Se não fosse o efeito dos tarifaços, a economia norte-americana estaria andando bem

Mais um estrago patrocinado por Trump – DW – 15/01/2020

Charge do D. Josw (DW)

Vinicius Torres Freire
Folha

“Talvez as crianças tenham duas bonecas em vez de trinta bonecas, sabe, e talvez as duas bonecas custem uns dólares a mais do que custariam normalmente”, disse Donald Trump nesta quarta. As empresas de brinquedos parecem em pânico. Cerca de 77% dos brinquedos importados pelos Estados Unidos vêm da China.

Com impostos de importação de pelo menos 145%, não tem negócio. Se a encrenca não se resolver em 60 dias, dizem empresas, há risco de faltar produto no Natal. Trump, o Nero Laranja, pode ser também o Grinch.

ALTA DE PREÇOS – O caso das bonecas é, claro, metáfora dos problemas que Trump pode ter com o americano comum. Por exemplo, carros, remédios e comida fresca mais caros a partir de maio. Alguns eletrônicos mais caros, pois Trump reduziu o tarifaço sobre esses produtos que vêm da China, como celulares e computadores, mas não acabou com o problema.

Além disso, pode haver menos emprego. Pela preliminar da empresa ADP, a criação mensal de empregos no setor privado em abril ficou na metade do previsto e nuns 40% do número de março. Não deve ser tomada como indício de tendência, porém.

Empresas dizem na mídia dos EUA e a relatórios de bancos que se congelam vagas abertas: não contratam até que a névoa da guerra comercial se dissipe.

NOVOS ACORDOS – Trump diz que novos acordos comerciais devem ser firmados até julho (na verdade, seriam apenas diretrizes de acordos, se tanto). Com a China, sem prazo à vista.

A disrupção econômica de Trump será difícil de reverter. Haverá no mínimo um trimestre de incerteza extensa: confiança do consumidor em baixas de décadas, grandes empresas projetando números piores e segurando investimento, agricultores gritando que vão falir, empresas que importam peças e partes dizendo que não têm como produzir etc.

Piora em inflação e emprego é facada na popularidade. Na média das pesquisas de Nate Silver, Trump começou com 51,6% de aprovação e 40% de desaprovação; agora está com 43,8% de aprovação e 52,6% de desaprovação (em 30 de abril).

BATER EM RETIRADA? – Vai manter seus planos? Como bateria em retirada sem dar vexame terminal? Recuos há, todas as semanas, sob pressão de grandes empresas e da finança.

Isto posto, como dizer algo sobre o PIB, divulgado nesta quarta? Na maneira americana de divulgar os dados, caiu 0,3% em relação ao do primeiro trimestre de 2024 (taxa “extrapolada” para um ano).

O ritmo médio de 2024 (ante 2023) de 2,8%. No trimestre final do ano passado, 2,4%. Parece um desastre. Ainda não é, nem de longe. Mas também não se pode tirar qualquer perspectiva. Se a “trumponomics” evaporasse hoje, daria para dizer que a economia vai bem.

CONTA DO PIB – Um jeito de fazer a conta do PIB é somar gasto com consumo privado, gasto do governo, despesa de investimento (em novas instalações produtivas e máquinas etc.), e a diferença entre vendas para o exterior (exportações) e importações. Tudo mais constante, o aumento das importações diminui o crescimento do PIB.

Nunca antes, desde 1947, a alta de importações tirou tanto do PIB. É uma aberração causada por antecipação de compras no exterior. Mas tudo mais está alterado: aumento enorme de estoques, ainda alguma alta de consumo privado, menor, afetada por expectativas algo “panicadas”. O número do PIB está tão poluído que, mesmo para o curto prazo de um ano, não quer dizer quase nada.

Muito esquecido: ainda estamos para ver o que Trump vai fazer da política fiscal (gastos e impostos), dos efeitos do desmonte do Estado americano e maluquices extras. Quem sabe uma guerrinha?

11 thoughts on “Se não fosse o efeito dos tarifaços, a economia norte-americana estaria andando bem

    • Qual ladrão?

      Sr. Vicente, tem um exército de ladrões por trás dessa tunga,
      repugnante.

      Já deveriam estar presos pelo menos uns 500 malandros.
      Só pra começar a brincadeira.

      A parada é alta!

      O roubo é “FELOMENAL”!

      Sabe o que vai acontecer?

      Nadica de nada!.

      Um abraço,
      José Luis

  1. Medo de fiasco de público e escândalo no INSS tiram Lula do palanque do 1º de Maio

    Lula faltou aos atos do Dia do Trabalhador. Ele despontou como líder operário, ajudou a fundar a CUT e comanda o maior partido de esquerda do país. Ontem preferiu fugir do palanque do 1º de Maio.

    Foi uma ausência estratégica. O petista temia repetir o fiasco de 2024, quando discursou para menos de 2 mil pessoas.

    O sindicalismo vive uma crise estrutural, que reflete as mudanças no mundo do trabalho. As fábricas se esvaziaram por causa da automação e da concorrência com a China. Os trabalhadores se espalharam e perderam a fé nas lutas coletivas.

    O fim do imposto sindical depenou os cofres das centrais, que ficaram sem capacidade de mobilização.

    O quadro se completou com o avanço do discurso individualista (propagado pela igreja evangélica) que demoniza a carteira assinada e ilude trabalhadores com a ideia de que todos podem enriquecer por conta própria.

    O governo só entendeu o tamanho da encrenca ao fracassar na tentativa de regular o mercado de aplicativos. Motoristas e entregadores resistiram à proposta que poderia beneficiá-los. Em parte, por acreditarem na propaganda que confunde precarização com empreendedorismo.

    Se a ida de Lula ao 1º de Maio já balançava, o escândalo do INSS a tornou uma operação de alto risco. O caso trouxe à tona um esquema de desvios bilionários de aposentadorias. O dinheiro foi sugado por sindicatos picaretas em conluio com lobistas e servidores corruptos.

    Iniciados na gestão Temer, os descontos (do esquema criminoso) só aumentaram no governo Lula, sob as barbas do INSS e do Ministério da Previdência.

    Fonte: O Globo, Opinião, 02/05/2025 00h00 Por Bernardo Mello Franco

    • Post original

      Ausência estratégica – Bernardo Mello Franco

      O Globo
      Pela primeira vez desde que voltou ao poder, Lula faltou aos atos do Dia do Trabalhador. O presidente despontou como líder operário, ajudou a fundar a CUT e comanda o maior partido de esquerda do país. Ontem preferiu fugir do palanque do 1º de Maio.

      Foi uma ausência estratégica. O petista temia repetir o fiasco de 2024, quando discursou para menos de 2 mil pessoas. Irritado, ele repreendeu o ministro Márcio Macêdo e disse que o ato teria sido “mal convocado”. Pode ser, mas isso não explica tudo.

      O sindicalismo vive uma crise estrutural, que reflete as mudanças no mundo do trabalho. As fábricas se esvaziaram por causa da automação e da concorrência com a China. Os trabalhadores se espalharam e perderam a fé nas lutas coletivas.

      O fim do imposto sindical depenou os cofres das centrais, que ficaram sem capacidade de mobilização. O quadro se completou com o avanço do discurso individualista que demoniza a carteira assinada e ilude trabalhadores com a ideia de que todos podem enriquecer por conta própria.

      O governo só entendeu o tamanho da encrenca ao fracassar na tentativa de regular o mercado de aplicativos. Motoristas e entregadores resistiram à proposta que poderia beneficiá-los. Em parte, por acreditarem na propaganda que confunde precarização com empreendedorismo.

      Se a ida de Lula ao 1º de Maio já balançava, o escândalo do INSS a tornou uma operação de altíssimo risco. O caso trouxe à tona um esquema de desvios bilionários de aposentadorias. O dinheiro foi sugado por sindicatos picaretas em conluio com lobistas e servidores corruptos.

      Ainda que os culpados sejam punidos individualmente, a fraude tende a aumentar o ambiente de descrédito geral do sindicalismo.

      Depois de uma semana sem se manifestar, Lula quebrou o silêncio no pronunciamento de quarta na TV. Em apenas 26 segundos, exaltou a Polícia Federal e disse que o governo “desmontou” o esquema criminoso iniciado na gestão passada. Faltou acrescentar que os descontos só aumentaram em seu governo, sob as barbas do INSS e do Ministério da Previdência.

      O Planalto quer estancar a crise, mas ainda tem muitas explicações a dar. E a ausência do presidente no 1º de Maio não fará o caso sumir de cena.

  2. Demissão à distância

    Sem força moral para demitir ministro frente-a-frente, Lula costuma às vezes fazê-lo à distância, a partir do exterior, por exemplo (quando não ‘negocia’ uma dispensa com realocação ‘oportunista’ do dispensado).

    A demissão de Lupi da Previdência, não havendo fato superveniente, poderá então acontecer na próxima quarta-feira, dia 7, quando Lula já estiver com um pé no estribo do avião que o levará para Moscou e, depois, para China.

    A ver.

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