Bolsonaro será preso? Por enquanto, nem pensar! Moraes não tem como prendê-lo

Bolsonaro provoca mais para posar de vítima. Por Fernando Brito

Charge do Duke (O Tempo)

Carlos Newton

O papel do jornalista político não é seguir narrativas nem bater palmas para maluco dançar. No caso do golpe de estado tramado em 2022, trata-se de uma conspiração mais do que comprovada. Qualquer pessoa com dois neurônios está consciente dessa realidade. O ex-presidente Jair Bolsonaro fatalmente será processado. O que todo mundo quer saber, porém, é se ele será preso.

E a resposta é clara: “Nem pensar!”. Ele não escapará do processo. No entanto, em condições normais de temperatura e pressão, pode até ser absolvido, devido às brechas da lei que o beneficiam.

COMPLETO IDIOTA – Como cidadão e jornalista, não tenho de dar satisfação a ninguém, mas me vejo obrigado a esclarecer, de início, que não tenho a menor simpatia por Jair Bolsonaro.

Já contei várias vezes, aqui na Tribuna da Internet, a reunião que tive com ele na Câmara, em 2007, quando fiz um tour pelos gabinetes de deputados e senadores, para pedir aos parlamentares que reagissem contra a decisão do governo Lula I, que apoiou um importantíssimo acordo da ONU que reconhecia a independências da nações indígenas e faria o Brasil perder 20% de seu território.

Expliquei a situação duas vezes a Bolsonaro, mas ele visivelmente não entendeu. Percebi que o capitão-deputado era um completo idiota, e foi assim que sempre o classifiquei aqui na TI. Da mesma forma, acho Lula da Silva um político despreparado e patético, ex-agente do regime militar, altamente oportunista.

LÍDER DA DIREITA – Mesmo com as limitações intelectuais, as ironias do destino fizeram com que Bolsonaro se tornasse líder da direita brasileira, e isso é um fato mais do que comprovado. Desde Plínio Salgado, Carlos Lacerda e Collor de Mello, a direita não tem uma liderança tão destacada.

Mas a Covid e os militares atrapalharam seu desgoverno. Nos quatro anos, Bolsonaro só conseguiu privatizar a Eletrobrás, não se sabe como os generais permitiram essa burrada.

Agora, está diante de mais um processo, por sua atuação no planejamento do golpe. A meu ver, o presidente foi iludido pelo general Braga Netto, verdadeiro líder da conspiração, mas Bolsonaro é muito idiota para perceber esse tipo de manobra.

SERÁ PRESO – Agora, o que se pergunta é se ele será preso. A maioria dos jornalistas vibra e divulga diariamente essa possibilidade, mas Padre Quevedo diria que isso non ecziste. Não há a menor possibilidade de Bolsonaro sofrer prisão preventiva. Seus admiradores podem dormir tranquilos.

Quanto ao processo, muita espuma e pouco chope. As provas de planejamento do golpe são abundantes, mas juridicamente não podem ser usadas. É claro que o Supremo não liga para as leis, já mostrou que as despreza, mas na vida tudo tem limites.

Se a lei, a doutrina e a jurisprudência forem obedecidas, o processo contra Bolsonaro será arquivado, pois no Brasil e no mundo não existe crime de planejar ato ilegal, seja homicídio doloso, estelionato, estupro de vulnerável ou golpe de estado.

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P.S. 1
Existem crimes puníveis por tentativa – o mais conhecido deles é a tentativa de homicídio. Mas é preciso que o ato não seja apenas planejado, e que a execução tenha ocorrido, mas falhado por um motivo ou outro. Exemplo: você tenta matar uma pessoa, mas erra o tiro, a vítima sobrevive. Ou seja, quando matou, é homicídio; se a vítima não morreu, é tentativa, com punição mais branda. Mas, no caso de Bolsonaro, não existe tentativa de golpe de estado.

P.S. 2 – Amanhã, vamos esmiuçar esse assunto, para mostrar que, sob o ponto de vista meramente jurídico, o Supremo terá de “reinterpretar” diversas leis, doutrinas e jurisprudências, para arranjar uma maneira de condenar e prender Bolsonaro e outros envolvidos no golpe. (C.N.)

Bolsonaro foi traído e o golpe falhou por culpa de Braga Netto e Paulo Sérgio

Bolsonaro sanciona Previdência de militares sem idade mínima e com privilégios à cúpula das FFAA | ADUSB

Jair Bolsonaro pensava (?) que era comandante-em-chefe

Carlos Newton

Já explicamos aqui na Tribuna da Internet que o então presidente Jair Bolsonaro foi traído pelas costas e também pela frente e pelos sete lados, como se diz no jogo-do-bicho; De início, Bolsonaro até tinha a ilusão de que era o comandante-em-chefe das Forças Armadas, achava que os militares o seguiriam em qualquer situação, sua liderança não sofria nem sofreria a menor contestação.

Caso perdesse a eleição para Lula, o então presidente sabia que a decisão fundamental seria do Alto Comando do Exército. Com o apoio dos 16 oficiais-gerais da cúpula do Forte Apache, o céu não teria limites, 

ENGANOS FATAIS – Bolsonaro achava que seria cegamente obedecido pelo general Braga Netto, que, por sua vez, confiava no ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. Juntos, em março de 2022 eles escolheram Freire Gomes para ser o comandante do Exército e cúmplice do golpe.

Como o general Freire Gomes era totalmente contra Lula da Silva, a dupla Braga Netto e Paulo Sérgio apressadamente concluiu que ele estaria propenso a apoiar qualquer golpe para impedir a posse do petista. Esse foi o maior erro que cometeram.

Ao invés de usar o companheirismo antigo de que desfrutavam e perguntar logo a Freire Gomes se ele apoiaria o golpe, eles foram postergando, com medo dele querer ser o líder da conspiração.

DEPENDIA DA FRAUDE – Desde a campanha eleitoral, o assunto já tinha sido tocado várias vezes em reuniões com os comandantes militares, e o golpe seria mera consequência do fato de que as urnas estariam fraudadas. Para o general Freire Gomes e o restante das Forças Armadas, que mal toleram Lula, estava tudo OK, como dizem os militares. Se houvesse fraude, eles dariam um cartão vermelho a Lula, e estamos conversados.

Acontece que não se provou fraude alguma. Mesmo assim, a dupla Braga Netto e Paulo Sérgio, com a aprovação de Bolsonaro, deu seguimento ao golpe, com os acampamentos diante dos quartéis, até chegar aquela reunião do 7 de dezembro no Alvorada, com os comandantes militares, quando se tocou novamente no assunto da minuta.

Preocupado, Freire Gomes consultou o Alto Comando, que deu sinal vermelho ao golpe. Apesar disso, no dia 12 de dezembro, quando Lula foi diplomado presidente, houve o levante dos “kids pretos”, que tentaram invadir a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, atacaram uma empresa e postos de gasolina, incendiaram automóveis e ônibus, e ninguém foi preso.

AMEAÇA DE PRISÃO – Na segunda reunião no Alvorada é que Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro, caso insistisse com o golpe. Encagaçado, como se diz no Nordeste, o presidente deixou de ir ao Planalto, entregou o poder nas mãos de Braga Netto e Paulo Sérgio, depois viajou para os Estados Unidos, com medo de ser preso.

Assim, pouco a pouco a cronologia dos fatos vai retirando Bolsonaro da liderança do golpe e colocando Braga Netto à frente da insurreição.

No levante do 8 de Janeiro, novamente os “kid pretos” à frente, incentivando o vandalismo, na esperança de que Lula assinasse o decreto do Estado de Defesa ou Garantia da Lei e da Ordem, mas nada aconteceu neste sentido. O golpe desinflou como um balão furado.

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P.S. –
Agora, os depoimentos dos quatro militares (Mauro Cid, Estevam Theóphilo, Freire Gomes e Baptista Junior) incriminam Bolsonaro diretamente, deixando Braga Netto em segundo plano, numa estranha maneira de escrever a História segundo a versão que certas pessoas querem ouvir. Mas a História verdadeira é bem diferente. Depois, voltamos ao assunto. (C.N.)

Depoimentos de militares incriminam Bolsonaro, e não há mais como escapar

O que Bolsonaro quer ao escolher Braga Netto como vice

Braga Netto era o chefão, mas é Bolsonaro que levará a culpa

Carlos Newton

São quatro depoimentos de militares, com informações que se amoldam, montando uma trama sólida que incrimina Jair Bolsonaro na tentativa de golpe de estado. Primeiro, foi o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente; em seguida, o general de quatro estrelas Estevam Theóphilo; depois, o ex-comandante do Exército, Freire Gomes; e, por fim, o ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Junior.

Mauro Cid e Estevam Theóphilo depuseram como investigados no chamado inquérito do fim do mundo, aquele que pretende prender todo mundo e não acaba nunca. Mas os ex-comandantes Freire Gomes e Baptista Junior participaram apenas como testemunhas, e há uma diferença quilométrica entre as duas situações.

NEGAR O ÓBVIO – Como dizem no jargão policial, agora é “batom na cueca”, as provas se avolumam e não adianta negar o óbvio. Em tradução simultânea, ficou absolutamente claro que houve um plano detalhado para anular a eleição de 2022 e deixar o petista Lula da Silva fora do poder.

As peças estão se encaixando à perfeição. Mostram que houve duas falhas definitivas na última mudança dos comandantes da Forças Armadas no governo Bolsonaro, executada a 31 de março de 2022, em pleno aniversário da revolução de 1964.

O verdadeiro comandante do golpe – já falamos isso 500 vezes aqui na Tribuna – era Braga Netto e não Bolsonaro. Com tod certeza, quem errou na avaliação de Freire Gomes foram Braga Neto e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Na ocasião, eles escolheram entre os oficiais de quatro estrelas aqueles que mais demonstravam aversão a Lula.

AVALIAÇÃO ERRADA – Acertaram na mosca ao indicar o almirante Almir Garnier para a Marinha, mas deram um tiro no pé ao escolher o general Freire Gomes para comandar o Exército e o brigadeiro Baptista Filho para a Aeronáutica.

O mais importante, por óbvio, era ter à frente do Exército um general tremendamente antipetista, e Freire Gomes foi mal avaliado. Por mais que demonstrasse desprezo a Lula, o general Freire Gomes era um oficial exemplar e legalista. Somente participaria de um golpe (contra Lula ou qualquer outro presidente) se houvesse eleições manipuladas ou crime semelhante contra as instituições democráticas.

Assim, a deposição de Lula somente não ocorreu devido à nomeação de Freire Gomes. Embora fosse legalista, o brigadeiro Baptista Junior não teria como evitar o golpe sozinho e talvez fosse até levado a aderir, caso sofresse pressão do Alto Comando da Aeronáutica.

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P.S. 1 –
Além de ter errado na avaliação do general Freire Gomes, a dupla Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira cometeu outro grande erro, que foi fatal para impedir o golpe. Mas não vamos falar disso agora. Depois eu conto, como dizia meu grande amigo Maneco Müller, o “Jacinto de Thormes”. 

P.S. 2 – Nos depoimentos dos militares, poucas contradições. A mais importante é sobre as idas do general Estevam Theóphilo ao Alvorada. Ele foi duas vezes com o general Freire Gomes e uma vez sozinho, diz ele com autorização do então comandante  Freire Gomes, que não confirma essa versão. Mas como diz Roberto Carlos, isso são apenas detalhes. (C.N.)

Liberdade total na internet é uma utopia infantil, que nada tem de democrática

Tribuna da Internet | DESDE ONTEM, ESTAMOS TENDO PROBLEMAS COM O BLOG.

Charge do Jota (Arquivo Google)

Carlos Newton

Há quem diga que o impressionante avanço da comunicação via internet tornou-se uma ameaça à democracia e precisa ser regulamentado, e realmente existem sólidos argumentos que sustentam essa teoria. Mas pode-se defender também tese oposta, de que abolir a liberdade nas redes sociais significaria abolir a democracia, em sua versão mais liberal.

Com a máxima vênia e respeitando os que defendem uma ou outra teoria, é preciso lembrar que o sistema é novíssimo, mas a comunicação não mudou nada desde os arautos dos reis –simplificando, continua a ser apenas alguém fornecendo informações a outras pessoas.

AMPLIFICAÇÃO – Por mais ridículo que pareça, a comunicação permanece como uma atividade simples. A única mudança é que os arautos agora usam amplificadores que podem levar as informações simultaneamente a muito mais pessoas, através da redes sociais e dos celulares, que funcionam como computadores portatéis, transmissores e receptores.

Não adianta inventar regras, como o ministro Alexandre de Moraes resolveu fazer, ao baixar uma norma no Tribunal Superior Eleitoral que simplesmente desrespeita o Marco Civil da Internet, uma lei aprovada pelo Congresso e sancionada pela Presidência da República, no governo Dilma.  

Na sua sanha autoritária, Moraes estabelece que as plataformas de internet serão solidariamente responsáveis “civil e administrativamente quando não promoverem a indisponibilização imediata de conteúdos e contas, durante o período eleitoral”.

CONFUNDIU TUDO – O ministro lista uma série enorme de malfeitos a serem excluídos da web, como se as plataformas fosse serviçais da Justiça, pois na verdade não são e somente podem atuar cumprindo decisões judiciais.

Como se dizia antigamente, Moraes confunde a banda de Paraibuna com a bunda da paraibana, porque a internet é apenas um veículo de comunicação que deve ser tratado como qualquer outro.

Já existem todas as leis necessárias – crimes contra a honra, calúnia, injúria, difamação, danos morais e materiais, direito de imagem, invasão de privacidade, indenizações por lucros cessantes e futuros etc. Portanto, não é necessário inventar nenhuma lei, e Moraes age como um jurista descompensado.

SÓ FALTA PUNIR –  Agora mesmo, Regina Duarte e Michelle Bolsonaro estão sendo condenadas a pagar indenização de R$ 30 mil cada uma, pelo uso equivocado de uma foto de Leila Diniz e outras atrizes na passeata dos 100 mil.

Mas a punição é rara. Uma corretora de bitcoins está atraindo clientes com falsas entrevistas de Luciano Huck, Jorge Paulo  Lemann e Luciano Hang, algo inacreditável, e ninguém toma providência, o Ministério Público permanece inerte, o Banco Central se omite, a Defesa do Consumidor não se mexe, a impunidade reina.

É contra a impunidade que todos têm de lutar neste país, e não é necessário que nenhum ministro do Supremo se julgue no direito de inventar leis que o Congresso não julgou importante criar. O resto é folclore, como diz Sebastião Nery.

Não vazou nada do depoimento de Mauro Cid, mas a imprensa fica “inventando”

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Carlos Newton

Portais, sites e blogues tentam “adiantar” informações sobre o novo depoimento do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Fazem especulações rasteiras, dizendo que ele “reforçou” a existência de articulações para minar o resultado das eleições e tentar manter no poder Jair Bolsonaro, mesmo após ele ser derrotado no pleito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como se fossem novidades, dizem coisas que já são conhecidas, como o fato de Cid não ter participado de uma reunião de teor golpista realizada por Bolsonaro com ministros de Estado de seu governo em julho de 2022.

OUTRAS “NOVIDADES” – Desta vez, apresentam como grande novidade o fato de Mauro Cid ter agido como agente duplo, informando o comandante Freire Gomes sobre os rumos da trama. Mas isso é informação antiga. Em 16 de fevereiro a Tribuna já informava: “Mauro Cid atuava como agente duplo e informava o Exército sobre Bolsonaro”.

No dia seguinte, revelamos:  “Além de atuar como agente duplo, Mauro Cid continua omitindo informações”. E três dias depois, a 20 de fevereiro, arrematamos: “Cid se ofereceu para ser agente duplo ou foi cooptado pelo comando do Exército?”. E agora essa notícia é apresentada como “nova”…

Citam também que ele não presenciou ao encontro com os então comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica,  quando teria sido discutida a minuta golpista, que invalidaria o resultado das eleições e prenderia autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

CONVERSA FIADA – Afirmam, ainda, que Mauro Cid “confirmou” as declarações anteriores, nas quais destacou ter sido informado de que Bolsonaro pressionou comandantes para embarcarem na tentativa de golpe e detalhou a operacionalização do esquema.

Mas é tudo conversa fiada. À semelhança do que ocorreu com o importantíssimo depoimento do general Freire Gomes, que evitou o golpe ao transmitir a Bolsonaro a rejeição do Alto Comando, não houve vazamento e ninguém sabe o que Mauro Cid afirmou.

A única novidade é a possibilidade de o coronel Marcelo Câmara, que assessorava Bolsonaro, fazer delação premiada. Até o tal “monitoramento” do ministro Moraes é uma cascata…

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P.S.A imprensa e seus sucedâneos deveriam ter mais pudor nesse tipo de especulação infantil, que se refere a assuntos de máxima relevância e confiabilidade. É uma vergonha que isso aconteça e contamine todos os espaços, afetando até jornalistas de renome, porque ninguém quer ficar para trás… Mas isso não é jornalismo. Seria apenas um lado deprimente do jornalismo. (C.N.)

“Facções dominam a democracia e até a religião”, alerta Gilmar sobre o crime

Gilmar Mendes sobre crime organizado: "Facções invadindo os espaços da democracia e da religião."

Enigmático, Mendes está denunciando a derrocada do país

Carlos Newton

O Estadão saiu de seus cuidados para informar à nação que o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, fez um alerta nesta terça-feira, dia 12, sobre os riscos do avanço e da “sofisticação” do crime organizado no País.

Ele postou em suas redes que “um país assume a condição de ‘Narcoestado’ quando o poder do tráfico tem domínio de suas instituições sociais e políticas”. E, em sua experiente opinião, essa realidade já está acontecendo.

SEM REPERCUSSÃO – Gilmar fez referência à uma entrevista que concedeu à GloboNews, que não teve a repercussão que ele esperava. “Mostrei que os sinais estão aí: facções invadindo os espaços da democracia e da religião, ambos sagrados para o Estado Democrático de Direito.”

Na avaliação do ministro, “somente políticas públicas de segurança pensadas e executadas de modo coordenado poderão fazer frente ao grau de sofisticação demonstrado pelo crime organizado”.

Ele sugere adoção de “políticas que se concentrem, por exemplo, na criação de instrumentos de combate ao imenso poder financeiro das facções criminosas”.

PODER PÚBLICO – O ministro do STF enfatizou que “o poder público tem o dever de proteger “desses vilipêndios” a liberdade política e a liberdade religiosa. Ao final de sua mensagem, ele advertiu. “Estamos diante de um momento decisivo para a manutenção do Brasil na pauta civilizatória”.

Caramba! O que é isso, minha gente? A que situação o ilustre ministro está se referindo? Será que dei uma cochilada e perdi essa parte do filme?

Estará ele se referindo ao governo federal, de cuja prisão de segurança máxima em Mossoró (RN) dois chefes de facção fugiram como se estivessem pulando o muro do colégio interno? Ou estará se referindo ao Rio de Janeiro, onde as facções e milícias controlam bairros inteiros, constroem livremente prédios de dez andares e vendem apartamentos aos cidadãos, sem registro de escritura pública?

APOCALYPSE NOW – O que realmente Gilmar Mendes está denunciando, neste filme “Apocalypse Now” que somente ele está assistindo?

Por sua máxima importância, esta denúncia tem de ser esmiuçada. Que o ilustre ministro do Supremo então seja imediatamente chamado ao Conselho de Defesa e ao Conselho da República para fazer uma tradução simultânea de suas palavras e dizer ao povo brasileiro o que realmente está acontecendo.

Caso não haja interesse, que o Congresso o convoque para esclarecimentos.

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P.S. – Queremos saber a verdade. Ou, então, que o ministro aja como seu antecessor Adaucto Lucio Cardoso e se desfaça de sua toga, diante do plenário, numa desesperada tentativa de despertar o país, caso sua gravíssima denúncia institucional não desperte interesse nas autoridades da República.  (C.N.)

Especialistas consideram o Brasil uma “democracia imperfeita”, em retrocesso

Charge O Tempo 02/11/2019 | O TEMPO

Charge do Duke (O Tempo)

Carlos Newton

A evolução da ciência política já sepultou o antigo conceito de que o mundo é dividido simplesmente em democracias e ditaduras. Na verdade, entre os 193 países-membros da Organização das Nações Unidas, existem regimes de diferentes nuances e o autoritarismo é como uma praga que resiste a tudo e se mostra impossível de erradicar.

Aqui no Brasil, qualquer ministro do Supremo se orgulha de ter salvo a democracia, mas no dia seguinte pode baixar uma norma que descumpre as leis, como acaba de ocorrer com Alexandre de Moraes, ao criar uma regra eleitoral que desmoraliza o Marco Civil da Internet, que parece ter se tornado uma lei tipo vacina, que não pegou…

Foi diante desses fatos controversos que a revista britânica The Economist criou uma divisão de pesquisa que acompanha a evolução política em 165 países e dois territórios, desprezando 28 membros da ONU onde não há vestígio de democracia.

EM RETROCESSO – A divisão de pesquisa Economist Intelligence Unit tem alertado para a regressão da democracia no mundo. No mais recente estudo, divulgado em 15 de fevereiro, os especialistas revelaram que em 2023 o chamado Índice de Democracia atingiu o nível mais baixo desde 2006, quando a análise começou a ser desenvolvida.

Segundo os dados referentes ao ano passado, a pontuação média global ficou em 5,23 – uma queda de 0,06 ponto percentual em relação a 2022, quando o índice estava em 5,29.

O declínio da pontuação média começou em 2016 e foi agravado pela redução das liberdades civis durante a pandemia de Covid.

TENDÊNCIA NEGATIVA – A pesquisa britânica confirma que há uma tendência de regressão e estagnação da democracia mundial, agravada no ano passado pelas guerras na Ucrânia, no Sudão e na faixa de Gaza.

A análise afirma que, no ano passado, guerras e conflitos prejudicaram “ainda mais” a democracia no mundo. “A guerra na Ucrânia está enfraquecendo suas já frágeis instituições democráticas (embora continue sendo muito mais democrática do que a Rússia, o país que a invadiu em 2022)”, adverte o estudo, acrescentando: “A guerra civil no Sudão e a guerra de Israel com o Hamas também ameaçam a segurança e a democracia na região”.

DEMOCRACIAS IMPERFEITAS – O Brasil ficou estacionado na 51ª posição da lista, mesmo patamar registrado em 2022. Mas caiu em relação a 2021, quando estava em 47º lugar. No ano passado, o país teve uma pontuação geral de 6,68 e foi classificado como uma “democracia imperfeita”.

No importantíssimo ranking, a Noruega permanece como o país mais democrático do mundo. A nação ocupa a posição há 14 anos e teve pontuação de 9,81 em 2023. É seguida pela Nova Zelândia (9,61), Islândia (9,45), Suécia (9,39), Finlândia (9,30) e Dinamarca (9,28).

Já Afeganistão (0,26), Mianmar (0,85) e Coreia do Norte (1,08) ocupam as três últimas posições. Quer dizer, são piores do que Rússia, Nicarágua, Cuba e Venezuela.  

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P.S. –
Os principais critérios para um país ser avaliado são as leis que existem, se são aplicadas ou não, se há eleições livres,se os direitos humanos são respeitados, se há distribuição ou concentração de renda, se existe justiça social, enfim. Diante desses critérios, é um milagre que o Brasil, como paraíso da impunidade e único país de ONU que não prende criminoso após condenação em segunda instância, consiga estar na 51ª colocação. (C.N.)

Moraes acerta ao inocentar réu e ao evitar acesso a cerimônias militares

 Ilustração: Kleber Sales/Estadão

Ilustração: Kleber Sales/Estadão

Carlos Newton

Como dizia o ator e apresentador Carlos Imperial, “sem liberdade para elogiar, nenhuma crítica é válida”. Aqui na Tribuna da Internet, sob o signo da liberdade, seguimos essa premissa. Assim, após críticas acerbas e permanentes ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, temos o direito de abrir uma exceção para elogiar dois acertos do relator do “inquérito do fim do mundo”, aquele que não acaba nunca.

O primeiro acerto foi inocentar um dos réus do 8 de Janeiro, que afirmou estar em condição de morador de rua e ter seguido a multidão apenas por curiosidade.

INDULGÊNCIA – Se Moraes tivesse demonstrado essa indulgência desde o início, a enorme maioria dos réus da invasão da Praça dos Três Poderes estaria sendo julgada com a clemência e a misericórdia a que tinham direito, por serem cidadãos de ficha limpa, de fazer inveja às autoridades nacionais, e também por não terem sido apanhados em flagrante.

Dos 1.395 presos inicialmente, apenas 243 foram detidos dentro dos palácios em 8 de janeiro e muitos deles nem estavam quebrando nada, apenas olhando. Quer dizer – houve poucas prisões durante ou logo após o vandalismo, pois 1.152 suspeitos só foram detidos no dia seguinte, 9 de janeiro, sem flagrante e sem que se saiba se participaram do ato.

No início, Moraes pedia 17 anos de prisão a qualquer dos acusados, independentemente de existirem provas ou não, e acrescentava 4 anos se tivessem feito selfie e enviado a foto ou filmagem para algum parente ou amigo. Agora, passou a pedir 11 anos ou 17 anos, com base em seus estranhos critérios.

PROIBIÇÃO ACERTADA – O ministro Moraes acertou também ao proibir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros investigados de irem a eventos ligados às Forças Armadas e às polícias militares.

Além de Bolsonaro, a ordem tem como alvos: general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional); delegado federal Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa com Bolsonaro em 2022; e general Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da Defesa.

Realmente, não fica bem ver os envolvidos confraternizando com militares da ativa. Essa promiscuidade seria altamente deléteria, especialmente depois de Braga Netto ter chamado de cagão e traidor seu superior, o então comandante do Exército Freire Gomes. Não importa se Braga Netto está na reserva, porque ele continua sendo obrigado a respeitar os superiores (Decreto-lei 2.243, artigo 175).

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P.S. –
É triste ver simples cidadãos sendo falsamente considerados “terroristas” e condenados a penas rigorosíssimas, como se fossem criminosos tão maléficos e nocivos como Sérgio Cabral, aquele que se diz “viciado” em roubar dinheiro público, não fez tratamento, mas já está solto, para curtir o resto da fortuna roubada que as autoridades não conseguiram recuperar. Ah, Brasil! És um país de cabeça para baixo, ou ponta-cabeça, como dizem os paulistas. (C.N.)

Acredite se quiser! Juízes conseguiram criar mais um penduricalho salarial

Tribuna da Internet | Justiça no Brasil, manipulada e dispendiosa, custa três vezes mais que a média mundial

Charge do Kemp (humortadela)

Carlos Newton

O comentarista Pedro Ricardo Maximino informa que a excelente repórter Ana Claudia Guimarães, que trabalha na coluna de Ancelmo Gois, em O Globo, revelou  que o Conselho da Justiça Federal (CJF) decidiu que os juízes federais passam a ter direito a até dez folgas por mês, ou compensação equivalente em dinheiro, por conta de “atividades administrativas ou processuais extraordinárias”. O benefício por dez dias é algo em torno de R$ 11 mil.

Sinceramente, fica evidente que esses “juristas” do serviço público dedicam grande parte de seu período de trabalho para criar novos penduricalhos que possam aumentar seus vencimentos, que estão entre os mais elevados do mundo, embora o Brasil continue no rés do chão em termos de renda per capita e distribuição de renda.

MAUS BRASILEIROS – Esses fabricantes de penduricalhos são maus brasileiros, fazem parte de uma elite nojenta, que está jogando na lata do lixo a imagem da Justiça brasileira. O pior é que esses aditivos salariais por suposto excesso de trabalho surgem num momento em que a Justiça trabalha cada vez menos e está funcionando em regime de home office para os magistrados.

Outro dado revoltante é que os demais operadores do Direito logo pedirão equiparação aos juízes federais, incluindo outros magistrados, membros do Ministério Público e da Defensoria, inclusive nos Estados e municípios, numa gastança monumental.

Sinceramente, há momentos em que sentimos vergonha de sermos brasileiros.

Se mentir no próximo depoimento, Cid pode perder a delação premiada

Cid | BLOG DO AMARILDO . CHARGE CARICATURA

Charge do Amarildo (Arquivo Google)

Carlos Newton

Um clima de enorme suspense ronda o próximo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, que era considera um dos mais promissores oficiais do Exército, mas acabou enveredando pelo caminho do crime, em episódios de falsificação de documentos e compra e venda de relógios e joias presenteadas à Presidência da República por governos estrangeiros.

Mauro Cid é um militar muito estranho, filho do general Lorena Cid, muito amigo de Bolsonaro. Vinha fazendo carreira brilhante e estava cotado para ser tríplice coroado, como primeiro lugar nos cursos de especialização de oficiais do Exército.

VIDA DUPLA – Não mais do que de repente, diria Vinicius de Moraes, descobre-se que Mauro Cid é um mau militar, que tinha vida dupla e se tornara milionário nos Estados Unidos, como sócio da progressista empresa Family Cid Trust, em sociedade com o pai e o irmão mais novo Daniel, com valiosas propriedades na Califórnia e na Flórida.

Na função de ajudante de ordens, Mauro Cid foi um assombro e se meteu numa série de crimes, como a preparação do golpe de estado que não houve, além da falsificação de cadernetas de vacinação e da compra e venda de relógios e joias presenteados à Presidência por governos estrangeiros.

Mauro Cid pensou (?) que ia fazer delação premiada e sair de fininho, inclusive ganhando promoção a coronel. Mas a vida não é bem assim e ele terá de mostrar que não andou mentindo, caso contrário perderá os direitos à delação e pode ser novamente engaiolado

NOVO DEPOIMENTO – Nesta segunda-feira, dia 11, o criativo ajudante de ordens de Jair Bolsonaro será ouvido novamente pela Polícia Federal, no inquérito que investiga a tentativa de golpe pelo governo anterior.

Cid terá de explicar por que mentiu, ao afirmar que o general Estevam Theóphilo, que ainda estava na ativa e era membro do Alto Comando do Exército, atuara como fervoroso adepto do golpe de estado.

O ex-ajudante de ordens vai esclarecer se o general Freire Gomes, como comandante do Exército, chegou a apoiar de alguma forma o golpe.

MAIS DÚVIDAS – Vai detalhar também se Freire Gomes exigiu que ele, Mauro Cid, atuasse como agente duplo, informando as ações de Bolsonaro, dia após dia, ou se o próprio ajudante de ordens se ofereceu para fazê-lo, ao pressentir que o golpe não daria certo.

Terá de explicar, também, quem realmente liderava a conspiração: Bolsonaro ou Braga Netto?  E se, na reta final, Bolsonaro percebeu que ia ser descartado e foi para os Estados Unidos. ou viajou mesmo com medo de ser preso?

Mauro Cid pensou (?) que ia fazer delação premiada e sair de fininho, inclusive ganhando promoção a coronel. Mas a vida não é bem assim. Ele acaba de perder a promoção e terá de mostrar que não andou mentindo, caso contrário perderá os direitos à delação e pode ser novamente engaiolado.

Sem vazamentos, a imprensa fica reprisando as notícias sobre o golpe

Cúpula do Exército defende general Freire Gomes e se irrita com vazamentos | Blogs CNN | CNN Brasil

Como ainda não houve vazamentos, a imprensa inventa…

Carlos Newton

Em ambiente de altíssima expectativa, aguarda-se o vazamento de afirmações feitas pelo general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, em seu depoimento à Polícia Federal.

Até agora, não vazou absolutamente nada. No desespero, os jornais ficam criando factoides óbvios, tipo Freire Gomes desmentiu declaração do ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.

O mais recente falso vazamento diz que Freire Nunes revelou a existência de duas versões da minuta, quando todos já estão cansados de saber que existiam pelo menos três, pois a primeira foi encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, a segunda na sala de Bolsonaro na sede do PL. e ainda há a terceira versão, entregue pelo assessor Filipe Martins, e que Bolsonaro teria resumido a texto da justificativa do decreto, segundo Mauro Cid, em sua delação premiada.

BUSCAR OS FATOS – Bem, não adianta ficar tentando tirar leite de bode, como se diz no Nordeste. É preciso buscar os fatos. Como ainda não houve o menor vazamento, não há fatos, apenas especulações, que vêm sendo feito feitas até por jornalistas famosos, que nem precisam aparecer, digamos assim, mas gostam de se mostrar.

As grandes dúvidas são as seguintes: 1) O general Freire Gomes, como comandante do Exército, chegou a apoiar de alguma forma o golpe? 2) Quem realmente liderava a conspiração: Bolsonaro ou Braga Netto?  3) Na reta final, Bolsonaro percebeu que ia ser descartado e foi para os Estados Unidos. ou viajou com medo de ser preso?

O povo quer saber, mas enquanto não houver vazamentos, nada feito…

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P.S. – E a Piada do Ano é dizer que a cúpula militar está muito irritada com os vazamentos dos depoimentos à Polícia Federal, porque isso limita a capacidade de respostas das Forças Armadas, já que o processo corre em sigilo. Ora, as Forças Armadas não têm de responder nem se defender de nada. A investigação é sobre pessoas físicas, sejam fardadas, à paisana ou de pijama. (C.N.)

E se Braga Netto tiver sido o grande mentor do golpe que não ocorreu?

Braga Netto coordena programa de governo de Bolsonaro | Política | Valor Econômico

Braga Netto se comportava como grande líder do golpe

Carlos Newton

Como os depoimentos ficam sob sigilo, a novela sobre o golpe que não houve, sem a menor dúvida, tende a se prolongar per secula seculorum, como diziam os latinistas. A investigação caiu no universo do chamado inquérito do fim do mundo, aquele que não acaba nunca, embora produza resultados, inclusive longas penas de prisão, absolutamente inconstitucionais, que já atingiram 116 cidadãos suspeitos de atos de vandalismo, sem haver provas materiais, mas quem se interessa?  

A imprensa abre enorme espaço ao assunto, que realmente é muito importante e atraente, por envolver grandes personalidades da República.

FALTA UM DEPOIMENTO – Aqui na Tribuna da Internet, apontamos a falta do depoimento do general Freire Gomes, ex-comandante do Exército que evitou o golpe, e rapidamente a Polícia Federal supriu a lacuna, interrogando-o como testemunha e não como investigado.

Agora, cumprimos mais uma vez a obrigação de indicar que falta outro depoimento, desta vez do general Luiz Eduardo Ramos.

Ex-secretário de Governo e ex-ministro-chefe da Casa Civil, era o único companheiro da Academia Militar das Agulhas Negras que restara no governo.

Se há alguém que saiba das coisas, é o próprio Ramos, o mais próximo amigo que Bolsonaro tinha no Planalto e no governo, o único que o chamava de Jair. No entanto, ainda não foi ouvido nem mesmo como testemunha pela Polícia Federal.

SAINDO DE FININHO – Há poucos dias, o general Luíz Eduardo Ramos deu declarações dizendo que não se envolveu no golpe, jamais o apoiou, por isso não é investigado.

Ora, quem pode acreditar que Bolsonaro tramava um golpe de estado, mas seu ministro mais próximo, amigo íntimo desde a juventude, não estava envolvido? Pode até ser verdade, mas a Polícia Federal precisa conferir por que e como isso aconteceu, pois Ramos não se demitiu.

Só existe uma possibilidade. Ramos não se envolveu porque na realidade o golpe não estava sendo liderado por Bolsonaro, que estaria servindo de marionete nas mãos do general Braga Netto, que se comportava como verdadeiro líder da conspiração.

MUITO PARA FALAR – Na manifestação da Avenida Paulista, disse Bolsonaro: “Tenho muito a falar. Tem gente que sabe o que eu falaria. Mas quero passar uma borracha. Já tivemos uma anistia no Brasil. Peço outra”, afirmou o ex-presidente.

Em tradução simultânea, Bolsonaro pode estar dizendo que o mentor do golpe era Braga Netto, que tencionava assumir o poder no Estado de Defesa, na condição de general de quatro estrelas, como era exigido na ditadura militar.

Diante dessa confusão desconcertante, é necessário ouvir o general Luiz Eduardo Ramos, porque Bolsonaro está embromando o depoimento, com medo de ser preso. E ser preso é justamente o que vai acontecer, caso Bolsonaro continue protegendo Braga Netto, conforme está ficando mais do que evidente.

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P.S. – Se realmente fosse amigo de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos deveria se apresentar para depor e contar o que realmente aconteceu na transição do governo. Caso contrário, teremos de esperar o encerramento do inquérito do fim do mundo para saber o que houve. (C.N.)

Aguarda-se, ansiosamente, o vazamento das revelações do general Freire Gomes

Análise: Motim no Ceará selou perfil legalista de Freire Gomes | Política | Valor Econômico

Gomes é a nova versão do “O Homem que Sabia Demais”

Carlos Newton

O suspense é insuportável. Ninguém aguenta mais esperar o vazamento das revelações feitas pelo general Freire Gomes, que comandou o Exército no final do mandato do presidente Jair Bolsonaro, sobre as articulações para desfechar o golpe de estado que não houve, na transição do governo para Lula da Silva.

É sempre bom assinalar que não houve golpe, sequer tentativa – até agora somente está evidenciado o planejamento. Esta ressalva é da máxima importância juridicamente, porque no Brasil e no mundo civilizado não é considerado crime quando não existiu pelo menos a tentativa. O simples ato de planejar não é criminalmente punível.

SEM VAZAMENTO – Ainda não houve vazamentos sobre o interrogatório do ex-comandante do Exército, mas circula uma informação que o diferencia de outros militares que integravam o núcleo duro do governo Bolsonaro, porque o general Freire Gomes respondeu a todas as perguntas, enquanto Braga Netto e Augusto Heleno mal balbuciaram seus nomes.

Também respondeu as perguntas o general Estevam Theóphilo, que à época era da ativa, com quatro estrelas e integrante do Alto Comando do Exército. O oficial afirmou que jamais apoiou o golpe, desmentindo o que fora revelado em delação pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Theóphilo disse também que ter obedecido a uma ordem de Freire Gomes, quando foi ao Palácio da Alvorada reunir-se com Bolsonaro em dezembro de 2022.

OUTRAS VERSÕES – A afirmação do general Theóphilo abriu a possibilidade de ele ter se infiltrado na cúpula do governo passado, para ajudar o comandante Freire Gomes a evitar o golpe.

Outra versão indicaria que os dois seriam favoráveis ao golpe, mas na reta final foram dissuadidos pelo Alto Comando do Exército e receberam ordem para respeitar o resultado das urnas.

São muitas dúvidas que o depoimento do general Freire Gomes pode ter começado a esclarecer nesta sexta-feira. Se falou a verdade, continuará na situação de testemunha. Porém, se mentiu, passará à condição de investigado.

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P.S.De toda forma, Freire Gomes é a nova versão do personagem de Alfred Hitchcock em “O Homem que Sabia Demais”. E o filme esta começando agora. (C.N.)

Freire Gomes, general herói ou traidor, revela os principais detalhes do golpe

Em mensagem, Braga Netto ataca ex-comandantes do Exército e Aeronáutica por não aderirem ao golpe: "cagão"

Nessa mensagem, Braga Netto chama Gomes de “cagão”

Carlos Newton

O general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército no final do governo de Jair Bolsonaro, depois nesta quarta-feira na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, na condição de testemunha.

Quando afirmamos aqui na Tribuna da Internet que o chefe militar precisava ser ouvido o mais rápido possível, para a opinião pública saber se ele se comportou com um herói ou como traidor do golpe, o oficial estava de férias na Espanha. Mas abreviou a viagem para prestar o depoimento.

O GENERAL ERRADO – Ainda não se sabe se a conspiração era liderada por Bolsonaro ou pelo núcleo duro do Planalto, formado por Braga Netto, Augusto Heleno e Mauro Cid, porque o general Eduardo Ramos parece ter sido escanteado, ninguém fala na possibilidade de envolvimento dele, que nem está sendo investigado.

Quando foi convocado para assumir o comando do Exército e passou a ser a peça-chave da conspiração do golpe que não houve, Freire Gomes era tido como ferrenho opositor a Lula da Silva.

Mas isso não representava a menor novidade, porque na corporação a coisa mais difícil é encontrar um oficial simpático a Lula. Aliás, se existir algum, é praticamente impossível identificá-lo, porque ele tem de fingir ser antilulista, para não se prejudicar na carreira.

Escolher Freire Gomes foi um erro de avaliação de Bolsonaro e/ou do núcleo duro, porque na hora da verdade, o general mostrou ser mais legalista do que golpista e levou o Alto Comando a rejeitar a conspiração.

DUAS HIPÓTESES – Há muitas dúvidas sobre o que realmente aconteceu. O comandante do Exército pode ter dado corda aos golpistas e informado passo a passo ao Alto Comando. Se assim fez, estrategicamente, isso evidenciaria uma situação.

Mas Freire Gomes pode ter apoiado inicialmente o golpe e depois refluído, ao perceber que não se tratava de evitar a posse de Lula, mas na verdade de criar uma tempestade ideal para implantar nova ditadura militar e destruir a democracia. E esta seria uma segunda situação.

Na verdade, não importa se o comandante Freire Gomes se infiltrou ou se traiu a conspiração. O importante é que se deve a ele, com sua autoridade no Alto Comando, a posição legalista do Exército, que impediu a derrubada de Lula.

MUITAS DÚVIDAS – Agora, é preciso eliminar as dúvidas. Acusado de ser o único quatro estrelas da ativa a apoiar o golpe, o general Estevam Theóphilo, então chefe do Comando de Operações Terrestres, nega (Coter) ter participado da trama golpista.

Em seu depoimento, Theóphilo teria afirmado que cumpriu ordens do então comandante Freire Gomes, ao se encontrar com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em dezembro de 2022, após a derrota eleitoral.

Seu advogado diz que o general Theóphilo “nunca cogitou, nunca participou, nunca colaborou, nunca manifestou, nunca influenciou e nunca concordou com nenhum ato ou atitude golpista”. Mas isso não afasta a possibilidade de Freire Gomes ter usado o general Theóphilo para obter informações sobre o andamento da trama.

P.S. – De qualquer forma, essas dúvidas e outras mais serão esclarecidas no decorrer do período, como dizem os meteorologistas. É preciso ter calma e esperar os vazamentos, que logo começarão a acontecer. (C.N.)

Atribuir a Bolsonaro a liderança do golpe seria uma espécie de Piada do Século

Bolsonaro manifesta surpresa com público na Avenida Paulista | Brasil | Pleno.News

A dúvida é saber quem era o verdadeiro líder do golpe

Carlos Newton

São impressionantes as boçalidades que a imprensa e as redes sociais divulgam. Por exemplo, atribuir a Jair Bolsonaro a liderança dessa tentativa de golpe seria uma Piada do Século. É óbvio em que 2018 ele foi eleito presidente com apoio massivo dos militares e das chamadas forças auxiliares.

O principal motivo dessa adesão, dentro do projeto esboçado pelo general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, foi a necessidade de pôr fim aos sucessivos e fracassados governos do PT, pois à época a liderança de Bolsonaro era mínima, como deputado de baixo clero, como ele próprio se define.

Assim, em 2018, Bolsonaro foi a apenas um instrumento, mas ganhou forte embalo político e realmente passou a liderar os civis antipetistas – ou antilulistas, o que vem a ser a mesmíssima coisa.

APOIO MILITAR – É engano julgar que as Forças Armadas se tornaram bolsonaristas. Na verdade, aproveitaram a ocasião e desfrutaram do governo dele, que contratou cerca de seis mil militares para exercerem funções civis, algo jamais visto, nem mesmo no regime militar de 64.

Foi um governo curvado aos militares, que tiveram sua Previdência Social preservada, seus salários foram equiparados aos servidores civis e ganharam uma série de penduricalhos, inclusive uma vultosa gratificação quando se aposentam.

Ora, se as Forças Armadas apoiaram Bolsonaro, é porque tiverem fartos motivos para tal, capazes de serem avaliados monetariamente, sejamos sinceros. Mas é erro afirmar que os militares se tornaram bolsonaristas.

ANTILULISMO – É preciso entender que as Forças Armadas simplesmente preferem aturar Bolsonaro do que suportar Lula da Silva, por tudo o que ele representa, como ex-agente infiltrado pela ditadura no sindicalismo e depois como líder político ignorante, despreparado, pretencioso e corrupto.

O Supremo ilegalmente tirou Lula da cadeia, devolveu-lhe os direitos políticos, mas a grosseira maquiagem jurídica não consegue esconder os múltiplos defeitos que os militares veem em Lula.

Mais de um ano depois, hoje pouco se sabe acerca da tentativa de evitar que Lula voltasse ao poder, e muito poderia ser esclarecido pelo general Freire Gomes, o comandante do Exército que disse não aos golpistas, com apoio quase unânime do Alto Comando.

MENSAGEM DE NATAL – Merece ser lembrada a mensagem dirigida à tropa na véspera de Natal, quando o golpe tentava explodir o caminhão de combustível no aeroporto de Brasília.

A hierarquia, a disciplina e a coesão não são apenas pilares que sustentam uma instituição de Estado como a nossa. São marcas indeléveis que derivam dos nossos valores mais caros, que precisam ser cultivados todos os dias, da mesma forma que nossos veteranos fizeram antes de nós. Em um ano como o de 2022, esses valores foram, mais uma vez, postos à prova e mostraram para toda a sociedade que o Exército Brasileiro continua forte, disciplinado e unido em prol do nosso Brasil”, disse Freire Gomes.

A essa altura, o comandante já havia dissuadido os oficiais golpistas e firmado a posição do Alto Comando. Mesmo assim, os generais rebelados seguiram em frente.

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P.S.
Quando Freire Gomes retornar na Espanha, é preciso ouvi-lo, para que esclareça o que realmente aconteceu e se Bolsonaro estava mesmo à frente do golpe ou se era um joguete nas mãos dos generais que o cercavam. A meu ver, já afirmei isso aqui várias vezes, não acredito que Bolsonaro fosse transformado em ditador, porque general não bate continência para capitão, conforme Roberto Nascimento destacou em brilhante artigo na Tribuna. Quanto ao general Freire Gomes, nem precisa prestar depoimento, é até mais democrático apenas dar uma entrevista a respeito, para esclarecer as coisas. O Brasil tem o direito de saber a verdade. (C.N.)

Investigação de generais que atuaram no golpe mais parece a Piada do Ano

Charge do Aroeira (Arquivo Google)

Carlos Newton

Chega a ser divertido ler o noticiário da chamada grande imprensa. Quando não há muito a escrever, os jornalistas e observadores políticos usam e abusam da criatividade. Na semana passada, por exemplo, foi impressionante o espaço dedicado aos “depoimentos” a serem feitos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelos integrantes do núcleo duro do governo, envolvidos na famosa tentativa do golpe que não houve.

Como diria o jornalista e publicitário Miguel Gustavo, o suspense era de matar o Hitchcock. Realmente, nas redações esperava-se que os depoentes vomitassem os detalhes, trouxessem informações e datas que ajudassem a montar esse gigantesco quebra-cabeças.

APENAS SONHO – Ainda bem que sonhar não é proibido nem paga imposto. Sem novidades no front, a imprensa teve de noticiar que os delegados e agentes da Polícia Federal não ficaram satisfeitos com os interrogatórios dos sete envolvidos que decidiram falar no inquérito do fim do mundo, que apura a tentativa de um golpe de Estado e mais um monte de coisas que ninguém consegue lembrar.

O que esperavam esses supostos especialistas em interrogatórios? Certamente, queriam que os investigados respondessem claramente àquelas perguntas capciosas e revelassem, logo de cara, seu empenho e sua perseverança no planejamento da tentativa do golpe que não houve.

Segundo a avaliação dos agentes e delegados, os sete depoentes, ao responder às perguntas, mentiram e buscaram se justificar, sem contribuir em nada para a investigação, vejam que grande novidade.

DOIS EXEMPLOS – Nesta lista de depoentes pouco confiáveis, digamos assim, estão o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro da Justiça, delegado federal Anderson Torres, aquele que foi apanhado com uma minuta de decreto totalmente diversa da outra versão, apreendida com Bolsonaro.

Costa Neto falou por cerca de três horas e Anderson Torres por quase cinco horas. Os depoimentos de ambos foram descritos como “evasivos” e “sem dados a acrescentar”. Nem passou pela cabeça dos investigadores que os dois civis talvez pouco soubessem, porque o golpe estava sendo planejado quase exclusivamente por militares e assessores diretos do presidente.

Aliás, achar que Costa Neto seria um dos articuladores do golpe é uma espécie de Piada do Ano. A especialidade criminal dele é bem diferente…

BOA OPORTUNIDADE – Outra excelente piada foi a imprensa ter comentado que era o momento ideal que poderia ter sido usado para os alvos se defenderem, mas eles “perderam a oportunidade”. Há-há-há!, vamos todos rir, como recomendava Helio Fernandes.

Dos 23 intimados para o interrogatório da quinta-feira, dia 22, apenas sete falaram. Ou seja, se defenderam, porque ninguém depõe para se incriminar, só os débeis mentais, que são inimputáveis.

Além de Bolsonaro, ficaram em silêncio militares de alta patente, como os generais Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Augusto Heleno. Alguma novidade?

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P.S. –
Até agora, muita espuma e pouco chope. Os ministros do Supremo tiveram coragem para condenar a longas e injustas penas os pés-de-chinelo que invadiram os palácios, sem haver provas materiais individuais contra eles, conforme exige a lei. Mais de um ano depois, até agora o Supremo não teve o menor ânimo para investigar e prender os “kids pretos”, que transformaram em vandalismo uma manifestação que era pacífica. E será que agora os ministros terão coragem de processar e prender generais de quatro estrelas, sem provas materiais? Estou apostando que isso não acontecerá?  (C.N.)

Mistério! Por que o general que sabe tudo ainda não foi chamado a depor?

Tribuna da Internet | General Freire Gomes foi um traidor ou um herói? É  isso que deve ser explicado.

Freire Gomes evitou o golpe e ninguém lhe disse “obrigado”

Carlos Newton

É impressionante. Desde o início de 2023 a imprensa vem publicando sucessivas reportagens sobre as movimentações golpistas para evitar a posse do presidente eleito Lula da Silva. De tal forma que grande parte da trama já passou a ser mais do que sabida e tomou a consistência de fatos públicos e notórios, embora ainda estejam em início de investigação pela Polícia Federal.

Note-se que a apuração feita pelos jornalistas é muito mais completa e eficaz, deixa no chinelo a força-tarefa dirigida pela brilhante cabeça do ministro Alexandre de Moraes, que parece mais interessado em acumular investigações no chamado “inquérito do fim do mundo” do que em descobrir a verdade propriamente dita.

CAMINHO DIRETO – Se o ministro Alexandre de Moraes estivesse interessado em rapidamente apurar como se processou o golpe que não aconteceu, não teria maior dificuldade. Bastava convidar o general Marco Antonio Freire Gomes a depor, como comandante do Exército no final do governo Bolsonaro que se recusou a aderir ao movimento, impedindo o golpe.

Ao demonstrar ser um militar de verdade, cumpridor da lei e discretíssimo no desempenho das funções, o general Freire Gomes foi o verdadeiro responsável pela manutenção do país nos trilhos democráticos. Estamos cansados de publicar essa informação aqui na Tribuna da Internet, embora a imprensa tenha a mania de dizer que foi o Supremo que “salvou” a democracia etc. e tal, porém minha ironia não chega a tanto.

O STF não salvou coisa alguma. Pelo contrário, fez uma lambança histórica, ao interpretar casuisticamente a Constituição, de modo a libertar Lula, devolver-lhe os direitos políticos, para depois promover a recuperação social e financeira dos empresários e governantes mais corruptos do país, como a família Odebrecht e Sérgio Cabral, para ficarmos em apenas dois exemplos.

REUNIÕES NO ALVORADA – Sabe-se que os generais do núcleo duro do Planalto fizeram insistentes apelos aos comandantes militares por um golpe contra a eleição de Lula. Também é sabido que Freire Gomes e os ex-comandantes Almir Garnier (Marinha) e Baptista Junior (Aeronáutica) foram chamados cerca de dez vezes por Bolsonaro para reuniões no Palácio da Alvorada em novembro e dezembro, após a vitória de Lula.

Eram reuniões fora da agenda presidencial, convocadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, ou pelo próprio presidente. A primeira foi dia 1º de novembro —dois dias após a vitória de Lula e discutiu dois assuntos: o fechamento de rodovias e os acampamentos golpistas com bolsonaristas diante dos quartéis.

O golpe não era tratado diretamente. Em alguns casos, Bolsonaro apenas buscava conversar e se aproximar dos chefes militares. Mas houve algumas reuniões em que Bolsonaro e militares de seu entorno defenderam intenções golpistas de reverter o resultado eleitoral.

O QUE FALTA – O depoimento de Freire Gomes certamente preencheria as lacunas, informando a reação do Alto Comando do Exército ao tomar conhecimento dessa situação.

O general pode esclarecer também a influência de governos estrangeiros. Sabe-se que em julho de 2022 o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, tocou no assunto com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.

Em seguida, os encarregados de negócios dos EUA no Brasil, Douglas Knoff, e do Reino Unido, Melanie Hopkins, participaram de reuniões sigilosas com generais do Exército para sondar a posição da Força. E comunicaram que haveria forte oposição de seus países a qualquer tentativa de ruptura democrática.

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P.S.
Tudo isso e muito mais pode ser esclarecido pelo general Freire Gomes, caso o ministro Moraes tenha a humildade de convidá-lo a depor. É claro que o general Freire Gomes, esse discreto herói nacional, aceitará explicar como repudiou as intenções de ruptura democrática, porque fazê-lo significa um dever para ele. Mas quem se interessa? (C.N.)

Gravidade das acusações faz Bolsonaro propor a concessão de uma ampla anistia

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vestiu um colete à prova de balas durante manifestação na Avenida Paulista, neste domingo, 25

Jair Bolsonaro e Michelle usaram coletes à prova de bala

Carlos Newton

Foi uma surpresa o ex-presidente Jair Bolsonaro, em seu discurso durante o ato público na Avenida Paulista, ter defendido a tese da anistia para todos os envolvidos no planejamento do golpe de estado.

Acreditava-se que essa proposta somente surgisse mais à frente e apresentada em projeto de lei por algum parlamentar independente. Mas o próprio Bolsonaro se apressou em fazê-lo.

ENTUBAR A TODOS – Segundo o ex-presidente, seria infundada a acusação da Polícia Federal de que houve uma tentativa de golpe de Estado por parte de seu grupo político, apesar das provas já obtidas.

“Agora querem entubar a todos nós que um golpe, usando dispositivo da Constituição, cuja palavra final quem dá é o parlamento brasileiro, estava em gestação. Creio que está explicada essa questão. Teria muito a falar. Tem gente que sabe o que eu falaria. Mas o que eu busco é a pacificação, passando uma borracha no passado,” disse o ex-presidente.

“Nós já anistiamos, no passado, quem fez barbaridade. Agora, nós pedimos a todos um projeto de anistia no nosso país. E quem depredou o patrimônio que pague, mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade. Pobres coitados que estavam no dia 8 de janeiro,” acrescentou.

HÁ CONTROVÉRSIAS – O presente caso é totalmente diverso das anistias anteriores, já concedidas no país. Pode-se até dizer que a anistia a crimes políticos seja uma espécie de tradição brasileira de olhar para frente e tentar sepultar o passado, embora isso signifique uma inequívoca utopia, pois atrocidades jamais podem ser esquecidas.

No caso atual, é preciso aprovar uma legislação como a Lei 6.683, de 28 de agosto de 1979, no governo João Figueiredo, que tinha o general Walter Pires como ministro do Exército e Petrônio Portella como ministro da Justiça, dois defensores da anistia ampla, geral e irrestrita.

Mesmo assim, o Congresso aprovou uma ressalva, no § 2º do artigo 1º – “Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal”.

DETALHE IMPORTANTE – Reparem que em 1979, nessa ressalva, não se falou em crimes de tortura e assassinato, portanto, excluindo de punição os responsáveis pelo trucidamento de civis como o deputado Rubens Paiva e o estudante Stuart Angel Jones.

Outro detalhe é que a anistia foi concedida sem que os envolvidos já tivessem sido condenados. Agora, é muito diferente, porque já existem mais de 1,5 mil réus, e têm sido condenados a penas elevadíssimas, como se fossem realmente terroristas, algo que “non ecziste”, diria Padre Quevedo, revoltado contra esse procedimento inquisitório, digamos assim.

É ultrajante condenar a 17 anos de prisão homens e mulheres do povo, a grande maioria presa sem flagrante, no dia seguinte ao vandalismo. E com o requinte surrealista de acrescentar mais 4 anos caso tenham feito selfies diante dos palácios invadidos.

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P.S.
1 – Comparados aos processos anteriores, relativos a graves golpes de estado, em que realmente houve mortos e feridos, as condenações propostas pelo Alexandre de Moraes e aceitas pelo Supremo são de uma perversidade jamais vista na Justiça do Brasil e de qualquer outro país minimamente civilizado.   

P.S. 2Em matéria de Justiça, o Brasil está regredindo de tal maneira que não causaria surpresa a apresentação de um projeto de anistia que beneficiasse, ao mesmo tempo, os réus e também os ministros que os condenam ilegalmente por terrorismo e que também merecem punição severa. Uma coisa é o juiz errar inadvertidamente. Outra coisa, muito mais grave, é o magistrado errar propositadamente, como é o caso, desculpem a franqueza. (C.N.)

É claro que Israel ainda não age como Hitler, porém está quase chegando lá

O Cristianismo de Adolf Hitler | Estratégias Em Um Novo Paradigma  GlobalizadoCarlos Newton

Dorrit Harazim é a maior jornalista brasileira, sem a menor dúvida. É uma espécie de Otto Maria Carpeaux em versão feminina. Nascida na Croácia, tornou-se jornalista na França e depois veio para o Brasil, convidada para trabalhar na criação da Veja. Logo dominou o idioma e há décadas faz sucesso e foi a única mulher a se tornar redatora-chefe da revista. Já deveria estar na Academia Brasileira de Letras há tempos, e acredito que em breve o presidente Merval Pereira vá preencher essa lacuna.

Na semana passada, o artigo de Dorrit Harazim relatava o testemunho de uma médica americana, a pediatra Seema Jilani, assessora sênior do Comitê Internacional de Resgate, que passou duas semanas no Hospital Al-Aqsa, na Faixa de Gaza. Em longa entrevista a Isaac Chotiner, da New Yorker, ela relatou como foram suas primeiras horas de plantão ali.

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RELATO DA MÉDICA AMERICANA
– “Ela chegara acompanhada de alguns cirurgiões, um obstetra, um anestesista e um intensivista vindos do Cairo. Já trabalhara em emergências no Afeganistão, no Iraque, no Líbano, no Egito, na Turquia, na Líbia, no Paquistão e há 19 anos fazia pit stops na Cisjordânia e em Gaza. Ainda assim, nada a preparara para o horror que viu no enclave desta vez. A ausência de dignidade ali possível lhe pareceu abissal.

A primeira criança a cair sob seus cuidados foi um menino de 12 meses:

— Ele tinha o braço e a perna direita arrancados por uma bomba. A fralda estava ensanguentada e se mantinha no lugar, apesar de não haver mais perna. Eu o tratei primeiro no chão, pois não havia macas disponíveis (…). A seu lado havia um homem emitindo os últimos respiros. Estava ativamente morrendo havia 24 horas, com moscas por cima (…) O bebê de 1 ano sangrava profusamente no tórax… Não havia nem respirador, nem morfina, nem medidor de pressão em meio ao caos. (…) Um cirurgião ortopédico envolveu com gaze os tocos da criança e comunicou que não a levaria de imediato para o centro cirúrgico porque havia casos mais urgentes — contou com crueza a dra. Jilani.

E concluiu, com empatia, que não conseguia imaginar o que poderia haver de mais emergencial que um bebê de 1 ano sem mão nem perna, sufocando no próprio sangue. A resposta, é claro, todos sabemos, a pediatra também: algum outro estropiado da guerra, com pelo menos uma ínfima chance de ser salvo.

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ERRO DE LULA –
Ao ler o relato da médica, percebe-se que Lula atirou no que viu e acertou no que não viu. Como presidente de uma nação amiga, jamais poderia acusar Israel de estar agindo como Hitler. Já explicamos na Tribuna que o grande erro é não saber se comunicar.

Se tivesse afirmado que Israel, se continuar agindo assim, acabará sendo comparado a Hitler, seria uma declaração dura, porém verdadeira, que consagraria a liderança mundial de Lula.

Outra coisa, muito diferente, foi dizer que Israel atua igual a Hitler, por manter os ataques. Para Israel, essa acusação requer um rompimento de relações, por se tratar da maior ofensa, possível e imaginável, que possa ser feita ao povo judeu.

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P.S
. – Com sua mal dosada declaração, Lula deu força para que o Hamás continue mantendo os reféns, circunstância que obrigará Israel a seguir os ataques, numa guerra sem fim, que está destruindo a economia israelense. Nem mesmo Hitler poderia imaginar uma forma tão ardilosa de destruir os judeus, pois os países ocidentais não pretendem bancar essa briga, que Israel não tem condições de sustentar sozinho.  (C.N.)

Cid se ofereceu para ser agente duplo ou foi cooptado pelo comando do Exército?

Charge do JCaesar | VEJACarlos Newton

A revelação mais espantosa dos últimos tempos foi a notícia de que o tenente-coronel Mauro Cid, personagem principal da novela do golpe que não houve, operava como agente duplo, fornecendo informações também ao comandante do Exército no último ano do governo de Jair Bolsonaro, general Marco Antonio Freire Gomes.

A informação não constava das investigações que vêm sendo feitas pela Polícia Federal desde janeiro de 2023 e foi omitida intencionalmente pelo tenente-coronel Mauro Cid em seus longos depoimentos na delação premiada.

QUASE POR ACASO – A força-tarefa que trabalha no Supremo para o ministro Alexandre de Moraes descobriu quase por acaso essa atividade secreta do ajudante de ordens do então presidente.

No relatório que embasou a operação Tempus Veritatis, deflagrada no último dia 8 com autorização de Moraes, a PF cita cinco áudios encaminhados por Mauro Cid a um contato que, pela “análise dos dados e a contextualização” a partir das demais evidências colhidas pelos policiais, “indicam que as mensagens tinham como destinatário o então comandante do Exército, general Freire Gomes”.

Entre 8 de novembro e 9 de dezembro de 2022, na fase crucial do preparativo do golpe, Mauro Cid, oficial da ativa, relatou ao general detalhes das tratativas golpistas discutidas a portas fechadas, entre eles a decisão de Bolsonaro de “enxugar” a minuta do golpe e manter apenas a determinação da prisão do ministro Alexandre de Moraes, excluindo outras autoridades da lista.

MENSAGEM AO COMANDANTE – “Hoje o que ele [Bolsonaro] fez de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos que o senhor viu, e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é… resumido, não é?”, disse Mauro Cid no áudio enviado ao celular que a PF diz ser de Freire Gomes às 12h33m do dia 9 de dezembro.

Dois dias antes, de acordo com o que a PF constatou nos registros da portaria, estiveram no Palácio da Alvorada, o próprio general Freire Gomes e o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, além do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.

Detalhe importantíssimo: o ministro Paulo Sérgio e o comandante Almir Garnier eram defensores entusiastas do golpe, enquanto o general Freire Gomes tornara-se reticente, conforme outros relatos feitos por Mauro Cid.

BOLSONARO SE ENGANOU – Quando nomeou Freire Gomes para comandar o Exército, Bolsonaro sabia que o general era absolutamente antilulista e pensou (?) que ele seria facilmente cooptado para convencer o Alto Comando do Exército a aceitar o golpe.

Foi um grave erro de avaliação de Bolsonaro. A quase totalidade de membros do Alto Comando realmente era adversária de Lula, mal o suportam, a contragosto batem continência. Mas isso não significa que iriam aderir a um golpe de estado para derrubar o petista.

Entre os 16 generais do Alto Comando, apenas um, Estevam Cals, deixava clara essa adesão ao golpe. E o comandante Freire Gomes foi enrolando Bolsonaro, até dizer-lhe claramente que não aceitava a conspiração, segundo relato de Mauro Cid.

AGENTE DUPLO – O que ainda não se sabe é se Freire Gomes exigiu que Mauro Cid atuasse como agente duplo, informando as ações de Bolsonaro, dia após dia, ou se o próprio ajudante de ordens se ofereceu para fazê-lo, pressentindo que o golpe não daria certo.

Outra dúvida é saber o motivo que levou Mauro Cid a esconder na delação os serviços prestados a Freire Gomes, agindo infantilmente, pois essa informação acabaria sendo revelada, de uma forma ou outra.

Por fim, há dúvidas se será levada em conta essa metamorfose de Mauro Cid, que traiu Bolsonaro na reta de chegada. Poderia ser uma circunstância atenuante, por certo.

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P.S.
No meio dessa confusão, é sempre bom lembrar que Mauro Cid agiu exatamente como Lula da Silva fazia durante o regime militar, quando era informante do superintendente da Polícia Federal em São Paulo, delegado Romeu Tuma, conforme relatos de seu filho Romeu Tuma Júnior, também delegado federal, em sua obra “Assassinato de Reputações”, publicada em dois volumes. É verdade que Lula também traiu os companheiros sindicalistas, mas os petistas se recusam a acreditar, porque ele não é mais um líder político como os outros. “Sou uma entidade”, diz Lula, que já se “proclamou a alma mais honesta deste mundo”. (C.N.)