.
E se não der, acontecerá o quê?
Pairando sobre Brasília, há uma indagação que ninguém faz de público mas na qual todos pensam: e se não der para Dilma Rousseff continuar como candidata? Motivos eleitorais e motivos de saúde entrelaçam-se para inserir na equação sucessória um fator inusitado. O que acontecerá caso venha a ficar demonstrada a impossibilidade de Dilma concorrer?
Abre-se uma aparência de vazio que, em política, jamais acontece. Sempre haverá um “plano B” encostado em todos os raciocínios.
A premissa, para os detentores do poder, é de estar fora de cogitação a devolução do próprio aos tucanos. Nem José Serra nem Aécio Neves. Tanto faz se for por razões ideológicas, para impedir a interrupção de um projeto que até agora vem dando certo, tanto faz se for pelo apego a 40 mil cargos de confiança, centenas de diretorias de empresas estatais, utilização de recursos do governo em milhares de Organizações Não Governamentais e sucedâneos.
A partir daí, as almas estão tecendo.
Esse comentário, aparentemente difícil de decifrar, vem do recôndito do núcleo cujo centro de gravidade é o presidente Lula. “As almas estão tecendo” significa que se não der com Dilma, dará de outro jeito. A esmaecida tese do terceiro mandato, a prorrogação de todos os mandatos por dois anos e outras matizes que possa ter um golpe continuam presentes em todas as formulações. Cuja chave poderá ser, em tempo útil, a realização de um plebiscito para saber se o povo quer mudar ou continuar. É bom tomar cuidado.