
Visita de Francisco aos presos na penitenciária de Velletri
Ana Lourenço
Estadão
Na sua última semana de vida, o papa Francisco fez uma doação pessoal de 200 mil euros (cerca de R$ 1,290 milhão) para ajudar presos em Roma, na Itália. A informação foi confirmada pela agência de notícias italiana Ansa, por meio do bispo Benoni Ambarus, responsável pela pastoral carcerária e por iniciativas de caridade em Roma.
Segundo “Don Ben”, como Ambarus era chamado por Francisco, a doação foi retirada diretamente da conta pessoal do pontífice, parte de seus últimos bens. O dinheiro foi destinado a uma fábrica de massas localizada no centro de detenção juvenil Casal del Marmo.
HIPOTECA – Ainda conforme o bispo, a hipoteca pesava sobre a fábrica e se fosse possível quitar a dívida, o preço do macarrão poderia ser reduzido e, consequentemente, aumentar as vendas e os empregos do local. Francisco, então, respondeu: “Estou quase sem dinheiro, mas ainda tenho algo na minha conta”, e, então, transferiu os 200 mil euros.
Durante os 12 anos em que esteve à frente da Igreja Católica, o argentino Jorge Mario Bergoglio foi conhecido como líder caridoso, que fazia questão de olhar para as minorias. Seu próprio nome foi escolhido nesse sentido.
“Pensei em Francisco de Assis. (…) E Francisco é o homem da paz. E assim, o nome veio, no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, ele é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e cuida da criação; neste momento, também nós temos uma relação não tão boa com a criação, não é verdade? É o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres!”, disse o papa ao assumir o cargo.
INDIFERENÇA – Ao jornal italiano Il Fatto Quotidiano, o Papa afirmou que uma das razões de seu sofrimento era a indiferença. “Uma coisa que me faz sofrer muito é a globalização da indiferença, virar o rosto para o outro lado e dizer: O que me importa? Não me interessa! Não é problema meu!”. E provou tal sentimento aos presos.
Ambarus fez questão de destacar, à agencia Ansa, a dedicação de Francisco aos presos durante seu pontificado. Um dos momentos mais marcantes foi a abertura simbólica do Jubileu de 2025, realizada antecipadamente em dezembro de 2024 na Penitenciária de Rebibbia.
“Ele me disse: ‘Don Ben, venha comigo’, e assim começamos o Jubileu juntos. O mais tocante foi ver como os presos se sentiram vistos”, relatou o bispo.
APELO À SOCIEDADE – Outro gesto recente de Francisco foi sua visita à prisão de Regina Coeli, durante a Quinta-feira Santa — apenas quatro dias antes de sua morte. Na ocasião, o Papa reforçou seu apelo à sociedade para que não ignore a situação dos encarcerados.
Na terça-feira, 22, alguns detentos chegaram a pedir que fosse colocada uma flor sobre o túmulo de Francisco em nome deles. Ambarus, no entanto, revelou que está buscando uma forma de permitir que alguns desses presos – ou como o bispo colocou: ‘seus filhos prediletos’ – possam participar do funeral, que será realizado no sábado, 26.
“Estamos tentando ver o que pode ser feito”, disse à Ansa, sem entrar em detalhes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Fico triste quando ouço ou leio críticas ao Papa Francisco, que mostrou ser um sacerdote muito especial, a ser admirado por se portar melhor do que nós. O apoio que ele deu a Lula, com toda certeza foi por falta de informação. Se Francisco soubesse quem realmente é Lula, jamais o teria exaltado, como ele fez diversas vezes. Hoje em dia, a informação isenta e verdadeira é cada vez mais difícil. (C.N.)