Bolsonaro se prepara para virar réu no golpe e também nas joias

Aproximação com Trump "racha" defesa de Bolsonaro às vésperas de denúncia da PGR | Brasil 247

Jair Bolsonaro teria sido “líder” de um golpe desarmado

Igor Gadelha
Metrópoles

Auxiliares de Jair Bolsonaro preveem que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve denunciar o ex-presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos dias.

Com a expectativa da denúncia iminente, auxiliares do ex-presidente já começam a preparar reação. Bolsonaro, inclusive, deve permanecer em Brasília durante a semana para alinhar sua defesa.

DENÚNCIA IMEDIATA? – Conforme noticiou a coluna, a expectativa no Ministério Público é de que Gonet denuncie o ex-presidente antes do jantar que o presidente Lula terá com ministros do STF nesta quarta-feira (19/2).

A avaliação a é de que a denúncia sairá antes do jantar para não dar brechas a interpretações de que Lula teria discutido a peça da Procuradoria com os ministros do STF e com o próprio procurador Gonet, que foi convidado para o encontro.

Como noticiou a coluna, integrantes da defesa de Bolsonaro esperam que Gonet faça um gesto ao ex-presidente em pelo menos um dos inquéritos nos quais ele foi indiciado pela Polícia Federal.

DUAS DENÚNCIAS – Nos bastidores, advogados de Bolsonaro já dão como certo que o ex-presidente será denunciado por Gonet para virar réu em dois inquéritos: o que apura a tentativa de golpe e o que investiga a fraude em certificados de vacinação.

A defesa de Bolsonaro tem esperança, no entanto, que o procurador-geral da República não denuncie o ex-presidente no caso das joias sauditas que ganhou de presente e vendeu no exterior.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO caso das joias é uma bobagem, porque Bolsonaro recuperou o único relógio vendido e devolveu à Presidência sem que à época se soubesse se era bem pessoal dele ou não. A denúncia mais grave é do golpe, que foi planejado, porém não chegou a ser tentado. Mesmo assim, o ministro Moraes pretende condenar Bolsonaro ao máximo possível de anos de prisão, por considerar o 8 de janeiro como terrorismo e tentativa de golpe. Ou seja, Bolsonaro teria sido “líder” de um golpe desarmado. (C.N.)

Malafaia manda bolsonaristas desistirem do impeachment de Lula

Silas Malafaia defende candidatura de Bolsonaro no Twitter

Bispo Malafaia manda mais do Bolsonaro e dá as ordens

Igor Gadelha e Gustavo Zucchi
Metrópoles

Responsável por organizar algumas das manifestações pró-Jair Bolsonaro nos últimos anos, o pastor Silas Malafaia deu um “pito” nos aliados do ex-presidente que defendem que os atos de 16 de março tenham o “impeachment” de Lula entre as pautas.

À coluna, Malafaia defendeu a postura de Bolsonaro, que anunciou que participará da manifestação no Rio de Janeiro para defender o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, e não para pedir o impeachment do atual presidente da República.

ENTRA ALCKMIN – “O que o sistema quer é isso, derruba Lula e entra (Geraldo) Alckmin. Essa conversa fiada de que impeachment de Dilma ajudou Bolsonaro, é para quem não conhece a história. O povo deu uma resposta, não foi para o impeachment de Dilma que ajudou Bolsonaro, foi para o desgoverno e a corrupção, tá certo? De 14 anos de governo do PT. Quem está falando isso ou desconhece a história ou quer se ou quer se aproveitar de momento político. Acho que nós temos que ter uma visão lá na frente”, afirmou Malafaia.

O pastor defendeu que Lula e Alckmim “têm que ser derrotado é nas urnas”. “Não tem que dar prêmio para Alckmin substituir Lula. Eles (bolsonaristas que defendem o impeachment) só veem o momento e são pautados pela opinião de redes sociais”, declarou o religioso.

NAS REDES SOCIAIS – A crítica de Malafaia é direcionada principalmente ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). O parlamentar mineiro tem usado as redes sociais para defender o impeachment de Lula como principal pauta dos atos marcados para 16 de março, em São Paulo.

“O que fizeram na campanha de prefeito, estão fazendo de novo: desmoralizando Bolsonaro. Não é a mim, não. Desmoralizam Bolsonaro. E depois vêm com ‘aí que eu morro, que dou minha vida, que o que ele quer, eu faço’. Isso é conversa de hipócrita, de soberbo e vaidoso. Não têm a dignidade de ligar para o cara e dizer: ‘Presidente, é isso mesmo? Vamos, vamos marchar nisso? Então, OK.’”, disse o pastor à coluna.

BOLSONARO NO RIO – Como a coluna noticiou no sábado (15/2), Bolsonaro pretende ir à manifestação no Rio de Janeiro, e não em São Paulo.

O ex-presidente disse que sua principal pauta será o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, e não o impeachment de Lula.

“É previsão, não é certeza porque preciso acertar com mais gente… eu gostaria de ir ao Rio de Janeiro, no dia 16. E a pauta lá seria anistia e as questões nacionais”, disse Bolsonaro à coluna.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Essa conversa de pedir impeachment de Lula é mais uma irresponsabilidade. Lula não tem feito nada no governo. Ora, se não tem feito nada, isso não pode ser motivo para impeachment. Não fazer nada é uma especialidade que Lula cultiva desde o sindicalismo, quando era conhecido como Barba, o informante da Polícia Federal. (C.N.)

Petista denuncia Anielle Franco e diz que ela age como “santa de bordel”

Anielle Franco pede que PT tome medidas após Quaquá defender Brazão

Anielle comprou briga com Quaquá e agora tem de aturar

Paulo Cappelli e Augusto Tenório
Metrópoles

Vice-presidente do PT e prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá está denunciando a ministra da Igualdade Racial do governo Lula, Anielle Franco, ao Conselho de Ética do partido. O dirigente petista disse à coluna ter encontrado indícios de que um suposto funcionário fantasma da prefeitura foi indicado por ela na gestão passada. A titular da pasta nega e argumenta que é alvo de “perseguição e violência política”.

Quaquá narrou: “Me mandaram um recado que havia sido contratado um funcionário fantasma a pedido dela. Sendo ou não dela, eu mandei abrir inquérito. Eu fui ver se esse caso de Maricá era verdadeiro, e descobri que, além de tudo, o cara era ‘consultor’ dela enquanto ainda estava em Maricá. Infelizmente, na esquerda e na direita, temos esses santos de bordel. É por isso que o povo anda tão descrente em política”.

COMISSÃO DE ÉTICA – O vice-presidente do PT completou: “Vou pedir Comissão de Ética para ela na reunião do Diretório Nacional. Ele ainda citou que foi alvo de uma denúncia semelhante por parte de Anielle.

“Ela pediu Comissão de Ética pra mim por ter defendido que o Brazão é inocente e não teve o devido processo legal no caso Marielle”, afirmou o prefeito, em referência ao deputado Chiquinho Brasão, preso preventivamente como suposto mandante do assassinato da vereadora do PSol, irmã da ministra.

O servidor citado por Quaquá é Alex da Mata Barros, lotado na autarquia Serviços de Obras de Maricá (Somar). Ele foi admitido em 1º/6/2021 e deixou o cargo de assessor especial em 1º/1/2025.

GENTE NEGRA – Quaquá sustenta que ele, nesse período, também prestou serviços para o Ministério da Igualdade Racial (MIR). O funcionário foi contratado como consultor do Projeto Gente Negra “Reconstrução e Desenvolvimento”, da pasta chefiada por Anielle, em 17 de maio de 2024.

Procurada, a assessoria de Anielle negou as acusações de Quaquá e afirmou que os consultores do projeto foram contratados e remunerados diretamente pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (Banco CAF), com apoio do ministério.

VEJA A NOTA – “Não há ilegalidade em nenhuma consultoria de apoio ao Ministério da Igualdade Racial. Os consultores participantes do projeto são contratados e remunerados diretamente pelo Banco CAF em apoio e fortalecimento do Ministério da Igualdade Racial. O edital de seleção foi elaborado seguindo os critérios e padrões internacionais informados pelo banco.

A consultoria é financiada com recursos de cooperação internacional, seguindo os parâmetros legais do padrão de apoio institucional do Governo Federal.

A Ministra Anielle Franco afirma que perseguição política e violência política não serão toleradas e toda e qualquer tentativa de desinformação e fake news serão respondidas à altura, por medidas cabíveis”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Anielle Franco deveria ser submetida à Comissão de Ética também por ter acusado o então ministro Silvio de Almeida de assédio sexual. Ela o denunciou à Comissão de Ética do Planalto que analisou o caso e inocentou Almeida, cuja imagem já estava destroçada. Agora, o ex-ministro pretende processar Anielle por denunciação caluniosa. Como dizia Tom Jobim, é a lama, é a lama, é a lama… (C.N.)

Lula vai desabando e acha que o problema do Brasil é Donald Trump

Tarifaço de Trump: o aço esquentou! | Jornal de Brasília

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

J.R. Guzzo
Estadão

Há uma diferença, como muita gente sabe, entre números e realidades. Nem sempre os algarismos são um espelho dos fatos, e nem sempre os fatos se demonstram através dos algarismos. Já não é fácil, mesmo num governo razoavelmente alfabetizado, definir o balanço entre as duas coisas.

Com a ignorância sistêmica do atual governo brasileiro, então, o melhor é já chamando o padre para dar a extrema-unção. É o caso, agora, da crise de nervos do Brasil diante das demandas de reciprocidade de tarifas comerciais feitas pelo novo governo americano Donald Trump.

NÃO ENTENDE NADA – O presidente Lula não entende nada de números. Em compensação, também não entende nada de realidades – em sua fase atual, acha que a culpa pela inflação é do povo que fica comprando comida cara, ou que vai resolver os seus infortúnios de “imagem” fazendo uma caravana com Janja pelo Brasil.

A soma dessas duas incapacidades leva o governo brasileiro a se comportar, tontamente, como um bando de galinhas agitadas quando acontece alguma coisa diferente perto delas.

Lula, como os cachorros de Pavlov que ficavam com água na boca todas as vezes em que tocavam uma sineta associada à hora de comer, entra automaticamente em crise de nervos a cada vez que topa com a palavra “Trump”.

CAINDO AOS PEDAÇOS -Desde que ele ganhou a eleição, Lula não perde uma única oportunidade de fazer todo o tipo de insulto ignorante, colérico e despeitado contra o governo e o país que tem o dever de respeitar e tratar com cortesia – para atender ao interesse nacional, e não à sua coleção de ideias mortas.

Seu governo está caindo aos pedaços há dois anos, e ele acha que o problema do Brasil são os Estados Unidos. A chegada de Trump à presidência pode realmente dar início a mudanças estruturais na comunidade das nações tal qual ela é hoje.

Na verdade, Trump já está provocando mudanças brutais – na política, na diplomacia, na economia, na segurança internacional, na entrada com força máxima da tecnologia de vanguarda no governo, na política e na operação da máquina estatal nos Estados Unidos, na agenda “progressista”.

SEM PREPARAÇÃO – É para esse tipo de mudanças que o Brasil teria, já, de estar se preparando. Mas Lula não tem a menor ideia sobre tais realidades. Não entendeu nem o prefácio – imaginem o pré-difícil. 

Tarifas são tema para profissionais do ramo. O Brasil, para começo de conversa, é um dos países que aplica as taxas de importação mais altas do mundo – tem de andar sempre com muito cuidado quando lida com esse assunto. Lula, em vez disso, fica gritando que vai “retaliar”.

Não tem ideia, por exemplo, que o açúcar brasileiro paga 70% de tarifa para entrar nos Estados Unidos; os 25% que Trump propõe seriam uma beleza. Mas e daí?

“Escrever versos sem pensar, que sejam puros e inocentes como princípio do amor”

Dante Milano, retratado por Portinari

Dante Milano, retratado por Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Dante Milano (1899-1991), que nasceu em Petrópolis (RJ), no poema “Descobrimento da Poesia” deseja escrever versos sem pensar, mas que sejam puros e inocentes como princípio do amor.


DESCOBRIMENTO DA POESIA
Dante Milano

Quero escrever sem pensar.
Que um verso consolador
Venha vindo impressentido
Como o princípio do amor.

Quero escrever sem saber,
sem saber o que dizer,
Quero escrever uma coisa
Que não se possa entender,

Mas que tenha um ar de graça,
De pureza, de inocência,
De doçura na desgraça,
De descanso na inconsciência.

Sinto que a arte já me cansa
E só me resta a esperança
De me esquecer do que sou
E tornar a ser criança.

Maior absurdo de Trump é pretender expulsar os palestinos de Gaza

Enfurecido com impeachment, Trump diz que pedirá para China investigar Biden - Jornal O Globo

Assessores de Trump têm medo de contestar suas ideias

Thomas Friedman
Folha/New York Times

O plano do presidente Donald Trump de assumir Gaza, remover seus 2,2 milhões de palestinos e transformar a faixa costeira desértica num tipo de Club Med prova apenas uma coisa: como é curta a distância entre o pensamento fora da caixa e o pensamento desvairado.

Posso dizer com segurança que a proposta de Trump é a iniciativa de “paz” para o Oriente Médio mais absurda e perigosa jamais apresentada por um presidente americano.

APROVAÇÃO IMBECIL – Ainda assim, não tenho certeza do que é mais assustador: a proposta de Trump para Gaza, que parece mudar a cada dia, ou a velocidade com que seus conselheiros e autoridades do gabinete — quase nenhum informado sobre os planos com antecedência — balançaram a cabeça em aprovação à ideia, como uma coleção de bonecos bobbleheads.

Prestem atenção, senhoras e senhores: essa proposta não trata apenas do Oriente Médio. É também um microcosmo do problema que enfrentamos neste momento enquanto país.

Em seu primeiro mandato, o presidente Trump esteve cercado por mitigadores: conselheiros, secretários de gabinete e generais que muitas vezes evitaram e contiveram seus piores impulsos. Agora está cercado somente por amplificadores: conselheiros, secretários de gabinete, senadores e membros da Câmara que vivem com medo de sua ira ou de serem atacados por multidões online atiçadas por seu fiscal, Elon Musk, caso saiam da linha.

SEM AMARRAS – Essa combinação de Trump sem amarras, Musk sem restrições e grande parte do governo e do establishment empresarial vivendo com medo de ser tuitado por qualquer um dos dois,  é uma receita para o caos, domesticamente e no exterior.

Trump opera mais como o Poderoso Chefão do que como o presidente: “Belo pequeno território que vocês têm aí (Groenlândia, Panamá, Gaza, Jordânia, Egito). Seria uma pena se algo ruim acontecesse por lá…”.

Isso pode funcionar nos filmes, mas na vida real, se o governo Trump realmente tentar forçar a Jordânia e o Egito ou qualquer outro Estado árabe a aceitar os palestinos que vivem em Gaza — e fazer o Exército israelense prendê-los e deslocá-los, já que Trump disse que a transferência não envolveria tropas dos EUA e não custaria nenhum centavo aos contribuintes americanos.

DESEQUILÍBRIO — A transferência massiva desestabilizará o equilíbrio demográfico na Jordânia entre os habitantes da Cisjordânia e os palestinos, desestabilizará o Egito e desestabilizará Israel.

Por mais que os israelenses odeiem o Hamas, estou certo de que muitos soldados, fora os de extrema direita, se recusarão a fazer parte de qualquer operação que possa ser comparada à captura e transferência de judeus de suas casas durante a 2ª Guerra.

Conforme opinou o jornal israelense Haaretz: “Não há soluções mágicas capazes de dissolver simplesmente o conflito. A audácia de apresentar tal solução — que ecoa termos como transferência, limpeza étnica e outros crimes de guerra — é um insulto tanto aos palestinos quanto aos israelenses”.

REAÇÃO EM CADEIA – Trump também criará uma reação contra embaixadas e interesses dos Estados Unidos em todo o mundo árabe muçulmano, com muitos muçulmanos indo às ruas na Europa, no Oriente Médio e na Ásia se manifestar contra palestinos sendo forçados a deixar suas terras em nome de Trump, criando um resort litorâneo na Faixa de Gaza — que Trump disse que “possuirá” e para onde os palestinos não teriam direito de retornar.

Isso seria o maior presente que Trump poderia dar para o Irã se reerguer no Oriente Médio e envergonharia todos os regimes sunitas pró-EUA.

Empresas americanas como McDonalds e Starbucks, que já enfrentaram boicotes em razão do armamento fornecido pelos EUA a Israel na guerra de Gaza, seriam prejudicadas ainda mais duramente.

ALGUMA RAZÃO – Trump tem alguma razão? Bem, sim. Ele está certo ao afirmar que o Hamas é uma organização enlouquecida e perversa, que, ao massacrar de cerca de 1,2 mil pessoas em 7 de outubro de 2023 e sequestrar cerca de 250, desencadeou o impiedoso ataque israelense contra o Hamas, escondido no subsolo em Gaza, sem nenhum respeito aos civis de Gaza.

O Hamas transformou seus vizinhos palestinos em objetos de sacrifício humano com intenção de deslegitimar Israel em todo o mundo. Para muitos jovens que só recebem notícias por meio de vídeos no TikTok, funcionou, embora a estratégia não pudesse ter sido mais cínica.

Trump também está certo ao afirmar que, como resultado, Gaza transformou-se em um inferno. E também está certo ao afirmar que o problema dos refugiados palestinos foi mantido vivo durante muito tempo por cínicos, no mundo árabe e em Israel, e por líderes palestinos incompetentes.

SEM LIMPEZA ÉTNICA – Sair do 7 de Outubro para qualquer tipo de processo de paz não será fácil, a ideia de que tudo já foi tentado e a única opção que resta é limpeza étnica está errada.

Mas é isso que a direita israelense e o Hamas querem que todos acreditem.

Por fim, Egito e Jordânia reafirmam unidade contra plano de Trump para realocar em seus territórios os palestinos expulsos de Gaza.

Assim como Lula interditou a esquerda, Bolsonaro quer interditar a direita

Ipec: rejeição a Bolsonaro é de 46%; Lula é rejeitado por 38% | Metrópoles

Bolsonaro e Lula, as duas faces da mesma moeda sem valor

Carlos Pereira
Estadão

O slogan “Lula Livre”, que ganhou força quando o ex-presidente estava preso por condenações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, serviu essencialmente aos interesses de Lula e do PT. A narrativa, ao invés de fortalecer a esquerda como um todo, aprisionou o campo progressista à candidatura do próprio Lula em 2018. Agora, a história se repete na direita.

A pauta da anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro e a tentativa de reduzir o prazo de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa de oito para dois anos interessam apenas a Bolsonaro, não à direita de forma geral.

PROTAGONISMO – São medidas que reforçam seu protagonismo e minam o surgimento de novas lideranças conservadoras e comprometidas com a democracia no País.

Em 2018, mesmo preso, Lula conseguiu se manter politicamente relevante e praticamente inviabilizou a construção de candidaturas alternativas e competitivas na esquerda. A percepção de que apenas ele teria força eleitoral para derrotar Bolsonaro consolidou sua hegemonia e interditou o caminho para candidatos alternativos.

Agora, a defesa da anistia aos envolvidos nos ataques às instituições democráticas e a proposta de flexibilização da inelegibilidade têm o mesmo efeito para Bolsonaro.

SEM RENOVAÇÃO – Essas pautas impedem a direita de se renovar, mantendo-o no centro da discussão política e garantindo sua influência na eleição de 2026, seja como candidato, seja como fiador de uma candidatura de sua estrita confiança.

O maior beneficiado por essa movimentação é o próprio ex-presidente. Se anistiado, ele pode disputar as eleições novamente. Mas, mesmo sem concorrer, seguirá como líder incontestável da direita, dificultando o surgimento de novos nomes competitivos.

Construir uma candidatura viável à Presidência da República em um sistema presidencialista multipartidário já é um grande desafio. Além de exigir um nome carismático e com projeção nacional, a empreitada demanda altos investimentos e um grande esforço político dos partidos.

MENOS RISCOS – Muitas legendas preferem focar em candidaturas legislativas ou estaduais, que oferecem menor risco e retorno eleitoral mais previsível. Nesse cenário, figuras carismáticas de perfil populista como Bolsonaro bloqueiam o surgimento de alternativas.

O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), parece ter caído nessa armadilha. Ao minimizar os eventos de 8 de janeiro e considerar legítima a proposta de flexibilizar a Lei da Ficha Limpa, ele reforça a ideia de que apenas Bolsonaro teria condições de derrotar Lula.

No fim das contas, a anistia e a flexibilização da inelegibilidade não servem à direita, mas a Bolsonaro. O que está em jogo não é o futuro do campo conservador, mas a manutenção de um projeto político personalista, que impede a renovação e mantém o ex-presidente como peça central do jogo eleitoral.

Degradação da política arruinou a coligação que Lula tinha negociado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (à dir.) na cerimônia de sanção da nova Lei Geral do Turismo. Ao seu lado, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)

Lira conseguiu manipular Lula nos dois anos iniciais

Janio de Freitas
Poder360

Um contraste com enorme eloquência. Os contrários ao presidente Lula entraram no terceiro ano do mandato presidencial com pressão total, a que não faltam indícios de coordenação –empresariado, economistas financeiros, congressistas da oposição e parte da mídia.

Por seu lado, o próprio Lula, o ministério e o PT mantêm a passividade de quem sequer percebesse a existência de adversários.

PARALISIA OFICIAL – A inoperância é a mais forte das impressões dadas pelo governo, como um todo. Novidade é a sua extensão ao confronto político mais aceso, que foi especialidade dos petistas.

Nem para estranhar ou explicar a queda de Lula nas pesquisas de opinião, repentina e forte, o governo fez mais do que aceitar a hipótese da mídia: carestia.

No mínimo, um governo desperto atentaria para a intensificação – uma onda, mesmo – de aumentos não justificáveis nem pela subida do dólar. Valor, aliás, retornado ao nível precedente na moeda, não nos preços.

ALGUNS AJUSTES – Há três meses, a reforma do ministério é assunto constante. Nada houve nesse gênero, nem com a redução da reforma a “alguns ajustes”, nas palavras de Lula.

Com as eleições dos presidentes do Senado e da Câmara, caiu o último dos motivos alegados para a protelação dos “ajustes”.

A reforma do ministério é uma necessidade desde o segundo dia do governo. Ou desde a sua posse. A ideia de negociação participativa, básica na composição ministerial, estava superada pela degradação da política. Levou Lula a concessões excessivas, em número e em qualidade.

CONVENIÊNCIAS – O critério de Arthur Lira e dos partidos do Centrão, para suas indicações, combinou conveniências na política interna dos congressistas e interesses regionais (políticos e negociais). A qualificação dos indicados não foi cogitada.

Para o propósito de reerguer o conceito do país nas relações internacionais, Lula transferiu ao chefe da Casa Civil a condução do ministério, tarefa dele mesmo no êxito de seus mandatos passados.

A novidade não funcionou, nem sequer para a meia dúzia de ministros à altura de seus cargos.  O despropósito de 38 ministérios só serviu para transações inúteis com Lira e o Centrão, que logo condicionaram as limitadas aprovações ao dá cá/toma lá. De bilhões.

RUMO A 2026 – Diante desse quadro, a direita, com uso da mídia, precipitou o tema da disputa eleitoral de 2026. E isso faz crescerem as implicações das necessárias mudanças no ministério. Delas e da aplicação que que Lula dê aos seus atributos pessoais, pouco usados na atividade dispersiva de meio mandato, estão influências para muitos elementos do futuro.

Recuperação e êxito do governo, ou insucesso, terão incidência direta, por exemplo, nas possibilidades de “esquerda e direita” em 2026. Talvez até na designação dos candidatos. Muito do futuro está sendo jogado agora.

Instinto moral está baseado apenas na ideia de proteção, diz psicólogo

Outraged: Why We Fight About Morality And Politics And How To Find Common Ground

Livro de Gray explica visões sociais antagônicas

Hélio Schwartsman
Folha

“Outraged” (indignados), de Kurt Gray, é um livro adequado a nossos tempos. O autor se propõe a investigar as razões que nos levam a dividir-nos em relação a questões morais e políticas. Basicamente, ele estuda a polarização.

A tese central de Gray é que o homem foi, ao longo de sua história evolutiva, muito mais presa do que predador. Isso deixou marcas em nosso psiquismo. A mais notável delas seria um instinto moral baseado na ideia de proteção.

INSTINTO DE PROTEÇÃO – Todos os nossos juízos morais seriam uma tentativa de proteger a nós mesmos, nossa família, terceiros ou até valores que visam a manter a coesão social.

O que separa defensores e opositores do aborto não seria uma paleta moral totalmente diversa, mas uma diferença sobre quem é a vítima real da loteria cósmica, a mulher ou o feto.

O alvo principal de Gray é o psicólogo Jonathan Haidt, proponente da teoria dos fundamentos morais. Segundo Haidt, nosso instinto moral é composto por cinco ingredientes. A ideia de proteção é só um deles.

MENOS RELEVÂNCIA – O livro me trouxe um insight valioso. Gray é enfático ao afirmar que, dada nossa história evolutiva, estamos condenados a sempre procurar sinais de perigo.

Essa tendência, quando opera num mundo cada vez mais seguro e menos intolerante, faz com que nos preocupemos (e nos dividamos) por questões cada vez menos relevantes.

Isso vale tanto para o mundo físico como para o moral. Crianças da minha geração viajavam no chiqueirinho das Variants e jamais cogitariam de usar capacete para andar de skate ou de bicicleta. Um pai que permitir isso hoje pode ser preso.

E O RACISMO? – De modo análogo, enfrentar o racismo algumas décadas atrás era opor-se a leis que negavam igualdade jurídica a todos os cidadãos; hoje discutimos quais palavras causam desconforto psíquico a quais grupos.

O assustador é pensar que, quanto mais avançarmos, mais obcecados por minudências nos tornaremos. Essa, contudo, é a minha visão.

Gray é otimista. Ele acha que há formas de superar os piores aspectos de nossas divisões morais.

Lula reclama da lenga-lenga ambientalista que trava o petróleo da Amazônia

A lenga-lenga ambientalista

Ilustração reproduzida de O Globo

Elio Gaspari
O Globo

Quando Lula disse que “não dá para a gente ficar nessa lenga-lenga” na questão ambiental para a exploração das reservas de petróleo da chamada Foz do Amazonas foi ao olho do problema.

É sabido que a centenas de quilômetros do litoral norte do continente, nas águas do Amapá, há uma rica província petrolífera. Chamá-la de Foz do Amazonas é um truque de retórica, pois esse estuário fica a 500 quilômetros da chamada Margem Equatorial. Explorando-a, a Guiana e o Suriname vivem um período de bonança.

IBAMA BLOQUEIA – Em 2013, a Petrobras, num consórcio internacional, arrematou o lote FZA-M-57 para sua eventual exploração. O que se pretende para toda a área é uma licença para novas perfurações. Defendendo o meio ambiente, o Ibama congelou a pesquisa.

Há anos o Ibama e a Petrobras estão numa lenga-lenga. O Ibama pede garantias, a Petrobras responde e o instituto pisa no freio. Em outubro passado, 26 técnicos do Ibama rejeitaram o material enviado pela empresa e recomendaram não só indeferimento do pedido de licença, mas o arquivamento do processo.

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, abriu uma janela, pedindo novos estudos e providências à Petrobras. (Agostinho está na mesa das frituras do Planalto.)

RISCO ECOLÓGICO – Os riscos de vazamento de óleo, bem como os eventuais danos à fauna aquática, envolvem complexas questões técnicas. Nesse campo, tanto a Petrobras quanto o Ibama são entidades respeitáveis, a menos que suas posições estejam contaminadas por outros objetivos.

Uma petroleira estaria contaminada se tivesse um passado de irresponsabilidade. Não é o caso da Petrobras. Um instituto de defesa do meio ambiente estaria contaminado se, na raiz de suas objeções, estiver uma pura e simples condenação da exploração de combustíveis fósseis.

Nesse caso, o que Lula chamou de lenga-lenga, chama-se trava.

NOTA INÓCUA – A associação dos servidores do Ibama soltou uma nota condenando a fala de Lula com sólidos argumentos institucionais. Não enumerou um só fato que desminta que há uma lenga-lenga na decisão do que em burocratês se chama de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar ou AAAS.

Apesar da grandiloquência, a nota reconheceu: “Porém, não se tem notícias de pressão do Palácio do Planalto para que a AAAS saia do papel.” Zero a zero, bola ao centro. Não tendo havido pressão, haveria lenga-lenga, disfarce da trava.

Em terra firme, os ambientalistas enfrentam os agrotrogloditas e muitas vezes se valem de travas. Em alto mar, a Petrobras já mostrou que não é uma petrotroglodita, mas está sendo tratada como se fosse. Afinal, se um sujeito é contra a exploração de combustíveis fósseis, a própria lenga-lenga seria perda de tempo.

TRAVA DE PODER – Muita gente boa do universo ambientalista usa a trava para exercer seu poder. Trata-se de uma tática tóxica. Por irracional, robustece trogloditas do outro lado, e eles já governaram o Brasil.

A criação da Autoridade Climática é um exemplo do uso da trava para preservar quadrados de poder burocrático. No início de 2024 ela era uma promessa de campanha de Lula, mas foi esquecida. Em setembro, diante dos fogaréus, ele anunciou em Manaus que criaria essa nova entidade. Cadê?

A promessa está atolada no manguezal onde se chocam duas visões. Numa, a Autoridade ficaria apensa à Presidência da República, com poderes sobre todos os ministérios. Noutra, ela ficaria dentro do Ministério do Meio Ambiente, preservando-se todos os quadrados de poder da burocracia ambiental. O projeto está na Casa Civil, submetido a outra lenga-lenga.

E O AMAPÁ? O estratégico território que forma hoje o Amapá é brasileiro desde 1900 porque foi conquistado no tapa e na lábia aos espanhóis, holandeses, ingleses e franceses. No site do Senado dois livros contam essa bela história.

Um é “Amapá: A terra onde o Brasil começa”, de José Sarney e Pedro Costa. O outro é “Santana da Amazônia — A ocupação e conquista de Santana e o seu papel para a consolidação da Amazônia brasileira”, de Marlus Carvalho. Ambos grátis em PDF.

Líderes petistas acreditam que Lula logo se recupera nas pesquisas

Ministro de Secretaria de Relações Institucionais do Brasil Alexandre Padilha usa boné “Brasil é dos Brasileiros”

Padilha diz que Lula tem força e vigor para se recuperar

Sérgio Roxo
O Globo

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta sexta-feira que o presidente Lula tem força e vigor adequados para reagir e mexer no que tem que ser mexido na segunda metade do governo e assim reverter a queda de popularidade apontada pelo Datafolha.

— O presidente Lula tem a humildade e a experiência necessárias para ler e a força e vigor adequados para reagir e mexer no que tem que ser mexido no segundo tempo do jogo — disse Padilha,

DOIS INDÍCIOS – O ministro citou a queda da inflação e do dólar como sinais de que o quadro pode ser alterado.

— O IPCA de janeiro já foi o menor desde 2012, o dólar já tem trajetória de queda , com trabalho, sem truques ou malabarismos.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira mostrou que a avaliação positiva do governo caiu 11 pontos percentuais, de 35% para 24%, nos últimos dois meses.

QUEDA INÉDITA – O atual patamar de ótimo/bom, no início da segunda metade do terceiro mandato de Lula, é inédito para o petista em todas as suas gestões à frente do Palácio do Planalto.

A avaliação negativa do governo (ruim ou péssima) também é recorde e subiu, no período, de 34% para 41%. Já o percentual da população que considera a gestão regular variou de 29%, em dezembro, para 32% no levantamento mais recente.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse nas redes sociais que os números são resultado de um período ruim do governo.

MESES DIFÍCEIS –  “A pesquisa Datafolha é o reflexo dos dois meses mais difíceis para este governo. Tivemos a especulação desenfreada com o câmbio, que também afetou os preços dos alimentos, o aumento do imposto estadual sobre a gasolina, as péssimas notícias sobre o aumento dos juros, o terrorismo sobre o resultado fiscal e a maior fakenews de todos os tempos, sobre a taxação do pix”, afirmou.

De acordo com a dirigente, cotada para ser ministra da Secretaria-Geral, é necessário agora resolver problemas, como o do processo dos alimentos.

“Agora temos que virar esta página, cuidando dos problemas reais do nosso povo, especialmente do preço dos alimentos, como determinou o presidente Lula.

VÁRIOS PROGRAMAS – “Vamos Implantar o programa da distribuição de gás, a isenção do IR até R$ 5 mil e as novas linhas de crédito acessível para a população, que Lula já anunciou, e continuar ajudando quem mais precisa, como aconteceu com a Farmácia Popular, que agora entrega de graça todos os medicamentos da lista”.

Segundo a Gleisi, a gestão de Lula precisa manter “a geração de empregos, o crescimento dos salários e da economia, que são as grandes marcas do governo”.

“Vamos fazer a disputa política com uma oposição que torce contra o Brasil”, acrescentou.

FAZER COMPARAÇÃO – Na opinião de Gleise, é preciso comparar como estava o país e o que está sendo feito no crédito, na recuperação da indústria, no financiamento da agricultura, na educação com o Pé de Meia, escolas integrais e creches, assim como no Bolsa Família, na construção de casas e tantos outros programas.

“Governar olhando para as pessoas e para o país nunca é fácil, porque isso contraria muitos interesses. Mas é nesse rumo que vamos virar o jogo, fazendo a disputa política com uma oposição que torce contra o Brasil, mostrando o que foi, o que está sendo e o que ainda vai ser feito. Vamos em frente e a luta”, concluiu.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É claro que sonhar ainda não é proibido nem paga imposto. (C.N.)

Ministros de Lula veem Flávio Dino descolado ‘rápido demais’ do governo

Sessão Solene de Abertura do Ano Judiciário de 2025. Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Participam da cerimônia: Ministro Flávio Dino e Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre.

Postura independente de Dino deveria servir de exemplo

Bela Megale
O Globo

Ministros de Lula avaliam que Flávio Dino se “descolou rápido demais” do governo depois de assumir a cadeira do Supremo Tribunal Federal (STF). A atuação independente do ex-chefe da pasta da Justiça tem sido criticada por parte dos ministros palacianos, que atuam no dia-a-dia da política.

A reclamação é que, mesmo independente, as ações de Dino no STF, especialmente em relação às emendas parlamentares, são vistas no Congresso como tendo a influência de Lula, o que não acontece de fato, segundo membros do governo.

HÁ ELOGIOS – Alguns ministros ligados à área econômica, críticos ao jogo de emendas, no entanto, passaram a elogiar a independência de Dino.

Um gesto do magistrado reforçando que ele seguirá com sua lupa no tema foi informado nesta quinta-feira pela apresentadora da GloboNews, Andréia Sadi.

Na reportagem, ela relata que Dino intimou o Congresso e representantes do governo federal a prestarem esclarecimentos sobre as emendas, numa audiência que será presidida por ele, em 27 de fevereiro.

CONTROVÉRSIAS – O magistrado chegou a suspender o pagamento das emendas por falta de transparência.

Em paralelo, os parlamentares atuam em busca de uma espécie de anistia para irregularidades relacionadas a desvios da verba pública.

Nesta quinta-feira, Dino autorizou uma operação da Polícia Federal que mirou o chefe de gabinete de um deputado federal gaúcho, por possíveis desvios de emendas destinadas a um hospital do Rio Grande do Sul.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nem todo ministro trabalha caninamente na defesa do presidente que o nomeou para o Supremo. Os que são verdadeiramente juristas costumam proceder sempre de forma independente. Ao que parece, Flávio Dino e Cristiano Zanin estão costeando o alambrado, como dizia Leonel Brizola. Merecem o respeito de todos nós. Dizem que Dino sonha com o Palácio do Planalto, porém isso é assunto mais para a frente. (C.N.)

Google e Apple cedem a Trump e criam mapas com o Golfo da América

A imagem mostra um smartphone exibindo um mapa com a localização marcada como 'Gulf of America'. Ao fundo, há um mapa da região dos Estados Unidos, destacando os estados da Louisiana e Alabama.

Google e Apple já se curvaram às idiotices de Trump

Hélio Schwartsman
Folha

Esqueça a guerra tarifária e a sudetização da Ucrânia. O contencioso trumpiano mais legal de acompanhar no momento é aquele em torno do golfo do México, que o presidente americano rebatizou de golfo da América.

Solícitos, Google e Apple atenderam ao capricho presidencial, exibindo o novo nome em seus aplicativos de mapas quando acionados a partir do território americano. A Associated Press não aquiesceu e teve um de seus repórteres barrado em evento da Casa Branca.

SEM NOVIDADE – O nacionalismo onomástico não é exatamente uma novidade. Brasileiros estamos familiarizados com a polêmica Malvinas/Falklands.

Algum tempo atrás, os próprios americanos, indignados com a oposição francesa à invasão do Iraque (2003), tentaram rebatizar as “french fries” (batatas fritas) de “freedom fries”. Não colou. O povo continuou pedindo e comendo “french fries”.

O que há por trás de um nome? Ele é um simples designador de coisas (função de referência), como ocorre quando dizemos “esta rosa”, ou opera também no nível do significado, evocando idealizações de conceitos (a palavra “rosa” sem o “esta”), que nos permitem reconhecer universais, isto é, a rosidade que traduz o que há de comum a todas as rosas?

ÍMPETOS DE TRUMP – É complicado. Como já mostrara o filósofo e teólogo francês Pedro Abelardo no século 12, mesmo que não houvesse mais rosas, o nome “rosa” ainda significaria algo, ou a proposição “não existem rosas” deixaria de fazer sentido. Uma das áreas mais fascinantes da filosofia é a filosofia da linguagem.

Quando deixamos que a política invada a seara dos nomes, entramos em território propício a fake news. Como observou Voltaire, o Sacro Império Romano-Germânico não era sacro, nem era um império e nada tinha de romano. Ao menos era germânico.

Alternativamente, podemos entrar só no terreno do ridículo, como é o caso do golfo da América. Mas quem dera os ímpetos antissistema de Trump se limitassem a rebatizar topônimos.

Sem substituto, Lula está entregando o País de mão beijada para a direita

Lula se mostra encurralado entre pressões internas e externas e até mesmo em seu campo político

Envelhecido e confuso, está na hora de Lula dizer adeus

Eliane Cantanhêde
Estadão

O presidente Lula está cercado por todos os lados: agronegócio, mercado, importadores, exportadores, as tarifas de Donald Trump, Congresso, pelo menos quatro presidentes de partidos, direita, centro, parte da esquerda, um a cada três dos seis eleitores e, muito particularmente, as redes sociais. Lula perde o rumo e a mídia e sua maior ameaça vem do próprio PT: uma guinada à esquerda, num País e num mundo cada vez mais à direita, seria a pá de cal.

Uma dura crítica a Lula é que ele replica Dilma Rousseff na economia, mas a sensação agora é ainda mais agoniante: a de que o processo de isolamento do seu governo repete o de sua antecessora petista, com o presidente trancado no Planalto sem entender o tamanho da crise, cercado de ministros batendo cabeça, entre ceder ou confrontar o Congresso e botando a culpa na comunicação e na mídia.

ENCURRALADO – Após a Quaest detectar que a desaprovação começava a ultrapassar a aprovação, o Datafolha não só confirma como mostra o quanto a queda é brusca: Lula tem o nível de bom e ótimo mais baixo de todos os seus mandatos. A oscilação em 2024, de 35% a 36%, despencou para 24%, enquanto o ruim ou péssimo, que ia de 32% a 34%, disparou para 41%.

Com 17 pontos entre positivo e negativo, a pergunta que ronda o País é se Lula tem condições de recuperação até as eleições de 2026 – não mais para a reeleição, que sai do radar, mas para fazer o sucessor, que ninguém sabe quem seria. A opção Fernando Haddad, que parecia, e era a melhor, esfarelou.

Sem Lula e um nome para o lugar, o que resta para a esquerda? Não mais atrair o centro, como em 2022, mas apoiar o centro em 2026.

E O CENTRO? – Mas… o que é e quem é o centro? Existe um centro, depois do fim dramático do PSDB? E o PT tem pragmatismo e visão estratégica para apoiar alguém fora da própria bolha? Olhando a história, sempre foi “ou eu, ou nada”.

É assim que Lula, PT e governo derrotaram Bolsonaro e a extrema direita em 2022, mas estão empurrando a política brasileira para a direita, na onda internacional. A discussão é sobre qual será a direita beneficiária no Brasil dessa desordem mundial criada por Trump e dessa falta de rumo escancarada por Lula. A direita do Centrão ou a direita devastadora do bolsonarismo?

Convém monitorar os passos de Gilberto Kassab, que tem um pé no governo Lula, com três ministérios do PSD, e outro no de São Paulo, como articulador político. E não é que, depois de criticar Lula e Haddad, ele acaba de bater um papo e trocar confidências e sorrisos com o ex-desafeto Jair Bolsonaro? A chance da esquerda seria dividir a direita, mas como se não consegue nem se unir?

Distraída, a direita aprova leis que seguem princípios da esquerda

Tribuna da Internet | No mundo atual, conceitos de esquerda e direita já  não fazem muito sentido

Charge do Zé Dassilva (Portal NSC)

André Marsiglia
Poder360

Conta o poeta grego Homero, em sua “Ilíada”, que, durante a guerra com Troia, os gregos construíram um grande cavalo e o fizeram entrar na cidade fortificada inimiga como um presente. No oco cavalo havia soldados gregos. Por essa razão se usa até hoje a expressão “presente de grego”, com uma conotação negativa.

Pois bem, há duas leis recentes bastante comemoradas pela direita que considero um presente de grego, um cavalo de Troia, pois, embora contenham uma visão moral de direita, decerto sem querer, estão fundadas em um princípio de esquerda.

AS DUAS LEIS – São elas: a Lei 15.100/2025, que proíbe celulares em escolas, originada do PL 104/15 do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS); e a Lei “anti-funk”, aprovada há alguns dias em Santa Catarina, de autoria do deputado estadual Jessé Lopes (PL-SC) que proíbe nas escolas músicas contendo linguagem vulgar.

A intenção moral das leis é positiva: valorizar a disciplina e o respeito dos alunos no ambiente escolar. No entanto, o princípio norteador das leis é o Estado dizer a pessoas privadas, no caso, nossos filhos, o que podem usar, fazer e ouvir dentro de escolas.

Notem, não são leis que regulam a conduta do professor ou o material público por eles usado, mas a conduta privada dos alunos no intervalo, no recreio, no descanso das aulas.

ESTUDOS RELIGIOSOS – Com base nesse mesmo princípio, a esquerda tem promovido parte de suas pautas. Um bom exemplo foi a tentativa de o Ministério Público proibir os chamados “intervalos bíblicos”, estudos religiosos feitos por alunos nos intervalos de aulas nas escolas de Pernambuco.

O mesmo Estado que interfere na liberdade do aluno ouvir determinada música interferirá na leitura de determinado texto. Mudam as intenções, o princípio é o mesmo: o Estado interferindo no que podem ou não fazer nossas crianças.

Esse princípio de interferência estatal nas liberdades individuais é um clássico das esquerdas: o Estado-pai, o Estado-tutor. Com base nesse raciocínio, as esquerdas têm defendido a proibição de armas a particulares e a regulação agressiva das redes sociais.

SOMOS INCAPAZES? – A ideia é que não somos capazes de reger nossa própria vida e precisamos do Estado para nos auxiliar. As leis trabalhistas e a interferência sindical também estão baseadas nessa mesma lógica de hipossuficiência do homem em sua casa ou em seu trabalho.

Tem sido bastante salutar a voz da direita ser ouvida no Legislativo, trazendo pautas, ideias, vontades, em representação a uma imensa fatia do Brasil. Mas é preciso cuidado para não entregarem à população um presente de grego, não criarem um cavalo de Troia, que traga dentro das leis promovidas pela direita os princípios da esquerda.

É preciso dar um basta ao país onde celular vale mais do que uma vida

Imagem colorida mostra o ciclista Vitor Medrado - Metrópoles

Vitor Medrado foi morto a tiros por causa do celular

Mario Sabino
Metrópoles

Qual foi a reação do presidente da República ao assassinato do ciclista Vitor Medrado em São Paulo, vítima de ladrões de celular? Até agora, não se ouviu nada de Lula.

Em qualquer país do mundo civilizado, o governante expressaria publicamente a sua indignação com a barbaridade, transmitiria as condolências aos familiares e amigos da vítima e exigira que os culpados fossem capturados e punidos.

DISSE LULA… – Temos, no entanto, o silêncio presidencial. Ou a reprise, nas redes sociais, do vídeo de novembro de 2019 em que Lula diz: “Não posso ver mais jovem de 14 e 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia, às vezes inocente ou às vezes porque roubou um celular”.

Se a reprise do vídeo é exploração política indevida de uma frase infeliz, que faz pouco caso daquele que é o crime mais comum cometido no Brasil, daquele que é o crime que afeta principalmente gente pobre, para quem celular é patrimônio, daquele que é o crime que ceifa muito mais vidas do lado do assaltado do que do assaltante, este seria o momento de o presidente da República se explicar.

De afirmar que, ao condenar a violência policial, não quis fazer apologia da impunidade, se é que é pensa mesmo assim.

CULPA DO ASSALTADO – No Brasil, um celular vale mais do que uma existência. Do que uma alma. No Brasil, usar um celular na rua é quase cometer suicídio por mãos alheias. É como pedir para ser morto.

A situação é tão espantosa que nos pegamos culpando o assaltado por ele ter sido imprudente a ponto de, veja só que absurdo, responder a uma mensagem enquanto andava na calçada ou falar ao telefone enquanto estava parado no seu carro no semáforo.

Não me venham com a justificativa social. Alegar que é a pobreza que leva ao crime é criminalizar o pobre. O pobre, aqui, também é vítima. A principal, como já foi dito.

PROBLEMA POLÍTICO – O problema não é social, mas político. Estamos nas mãos de governantes relapsos, incompetentes, corruptos e impiedosos.

De gente que passa a mão na cabeça de bandidos por ideologia, como Lula, ou que prega que bandido bom é bandido necessariamente morto por achar que Justiça é vingança, como Jair Bolsonaro. Em nenhum dos casos, ficaremos a salvo de sermos mortos na esquina.

Estamos nas mãos deles porque nos colocamos nas mãos deles, como gado que vai docemente para o abate. Comecei apontando o dedo para Lula, mas agora aponto o dedo para você. O assassinato do ciclista nos coloca outra vez diante da nossa maior questão nacional: a criminalidade. Questão que é também moral.

APENAS LAMENTAR – Você vai apenas lamentar mais uma morte? Você fazer outro textão em rede social e continuar aceitando mansamente que milhares de cidadãos sejam assassinados a cada ano por causa de um celular ou por qualquer outro motivo que vai do fútil ao torpe?

Você vai reagir tão-somente na base do salve-se quem puder, erguendo muros, blindando carros, evitando andar na calçada, escondendo telefone na roupa? Normalizando o que não deve ser normalizado?

Diga o que você, brasileiro como eu, pretende fazer a respeito de um país no qual uma existência vale menos do que um celular. Um país onde todos morremos de medo, esperando não morrer baleados. É preciso dar um basta a este Brasil.

Fim do sonho! 62% não querem que Lula se candidate à reeleição

Lula em 28 de novembro de 2024 — Foto: Reuters/Adriano Machado

De repente, o mundo parece desabar em torno de Lula

Roberto Peixoto
do g1

Pesquisa Ipec divulgada neste sábado (15) aponta que 62% dos brasileiros avaliam que o presidente Lula (PT) não deveria se candidatar à reeleição em 2026.

Outros 35% avaliam que ele deveria se candidatar e 3% não souberam ou preferiram não opinar.

VEJA OS NÚMEROS – Deveria se candidatar: 35% (eram 39% em setembro); Não deveria: 62% (eram 58%); Não sabe/Não respondeu: 3% (eram 3%);

O levantamento foi realizado entre os dias 6 e 10 de fevereiro em 131 municípios brasileiros. Foram entrevistadas 2 mil pessoas com 16 anos ou mais.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança da pesquisa é de 95%.

RAZÕES DA QUEDA – Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atribuíram nesta sexta-feira (dia 14) a queda na popularidade do governo ao que chamaram de “tempestade perfeita” envolvendo o aumento no preço dos alimentos, à crise recente do PIX e ao aumento do dólar. Mesmo assim, dizem acreditar que as próximas pesquisas deverão indicar melhora.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta mostrou que o número de eleitores que consideram o governo do presidente Lula “ótimo” ou “bom” caiu de 35% em dezembro para 24% e os que consideram “ruim” ou “péssimo” aumentou de 34% em dezembro para 41%.

Além disso, em janeiro, pesquisa Quaest divulgada em janeiro mostrou que a aprovação do governo Lula caiu de 52% em dezembro para 47%, enquanto a reprovação aumentou de 47% para 49%.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os petistas culpam os ministros, pedem forte mudança no primeiro escalão e sugerem uma queda à esquerda. Não entendem que Lula está com a validade vencida. Se o governo se posicionar mais à esquerda, será o fim de Lula e do PT. O fim de uma era. (C.N.)

Trump não fez a América grande, mas encolheu o bolsopatriotismo

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Ao prejudicar o Brasil, Trump enfraquece o bolsonarismo

Josias de Souza
do UOL

Tarcísio de Freitas celebrou o retorno de Trump à Casa Branca, no mês passado, com um vídeo nas redes sociais. Nele, acomodou sobre as orelhas o boné vermelho do movimento Maga —”Make America Great Again”— e declarou: “Grande dia!”. Decorridas três semanas, o governador de São Paulo talvez não se aventure a repetir a cena.

O surto tarifário de Trump não prejudicou apenas o aço do Brasil. A vassalagem de Bolsonaro e seus devotos ao “mito” americano, também feita de aço, virou ponta de estoque no mercado político.

TUDO AO CONTRÁRIO – Trump ainda não fez a América grande de novo. Mas já apequenou o bolsopatriotismo. A vinculação incondicional a Trump tornou-se um esporte antipatriótico de alto risco para a direita brasileira.

Numa de suas primeiras declarações depois da posse, Trump disse que os Estados Unidos não precisam do Brasil e da América Latina. “Eles precisam de nós”, desdenhou.

Carbono de Trump no Brasil, Bolsonaro fez da submissão um objetivo de vida. “Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível”, declarou. “Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse candidato” em 2026.

NÃO TEM TEMPO -Não é que Trump ignore Bolsonaro. A questão é que, preocupado em presidir o mundo, ele não tem tempo para pensar no capitão. Se pensasse, talvez o ignorasse. Ao passar um ferrolho no mercado americano, prejudicando os negócios do Brasil, Trump deixa o bolsonarismo sem chão.

Mais um pouco e a direita nacional, avessa à China, desconfiará que se assustou com a assombração errada.

Fascínio pela morte decorre de um mal-estar civilizatório insuperável

O Otimista - Cientistas prometem 'ressuscitar' ave extinta e liberá-la na  natureza

Cientistas sonham em ressuscitar o dodô, que está extinto

Muniz Sodré
Folha

A maior preocupação da plutocracia que acaba de chegar ao poder com Trump é hoje a imortalidade. Jeff Bezos, da Amazon, pesquisa o elixir da juventude, enquanto Sergey Brin e Larry Page, donos da Google, concentram-se numa startup (“Calico”) cujo objetivo é “matar a morte”.

Mas há colaterais de menor porte: movidos por achados arqueológicos, cientistas vêm se declarando prontos para ressuscitar animais extintos, do mamute ao pássaro dodô. O DNA das fezes e do vômito de dinossauros é o caminho técnico.

EXEMPLO MORTO – O dodô existia até o século 17 nas ilhas Maurício, no Índico, desaparecendo 100 anos após a chegada dos humanos. Anacronismo vivo, semelhante a um pombo de um metro de altura, tinha asas, mas não voava, não tinha medo de humanos, nem sequer de marinheiros esfomeados.

Foi caçado até o último exemplar, mas ficou como símbolo da indiferença suicida. Ressuscitar o extinto é só uma variável dos projetos de extinção da morte.

O documentário “Eternal you” mostra a IA simulando conversas de vivos com mortos. Mas o passado projeta-se também para iluminar aspectos obscuros de identidades culturais presentes. É que, em matéria de evolução, não existe escala única como padrão hierárquico para os diversos modos de existência.

MUTAÇÃO HUMANA – Técnicas e objetos sempre foram vetores de energia em culturas tradicionais, como entre os europeus, com o diferencial do grau de desenvolvimento das forças produtivas. O que era sagrado e festivo perdeu a vez para o mercantilismo.

É preciso, assim, distinguir formas holísticas de vida nas sociedades tradicionais das formas mortas que rondam a atualidade. Hoje se assiste a uma mutação radical na espécie humana, em que são convergentes criação orgânica e criação artificial: tecnologia não é mais um outro do humano, é também o seu constituinte. São metamorfoses que ainda não se medem cientificamente, mas podem ser sentidas no cotidiano.

Ou assustadoras sob formas caóticas. Uma delas é a obsessão com identidades mortas, tematizadas no imaginário como mortos-vivos, infecciosos e mortíferos.

MEDO DA MORTE – São fantasias do medo radical, que é o medo da morte. E a solução fantasiosa para a ameaça é sempre o emprego de armas, cada vez mais criativas e poderosas. Coisa natural para os americanos, cuja cidadania está ancorada no passado miliciano da independência e da guerra civil.

Arma virou agora fonte de identidade. No Natal, pais deram pistolas verdadeiras de presente a crianças de seis anos.

Esse fascínio atemorizado pela morte decorre de uma alergia à vida, por um mal-estar civilizatório insuperável, já que a prosperidade predatória é outra face da morte do planeta.

DIREITO À FELICIDADE – A Constituição americana consagra o direito individual de busca da felicidade, mas o país é sem alegria real, pois alegria ensina que felicidade é comunhão de vida.

Importam apenas negócios e, agora, esperança de futuro em Marte com o homem imortal, o cyborg, pesquisado por Elon Musk. Vale perguntar o que nós mortais temos a ver com isso. Nada, responderia o bom senso.

Mas a ultradireita sempre encontrará nas redes o vômito de algum dinossauro político para o DNA da mistificação. Por isso é bom ter em mente que, no regime “imperial libertário” tramado pelos plutocratas, democracia é o pássaro dodô da vez.

“Nova Riviera” significará eternizar a guerra de israelenses e palestinos

Trump International Beach Resort

Eis o projeto do Trump International Beach Resort na Flórida

Janio de Freitas
Poder360

O Donald Trump que projeta criar na Faixa de Gaza a “nova Riviera”, em alusão aos balneários franceses para os ricaços do mundo, não é o atual presidente americano. É o Trump empresário, dono de hotéis de luxo e resorts para golfistas, um ricaço feito no setor imobiliário.

Inexiste outra motivação possível –fosse estratégica, econômica, geológica ou de pacificação– para Trump projetar “o controle” dos Estados Unidos sobre a Faixa de Gaza e expulsar 2,4 milhões de palestinos da sua terra.

DEPORTAÇÃO – Depositados “no Egito e na Jordânia”, que se recusam a aceitá-los, esses milhões de palestinos continuariam como vizinhos hostis e hostilizados de Israel.
O projeto Gaza-Riviera não se encaixa, também, na interpretação da experiência diplomática, de que Trump se excede para obter acordos com as concessões do seu interesse.

É o que está esboçado com o México, onde a presidente Claudia Scheinbaum dispôs-se a ativar o protelado plano de vigilância de fronteira.

ELES NADA TÊM – Com os palestinos, não pode ser o caso. A eles só resta a vida para conceder, e os genocidas não precisam de concessões. A exploração imobiliária da Faixa de Gaza invalida a ideia de dois Estados, palestino e israelense, como aprovado pela ONU. Mas não só.

Retira uma área importante do plano do Grande Israel, ambicionado pela direita e uma das causas do massacre de habitantes e da estrutura da Palestina.

 Se Trump promete uma dádiva econômica para os israelenses em geral, aos fundamentalistas religiosos contraria em um dos objetivos primordiais.

E OS EUROPEUS – A divergência com os fundamentalistas talvez mais importante, para o esquema de Trump, do que a reação dos europeus, na velha imagem, de rabo entre as pernas.

Há todo um sistema jurídico e institucional, acima das ações externas de cada país ou governo, que Trump e seus projetos internacionais violam. São mínimos, no entanto, os riscos de que os Estados Unidos tenham algum aborrecimento nesse âmbito.

Ainda assim, e com diferentes pretextos, instâncias importantes do sistema internacional já perderam, ou a perda é iminente, a contribuição financeira ou a presença dos norte-americanos.

DIREITOS HUMANOS – Ao menos um dos casos dá, porém, oportunidade para se dizer que Trump agiu bem. Aplausos para a retirada norte-americana do Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH).

Seu governo não respeita direitos humanos, nem direito algum de segundos e terceiros.

A presença dos Estados Unidos no CDH, só desmoralizaria o órgão que batalha pela ampliação de direitos no mundo, não de hotéis e resorts.