O velho esquerdismo está morrendo junto com o mundo onde ele fazia sentido

Direita ou esquerda? No final, o centrão sempre leva! | Jornal de Brasília

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

Sergio Denicoli
Estadão

A dinâmica social e econômica do mundo mudou, e com ela, muitos dos ideais que moldaram a esquerda tradicional perderam força. Os pilares progressistas que, no passado, mobilizaram trabalhadores, estudantes, religiosos e intelectuais já não despertam o mesmo entusiasmo.

A distribuição de renda, por exemplo, uma das bandeiras mais emblemáticas da esquerda, passou a ser vista com desconfiança por uma classe média sobrecarregada por impostos e serviços públicos precários.

FOSSO SOCIAL – Essas pessoas não aceitam mais bancar a conta de um fosso social que a política brasileira nunca conseguiu resolver, e que, muitas vezes, é aprofundado por um Estado que gasta quantias escandalosas com privilégios, mordomias e estruturas pesadas e ineficientes.

A esquerda precisa reaprender a escutar e voltar a viver o cotidiano da população, agindo como presença e apoio concreto, e conectada com o que mobiliza as pessoas hoje em dia.

Enquanto isso, a ideia de emprego formal derrete e já não é a ambição de grande parte da população, sobretudo dos jovens. A carteira assinada perdeu o brilho e, nas redes, é vista com desdém. Empreender, trabalhar por conta própria, buscar autonomia são os novos sonhos.

MERITOCRACIA – Nesse ambiente, a ideia da meritocracia oferece uma narrativa muito apta aos dias atuais, de que o sucesso depende do esforço de cada um, sem considerar os diferentes pontos de partida.

A esquerda que enxerga o mundo por uma lógica de tutela e proteção estatal tem dificuldades em dialogar com essa nova realidade. O conflito social não desapareceu, mas deixou de ser centrado na relação entre patrões e empregados. Hoje, ele se dá principalmente entre quem tenta sobreviver sozinho e quem representa estruturas públicas caras, lentas, distantes e que são vistas como algo que mais atrapalha do que ajuda.

A crise é, portanto, mais profunda do que uma eventual derrota eleitoral ou queda de popularidade. É uma crise de representatividade. As bases que fundaram partidos progressistas, como os sindicatos, movimentos sociais e pastorais católicas, perderam capilaridade.

PERDE VÍNCULO – Igrejas evangélicas ocuparam o cotidiano com acolhimento, exercício da fé e foco em resultados familiares práticos e tradicionais, mais próximos da direita. A esquerda, que antes era corpo e voz das populações religiosas, hoje fala de longe, com termos técnicos e bandeiras entendidas como equivocadas. Não tem perdido apenas votos nesses ambientes. Perde vínculo.

Quando criticada, a resposta costuma vir com ares de superioridade, como se a população estivesse errada por não entender o valor do projeto que considera o único correto, o que demonstra estar perdida em um labirinto de espelhos.

A eleição de Lula, em 2022, nada trouxe de novo em termos de ideias. Foi resultado de uma conjuntura de medo, não de entusiasmo. O centro político votou na defesa da democracia, mesmo cansado do projeto petista. Assim, a vitória foi dada por um voto útil, sem paixão. E esse tipo de contexto não se repete com facilidade.

SALAS VAZIAS – Sem uma ameaça explícita para se escorar, a esquerda precisa enfrentar suas salas vazias de povo. Se surgir um conservador equilibrado, com discurso moderado e apelo popular, o progressismo corre o risco de perder um dos últimos argumentos que ainda lhe garante fôlego, que é a demonização dos adversários.

O que resta, então, é encarar a realidade e construir novas bases, a partir de outro lugar. Esse lugar pode ser o humanismo centrado na dignidade de todos os grupos, na prosperidade das famílias, na empatia e na valorização da vida humana. Não como slogan, mas como prática política concreta. A esquerda precisa reaprender a escutar e voltar a viver o cotidiano da população, agindo como presença e apoio concreto, e conectada com o que mobiliza as pessoas hoje em dia.

Se conseguir atravessar esse caminho, pode se renovar. Caso contrário, seguirá sobrevivendo de memórias e sustos, aprisionada à polarização, submetida aos ventos da sorte e aos erros dos adversários, sem fazer a travessia para o presente e muito menos para o futuro.

8 thoughts on “O velho esquerdismo está morrendo junto com o mundo onde ele fazia sentido

  1. Faz sentido, dizem os sábios que Deus coloca certas pessoas em lugares estratégicos para que elas façam coisas necessárias que nenhuma outra faria. E por falar em Deus, FATO OU FAKE ? Fato ou bravata de campanha tipo “pérola” digna de polígrafo ? Por ora, prefiro acreditar em São Tomé, só acredito vendo. Verdade seja dita, Justiça seja feita. No passado, pedi,, via Internet, via Zé Dirceu, Haddad e cia, a Universidade Federal “Lagoa do Sino”, em Burí, divisa com Campina do Monte Alegre, SP, no sudoeste-paulista, projeto que havia sido perdido e até jogado fora pelas administrações anteriores, e fui atendido, tá lá uma extensão da UFISCAR produzindo bons frutos, com a nossa eterna gratidão (porque ingratidão é uma palavra que não existe no dicionário da minha vida) a quem de fato e de direito fez acontecer um dos maiores sonhos da região antes apelidada até de “ramal da fome”. AQUI E AGORA, o desafio é outro, um AEROPORTO EM ITAPEVA, SP, na verdade o mais importante polo de desenvolvimento da região que, infelizmente, encontra-se perto do nada e longe de tudo, há cerca de 400 km de distância das capitais de São Paulo, SP, e Curitiba, PR, prometido e esperado e adiado às calendas gregas, há trocentos anos, pelas administrações anteriores. E O PEDIDO ALTERNATIVO, ou cumulado, tb diz respeito a água, correção de um ABISMO, cerca de 3 mil m2, formado por erros e omissões de administrações anteriores, que já causou a perda de diversas vidas, por falta de galerias e canalização adequadas à espera de solução há cerca de 100 anos, que pôs a perder um riquíssimo manancial que tem a missão natural de levar água limpa ao rio cerca de mil metros linear do local, um enorme potencial turístico e gerador de muitos empregos locais a ser transformado para o bem da recuperação do local perdido para o descaso, das águas limpas, da comunidade itapevense e regional e da própria natureza, unindo o útil ao agradável, quem sabe até via BNDES, Dr. Mercadante urgente… SÃO LULA, CADÊ VC, enquanto enviado de Deus, olhai por nós ? https://noticias.uol.com.br/…/deus-deixou-sertao-sem…

    • No interior do estado de São Paulo está sendo anunciada, no momento, a construção de um aeroporto em Olímpia (há 440 km de distância da capital paulista), estância turística dos parques aquáticos e águas termais; internacional, inclusive.

      E, em 2019, em São Roque (há 74 km de São Paulo), foi inaugurado o Catarina, primeiro aeroporto privado e internacional do Brasil dedicado à aviação executiva; onde o Elon Musk pousou, em 2022, com seu jato Gulfstrem G6550ER.

      Desejamos vitória breve na luta pela construção de um aeroporto em Itapeva, Loriaga, que, em suas poéticas palavras, fica “…perto do nada e longe de tudo”.

  2. Que belo texto, é isso ai mesmo.
    Eles ainda não entenderam que a vida é uma eterna competição, o progresso é fruto da disputa,
    e o trabalho é que dignifica o indivíduo e o faz cidadão.
    Esmola, mesmo pública, como já dizia o velho Luiz Gonzaga, mata o homem de vergonha ou o deixa sem vergonha.
    E o que estamos vendo no Brasil.

  3. Minha cultura política é imperfeita, me faltam muitos “saberes”! Pelo que tenho visto, os plutocratas estão dando as cartas e não admitem qualquer reparo às baboseiras globais que estão encetando. Com o poder financeiro que ostentam fazem e desfazem e somente seus acólitos podem “transitar” com suas ideias estapafúrdias mundo afora; ser de direita ou esquerda pouco importa, daí que , pouco a pouco, o planeta está sendo consumido por mentes vorazes que já decretaram o seu fim…

  4. “Enquanto isso, a ideia de emprego formal derrete e já não é a ambição de grande parte da população, sobretudo dos jovens. A carteira assinada perdeu o brilho e, nas redes, é vista com desdém. Empreender, trabalhar por conta própria, buscar autonomia são os novos sonhos.”

    Humm, me engana que eu gosto.

    Empreendedores? Trabalhar por conta propria?

    Será que há empregos formais com salários dignos para esse pessoal que trabalha com delivery? Com outros aplicativos? Será que isso é empreender? E será que não procuram os serviços públicos quando precisam?

    Quando há um aumento da informalidade, há uma perda de arrecadação importante, porque a contribuição dos trabalhadores informais que tem menos posses é baixa, mas a necessidade de benefícios sociais é igual a quem contribui formalmente.

    Não à toa, o BPC está aumentando ano a ano, com alguns municípios onde o valor pago para esse benefício supera o da bolsa-família..

  5. “…A esquerda precisa reaprender a escutar e voltar a viver o cotidiano da população, agindo como presença e apoio concreto, e conectada com o que mobiliza as pessoas hoje em dia….”””

    Ora bolas, Sr. Esquerdão…

    Os comunopatas nunca escutaram a população,

    Não faça atentados contra minha inteligência de 4a. Série…

    Não sei se o Sr, Esquerdão percebeu ou teve noticias..

    Os comunopatas acabaram de levar uma surra ‘fenomenal” onde diziam que dominavam os pretos, brancos, pobres favelados, donas de casa e velhinhos aposentados indefesos..

    A Zona Leste um dos maiores zonas eleitorais de São Paulo e botou o terrorista e a facção do Narco-`Pinguçu pra correr…..

    Mas, veja como isso é bom….

    aquele abraço

  6. “”…Enquanto isso, a ideia de emprego formal derrete e já não é a ambição de grande parte da população, sobretudo dos jovens. A carteira assinada perdeu o brilho e, nas redes, é vista com desdém. Empreender, trabalhar por conta própria, buscar autonomia são os novos sonhos…..””

    Ah, é, , o Sr. Esquerdão ,agora que percebeu, ou descobriu a polvora.?

    Crianças e jovens já estão jogando a CLT no lixo

    Crianças demonizam CLT’: carteira assinada vira ofensa entre os jovens…

    https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/03/13/era-sonho-virou-ofensa-por-que-os-jovens-tem-medo-de-ser-clt.htm?cmpid=copiaecola

  7. Senhor José Vidal , o que mais me dói é verem os jovens serem iludidos com suas entradas fáceis numa ” faculdade/universidade ” , sabendo-se de antemão que o Brasil precisa formar urgentemente mais técnicos e não doutores , sendo que esses doutores formados se transformarão num verdadeiro pelotão de pessoas ” frustradas , desiludidas e recalcadas ” por dispenderem partes de suas vidas , sem nenhuma perspectiva de serem absorvida pelo mercado de trabalho .

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