Protestos de universitários nos EUA fortalecem radicalismo de Netanyahu

Manifestantes pró-Palestina acampados no campus da Universidade Columbia, em Nova York

Acampamento na Universidade Columbia, em Nova York

Demétrio Magnoli
Folha

Nos campi dos EUA, os acampamentos de protesto reivindicam, formalmente, a ruptura dos laços acadêmicos e financeiros das universidades com instituições e empresas israelenses. “Manifestações pró-Palestina”, na descrição protocolar da imprensa? Canta-se “do rio até o mar, Palestina é tudo que se vê” e “Intifada, revolução!”. O nome certo não seria “manifestações anti-Israel”? Ou, mais longe, “pró-Hamas” e “antissemitas”?

Mas não é justo acusar de antissemitismo as numerosas minorias de estudantes que aderem aos protestos. A centelha deflagradora das manifestações foi a criminosa punição coletiva da população de Gaza conduzida pelas forças de Israel. O material inflamável depositou-se ao longo da ocupação sem fim, agravada pela sabotagem das negociações de paz pelo governo de Netanyahu. Contudo, no caso, é imperativo distinguir a massa dos manifestantes e as lideranças dos acampamentos.

ATOS POLÍTICOS – A expressão “manifestações espontâneas” quase sempre indica apenas a ignorância do narrador. Espontâneo é espirro, não atos políticos. Os protestos nos campi têm direção.

São convocados por redes de organizações microscópicas que, finalmente, encontraram um palco iluminado, como Estudantes pela Justiça na Palestina (SJP), Muçulmanos Americanos pela Palestina (AMP), Ação Palestina (PA), Movimento Jovem Palestino (MYP) e Samidoun.

Há, inclusive, a Voz Judaica pela Paz (JVP), um grupo judaico que prega a diluição de Israel num “Estado binacional” – e, portanto, a transformação dos judeus israelenses em minoria étnica.

SEM ISRAEL – Todas negam que sejam antissemitas, classificando-se como antissionistas. Praticam um jogo de palavras ilusionista. Nos seus sites, encontra-se o mapa da “Palestina livre”, que incorpora todo o território de Israel, mas nunca a defesa da paz em dois Estados. Não faltam símbolos e imagens associados ao Hamas e até, em alguns casos, celebrações explícitas do ato terrorista de 7 de outubro.

Daí, nos protestos, emergem cartazes com a sentença “Nós somos Hamas”, cânticos em louvor à Al-Qassam, o braço armado da organização fundamentalista, e gritos de “judeus, voltem para a Polônia”. As bombas retóricas de fragmentação atingem os estudantes judeus, submetidos a incontáveis ameaças e gestos de intimidação.

Ideologia? Acima de um substrato de nacionalismo palestino radical, identificam-se os marcadores típicos da “esquerda decolonial”.

ILHA DA TARTARUGA – A SJP conecta a luta pela libertação da Palestina ao combate à “ocupação” da Ilha da Tartaruga, o nome “decolonial” do que hoje são os EUA e o Canadá, inspirado pelo mito de origem dos índios Lenape.

A “esquerda decolonial” é uma derivação do movimento identitário que enxerga na expansão histórica europeia (isto é, “branca”) as fontes do capitalismo, da opressão e do mal. São narrativas do paraíso perdido: perdeu-se a sagrada Ilha da Tartaruga com a chegada dos colonos do Mayflower; perdeu-se a Jerusalém árabe com o advento da imigração sionista.

No lugar da luta de classes marxista, o movimento “decolonial” engaja-se numa utopia de restauração purificadora: “povos originários” versus “brancos europeus”. Sob esse prisma, Israel coagula uma implantação do imperialismo europeu no Oriente Médio árabe-muçulmano que deve ser abolida.

SEM DIREITOS – Democracia representativa, direitos, liberdades políticas? Tais invenções “europeias” são descritas como ferramentas da dominação “colonial”.

Do pressuposto escorre uma indisfarçável admiração pelo Hamas. A pulsão “decolonial” não se restringe a grupúsculos de jovens ativistas. Na Universidade Columbia, quase 170 professores subscreveram uma declaração sugerindo que “pode-se interpretar” o 7 de outubro “como exercício do direito de resistência por um povo ocupado”.

O movimento “decolonial” é, intrinsecamente, antissemita. Sorte de Netanyahu, que ganha um álibi providencial. Azar dos palestinos.

6 thoughts on “Protestos de universitários nos EUA fortalecem radicalismo de Netanyahu

  1. Controlador do Estado de Israel cobra que Netanyahu e chefe militar cooperem com inquérito sobre 7 de outubro
    JERUSALÉM (Reuters) – O auditor estatal de Israel cobrou nesta quarta-feira que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o chefe das forças armadas cooperem com uma investigação oficial sobre como o Hamas conseguiu realizar o ataque de 7 de outubro em Israel que desencadeou a guerra em Gaza.
    O controlador do Estado, Matanyahu Englman, disse nos primeiros dias da guerra que pretendia investigar os eventos em torno do ataque de 7 de outubro, o mais letal dos 75 anos de história do país.
    Em dezembro, ele afirmou que seu gabinete “não deixaria pedra sobre pedra” ao analisar as “falhas em vários sistemas” que levaram ao ataque de 7 de outubro, durante ele e posteriormente, e que a maioria dos planos de auditoria do seu gabinete para 2024 se focaria no inquérito.
    “Após mais de seis meses de guerra, os cidadãos de Israel têm o direito a respostas sobre todos os responsáveis pelo fracasso – e o controlador do Estado está determinado a fornecê-las”, escreveu Englman, em cartas a Netanyahu e ao chefe de gabinete Herzi Halevi, segundo uma publicação no Facebook de seu gabinete.
    O Gabinete do Primeiro-Ministro rejeitou as acusações de Englman e disse que está cooperando totalmente com o gabinete da Controladoria, acrescentando que ficou sabendo da carta do controlador pela imprensa.
    “Todos os pedidos foram respondidos totalmente, incluindo várias questões sobre o primeiro-ministro, apesar de as equipes do Gabinete do Primeiro-Ministro estarem trabalhando 24 horas por dia em questões da guerra”, disse um comunicado de seu gabinete.
    A emissora pública israelense Kan informou que, em suas cartas, o controlador do Estado disse que o Gabinete do Primeiro-Ministro e o gabinete de segurança não estavam cooperando completamente com seu gabinete, causando atrasos na auditoria.
    (Reportagem de redação de Jerusalém)
    Os órgãos de segurança e o governo Israelense estão fugindo da hora/dia da verdade , quando se provará que foram eles quem facilitaram e permitiram os eventos de 07/102023 pelo grupo Hamas .

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