Papa Leão XIV fala em “criar pontes” entre a Igreja e um mundo em convulsão

Quem é o papa Leão XIV: próximo de Francisco e missionário no Peru - Jornal Z Norte

Leão XIV deve seguir a estratégia de prioridade aos pobres

Marcelo Godoy e Luisa Laval
Estadão

O novo pontífice, anunciado nesta quinta-feira, 8, saudou os fiéis que o aguardavam na praça de São Pedro, no Vaticano. Robert Prevost apareceu na sacada da Basílica de São Pedro com vestes que não se viam em um papa desde a renúncia de Bento XVI. O nome que o cardeal norte-americano que tem a cidadania peruana escolheu tem longa tradição entre os pontífices: Leão.

Mas desde 1878 nenhum eleito no conclave o adotava. Ou seja, desde o reformador Leão XIII, criador da Doutrina Social da Igreja, Roma não tinha um bispo com esse nome.

SEGUIR AS REFORMAS – Leão XIII enfrentava a crescente influência dos políticos anticlericais, dos liberais e dos social-democratas, em um mundo que vivenciara a unificação alemã e a italiana, com o fim dos Estados Papais, e a industrialização americana e a japonesa.

Nesta quinta-feira, dia 9, em dois gestos, o novo Papa buscou mostrar o que pensa de seu pontificado: a conciliação entre a tradição, mas a busca de uma igreja em seu tempo.

O novo papa tem 69 anos. Não era o mais jovem dos cardeais, mas também não é o mais idoso. Poderá ter pontificado longo e continuar assim as reformas iniciadas por Francisco. E uma delas foi citada em seu discurso: a sinodalidade, o processo que mudou o governo da Igreja, tornando-o mais compartilhado entre o papa e os bispos.

CONTINUIDADE – Não só. A ênfase no primeiro discurso de Leão XIV a temas como a paz e a construção de pontes mostra ainda mais a continuidade que ele pretende afirmar seguindo Francisco.

No meio de seu discurso, Leão XIV também mostrou não apenas afeto pela sua antiga diocese no Peru, Chiclayo. A exemplo de Jorge Bergoglio não manteve o italiano como única língua ao se dirigir aos fiéis na Praça de São Paulo.

Também usou o espanhol, o que indica a força que o clero latino-americano teve em sua eleição durante o conclave – digna de nota é a ausência do inglês em seu discurso. Ele é justamente um homem com grande vivência pastoral da América Latina.

DA ORDEM DE LUTERO – Por fim, trata-se de um agostiniano, como Martinho Lutero, o gigante da Reforma. É o primeiro da ordem de Santo Agostinho a assumir os destinos da Igreja de Roma.

Devemos esperar alguém que repita, diante dos poderosos da terra – americano ou não – ‘Hier stehe ich, ich kann nicht anders? Aqui estou, e não posso agir de outro modo, como disse Lutero ao imperador Carlos V ao comparecer diante da Dieta de Worms?

Por fim, o Papa Leão XIV agradeceu ao Papa Francisco, que o fez cardeal e acenou para a manutenção de uma igreja missionária, como a sonhada por seu antecessor, um jesuíta.

PONTES E DIÁLOGO – Em resumo, Leão XIV quer uma igreja que “construa pontes e diálogo” e que esteja sempre aberta todos os que tenha necessidade “da nossa caridade e presença” e “sempre em procura da paz e que esteja vizinha de quem sofre”.

Seu lema, “in illo unio unum”, são palavras de Santo Agostinho. Mostram que, “ainda que cristãos são muitos, no único Cristo somos um”. Agostinho via o mundo com pessimismo. Era um mundo que o bispo de Hipona testemunhara desabar diante das invasões bárbaras, do saque de Roma e de sua diocese.

Era um mundo em profunda transformação, como o atual. É neste mundo – em que a modernidade parecer ir para um lado mais rápido do que a Igreja pode compreendê-la – que o novo papa terá de construir pontes. E a primeira delas deve ser entre essa realidade e a sua Igreja.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente análise de Marcelo Godoy e Luisa Laval. Devemos acrescentar que a principal reforma que falta à Igreja Católica, sobretudo nas grandes cidades, é mesmo “criar pontes” entre os padres e o povo, como fazem as novas seitas evangélicas. Aliás, o novo papa é radical nesse sentido, igual a Francisco, e diz que “bispos e cardeais não devem se sentir como príncipes, pois precisam sofrer junto com o povo”. Outro detalhe: A missa católica, por exemplo, é repetitiva, sempre a mesma ladainha, uma cerimônia cansativa e sonolenta, sem a emoção que nos leva ao Senhor, digamos assim. É por isso que no Brasil as seitas evangélicas ganham cada vez adeptos e têm crescente participação ativa na política partidária. Com toda certeza, os votos dos evangélicos podem decidir a próxima eleição. (C.N.)

4 thoughts on “Papa Leão XIV fala em “criar pontes” entre a Igreja e um mundo em convulsão

  1. Todo esse fatiado 171 da fé, levará a vaticinada apostasia e infiltrado mafioso contábil saque!
    PS. Distanciados, salve-se, quem puder!

  2. A Nota da Redação está impecável!
    Sou católica e frequento bem pouco as missas justamente porque são monótonas e repetitivas…as vezes tem padres que são mais entusiasmados e fazem um sermão ou leitura mais interessante…outros já são tão automáticos que nem alteram a voz.
    Que o novo papa consiga sensibilizar os governantes e espalhar a paz no mundo!

    • Prezada Lélia,

      Missa mesmo, aqui no Rio, é na Igreja da Glória, no Largo do Machado, com o pároco Giovane Ferreira, um dos poucos exorcistas do Brasil. Suas missas nada têm a ver com aquela xaropada do Vaticano. Seus sermões são eletrizantes. Se puder assistir, você vai se surpreender. Ligue para lá que eles informam o dia. A igreja fica entupida.

      Outra missa boa é às quintas-feira, na Igreja de Santa Cecília, em Botafogo.

      Infelizmente, os grandes sacerdotes católicos são poucos.

      Abs.

      CN

  3. Depois da Argentina, Estados Unidos, com vivências na América do Sul.

    Ainda lembro de Lula fazendo campanha por um papa brasileiro no conclave que sucedeu a morte de João Paulo II.

    Apesar de todos os imperialismos que usaram e abusaram da fé cristã, atacando minorias no bullying em alta escala da política-religião internacional, lembrar de Jesus e falar, enquanto soft power, contra a estupidez, a selvageria, o primitivismo do século XXI, faz com que o líder de uma grande e longa trajetória religiosa tenha relevância.

    Francisco tem seu lugar na história, ainda que simbólico, como uma pequena luz de sincretismo, tolerância, pacificação.

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