O governo, que controlava as CPIs, agora terá problemas com as fraudes da Previdência

title Lularápio e a CPI do INSS Apoie minhas charges pelo pix emeoliv@gmail.com

Charge do Emerson (emeoliv@gmail.com)

Marcus André Melo
Folha

Até 2014, as CPIs estiveram majoritariamente sob controle do Executivo. A formação de coalizões tem tido um duplo papel: garantir apoio parlamentar à agenda do governo e fornecer um escudo legislativo em relação à oposição, especialmente em relação ao impeachment e ações com potencial de gerar elevados custos políticos, como as CPIs.

Nesse contexto, o Executivo atua para impedir sua instalação ou, não conseguindo, dificultar seu funcionamento efetivo.

DIZEM OS NÚMEROS – Para todo o período 1946/2015, apenas 5% das CPIs propostas foram barradas, e 32% das que foram instaladas chegaram à conclusão. Mas há dois subperíodos contrastantes.

Entre 1946 e 1964, das 169 CPIs propostas, 95% foram instaladas e 60% dessas concluíram seus trabalhos. Na Nova República (1990-2015), o percentual de instaladas foi de 25% e apenas 49 concluíram os trabalhos. No Senado, das 47 CPIs propostas nesse período, 28 foram instaladas, e apenas 17 concluídas. O auge do controle pelo Executivo foi no período 2002 a 2010, quando a taxa de conclusão foi de pífios 12%. A proporcionalidade partidária, e o controle das relatorias e presidências, —e também corrupção— garantiram que governos majoritários e alta popularidade controlassem os trabalhos.

TUDO COMBINADO – Na CPMI da Petrobras (2014), foi divulgado um vídeo sobre o ensaio encenado entre parlamentares da base aliada e depoentes envolvidos em irregularidades. As perguntas já estavam combinadas, as respostas roteirizadas —um “gabarito” teria sido entregue à própria CEO da Petrobras.

O relator Marcos Maia (PT) apresentou um relatório preliminar sem indiciar ninguém. Na CPI da Petrobrás na Câmara (2015), presidida por Hugo Motta (PMDB), o relator Luiz Sérgio (PT) não indiciou nenhum parlamentar, apenas nomes já investigados ou encarcerados.

A exceção foi o mensalão, quando o governo perdeu o controle. A CPI do Mensalão, presidida por Amir Lando (PMDB) e relatada por Abi Ackel (PP), não concluiu os trabalhos e o relatório não foi votado. Foi obstruída pelo governismo e especialmente pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, não logrando quórum.

IMPACTO COLOSSAL – A CPI dos Correios, no entanto, presidida por Delcídio do Amaral (PT) e relatada por Osmar Serraglio (PMDB), foi bombardeada pelo governo na CCJ, onde parlamentares não alinhados foram substituídos, teve impacto colossal.

Segundo reportagem de Kennedy Alencar, o governo negociou com os líderes R$ 400 milhões (cerca de RS 1.2 bilhões) em emendas orçamentárias para aliciar deputados. “Em reunião ontem com Lula, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fechou com a estratégia para tentar sepultar a CPI dos Correios”.

NOVO PADRÃO – Havia outro ator no jogo, o STF. Mas esta estratégia não funcionará para Lula 3. Porque o padrão mudou, inclusive em um ponto mais crítico.

A decisão do ministro Celso de Mello, do STF, em 2007, e referendada pelo ministro Luís Roberto Barroso, no contexto da CPI da Covid-19, em 2021, estabeleceu jurisprudência de que as CPIs são instrumentos da minoria, e não podem ser barradas por maiorias parlamentares.

Esse precedente assegurou a instalação da CPI do INSS. O Executivo perdeu com as medidas provisórias, com o orçamento impositivo e agora também vê seu escudo legislativo ruir.

3 thoughts on “O governo, que controlava as CPIs, agora terá problemas com as fraudes da Previdência

  1. O resultado prático de uma CPI será nenhum.

    Dez questões básicas, subliminares:

    Houve roubo? Sim.

    A gestão do INSS atuou com probidade? Não.

    O governo agiu prontamente quando o roubo foi denunciado? Não.

    O dinheiro roubado ainda está em poder dos meliantes? Provavelmente não.

    É preciso devolver o dinheiro roubado? Sim.

    Quem restituirá o dinheiro roubado? O cidadão pagador de impostos — inclusive aquele que foi roubado.

    O INSS será moralizado? Dificilmente.

    Os responsáveis serão punidos na forma da lei? Dificilmente.

    Houve golpe? Certamente.

    Houve ameaça ao Estado Democrático de Direito?
    Depende… Pergunte ao Xandão!

    Lascou!
    Próximo!

  2. Tem deputados e senadores, recebendo grana dos ladrões de velhinhos. A PF mandou pro STF, onde a impunidade é garantida. A CPI, com o Aziz no comando, será outro circo.

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