Para despertar do sono da razão, é preciso perder a esperança na modernidade 

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

O otimismo da razão produz monstros, não só o sono, como pintou Francisco de Goya (1746-1828). Como não perceber isso? Em se tratando do sapiens, o pessimismo é uma forma de contenção da loucura estrutural que atravessa essa espécie infeliz. Na modernidade, o pessimismo é um imperativo categórico.

Só os pessimistas verão a Deus. Basta olhar para o ridículo que é ter feito do mundo um resort da Disney para se perceber a catástrofe que é o otimismo moderno.

A SOCIEDADE FEUDAL – Como bem disse o historiador Marc Bloch (1886-1944) na sua obra capital “La Société Féodale”, os medievais não padeciam da obsessão pelo futuro grandioso —como padecem os modernos— porque se viam como a decadência de Roma e as últimas gerações de permanência do homem no Ser.

Quem poderia imaginar que um traço histórico de caráter como este seria um dia uma virtude? Pois eu tenho certeza de que é. Mas, a causa dessa crença idiota no futuro grandioso —que não passa de pura vaidade— é o otimismo da razão, essa besta fera que teimamos em não dar nome.

DAR NOMES – Deus no Gênesis nos atribuiu a tarefa de dar nomes às coisas, portanto, quando não o fazemos, pecamos. Eis um novo pecado capital: a recusa de dar nome às coisas. O otimismo da razão produz monstros, e um deles é nos impedir de dar nomes às coisas.

Os iluministas franceses —e o otimismo burguês dos negócios— são diretamente responsáveis por esse sono da razão acerca de seus próprios limites, como se Blaise Pascal no século 17 não tivesse dito que nada é mais racional do que saber dos limites da própria razão.

Um dos maiores monstros produzidos pelo sono da razão é o próprio racionalismo que, por sua vez, alimenta a natural onipotência da espécie que vê a si mesma como dona do mundo. O planeta, com ou sem matriz fóssil, poderá eliminar o Homo sapiens, como se este fosse pura poeira cobrindo, temporariamente, sua superfície.

RACIONALISMOS – A natureza íntima dessa máquina de produzir monstros na herança iluminista está, justamente, na crença de que a moral pode ser essencialmente racional, a política pode ser essencialmente racional, e que a educação repousaria sobre um pressuposto racionalista acerca da natureza humana.

Jean-Jacques Rousseau, o grande vaidoso, segundo Edmund Burke, ambos viveram no século 18, já preconizara, para o orgulho desmesurado do novo homem, que somos naturalmente bons, bastando mudarmos a sociedade.

Este pressuposto já é, ele mesmo, um dos primeiros monstros produzidos pela vaidade humana instalada na razão moderna.

4 thoughts on “Para despertar do sono da razão, é preciso perder a esperança na modernidade 

  1. Este cara endoidou. É muito viagem na maionese metafísica.

    Pra que serve a filosofia se ela não nos torna agentes do real?

    E, ademais, a razão suprime a emoção e outras formas de expressão da humanidade e são intercambiáveis em seus papéis?

    Seria o tempo uma variável manipulada pela não-razão ou por ela mesma?

    Interessante que, crítico da produção fordista acadêmica, não perdeu as respectivas manias, de produzir onanismos intelectuais.

    Sentímo-nos ouvindo um paciente no divâ divagando em delírio

    Resumo da ópera: e daí?

  2. Mudando de assunto.

    Site de notícias nem tanto independente, porém muito interessante, que trás outras perspectivas da guerra.

    https://www.youtube.com/live/FZaDztbYUGs

    Ficha corrida da TV

    Resumo geral:
    Tousi TV se posiciona como “uma mídia que vai além das manchetes” — crítica em relação às narrativas convencionais, com um tom forte em liberdade de expressão, capitalismo clássico e valores conservadores/liberais . O canal reúne quase 900 mil inscritos no YouTube e milhares de seguidores nas redes sociais
    x.com
    .

    Para quem é ideal?
    Público interessado em:

    Análises críticas de geopolítica e conflitos.

    Conteúdo alternativo à grande mídia, sem filtros.

    Interação com a comunidade e com o fundador.

    _______________

    Onde fuçar midias de Israel que abordam a guerra. Do Irã não achei, deve ser por causa do totalitarismo medieval

    https://x.com/search?q=israel&src=typed_query&f=list

  3. As falsas virtudes.

    Os piores homens com as melhores famas.

    Os santos canonizados na vida pública e que fizeram muito mal, enganando e mentindo.

    Essa “racionalidade” do engodo e das aparências está por trás de ditaduras que se dizem em defesa da democracia.

    O futuro grandioso de estelionatários que vendem promessas falsas de paz e de igualdade jamais alcançadas.

    80 anos da ONU e um mundo desigual, surreal e autodestrutivo em dimensões sem precedentes.

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