Carlos Newton
Apesar de ex-comandantes e oficiais-generais estarem na mira da Polícia Federal nas investigações determinadas no Supremo pelo ministro Alexandre de Moraes, as Forças Armadas não comentam a Operação Tempus Veritatis, que atingiu integrantes da cúpula do governo Jair Bolsonaro, além do próprio ex-presidente e três ex-ministros, com envolvimento de militares até da ativa no que está sendo descrito pelos investigadores como uma tentativa de golpe de Estado.
Exercito e Marinha emitiram discretas notas oficiais, sem qualquer comentário sobre os acontecimentos, mas a Força Aérea nem quis se manifestar.
DIZ O EXÉRCITO – Em sua nota oficial, o Exército afirmou apenas que “acompanha” as investigações e presta informações caso necessárias:
“O Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Exército Brasileiro (EB) acompanha a operação deflagrada pela polícia Federal na manhã desta quinta-feira (8 de fevereiro de 2024), prestando todas as informações necessárias às investigações conduzidas por aquele órgão“, afirma o comunicado oficial.
A operação atingiu uma série de oficiais-superiores e generais. Entre eles, estão três ex-ministros militares, todos generais de quatro estrelas: Walter Souza Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa).
DIZ A MARINHA – A nota oficial da Marinha é ainda mais seca, embora um dos principais alvos da Operação seja o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, que era comandante da Força Naval no governo Bolsonaro e foi denunciado como entusiástico defensor do golpe no depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro;
“Em relação à Operação da Polícia Federal Tempus Veritatis, a Marinha do Brasil (MB) reitera que não se manifesta sobre processos investigatórios em curso, sob sigilo, no âmbito do Poder Judiciário. Consciente de sua missão constitucional, a MB, Instituição nacional, permanente e regular, reafirma que pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência“, diz a nota oficial.
A Força Aérea Brasileira (FAB) foi a única das três Forças Armadas a não se manifestar. A investigação até cita o ex-comandante, brigadeiro Carlos Baptista Júnior, mas as informações são de que ele foi ferrenho opositor da tentativa de golpe, e a Aeronáutica está fora da mira.
DIZ MOURÃO – Em tradução simultânea, ninguém conseguirá saber a opinião das Forças Armadas (leia-se: dos seus Altos-Comandos), porque não existem vazamentos.
A única alternativa é acompanhar os sucessivos pronunciamentos do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-presidente do Clube Militar, que funciona como uma espécie de porta-voz informal do Exército.
“Temos militares que eventualmente podem ter cometido crimes em função militar. O Exército deveria ter aberto há muito tempo inquérito policial militar, estar conduzindo essa investigação e, caso se comprovasse que essas pessoas tivessem cometido crime que não fosse afeto à Justiça Militar, passasse às mãos de quem estaria conduzindo o restante dos inquéritos”, disse o senador, em entrevista coletiva com parlamentares da oposição.
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P.S. 1 – Aqui na Tribuna, não passaremos paninho em militares envolvidos na tentativa de golpe. Pelo contrário, vamos exigir que sejam exemplarmente punidos, na forma da lei. Mas o fato concreto é que o ministro Alexandre de Moraes não está obedecendo às leis na investigação e julgamento dos invasores da Praça dos Três Poderes, conforme temos denunciado na TI.
P.S. 2 – Uma das muitas ilegalidades cometidas por Moraes é processar e julgar no Supremo os envolvidos no 8 de Janeiro. O ministro jamais poderia exigir“foro privilegiado” a quem não tem essa prerrogativa. Isso significa que o réu perde direito aos recursos, em flagrante prejuízo do devido processo legal. No afã de condená-los, Moraes e outros ministros têm cometido muitas ilegalidades. Mas será que terão coragem de continuar agindo à margem da lei ao processar e julgar oficiais-generais? Esse filme eu quero assistir e já comprei as pipocas.
P.S. 3 – Por fim, o senador Mourão está errado na avaliação sobre o general Augusto Heleno. Ao contrário do que o parlamentar pensa, Heleno está envolvido até o pescoço. E as ilegalidades dele eram conhecidas desde que participou da reunião com a advogada Luciana Pires, para combinar como a Abin iria auxiliar a defesa do filho Zero Um (Flávio Bolsonaro), que na época estava ameaçado pelas rachadinhas. Sem dúvida, Mourão vai se decepcionar muito quando souber das trapalhadas de seu amigo Heleno. (C.N.)