Brasil tem pouca relevância na espionagem internacional, mas oferece oportunidades

Seis espiões russos, no sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: Yekaterina Leonidovna Danilova, Vladimir Aleksandrovich Danilov, Olga Igorevna Tyutereva, Aleksandr Andreyevich Utekhin, Irina Alekseyevna Antonova e Roman Olegovich Koval.

Seis membros do grupo de espiões desbaratado pela PF

William Waack
Estadão

A primeira operação documentada de espionagem de Moscou no Brasil data de 1935 e acabou muito mal. Na época, um casal de agentes soviéticos dirigia de Copacabana o fluxo de dinheiro e mensagens com a central em Moscou na Intentona Comunista encabeçada por Luis Carlos Prestes.

O grupo todo enviado por Moscou foi desbaratado, morto, preso, torturado e os que escaparam – como o casal de agentes soviéticos, ucranianos de nascimento − tiveram na volta para casa destino semelhante.

BAGUNÇA NACIONAL – O “Estado” ganhou o Prêmio Esso de 1993 com a reportagem contando esse episódio − e como o famoso “ouro de Moscou” tinha sido dinheiro recebido por Prestes de Getúlio e levado para a URSS.

Nos relatórios desses espiões da precursora da KGB, o Brasil era um país no qual tudo era difícil por falta de disciplina, desorganização e baixa confiabilidade dos integrantes locais da tropa de revolucionários internacionais. Foi a causa, segundo eles, da derrota de Prestes.

No imaginário russo, o Brasil sempre foi uma espécie de paraíso tropical fantástico, o que se refletiu na foto com a qual o último chefe da KGB em Brasília se despediu do País quando a União Soviética implodiu e ele fechou o escritório no começo da década dos noventa.

NADA DE SÉRIO… – Ele se deixou fotografar diante do Palácio do Planalto carregando no dedo uma vistosa arara, publicada pela “Veja”, a quem o espião aposentado disse que nada de muito sério havia tramado no Brasil.

De lá para cá não se ouviu mais falar de espionagem russa no Brasil, até as revelações trazidas agora pelo New York Times. Segundo as quais essa mesma bagunça pode ser uma grande oportunidade: a de se obter facilmente documentos com os quais se permite criar uma identidade “real”.

Além do fato de que qualquer sobrenome ou fisionomia pode ser a de um brasileiro, o que sempre tornou passaportes brasileiros muito procurados no mundo da clandestinidade política ou criminal.

BOM DISFARCE – Nota-se que os espiões russos criados aqui estavam sendo preparados para atuar em outras paragens. Ser cidadão de um país, como o Brasil, muito afastado de qualquer conflito internacional relevante não levanta inicialmente nem muita atenção nem muita suspeita.

E com exceção da Triplice Fronteira, o País não é palco de disputas subterrâneas entre grupos políticos internacionais organizados de qualquer tipo.

Em outras palavras, nossa relevância no mundo das operações secretas hoje está ligada ao tremendo peso que assumiu o crime organizado, suas ramificações internacionais e sua imensa capacidade operacional e controle de vastos territórios, como a Amazonia. Não há segredos a serem roubados por aqui. Só há oportunidades.

2 thoughts on “Brasil tem pouca relevância na espionagem internacional, mas oferece oportunidades

  1. “Nos relatórios de espiões da precursora da KGB, o Brasil era um país no qual tudo era difícil por falta de disciplina, desorganização e baixa confiabilidade (…).”

    Não parece ter mudado muito, pelo visto. E “paraíso tropical” seria só mesmo no imaginário. Na mosca!

  2. A intentona, esgueirando-se de Anistia em Anistia, num infiltrado “crescendo” hoje consolida-se destrambelhada e porcamente em imagináveis e já concretas alçadas posiçöes, tudo agora, na maior e provocada escrachada e apátrida libertinagem como generalizada e multilateral criminosa(genocida) “idéia fixa”!
    “Dendos”, em: https://youtu.be/vxZ2MEVKA-o?si=PQVI8S5opQQu67KL

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