Paulo Peres
Poemas & Canções
O poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa (1948/2022)tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da CBS. Segundo Lúcio Barbosa, a música “Cidadão” foi composta em homenagem ao seu tio Ulisses e narra a saga de um pedreiro. Em razão de sua condição humilde, não pode frequentar nenhuma das obras por ele construídas. A inspiração veio do fato do tio também ser pedreiro, ter construído inúmeras obras na cidade grande, mas não possuir casa própria.
CIDADÃO
Lúcio Barbosa
Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição, era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
“Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar”
Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar
Minha filha inocente vem pra mim toda contente
“Pai vou me matricular”
Mas me vem um cidadão:
“Criança de pé no chão aqui não pode estudar”
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja moço,
onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
“Rapaz deixe de tolice, não se deixe amendrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas e na maioria das casas
Eu também não posso entrar”
Legal, né???
1) Licença…
Êta dor de cotovelo
Canção de Jamelão
Êta dor de cotovelo dos diabos
Que saudade, que vontade de morrer
Que adianta encobrir as aparências
Se me olhando todo mundo vai me ver
Êta dor de cotovelo dos infernos
Deste jeito não vai dar pra lhe esperar
Qualquer dia tomo um fogo às escondidas
Choro e saio por aí pra lhe buscar
Êta dor que não devolve quem se ama
Êta dor que ninguém quer dizer que tem
Disfarçada num sorriso mentiroso
É um pedaço de saudade de alguém
Êta dor de cotovelo dos infernos
Deste jeito não vai dar pra lhe esperar
Qualquer dia tomo um fogo às escondidas
Choro e saio por aí pra lhe buscar
Êta dor que não devolve quem se ama
Êta dor que ninguém quer dizer que tem
Disfarçada num sorriso mentiroso
É um pedaço de saudade de alguém
2) Lembrei desta pérola, na voz inconfundível de Jamelão, anos 1970…