Master vendeu R$ 1,9 bilhões em títulos sem garantia para os fundos de pensão

EDITORIAL: Aquisição do Banco Master fortalece o BRB e estimula a  concorrência no setor financeiro – Agenda do Poder

Diretoria do BRB está balançada por causa do Master

Malu Gaspar
O Globo

O Banco Master, que negocia a venda de parte de sua operação para o estatal BRB por R$ 2 bilhões, já arrecadou R$ 1,867 bilhão com a venda de letras financeiras a fundos de previdência estaduais e municipais. Os papéis, que prometem rendimento bem acima do CDI e foram considerados “arriscados demais” pela Caixa em meados do ano passado, estão no centro da controvérsia acerca da saúde financeira da instituição, assim como os CDBs.

Ao contrário dos CDBs, porém, as letras financeiras compradas pelos fundos não são cobertas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – o que significa que, se o banco não honrar o pagamento, não há garantia de recebimento do valor aplicado.

RIOPREVIDÊNCIA

Metade de toda a arrecadação do Master com essas letras – R$ 970 milhões – foi arrecadada com a venda de títulos para o Rioprevidência, como informou o Globo. O fundo dos servidores do estado do Rio é conhecido como feudo político do União Brasil.

Além dos fundos de pensão, a equipe da coluna mapeou outros R$ 200 milhões vendidos ao fundo da Cedae, ex-companhia de saneamento do Rio que também é dirigida por um indicado do União.

O partido, de que faz parte o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, é dirigido nacionalmente por Antonio Rueda – que apesar de ser acreano, é o presidente de legenda com mais influência sobre o governo de Cláudio Castro (que é do PL) e planeja se candidatar a deputado federal pelo estado em 2026.

POLITICAGEM – Rueda também é muito próximo do dono do Master, Daniel Vorcaro, e atuou nos bastidores para concretizar a negociação com o BRB. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), negocia o apoio do União à sua candidatura ao Senado Federal no ano que

O segundo estado que mais comprou papéis do banco de Daniel Vorcaro foi o Amapá. Apesar de o governador ser do Solidariedade, o fundo de pensão também é área de influência do União Brasil, que tem como maior liderança no estado o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

No Amazonas, outro estado governado pelo União, o fundo de previdência dos servidores também comprou R$ 50 milhões em letras financeiras do Master. Ao todo, só os fundos ligados a Rueda aplicaram quase R$ 1,5 bilhão no banco de Vorcaro. Procurado, o Master não se manifestou.

SEM JUSTIFICATIVA – Em nota, o Rioprevidência afirmou que todos os investimentos da entidade “seguem os limites e recomendações do Conselho Monetário Nacional (Res. CMN 4.963/2021), bem como a política de investimentos aprovada pelo Conselho de Administração da Autarquia”, mas não explicou o que justificou os aportes nem quais são as estratégias para garantir a sustentabilidade do fundo em caso de prejuízos com as aplicações.

PEDIDO CAUTELAR – O Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), em dezembro passado, apontou indícios de irregularidade nos investimentos e fez um pedido cautelar ao Rioprevidência para a suspensão de novas aplicações no Master “e outras instituições financeiras que não atendam aos princípios da segurança, proteção e prudência financeira”.

A reportagem tentou contato com os fundos do Amapá e do Amazonas, mas não conseguiu resposta. O espaço está aberto para manifestação.

Na maior parte dos casos, o vendedor dos papéis é o próprio banco Master. Mas, em parte dos negócios realizados com o governo do Rio, a corretora foi a Planner, que vendeu R$ 510 milhões em letras financeiras ao Rioprevidência.

ALTAMENTE SUSPEITA – A Planner já foi alvo de diversas operações da Polícia Federal — incluindo a Greenfield, que apurou fraudes e desvios em fundos de pensão. Em alguns desses processos, o sócio da Planner acusado de fraudes foi Maurício Quadrado, que depois da corretora tornou-se sócio do Master. Em setembro passado, ele anunciou que estava deixando o banco, mas até agora isso não ocorreu.

Procurada pela equipe do blog, a Planner disse não comentar estratégias implementadas por seus clientes e estratégias, mas frisou não reconhecer “qualquer envolvimento por atos classificados como ‘fraude’ envolvendo qualquer tipo de cliente”.

A corretora declarou ainda atuar “em estrita conformidade com a legislação e regulamentação” e que “a intermediação desses títulos, emitidos por diferentes instituições financeiras, para uma base diversa de clientes é uma prática comum e de mercado”.

FICHA SUJA – Em 2018, Quadrado foi citado na delação premiada de um ex-superintendente da Caixa, que disse ter recebido dele uma propina de R$ 8 milhões para destinar recursos do FI FGTS para empresas do grupo Odebrecht.

No acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Roberto Madoglio se comprometeu a devolver à União R$ 39,2 milhões que arrecadou em subornos e que estavam em contas na Suíça e no Uruguai.

Esse foi um dos fatores que levou os gerentes da Caixa a reprovarem a operação de compra de R$ 500 milhões em letras financeiras do Master que estavam em análise pela subsidiária de investimentos. Após assinar um parecer técnico em que afirmam que o negócio era arriscado demais e que o Master tinha um alto risco de insolvência, os gerentes perderam seus cargos. O negócio, porém, foi suspenso.

BC MUDA REGRAS – A negociação com a Caixa fez parte de um movimento realizado pelos gestores do Master a partir do final de 2023, quando o Banco Central emitiu normativas que aumentavam a exigência de capital de outras fontes que não apenas precatórios e CDBs para instituições financeiras continuarem operando.

Porém a nova regra, feita sob medida para o Master, deu um prazo de dois anos para o banco se adaptar. Nesse período, os executivos do Master acionaram todos os seus contatos políticos e institucionais para vender as letras financeiras a fundos de pensão estaduais e municipais.

Os fundos de previdência ligados à administração federal foram proibidos de comprar esse tipo de ativo depois das fraudes constatadas na operação Greenfield, que deixou rombos bilionários na Petros (Petrobras), o Postalis (Correios) e a Funcef (Caixa Econômica Federal). Boa parte do prejuízo está sendo paga até hoje por meio de descontos mensais nas aposentadorias dos beneficiários.

LETRAS SEM GARANTIA – Hoje, o balanço do Master traz um valor de R$ 3 bilhões em letras financeiras distribuídas no mercado. A falta de liquidez do banco, porém, preocupa.

O balanço do banco mostra que há R$ 7,6 bilhões vencendo até junho deste ano em CDBs e CDIs – títulos oferecidos aos investidores com a promessa de rendimentos bem acima do mercado. Mas o banco só dispõe de R$ 8 bilhões até o final de 2024, quando o total de compromissos já assumidos com os investidores chega a 16 bilhões. Ou seja, a conta não fecha.

Para analistas do setor financeiro consultados pela equipe da coluna, esse descasamento é o que justifica a busca do Master por um comprador que injete mais dinheiro e assuma os passivos da instituição.

“14 anos de prisão à mulher do batom é muito exagero”, diz deputado do PSOL

Charge do Correio ironiza uso de cartão bancário com garotas de programa

Charge do Dom Salvador (Correio Braziliense)

Paulo Cappelli e Petrônio Viana
Metrópoles

Adepto do movimento “sem anistia” e figura histórica da esquerda, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) considera “exagerada” a pena de 14 anos de prisão para a cabeleireira Débora dos Santos, conhecida por pichar “perdeu, mané” na estátua do STF no 8 de Janeiro. Votaram pela condenação, nesses termos, os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Luiz Fux indicou divergência e pediu vistas.

“Sem anistia, mas com justa dosimetria [cálculo da pena]”, defendeu Chico Alencar em debate promovido pela coluna.

CHEGAR AO EQUILÍBRIO – “Ainda faltam votos no julgamento, então creio que se chegará a um equilíbrio”, prosseguiu o psolista. O deputado informou ter perguntado aos dois ministros do Supremo sobre o critério adotado para se chegar à pena de 14 anos de encarceramento.

“Eu indaguei aos ministros, por meio de ofício, sobre quem teve direito ao benefício do acordo de não persecução penal e se Débora estava incluída nesse grupo. Também perguntei sobre as razões da condenação, tanto no voto de Flávio Dino quanto no de Alexandre de Moraes. Estou aguardando uma resposta. Já recebi um contato dizendo: ‘Não foi apenas a pichação com batom’, o que, de fato, seria uma pena absolutamente desproporcional. Ela já está em prisão domiciliar, com restrições. Os direitos humanos devem ser defendidos sempre, inclusive para quem está encarcerado”, disse Alencar.

ATÉ AS INTENÇÕES – O parlamentar do PSOL acrescentou que as intenções dos atos de 8 de janeiro devem ser consideradas, mas que é necessário um critério rigoroso na definição da pena. “As motivações precisam ser levadas em conta. Por isso, continuo insistindo: sem anistia, mas com justa dosimetria. Ainda faltam votos no julgamento, então creio que se chegará a um equilíbrio. Não defendo anistia, mas o processo precisa ser criterioso. Se houver exagero na punição, acabamos contribuindo para aquilo que não queremos, que é a impunidade”, afirmou.

No debate, o deputado de direita Marcel Van Hattem (Novo) considerou a pena prevista para Débora Rodrigues “absolutamente injusta” e criticou as exigências do ministro Alexandre de Moraes para conceder a prisão domiciliar à cabeleireira.

“Mesmo com a conversão para prisão domiciliar, a decisão continua sendo injusta. Ela segue presa, sem acesso a outras pessoas além de sua família mais próxima. Não pode sair de casa e nem dar entrevistas, por exemplo, o que está proibido na decisão de Alexandre de Moraes”, disse o parlamentar.

SEM CONDENAÇÃO… – “Ela continua presa após mais de dois anos do ocorrido. Já pediu desculpas publicamente, reconheceu seu erro e, ainda assim, segue detida. Aí eu discordo do deputado Chico Alencar: concordamos que a pena é injusta, mas, para mim, nem deveria haver a conversão para prisão domiciliar. Ela ainda está presa, sem uma condenação definitiva”, destacou.

“O que o deputado Chico Alencar critica corretamente em relação a tantos outros presos no Brasil que não têm condenação final e permanecem detidos indefinidamente também se aplica a Débora Rodrigues. No fim das contas, estamos falando de uma pichação feita com batom, apagada no dia seguinte”, afirmou Van Hattem.

Tragédia ou farsa? A direita de hoje está parecendo a esquerda dos anos 70

Quebrando o Tabu - uma coisa que não faz o menor sentido na política  brasileira: o conceito de direita e esquerda. | فیس‌بوک

Charge do Vêrsa (Arquivo Google)

Mario Sabino
Metrópoles

Nas diversas latitudes, a direita dos anos 20 deste século XXI parece a esquerda dos anos 70 do século passado (que não mudou de lá para cá). Eis a questão: é a história se repetindo como tragédia ou como farsa?

Parêntese: a frase exata de Karl Mark é “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”, e faz referência ao golpe de 18 de Brumário, dado por Luís Bonaparte, em 1851, que emulou o tio Napoleão ao nomear-se imperador da França. Fecha parêntese.

E A ANISTIA? – Tragédia ou farsa: bolsonaristas protestam por anistia aos cidadãos que consideram presos políticos e que a Justiça condenou como terroristas — exatamente como a esquerda fazia durante a ditadura militar em relação aos integrantes de organizações de luta armada.

Tragédia ou farsa: bolsonaristas denunciam no exterior que o Brasil está sob um regime ditatorial, assim como fazia a esquerda há 50 anos.

Mais tragédia ou farsa: expoentes da direita comparam-se a mártires da liberdade associados à esquerda. A francesa Marine Le Pen, condenada à inelegibilidade por desvio de dinheiro público, comparou a sua trajetória à de Martin Luther King, o líder na luta pelos direitos civis dos negros americanos.

ATÉ MANDELA… – O italiano Matteo Salvini foi além e adicionou o sul-africano Nelson Mandela, que venceu o apartheid, à comparação da companheira ideológica. Tanto Marine Le Pen e Matteo Salvini têm um pezão na xenofobia e no racismo.

Tragédia ou farsa: a direita americana agora parece a esquerda latino-americana. É contra o livre-comércio e a liberdade das multinacionais de instalar fábricas onde acham melhor para os seus interesses. O protecionista Donald Trump inverteu o sinal e abriu uma guerra comercial contra a humanidade — e excluiu russos e norte-coreanos, amigos da esquerda latino-americana, dessa humanidade.

Tragédia ou farsa: talvez a farsa esteja retrocedendo ao terreno da tragédia. Ou talvez a tragédia esteja avançando sobre o terreno da farsa. Ou talvez tudo seja a farsa de uma farsa. Ou talvez não haja farsa, só tragédia. Sei lá, mil coisas. Não esquece o batom, amiga.

Gilmar Mendes vestiu uma saia justa no ministro Sidônio Palmeira

ecisão sobre porte de drogas e rejeita embargos - JuriNews

Gilmar Mendes critica o governo por causa da greve no INSS

Tales Faria
do UOL

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, aplicou, com um elogio, uma verdadeira saia-justa no ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira. Ao falar com Sidônio recentemente, Gilmar o cumprimentou por ter declarado que o problema de comunicação do governo é de responsabilidade de todos os ministérios.

Ele disse: “De fato Sidônio, você tem toda razão. Veja o caso da greve dos peritos do INSS. É pura inépcia, falta de gestão.”

PROBLEMA DE GESTÃO – Gilmar explicou ter derrubado um pedido de liminar da categoria, o que permitiria que o governo forçasse o fim do movimento cortando a remuneração dos grevistas. Mas o Ministério da Previdência nada fez. “Você, Sidônio, não tem como resolver um problema quando ele é de gestão do próprio governo” – argumentou o ministro do STF.

A greve começou em agosto do ano passado. Está causando uma fila recorde nos atendimentos do INSS, com mais de 2,5 milhões de pedidos paralisados.

Na decisão publicada no último dia 3, Gilmar Mendes:

“Considerando a gravidade da situação, que importa sérios prejuízos para cidadãos que dependem de benefícios do INSS para custeio das suas necessidades mais básicas, encaminhe-se cópia da presente decisão ao STJ e à PGR, para que tomem ciência de possível abuso de direito de greve”. Em outras palavras: para abrir uma investigação contra os grevistas.

Se ficar dividida como está hoje, a direita facilita muito a reeleição de Lula

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge do dia: Desvio pra  todo lado

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Merval Pereira
O Globo

A pesquisa Datafolha que aponta vitória de Lula sobre outros candidatos e empate com Bolsonaro em 2026, mostra que diante da falta de perspectiva e de opções da direita – os candidatos apontados são líderes regionais, só Tarcísio de Freitas tem força nacional – os eleitores preferem Lula a Bolsonaro, e reforça a ideia de que Bolsonaro pode transferir votos, mas não todos.

Ele não vai ser candidato e tem que escolher um nome muito forte, que no momento é Tarcísio, para tentar ser competitivo.

DOIS CANDIDATOS – A polarização ajuda Lula e Bolsonaro – cada um tem seu adversário preferido. Hoje, só temos os dois como líderes populares, mais ninguém se aproxima deles. Por isso é difícil, tendo que escolher, sair dessa dicotomia.

Se aparecer alguém por fora, pode ser que esse quadro mude. Se não aparecer, será Lula – que eu acho que não queria se candidatar, mas, vendo essa possibilidade, vai.

A direita tem chance pela frente se, ou descobrir um candidato competitivo, ou se unir em torno de um. Se ficar dividida como está hoje, facilita muito a vida do Lula.

Oposição quer CPI da OEI para apurar a multiplicação de contratos no Brasil

Tenente-Coronel Zucco (Republicanos) é o deputado federal mais votado do RS

Zucco, líder da oposição, colhe assinaturas para a CPI

Vinícius Valfré, André Shalders e Gustavo Côrtes
Estadão

A oposição ao presidente Lula da Silva (PT) no Congresso tenta articular uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), com deputados e senadores, para investigar a relação do governo com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).

O grupo protocolou um requerimento de CPMI e agora trabalha na coleta de assinaturas em apoio à iniciativa. Como mostrou o Estadão, a OEI multiplicou contratos, convênios e taxas neste governo, que ampliou o poder e os espaços da entidade na Esplanada com decretos sob medida do presidente Lula.

R$ 710 MILHÕES – Um levantamento da reportagem apontou R$ 710 milhões em contratos. A maioria está sob o guarda-chuva de ministros do PT.

Para o líder da oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), há suspeitas de irregularidades na expansão da influência da organização. Ele puxa a articulação de uma comissão de inquérito.

“Os indicadores de significativas irregularidades a envolver a cúpula do Palácio do Planalto – com potencial transgressão a leis e princípios fundamentais – e a personalidade jurídica sui generis da OEI, poderão, ao fim e ao cabo, gerar danos irreparáveis à ordem constitucional, econômica e social do País, conferindo à investigação postulada inegável relevância”, disse.

REUNIÃO COM BOLSONARO – A estratégia política para desgastar o governo foi discutida em reunião da oposição realizada na manhã desta terça-feira, 8, com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A OEI é uma entidade privada internacional que diz promover cooperação entre países ibero-americanos e desempenha ações em áreas de educação, ciência e cultura. Governos contratam a organização para consultorias e serviços. No Brasil, ela se aproximou da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.

Procurada, a organização informou que percentuais cobrados são equivalentes aos de outros organismos internacionais, e que não visa “auferir lucros ou benefícios próprios”. Também pontuou que as contratações da entidade também seguem regras similares às da lei brasileira, disse a organização. Os ministérios afirmam que contratações cumpriram as regras vigentes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O clima é de pânico na OEI, que há décadas aplica golpes em países ibero-americanos e passou a agir no Brasil após 2003, no primeiro governo Lula. O jornalista Caio Junqueira, da CNN, farejou o escândalo e publicou a primeira matéria quando a OEI ficou responsável pela COP-30, como se o governo brasileiro não tivesse competência para realizar o evento. A Folha entrou no assunto, mostrando um contrato lesivo com o MEC no governo Bolsonaro, no valor de R$ 178 milhões, com os quais a ONG espanhola pagou salários de R$ 100 milhões a supostos 89 “consultores educacionais”, embolsando os restantes R$ 78 milhões, livres de impostos. Como não houve punição, por ser uma ONG estrangeira, os espanhóis deram um tempo, mas logo voltaram à ação, com força total, no governo Lula. Este ano, incluindo os contratos com governos estaduais, prefeituras e estatais, o faturamento deve passar de R$ 1 bilhão, porque o Brasil é o país da impunidade. (C.N.)

Ministro Juscelino Filho, torna-se réu por corrupção e decide pedir demissão

Juscelino Filho alega ser inocente, mas deixa o Ministério

Deu na Folha

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, decidiu pedir demissão do cargo nesta terça-feira (8), após ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), sob suspeita de corrupção passiva e de outros crimes relacionados ao desvio de emendas. Juscelino é deputado federal licenciado, eleito pelo União Brasil do Maranhão.

A decisão, tomada por ele em conversa com integrantes do seu partido, foi anunciada a aliados nesta tarde. O próprio presidente já havia afirmado no ano passado, quando o ministro foi indiciado pela Polícia Federal, que afastaria Juscelino caso ele fosse denunciado pela PGR.

SEM CONSTRANGIMENTO – Como a Folha mostrou, ministros do governo falavam em uma expectativa de que Juscelino tomasse a iniciativa de deixar o cargo para se defender no exercício do mandato de deputado federal. Interlocutores do presidente da República diziam ainda que o movimento de deixar o cargo, partindo de Juscelino, livra o petista de constrangimentos.

A saída do ministro também era esperada por integrantes da cúpula da Câmara dos Deputados e até mesmo por aliados do político.

Apesar disso, integrantes do governo e aliados do ministro diziam que esse movimento teria de ser feito de forma acordada, para evitar qualquer ruído na relação do Executivo com o União Brasil. O partido tem a terceira maior bancada na Câmara (com 59 deputados), além de 7 senadores, sendo um deles o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP).

REFORMA MINISTERIAL – Há uma expectativa entre interlocutores de Lula e parlamentares que a saída de Juscelino pode destravar uma nova etapa da reforma ministerial do petista.

Nesta terça (8), Juscelino foi denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela PGR. O processo está sob a relatoria do ministro Flávio Dino e corre sob sigilo. Caberá ao Supremo decidir se aceita a denúncia e se ele vira réu. É a primeira denúncia da PGR contra integrante do governo Lula.

Após a denúncia da PGR, o ministro disse, em nota, que é inocente e afirma que o oferecimento da denúncia não implica em culpa e não “pode servir de instrumento para o MP [Ministério Público] pautar o país”.

APOIADO PELO PARTIDO – O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, divulgou nota à imprensa reiterando o apoio do partido a Juscelino e dizendo que a sigla permanece ao lado do ministro.

“Seguimos confiando na seriedade e competência do ministro Juscelino Filho, que tem exercido seu trabalho à frente do Ministério das Comunicações com comprometimento e resultados concretos para a população brasileira”, diz a nota.

Juscelino foi indiciado pela PF em 12 de junho do ano passado sob suspeita de participar de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude em licitação.

DESVIO DE RECURSOS – A PF concluiu que Juscelino integrou uma organização criminosa que desviou recursos de obras de pavimentação custeadas com dinheiro público da estatal federal Codevasf.

As suspeitas envolvem irregularidades em obras executadas em Vitorino Freire (MA), cidade que era governada por Luanna Rezende, irmã do ministro, e financiadas por emendas parlamentares indicadas pelo ministro de Lula no período em que ele exercia o mandato de deputado federal.

Um dos elementos utilizados pela PF é um relatório da CGU (Controladoria-Geral da União) sobre uma das obras ter beneficiado propriedades da família do ministro. A investigação teve início para as apurar suspeitas de desvios em obras da Codevasf, em especial as realizadas pela empresa Construservice, cujo sócio oculto, aponta a PF, é o empresário Eduardo José Barros Costa, conhecido como Eduardo DP.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Atenção, caberá ao novo ministro cumprir a recente determinação da Controladoria-Geral da União e investigar as ilegalidades e os golpes de Roberto Marinho para se apossar do controle da TV Paulista (hoje, TV Globo de São Paulo) durante a ditadura militar. Vamos cobrar. (C.N.) 

O poder do Supremo e suas constantes mudanças no foro privilegiado

Judiciário: O Foro Privilegiado | ASMETRO-SI

Charge do Lane (Arquivo Google)

Marcus André Melo
Folha

Em coluna há sete anos mencionei um diálogo que havia tido com um ministro do Supremo sobre as chances do STF aprovar, por iniciativa da Corte, a extinção do foro por prerrogativa de função de parlamentares. Sua resposta: “Você está brincando? É baixa. Foro significa poder e ninguém quer perder poder!”.

O hiperprotagonismo do STF assenta-se em parte em sua jurisdição criminal, uma decisão do constituinte de 1988. Mas sua efetividade depende de regras infraconstitucionais que são função da estrutura de incentivos com que os atores se defrontam.

NOVO ENTENDIMENTO – Em 2018, grosso modo o STF confirma entendimento desde 1999 de que o foro era restrito ao mandato e à função. Este entendimento acaba de mudar. O STF decidiu que as ações continuam na Corte mesmo após o término do mandato.

Por que o STF aquiesceu em perder poder em 2018 mas recuperá-lo agora, algo que o fortalece institucionalmente? A mudança institucional, na realidade, é um jogo de interação estratégica entre o STF, o Legislativo, o Executivo e a opinião pública.

Choques nessa dinâmica em contexto democrático ocorrem quando a saliência do tema na agenda política sofre mudanças em virtude de escândalos e manifestações.

FORO PERPÉTUO – Há duas dimensões essenciais: quem detém poder de iniciativa e veto na interação entre os Poderes; e, quem se beneficia com a restrição/ampliação do foro ao mandato e à função.

O status quo que prevaleceu de 3 abril de 1964 a 1999 era o foro “perpétuo” (saiu do cargo, mantém-se o foro), o qual fortalece o STF. Que a mudança em 1964 tenha ocorrido poucos dias após a tomada do poder pelos militares sinaliza os objetivos perseguidos: expandir a jurisdição da Corte.

A mudança foi endógena, por interpretação em ambos os casos. Mas no período democrático o equilíbrio se rompeu devido à opinião pública.

MOTOSSERRRA – A mudança de 1999 foi deflagrada pelo caso Hildebrando Paschoal. Eleito em 1998, logo veio à tona seu envolvimento em crimes hediondos como o esquartejamento por motosserra de indivíduos antes de matá-los.

Sua cassação em 1999 tornou-se inevitável após CPI, onde seus crimes foram expostos. Imediatamente foi proposta emenda constitucional cuja aprovação levou três anos.

Senado e Câmara divergiam: o primeiro rejeitava a dispensa de licença prévia pela Casa de origem do parlamentar; o segundo aprovava contanto que seu partido pudesse ter iniciativa de sustar o processo no Supremo por maioria absoluta. Esta versão prevaleceu e foi convertida na EC 35/2001.

SEM DAR LICENÇA = Até aquele momento o Congresso Nacional não havia concedido licença a nenhum parlamentar. Na Câmara, de 42 pedidos do STF para processar deputados, apenas 21 tinham sido analisados pela CCJ, e 18 negados. Os demais sequer haviam sido apreciados pela CCJ.

Os pedidos envolviam 31 deputados, dois deles ocupando cargo de ministro de Estado. O ônus político da impunidade era suportado pelo Legislativo, como aponta André Regis (UFPE).

A mudança alterou significativamente o equilíbrio do jogo dos três Poderes, no sentido pró STF. O Legislativo reagiu restaurando o status quo mas não prevaleceu. Em 2018, no entanto, o saldo líquido decorrente da existência do foro tornou-se negativo para a Corte: e o instituto passou a representar risco institucional (a ser discutido em coluna específica).

Dois anos depois, Gonet enfim denuncia o ministro Juscelino Filho por corrupção

União Brasil: ala anti-Lula se divide entre silêncio e críticas a Juscelino | Metrópoles

Juscelino tinha total apoio de Lula, mas acabou dançando

Augusto Tenório
Metrópoles

Dois anos depois de surgirem as graves acusações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) enfim denunciou nesta terça-feira (8/4) o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, por suposto desvio de emendas. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá se aceita ou não a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que poderá ou não tornar o deputado licenciado réu pelo caso.

A Polícia Federal (PF) concluiu pelo indiciamento do ministro Juscelino Filho em junho de 2024. As suspeitas são de que o ministro tenha cometido os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude a licitação.

DESVIO DE VERBAS – As investigações da PF foram baseadas em suspeitas envolvendo desvios de, no mínimo, R$ 835,8 mil de obras de pavimentação custeadas com dinheiro público da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

O inquérito investiga suposto desvio de emendas parlamentares para a pavimentação de ruas de Vitorino Freire, no interior do Maranhão, cidade comandada pela irmã de Juscelino, Luanna Rezende.

A prefeita chegou a ser afastada do cargo no ano passado, mas depois retomou o mandato. Luanna foi alvo nesta sexta da Operação Benesse, focada em identificar o “núcleo público da organização criminosa, após se rastrear a indicação e o desvio de emendas parlamentares destinadas à pavimentação asfáltica de um município maranhense”.

DIVERSOS CRIMES – Juscelino Filho foi indiciado na época com base no Código Penal, artigos 299, 317, 337-F e 337-J, que compreendem os crimes de corrupção passiva, falsidade ideológica, violação de sigilo em licitação, organização de quadrilha, frustração do caráter competitivo de licitação e violação de sigilo em licitação.;

Um dos elementos utilizados pela PF foi um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre uma das obras ter beneficiado propriedades da família do ministro de Lula. O relatório final do caso foi enviado para o ministro Flávio Dino, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o site da Corte.

A investigação tinha, inicialmente, o objetivo de apurar possíveis desvios em obras da Codevasf, em especial as executadas pela empresa Construservice, cujo sócio oculto, de acordo com a PF, é o empresário Eduardo José Barros Costa, conhecido como Eduardo DP.

MENSAGENS – O ministro passou a ser investigado após mensagens entre ele e Eduardo DP serem encontradas no celular do empresário, apreendido pela Polícia Federal na primeira fase da Operação Odoacro.

Para a PF, as mensagens analisadas no inquérito reforçam a “atuação criminosa de Juscelino Filho” e demonstram que a “sua função na orcrim (organização criminosa) era conhecida por todos os membros” do suposto grupo chefiado por Eduardo DP. “Resta cristalina a relação criminosa pactuada entre Juscelino Filho e Eduardo DP”, diz um trecho de um relatório da PF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Juscelino é um dos ministros preferidos de Lula, que gosta de viajar com ele no Aerolula. Os dois, realmente, têm tudo a ver… (C.N.)

Sem poder punir o advogado, Moraes multa o réu Filipe Martins em R$ 20 mil

O ex-desembargador Sebastião Coelho e Filipe Martins aparecem em vídeo em frente ao fórum de Ponta Grossa

Coelho e Filipe diante do Fórum de Ponta Grossa (PR)

Fabio Serapião e Letícia Pille
Metrópoles

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes aplicou uma multa de R$ 20 mil a Filipe Martins, ex-assessor especial de Assuntos Internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro, pela participação em uma publicação nas redes sociais do seu advogado, o desembargador aposentado Sebastião Coelho.

No vídeo, publicado no Instagram, Martins e Coelho aparecem em frente ao Fórum de Ponta Grossa (PR) para o que o advogado chamou de “mais uma etapa desse absurdo que é o comparecimento semanal, toda segunda-feira aqui no Fórum”. O vídeo é de outubro de 2024.

MEDIDA CAUTELAR – A rotina faz parte de uma medida cautelar imposta por Moraes a Filipe Martins, que é um dos denunciados no caso do suposto golpe.

“Ele [Filipe Martins] teve uma prisão decretada por um fato inexistente e para desfazer essa prisão, o senhor ministro Alexandre de Moraes impôs uma série de restrições absurdas”, afirmou no vídeo.

O advogado ainda afirma que entrou com um recurso, mas que ainda não teve resposta, e que sua ida até o Fórum foi para “denunciar a nossa indignação”.

Coelho foi o advogado que protagonizou uma polêmica no dia em que a Primeira Turma do Supremo julgou os primeiros denunciados pela trama golpista.

BARRADO NO STF – No fim de março, quando o colegiado tornou Bolsonaro e outros aliados réus no caso que investiga um suposto golpe de Estado, Coelho pretendia acompanhar o julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República.

Ele chegou a subir ao terceiro andar, onde ocorre a sessão, e gritou em frente ao plenário após ser impedido de entrar. “Vi vários lugares vazios dentro daquele plenário. Isso me causou grande revolta”, queixou-se. A confusão chegou a interromper brevemente a leitura do relatório de Moraes, que é o relator do caso.

Após a confusão, o desembargador aposentado foi retirado do local e detido pela Polícia Judicial do STF em flagrante por desacato e ofensas ao tribunal. O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, determinou a lavratura de boletim de ocorrência e, em seguida, a liberação de Sebastião Coelho.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Não foi informado o motivo do enquadramento que Moraes deu à atitude do réu Filipe Martins, para justificar tê-lo multado por causa da atitude do advogado, que ficou incólume. Se insistirem, Moraes terá que admitir: “Eu multei porque Filipe foi fotografado ao cumprir uma obrigação que exigi dele”. E aí perguntam: “Mas quem fez a postagem não foi o advogado?”. E Moraes assim arremata: “Eu sei, Como eu não posso punir o advogado, multei o Filipe”. Caramba! É um novo crime tipificado no Código Penal Imaginário que Moraes segue religiosamente, sem ter medo do ridículo. (C.N.)  

Mourão defende generais chamados de “frouxos e covardes” por Malafaia

 

Hamillton Mourão: notícias sobre o general da reserva | Folha

Mourão reclama da falta de escrúpulos de Silas Malafaia

Bela Megale
O Globo

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) fez críticas ao pastor Silas Malafaia por causa do seu discurso no ato em defesa da anistia no domingo, na Avenida Paulista. Mourão, que é general da reserva, saiu em defesa dos militares criticados por Malafaia e chamou o pastor de “falastrão”, sem citar seu nome.

“Ao se aproveitar de um ato em defesa da necessária anistia aos envolvidos no 08 de janeiro para ofender os integrantes do Alto Comando do Exército, o falastrão que assim o fez demonstrou toda sua total falta de escrúpulos e seu desconhecimento do que seja Honra, Dever e Pátria; a tríade que guia os integrantes do Exército de Caxias”, escreveu Mourão na rede X.

Principal organizador do ato em São Paulo em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro, Malafaia chamou generais do Alto Comando de “cambada de frouxos e covardes”.

DISSE O PASTOR – “Cadê esses generais de quatro estrelas, do Alto Comando do Exército? Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem. Não é para dar golpe, não, é para marcar posição” — afirmou o pastor.

O discurso de Malafaia foi um dos mais exaltados do ato. Na sua fala, ele fez críticas à delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid e defendeu o ex-ministro da Defesa, o general da reserva Walter Braga Netto, que está preso desde dezembro. Foi neste contexto que Malafaia abriu artilharia contra as Forças Armadas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– O discurso de Malafaia necessita de tradução simultânea. Seu ódio ao Alto Comando tem alguma justificativa. Todos os generais defendiam o golpe, desde que houvesse um motivo constitucional, como a fraude na votação ou apuração. Quando ficou provado que não tinha havido fraude, eles recuaram, mas o grupo de golpistas insistiu, com Braga Netto à frente e Bolsonaro atrás, encagaçado.  Com medo, Bolsonaro fugiu para os EUA dia 30 de dezembro e Braga Neto comandou o 8 de Janeiro. Mas o Alto Comando impediu o golpe. O resto é folclore, dizia Sebastião Nery. (C.N.)

Lula amplia para R$ 710 milhões os ganhos da ONG apoiada por Janja

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, com o secretário-geral da OEI, o espanhol Mariano Jabonero, na reunião do G-20

Janja com seu protegido, Mariano Jabonero, da OEI

André Shalders, Vinícius Valfré e Gustavo Côrtes
Estadão

No terceiro mandato de Lula da Silva (PT), uma entidade internacional que ofereceu cargo à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e é próxima de quadros do PT, multiplicou o próprio espaço na Esplanada. Beneficiada por dois decretos assinados por Lula, a Organização de Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI) já fechou 21 contratos e acordos no valor de R$ 710 milhões com 19 órgãos do governo federal.

Responsável por alguns dos principais eventos do terceiro mandato de Lula, como a COP-30, em Belém (PA), e a Cúpula do G-20, no ano passado, a OEI pode embolsar cerca de R$ 42 milhões com a cobrança de taxas de administração, mostram documentos inéditos obtidos pelo Estadão. Só por esses dois eventos, a entidade ficará com até R$ 30,6 milhões.

POR DECRETO – A taxa de administração em contratos como o da OEI com o governo foi elevada de 5% para até 10% por um decreto assinado por Lula em março de 2024.

Uma outra decisão presidencial, de setembro passado, permitiu à OEI contratar empresas para execução dos acordos, sem licitação. O decreto também acabou com a necessidade de aval da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Itamaraty. Graças ao normativo de Lula, basta notificar a ABC.

A OEI se apresenta como “a maior organização multilateral de cooperação entre os países ibero-americanos de língua espanhola”. Trata-se de uma entidade internacional de direito público que atua no Brasil há duas décadas, desde o primeiro governo Lula, com eventos, projetos sociais, consultorias e ações educativas. Mas foi na atual gestão que a presença e os ganhos diretos dela alcançaram patamares inéditos.

TUDO LIBERADO – As parcerias são concentradas em pastas e órgãos controlados pelo PT, como a Casa Civil, a Secretaria-Geral da Presidência, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e os Ministérios da Educação e da Igualdade Racial. Dos R$ 710 milhões em contratos, R$ 629 milhões (quase 90%) estão sob o guarda-chuva de ministros e dirigentes petistas.

Um levantamento realizado pela reportagem em mais de 1.700 páginas de processos administrativos, bases orçamentárias e extratos de acordos técnicos identificou a enorme extensão da atuação da OEI dentro do governo.

E a publicidade dos contratos celebrados não segue a mesma regra de transparência que a dos demais atos da administração pública. Parte dos documentos solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) foi negada.

VERBAS À VONTADE – Em todo o governo de Jair Bolsonaro (PL), a OEI fechou R$ 78,9 milhões em contratos de acordos de cooperação. Em dois anos de Lula 3, o governo já transferiu R$ 197,9 milhões dos R$ 710 milhões celebrados.

Os contratos são fechados sem licitação, porque a OEI alega ser uma entidade privada internacional, e não precisaria seguir a Lei de Licitações brasileira.

A organização também diz gozar de condições especiais na relação com órgãos fiscalizadores nacionais. O acordo em que o Brasil estabeleceu relação formal com a OEI, em vigor desde agosto de 2003, determina que a sede da entidade no País, situada em Brasília, só pode ser alvo de autoridades mediante autorização de sua direção. Ou seja, a sede da entidade está submetida a regras idênticas às das embaixadas de países estrangeiros.

MAIOR CONTRATO – A OEI entrou em evidência por conta do seu maior contrato com o governo federal, firmado com a Secretaria Extraordinária da COP-30, subordinada à Casa Civil. A pasta repassará R$ 478 milhões para o órgão preparar a conferência climática que ocorrerá em Belém (PA), em novembro.

O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), indeferiu, na última terça-feira, 1.º, um pedido da oposição para suspender o contrato. As discussões sobre o protagonismo da OEI não têm abrangido o alcance da entidade no governo nem os valores que a organização cobra em cada contrato.

Do montante previsto para a COP-30, 5% serão recebidos a título de “taxa de administração”, o equivalente a R$ 22,7 milhões, que irão diretamente ao caixa da entidade. Em uma nota técnica da Casa Civil, o governo afirma textualmente que a celebração do acordo com essa taxa não visa “vantajosidade financeira”, mas “provimento de insumos técnicos que permitam aportar conhecimento necessário ao desenvolvimento de capacidades”.

FATIA AUMENTADA – Em todos os demais processos a que a reportagem teve acesso, a fatia cobrada pelo organismo internacional foi maior, de 8%. Assim, o valor direcionado diretamente para o caixa da OEI desde 2023 pode chegar a mais de R$ 42 milhões, se contabilizados também os contratos que o governo não disponibilizou. Desse total, a reportagem obteve, via LAI, documentos que comprovam o recebimento de até R$ 33,8 milhões.

A maior parte dos acordos com a OEI diz respeito ao cerimonial e à logística da COP-30 e da reunião da cúpula do G20, realizada em novembro do ano passado no Rio, ou a projetos paralelos a esses eventos.

Mas a atuação da organização é mais ampla e também abrange consultorias em educação básica, cursos de aperfeiçoamento para servidores públicos e projetos sociais. Apesar da “vitrine” da COP-30, os tentáculos da OEI não se limitam a acordos firmados no primeiro escalão do governo, diretamente com o comando de ministérios.

OUTROS CONTRATOS – Há acertos com órgãos menores como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário; a EBC; o Banco da Amazônia e a Companhia das Docas do Rio de Janeiro. Estes quatro somam R$ 9,5 milhões.

Em setembro de 2024, a Secretaria-Geral da Presidência da República (SG-PR) firmou um projeto de cooperação técnica internacional com a OEI ao custo de R$ 10 milhões para os cofres da União. O objetivo era “promover a participação da sociedade por intermédio de instâncias e processos participativos na elaboração, implementação e monitoramento das políticas públicas para o aprimoramento da democracia participativa”. A pasta é controlado por Márcio Macêdo (PT).

O governo também ampliou outra modalidade de repasses à entidade internacional, o regime de “contribuições voluntárias”. Na prática, trata-se de um arranjo parecido com os demais acordos de cooperação técnica, firmados pelos outros ministérios e empresas estatais. O instrumento legal usado neste caso é um “termo de contribuição”.

“CONTRIBUIÇÕES” – A Secretaria-Geral da Presidência doou R$ 14 milhões nessa modalidade para “fortalecimento de processos participativos na elaboração, implementação e monitoramento das políticas públicas para o aprimoramento da democracia participativa”.

O Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Memp), mais R$ 49 milhões, e o Ministério da Educação (MEC), outros R$ 35 milhões.

No caso do MEC, a contribuição se deu por meio de um crédito especial proposto pelo governo e aprovado no Congresso. Uma parte da verba foi retirada do Programa Pé-de-Meia, lançado pelo governo federal para enfrentar a evasão escolar no ensino médio.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Reportagem excelente, mas precisa avançar, porque a própria Janja informou em rede social que aceitou ser “coordenadora” da OEI em 2023. Ao contrário do que alega, o Brasil não é fundador da OEI (1949). Até hoje, não tem contrato válido, porque tem de ser assinado pelo Presidente, sem delegação de poderes (Constituição).

O único acordo com a OEI foi feito em 1957, mas assinado por Francisco Montojos, mero funcionário do MEC. Mesmo sem ter acordo assinado e apenas citando o suposto fato, que nunca ocorreu, a suposta organização conseguiu no governo FHC (2002) que o ministro do MEC, Paulo Renato Souza, aceitasse que a OEI instalasse um escritório em Brasília. Em 2003 , Lula assinou a autorização e a OEI passou a aplicar golpes no Brasil.

Até hoje ela não assinou nenhum acordo com o Brasil, que não é membro da organização. Ela se diz “organização intergovernamental”, mas funciona como uma simples ONG, não há representante brasileiro em sua direção. No governo Bolsonaro, a OEI foi investigada por um contrato no MEC, altamente lesivo ao país. A Folha publicou matéria recentemente sobre isso.

Com apoio da coordenadora Janja, o céu é o limite. E a OEI está atuando também em governos estaduais e prefeituras. Aqui no Rio ela administra o Museu de Arte da Cidade. Participa também do Loolapalozza e muitos outros eventos, sempre cobrando comissão ou “contribuição voluntária”. 

O mais importante é a falta de assinatura de Presidente da República em acordo com a OEI. Se o Estadão seguir este caminho, vai descobrir que ela opera ilegalmente no Brasil, pois não somos país-membro da tal organização. (C.N.)

Idiotas do progresso sonham em humilhar quem tem conhecimento 

 foi executada em técnica manual com pincel e nanquim sobre papel. Posteriormente, a imagem foi escaneada e colorizada digitalmente. Na horizontal, proporção 13,9cm x 9,1cm, a ilustração mostra quatro astronautas posando para uma selfie em um cenário espacial. O astronauta mais à frente, do lado esquerdo, segura um celular com três câmeras traseiras, tirando a foto. Todos usam trajes espaciais em tons de rosa, lilás, vermelho e laranja. Ao fundo, vê-se uma paisagem de superfície avermelhada, possivelmente marciana, com o céu estrelado em vermelho escuro. No canto superior direito, a Terra aparece em azul, flutuando no espaço. Um dos astronautas faz o gesto de "paz e amor" com a mão, enquanto outro exibe um sinal de positivo com o polegar.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Haveria algum ganho na experiência de humilhação? Difícil dizer. Na academia, durante muito tempo, foi comum se assumir que humilhar os alunos e orientandos seria uma forma de formá-los para a vida do conhecimento. Esta formação começaria de fato quando você perceberia o quanto insignificante você é diante do que já foi produzido em termos de conhecimento muito antes de você.

Lembro-me dos primeiros dias da graduação de filosofia na USP, nos anos 1980, quando um dos grandes professores que tive – todos eles foram grandes professores – nos disse de forma direta: não pensem que vocês estão aqui para ter opinião; qualquer coisa que você pense, muitas pessoas já pensaram, e melhor, antes de você, portanto, calem a boca e leiam os textos. A famosa conversão aos textos. O professor tinha razão.

“NINAR” OS ALUNOS – Difícil imaginar falas como essas hoje quando a universidade caiu para a condição de “casa do pais dos alunos” por conta da necessidade de os fidelizar num mundo competitivo com cada vez menos jovens. E as públicas também ninam os alunos por razões ideológicas.

O marketing é a viga mestra da educação nas escolas privadas hoje. E a ideologia e os convescotes políticos nas públicas. Muitos dos professores que tive seriam processados hoje por pais preocupados em manter seus filhos com aulas convertidas em canções de ninar.

A grande humilhação hoje é a humilhação do conhecimento, e não uma humilhação como parte de uma iniciação ao conhecimento consistente e sistemático. Humilhação no sentido do senso comum mesmo.

UMA FERRAMENTA – O conhecimento hoje converteu-se em ferramenta da barbárie das vendas. As pessoas só querem fórmulas de sucesso, de felicidade, de controle sobre tudo. Imagino um futuro em que todos os cursos de ciências humanas terão dois tipos de modelo.

Ou se converterão em igrejas radicalizadas à esquerda —já estão quase lá—, perseguindo colegas professores e alunos que não rezem na cartilha do consórcio ideológico. Ou terão se transformado em departamentos de marketing, conteúdos motivacionais e autoajuda.

No primeiro caso, o discurso será, como já é, mas o será de forma mais evidente e descarada, a universidade em prol do combate à desigualdade social e de gênero, ao aquecimento global e em defesa das minorias “subalternizadas”. “Morte a quem não nos acompanhar!”

EMANCIPAÇÃO – No segundo caso, aparentemente à direita, mas inteiramente integrado ao primeiro caso, como já o é, o discurso será de emancipação do indivíduo, direito a realização de todos os seus desejos e da Inteligência Artificial.

Anote aí no seu caderno para dicas de sucesso profissional: é mais chique falar “ei-ai”, como em inglês, do que “ih-ah”, como em português— a serviço de nossos delírios de saúde, longevidade e ganhos financeiros. Logo logo, suas fezes e vômito serão commodities. Uma das marcas da psicose de mercado em que vivemos é que tudo deve ser monetizável.

Uma humilhação sistemática. Provavelmente, aqueles que mais percebem essa humilhação não existirão mais ou estarão já institucionalmente neutralizados.

AUTORITARISMO – Um dos efeitos desse processo é a transformação da atual democracia num regime cada vez mais autoritário, ainda que falando o tempo todo em “defesa da democracia e do estado de direito”.

A grande diferença entre os idiotas dos bolsonaristas e esse mundo a vir é que os agentes da dissolução da democracia tal como conhecemos virão das hordas acadêmicas, do marketing, das redações da mídia e do poder judiciário.

Os reacionários tentam destruir a democracia com planos decadentes, cafonas e estúpidos, arrombando a porta dos fundos. Os progressistas o farão pela entrada social e com palmas emocionadas dos bonitinhos e inteligentinhos, em nome do bem social e político.

IDIOTAS DO PROGRESSO – Um dos modos dessa humilhação do conhecimento virá pelas mãos dos idiotas do progresso. Aquele tipo de pessoa que desfila pelo mundo desde o século 19 e que agora tomou o poder por completo. Mede-se se seu coração está do lado certo ou não – como se fala no judaísmo – se você se sente mal ou não diante de um idiota do progresso.

Para além do fato inegável dos ganhos em ciência e tecnologia, o idiota do progresso se divide em duas categorias. O primeiro é aquele que vende avanços mirabolantes das ciências e tecnologia como algo já à venda na prateleira do outlet. O segundo é o que paga caro por essas mentiras. Qual tipo você é?

Suspeito que esse segundo tipo paga por essas mentiras porque, em tendo dinheiro para fazê-lo, imagina que fará parte de um grupo seleto de visionários que estará na nave espacial do Elon Musk quando chegar a hora de ir passar férias em Marte.

Motta quer anistia “para corrigir exagero a quem não merecia punição”

Hugo Motta diz que segurança pública é prioridade na Câmara e aguarda PEC  do ministro da Justiça para esta terça | Política | Valor Econômico

Motta é favorável à anistia, mas está dando uma travada

Victor Ohana e Geovani Bucci
(Broadcast)

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou defender “sensibilidade” com relação a eventual “exagero” nas punições aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, ao comentar as manifestações lideradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo, 6.

As declarações ocorreram na manhã desta segunda-feira, 7, durante evento sobre o atual cenário político brasileiro, realizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

DISSE MOTTA – “Eu ainda não falei desde o dia de ontem (domingo), de público, sobre as manifestações. Primeiro, dizer que eu sou um amante da democracia e acho que toda e qualquer manifestação de qualquer partido é válida, para defender qualquer pauta dentro do Congresso. Não cabe ao presidente da Câmara ser censor de pauta”, afirmou Motta.

“Cada partido defende aquilo que entende ser importante. Não há um tema mais ou menos relevante que a Casa não tenha que se debruçar e enfrentar ao ser trazido por um partido político”, disse.

Motta também afirmou que a obstrução movida pelo partido de Bolsonaro na Câmara é “regimental”, mas disse defender a pacificação política.

PACIFICAÇÃO – “A própria obstrução também é regimental, nós temos que respeitar, é um instrumento do Legislativo. E, de certa forma, o que penso é que temos que, para este momento que o Brasil vive, defender a pacificação nacional. O Brasil precisa dessa pacificação.”

Ele prosseguiu: “Não é desequilibrando, não é aumentando a crise, que vamos resolver o problema. Não é distanciando as instituições que nós vamos encontrar a saída para este momento delicado e difícil que o Brasil enfrenta”.

Na sequência, mencionou o que chamou de “sensibilidade” aos presos pelos atos golpistas.

CORRIGIR EXAGEROS – “Então, eu defendo dois pontos para que a gente possa tentar vencer essa agenda. Primeiro, a sensibilidade para corrigir algum exagero que venha acontecendo com relação a quem não merece receber uma punição. Acho que essa sensibilidade é necessária, ela toca todos nós”, afirmou.

“E defendo a responsabilidade de, na solução desse problema, não aumentarmos uma crise institucional que nós estamos vivendo. É por isso que eu conduzirei este tema com a serenidade que ele requer”, completou.

Estavam presentes no evento integrantes do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), como os secretários Gilberto Kassab (Relações Institucionais), Samuel Kinoshita (Fazenda) e Guilherme Afif Domingos (Projetos Estratégicos). Também compareceram o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA), e o deputado Danilo Forte (União-CE).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGMotta está dando uma embromada, mas logo se entenderá com os líderes oposicionistas. Se eles tiverem apoio suficiente, Motta cumprirá o Regimento e colocará a anistia em pauta. (C.N.)

Barroso cria novo penduricalho para juízes auxiliares de ministros do STF

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso.

Barroso anexou o novo penduricalho ao índice IPCA

Weslley Galzo
Estadão

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, atualizou a resolução que regulamenta a atuação dos juízes auxiliares e instrutores nos gabinetes dos ministros e, com isso, criou um novo benefício a ser pago a esses magistrados.

Barroso estabeleceu na medida publicada no dia 27 de março que os juízes de apoio aos ministros terão direito a uma “indenização por perdas decorrentes da convocação” para trabalhar no STF. O valor do benefício será de R$ 10 mil por mês. Ele vai substituir o pagamento de diárias para magistrados que são requisitados para trabalhar em Brasília.

PAGAVA DIÁRIAS – A Corte sustenta que, como será feita a troca de um benefício por outro, não haverá aumento de custos. Atualmente, o Supremo tem em seu quadro 38 juízes cedidos de outros tribunais. Procurado, o STF enviou um parecer técnico que fundamentou a decisão e no qual constam as justificativas para a medida.

Até dezembro de 2023, o STF pagava para cada magistrado auxiliar até seis diárias por mês, o equivalente a cerca de R$ 6 mil. O limite fora instituído sob alegação de que seria um gasto muito elevado pagar diárias referentes a um mês inteiro de trabalho em Brasília a juízes de outros Estados. No início do ano passado, o STF decidiu elevar esse teto para dez diárias, o que elevou o adicional para cerca de R$ 10 mil.

A nova regra expõe uma estratégia do tribunal de assegurar o pagamento de um adicional aos juízes requisitados direto no contracheque, evitando os riscos decorrentes de limitações que podem ser feitas sobre o pagamento das diárias.

ESTÃO BLINDADAS – O assunto já foi investigado pelo Tribunal de Contas da União no passado. Ao propor a mudança, a diretoria da Corte citou ainda a possibilidade de o Congresso baixar regras na lei de orçamento limitando o pagamento de diárias nos órgãos públicos.

Além do novo penduricalho, os magistrados cedidos ao STF já gozam de um benefício adicional nos seus salários que equipara seus vencimentos ao de ministro, quando não superam por conta de adicionais que recebem dos tribunais de origem.

Um juiz requisitado no Tribunal de Justiça de São Paulo, por exemplo, recebe da sua corte de origem salário bruto de R$ 37 mil, acrescido de vantagens individuais que podem até dobrar esse valor. No STF, esse magistrado tem direito a um adicional de R$ 4.076,29. Antes, havia o direito de receber até dez diárias por mês, mas o número poderia ser menor. O dado mais recente disponível no site do STF informa, por exemplo, que esse juiz paulista recebeu R$ 7,4 mil em diárias num mês. Agora, este juiz vai receber R$ 10 mil a mais no contracheque, mesmo que fique em SP e não precise ir a Brasília.

MORADORES DE BRASÍLIA – A mudança também vai evitar um constrangimento ao tribunal que, como mostrou o Estadão, pagou diárias a ao menos cinco juízes cedidos pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Ou seja, juízes com residência fixa em Brasília, onde fica a sede do STF, receberam diárias como estivessem fora de seu domicílio.

Essa prática era vedada pelas regras do próprio Supremo até 2023, mas, atendendo a um pedido feito pelos próprios juízes, a corte retirou a proibição dando a eles o direito de receber diárias mesmo não saindo da cidade de origem.

Com a edição do novo benefício, o STF ainda manteve a possibilidade de os juízes requisitados receberem também diárias por deslocamento no País, mas isso só ocorrerá se eles foram a outro Estado participar de evento oficial representando o Supremo.

PENDURICALHOS – Para o economista Bruno Carazza, pesquisador e professor da Fundação Dom Cabral, o STF deveria atuar para coibir o Judiciário de criar penduricalhos salariais.

“O Supremo deveria ser o órgão que toma as medidas para restaurar a autoridade do teto no Brasil. Quando cria uma indenização, ele está dando um sinal para os outros tribunais do Brasil inteiro seguirem o mesmo caminho e também instituírem mais um penduricalho, que depois vai ser replicado pelo Ministério Público. Teremos mais uma brecha expandindo o volume dos supersalários”, disse.

Ele também critica o fato de o novo adicional para juízes no STF já ter prevista a correção pelo IPCA, um sinal de perpetuação do benefício. “É algo que vai prorrogando ao longo dos anos uma despesa que já nasce como um benefício remuneratório fantasiado de indenização, e pior ainda , com essa cláusula o Supremo deixa explícito que não será algo esporádico. Ele sinaliza que pretende instituir para todo o sempre”, afirmou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Avança a Ditadura do Judiciário, que está blindando seu Orçamento, para evitar que sofra qualquer corte de verbas destinado a equilibrar as finanças públicas. É como se os juízes e operadores do Direito vivessem em outro país, superdesenvolvido e riquíssimo. Esse comportamento é nauseabundo, para dizer o mínimo. (C.N.)

Apoio de sete governadores a Bolsonaro incomodou os ministros do STF

Bolsonaro com Tarcísio de Freitas e outros seis governadores antes de ato pela anistia na Avenida Paulista

Além dos sete, há outros governadores ainda indecisos

Bela Megale
O Globo

Não foram os discursos inflamados contra Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) que mais incomodaram os integrantes da corte na manifestação pró-anistia. O fator que gerou mais críticas entre os magistrados foi a presença de sete governadores posando com Jair Bolsonaro na manifestação de domingo (6), na Avenida Paulista.

Uma ala do STF viu como “acintosa” a participação de governadores na manifestação que teve, segundo magistrados, “ataques ácidos” ao tribunal.

CONTRADIÇÃO – Eles apontaram a contradição entre a presença dessas autoridades na manifestação e a postura que costumam adotar ao procurar os ministros com frequência para pedir ajuda nas demandas de seus estados.

A avaliação desse grupo é que boa parte dos presentes no ato pró-anistia tenta se cacicar como sucessor de Bolsonaro na disputa presidencial de 2026, já que ele está inelegível.

Outra parte do Supremo faz a leitura de que o próprio ex-presidente tem usado seu espólio político para pressionar os governadores a abraçarem a pauta da anistia.

PODE RETALIAR – Entre magistrados da corte existe a avaliação de que as lideranças de direita que se colocarem contra essa pauta entrarão na mira de Bolsonaro e podem ter seus planos políticos atrapalhados pelo capitão reformado.

A manifestação de domingo contou com um número recorde de governadores nos atos promovidos pelo ex-presidente.

Estavam presentes Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso), Wilson Lima (Amazonas), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Ratinho Júnior (Paraná).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. O certo é que o país está dividido. Por isso, os governadores de direita estão se unindo para enfrentar a esquerda lulista que está empedrada no poder. Os ministros do Supremo, que vão tirar 12 dias de folga na Semana Santa alongada, podem aproveitar esse tempo para fazer uma autocrítica e reavaliar o papel predominante do Supresso nessa deletéria divisão do país. (C.N.)

Diminuir os gastos públicos para a economia do país voltar a crescer

Tribuna da Internet | Omissão política do governo causa decepção em setores  da economia

Charge do Cicero (Arquivo Google)

Felipe Salto
do UOL

O crescimento econômico depende de condições estruturais específicas. Juros reais baixos, capacidade de produção e exportação, bom ambiente de negócios, sistema tributário funcional e infraestrutura robusta. O desafio primordial do Brasil é restabelecer um padrão de responsabilidade fiscal intertemporal capaz de turbinar o PIB.

O governo atual optou por uma agenda fiscal composta por forte elevação das receitas e por uma regra fiscal baseada na redução do déficit primário (receitas menos despesas sem contar os juros da dívida). Combinou, para isso, metas fiscais anuais ao novo limite de crescimento das despesas.

NOVO ARCABOUÇO – Busca-se um resultado menos deficitário por meio de receitas mais elevadas e menor crescimento real do gasto público. É o chamado Novo Arcabouço Fiscal, expresso na Lei Complementar nº 200, de 2023.

Ele funciona de modo similar às regras anteriores, mas inova ao combinar o objetivo de um resultado primário anual ao limite de gastos baseado em um percentual da variação da receita passada. É mais flexível e possui válvulas de escape.

Os resultados colhidos são positivos, mas insuficientes para restabelecer os superávits primários requeridos à estabilização da dívida pública como proporção do PIB. Em 2023, o déficit primário superou 2% do PIB e, em 2024, ficou em 0,4%. Com juros reais elevados, a dívida pública só estacionaria se o esforço fiscal fosse gigantesco.

CONTENÇÃO DE GASTOS – Por isso, é preciso apresentar um programa de contenção de gastos e de recuperação de receitas para período mais longo. Essas medidas têm de ser críveis e impositivas.

Nesta segunda etapa do governo Lula, dificilmente algo mais ambicioso poderá ser feito. Por outro lado, mantido um padrão mínimo de cumprimento das metas estipuladas em lei, o país pode chegar a 2027, primeiro ano do próximo mandato presidencial, pronto para elaborar e executar um plano fiscal à altura do desafio de estabilizar a dívida em relação ao PIB e, assim, abrir espaço para juros reais médios mais baixos, sem risco inflacionário.

Eis o grande objetivo para dois anos à frente. Seja qual for o resultado das urnas, em 2026, o vencedor não conseguirá escapar desse caminho, sob pena de colocar a economia em uma crise fiscal e, futuramente, econômica.

LEMBREM DILMA – Vamo-nos lembrar de 2015. Naquele ano, Dilma Rousseff foi reeleita e escolheu para a Fazenda o economista Joaquim Levy, um fiscalista. A contenção de gastos foi relevante, por meio de mudanças no abono salarial, por exemplo, e de um forte contingenciamento de despesas orçamentárias.

É possível ver que a despesa primária cresceu a 7,3% ao ano, entre 2003 e 2011. Em seguida, de 2012 a 2015, esse padrão mudou para 4,8%. As receitas, que avançavam a 7,2%, no primeiro período, apresentaram queda de 0,9% ao ano de 2012 a 2015. De 2016 a 2019, as receitas retomaram certo fôlego, voltando a avançar a 2,2%, com as despesas subindo 1,1%.

Os efeitos do teto de gastos (aprovado em 2016) se fizeram sentir, como se vê.

GASTOS ACELERAM – Entre 2020 e 2021, as receitas subiam mais ou menos no mesmo ritmo do período anterior selecionado para esta análise, enquanto as despesas aceleraram a 2,2%. Finalmente, nos últimos três anos, observou-se mudança para um padrão de alta real de quase 6%, tanto para receitas quanto para as despesas.

A tendência da arrecadação tributária, salvo em períodos marcadamente influenciados por medidas de recuperação de receitas, mudanças na legislação e decisões judiciais, é crescer no mesmo ritmo do PIB. Para gerar superávit primário, portanto, é necessário garantir que as despesas cresçam abaixo da variação real do PIB. Isso só vai acontecer por meio da alteração de diversos padrões hoje em vigor no país.

Falo das vinculações e indexações, da dinâmica das emendas parlamentares, da política de reajustes salariais (notadamente, dos supersalários), da política de subsídios e subvenções, dos gastos tributários, do Fundeb e dos gastos pouco eficientes, inclusive na área social.

PLANO DE AJUSTE – Para ter claro, não se trata de iniciar o próximo mandato presidencial debatendo, novamente, mais uma versão para as regras fiscais. Elas são adequadas. Trata-se, sim, de assumir um plano de ajuste das contas públicas claro, vinculado às necessárias mudanças de legislação e acordado com as principais lideranças do Congresso.

Não se pode perder tempo em debater, novamente, o que fazer com limites de gastos e que tais. É preciso aproveitar o primeiro ano para avançar com uma lista de medidas concretas a fim de produzir o necessário superávit nos saldos fiscais oficiais.

A contenção do gasto não é mais uma opção. Ela é mandatória, inclusive para conduzir a uma política monetária menos contracionista e, consequentemente, a uma taxa real de juros mais baixa. Em última análise, os gastos com juros seriam igualmente menores.

MEDIDAS DE AJUSTE – A tarefa que se coloca para 2027, na questão fiscal, é a formulação de uma agenda completa de medidas de ajuste. Os gastos precisarão passar por uma forte contenção e, portanto, será preciso promover uma avaliação completa das principais políticas públicas e orçamentos hoje em vigor. Só assim sairemos do piloto automático no Orçamento público.

Em paralelo, é preciso avançar na agenda da reforma orçamentária, a partir de uma nova legislação para substituir a Lei nº 4.320, de 1964, e para garantir a impositividade do Orçamento, por meio de projeções técnicas e bem elaboradas para as receitas públicas e, portanto, para os cenários econômicos.

A dependência de uma lógica de controle de despesas, bimestralmente, lançaNdo mão de contingenciamentos e de bloqueios de despesas discricionárias, é extremamente prejudicial a diversas políticas públicas financiadas por essa fatia do Orçamento.

MODO COMPETÊNCIA – O Orçamento precisa passar ao modo “competência” e sair, definitivamente, do modo “caixa”. A discussão orçamentária não pode mais ser apenas a do ano corrente. Ela deve pautar-se por um olhar de médio e longo prazo, a partir de instrumentos legais adequados e planejamento à altura.

No âmbito político – e, vale dizer, sem isso se terá nada do que foi dito anteriormente -, a defesa dessa agenda deve ser feita de modo transparente. É preciso mostrar à população que a responsabilidade fiscal é a chave para crescer de modo sustentável e melhorar a vida da população, sobretudo das parcelas mais vulneráveis e dependentes dos poderes públicos.

Gasto público não implica, necessariamente, prosperidade, sobretudo quando excessivo, desperdiçado e não avaliado. Ao contrário, as despesas têm de aumentar mais devagar para o país voltar a crescer.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– É exatamente o contrário do que Lula pretende fazer. (C.N.)

Crise do Master mostrará realmente o que faz Galípolo à frente do BC

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em sessão solene na Câmara

Quando se fala em Master, Galípolo sente um nó na garganta

Malu Gaspar
O Globo

Quando Gabriel Galípolo assumiu a presidência do Banco Central, as dúvidas sobre ele tinham a ver com a capacidade de se equilibrar entre as expectativas do governo Lula e o manejo das taxas de juros e da inflação. Passados três meses de sua posse, os juros já subiram duas vezes, a inflação está acima do teto, e não há nenhum ruído.

O grande teste para o novo chefe do BC, porém, é outro: a crise do Banco Master, que acaba de receber uma oferta de compra do BRB, do governo do Distrito Federal.

ACIMA DO NORMAL – Nascido da aquisição de um banco quebrado, o Master teve nos últimos anos um crescimento vertiginoso, impulsionado pela venda de títulos de renda fixa que pagam muito mais do que a média do mercado — e rendem aos bancos e corretoras que os ofereciam aos clientes comissões também acima do comum.

Como argumento para tranquilizar os desconfiados com um negócio que parecia bom demais para ser verdade, esses vendedores diziam que não havia com que se preocupar, porque, “se quebrar, o FGC garante”.

O FGC é o fundo garantidor de créditos, criado depois da crise bancária de 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso, e sustentado pelos bancos privados. Ele garante as aplicações de poupança e CDB até R$ 250 mil.

E AS GARANTIAS? A quem perguntava como o Master pagaria aos investidores, os controladores mostravam o negócio de crédito consignado que começou com a exclusividade na folha dos servidores do governo da Bahia, na gestão de Rui Costa; uma gorda carteira de precatórios, créditos de recebimento incerto que dominavam mais de um terço do patrimônio; e um conjunto de empresas em dificuldades que, recuperadas, dariam um retorno espetacular.

Com dinheiro à disposição, os controladores do Master se esbaldaram em festas milionárias e viagens de jato pelo mundo.

Contrataram figuras estreladas para compor conselhos e fazer consultorias — como Ricardo Lewandowski, que entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Ministério da Justiça passou um ano no banco, e Guido Mantega, que levou o controlador do Master, Daniel Vorcaro, para dar um abraço no presidente Lula no Palácio do Planalto.

ADVOGADA DE RENOME – Na Justiça, o Master era defendido pelo escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, mulher de Alexandre de Moraes, que em abril de 2024 foi convidado de um evento jurídico promovido pelo Master em Londres.

Influência, portanto, nunca foi problema. Mesmo assim, em 2023, depois de muita pressão nos bastidores, o BC criou regras que diminuíram a proporção de precatórios e de CDBs que os bancos podiam acumular. Mas deu até 2025 para o pessoal se enquadrar, o que fez o Master procurar um novo nicho para seus títulos: fundos de pensão e bancos públicos.

Só o Rioprevidência, feudo do União Brasil, comprou R$ 700 milhões. A Cedae, estatal de saneamento fluminense, mais R$ 200 milhões. Na Caixa Econômica Federal, controlada pelo PP de Arthur Lira, uma oferta de R$ 500 milhões foi barrada por um grupo de técnicos que considerou o negócio “arriscado demais” e “atípico”, uma vez que o Master tinha “alto risco de solvência”.

EMENDA MASTER – Mais ou menos na mesma época, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) apresentou no Senado Federal um Projeto de Lei que aumentava de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a garantia do FGC por cliente — logo batizado de “emenda Master”. Não colou.

Hoje, o Master tem R$ 49 bilhões em CDBs na praça, dos quais R$ 16 bilhões para ser pagos até o fim do ano. Mas os ativos, calculados em R$ 30 bilhões, são ilíquidos, difíceis de vender rapidamente. A liquidez até o final do ano é de R$ 8 bilhões.

A conta não fecha, e nesse contexto surgiu a proposta do BRB. O banco controlado pelo governo de Ibaneis Rocha (MDB) diz que comprará uma parte do Master por R$ 2 bilhões, assumirá o pagamento de R$ 29 bilhões em CDBs e ainda deixará o controle com os atuais sócios.

ALTO RISCO – Para a agência Moody’s, um negócio com “alto risco de execução”, porque pode afundar também o BRB. E essa encrenca está nas mãos do Banco Central, que vai precisar decidir se aprova a venda do Master para o BRB e ainda articular uma solução para os CDBs que sobram.

A saída privada em discussão seria o BTG ficar com uma parte dos negócios do Master e deixar os CDBs para o FGC cobrir. Mas os bancões têm dito que, se é para pagar o prejuízo, não há por que jogar uma boia para os donos do Master.

A história dos escândalos financeiros está repleta de vendedores de vento que foram resgatados pela Viúva quando a situação apertou. No país do orçamento secreto, do Rei do Lixo, da anulação de condenações de réus confessos ou de processos por excesso de provas, isso pode até parecer aceitável. Mas não deixa de ser uma oportunidade para o novo presidente do BC mostrar se é de fato independente — e de quem.

STF começa a recuar das penas ilegais e exageradas que usou ao agradar Moraes

Moraes manda caso sobre Kassab de volta ao STF

Fux acuou Moraes e o relator está obrigado a recuar

Wálter Maierovitch
do UOL

Desesperado, o ex-presidente Jair Bolsonaro aproveita-se dos exageros sancionatórios, dos impedimentos evidentes, do corporativismo despudorado e das celebridades de vestes talares sob um presidente “rempli de soi-même”, além dos desacertos desmoralizantes do STF para sobreviver politicamente.

Na prática, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, não deixa que as provas falem por si. Em seu lugar, impõe-se o protagonismo togado.

UM EXEMPLO –  As provas eram abundantes para o recebimento da denúncia contra Bolsonaro e seus aliados golpistas. No entanto, Alexandre de Moraes roubou a cena, polemizou e agitou as redes sociais —uma conduta incompatível com a de um juiz. Durante a sessão de julgamento, comentou sobre a repercussão nas redes e respondeu a críticas. Até isso aconteceu!

Com deslealdade e violação à lei processual, apresentou um vídeo de surpresa e substituiu o papel do Ministério Público, responsável por comprovar a materialidade dos crimes. Dessa forma, abriu caminho para a vitimização de Bolsonaro e evidenciou sua suspeição, ignorada pela maioria dos seus pares no STF.

Em resumo, o STF ofereceu a Bolsonaro um figurino pronto para se apresentar como vítima, perseguido e injustiçado.

USAR OS BAGRINHOS – Bolsonaro não se envergonhou em voltar a explorar os bagrinhos do 8 de Janeiro, usados como massa de manobra golpista e que receberam penas estratosféricas, num foro privilegiado que nunca sonharam possuir, penas estratosféricas.

Agora, busca rotulá-los como inocentes a fim de obter a aprovação de uma lei de anistia, a ser sancionada por Lula, que o beneficiaria diretamente. Segundo entendimento do próprio STF, relativamente a assassinos, torturadores e usurpadores da ditadura iniciada em 1964, a anistia significa clemência geral, ampla e irrestrita. Se sancionada, Bolsonaro poderia proclamar: “Tô dentro e sou elegível”.

O réu Bolsonaro e seus aliados intelectuais na tentativa do golpe não serão julgados pelo plenário. O ministro Luiz Fux discordou de Moraes quanto à competência das turmas e apontou casos a mostrar que a Primeira Turma parece uma biruta de aeroporto, movida ao sabor dos ventos políticos.

TURMAS CONFLITANTES – Lógico, Bolsonaro se aproveitou disso para destacar a divisão do STF em duas turmas com entendimentos bastante distintos.

Em uma delas —e isso é certo— estão alguns passadores de pano que beneficiam corruptos, permitindo que deixem de pagar multas e descumpram acordos de delação premiada. No contrato de colaboração com a Justiça, o delator (seja suspeito, indiciado, réu ou condenado) confessa sua culpa e responsabilidade pelos crimes cometidos.

Além disso, conforme já decidido pelo próprio STF, um réu confesso pode, para suprir sua incapacidade de postular na Corte, ter como advogada a esposa de um ministro que profere decisões monocráticas — como no caso de Dias Toffoli. Na outra turma — e isso é igualmente certo —, há dois ministros suspeitos no processo criminal contra Bolsonaro: Moraes e Dino.

SEDE DE VINGANÇA – O ânimo punitivo e vingativo de Moraes e Dino levou esses magistrados a proferirem reprimendas individuais —aos referidos bagrinhos—, guiadas mais pelo fígado do que pela razão, e registradas com a tinta da bile —que, ironicamente, possui as cores verde-amarela.

A corte não se preocupa em alterar, ao sabor dos ventos políticos, o seu entendimento sobre foro por prerrogativa de função. Assim, aquele que perdeu a função pública ora continua com o foro privilegiado, ora não mais.

No momento, o drama de uma cabeleireira, aquela do “perdeu, mané”, gerou, pela punição desproporcional, um sentimento a misturar reprovação e piedade dos brasileiros, do Oiapoque ao Chuí.

EFEITO FUX – O ministro Luiz Fux percebeu o excesso e freou a pena vingativa proposta por Moraes, que então concedeu prisão domiciliar à cabeleireira, que ficou desnecessariamente dois anos presa, e enviou para casa outros 11 presos pelos atos golpistas

Não deve passar despercebida, ainda, a soltura demorada, de um enfermo de câncer, que infartou na cadeia, depois de ser preso após os atos golpistas de janeiro de 2023.

Na porta do Inferno de Dante, da obra “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, lê-se: “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate” (deixai toda esperança vós que entrais).

EM PLENO INFERNO – Os participantes do 8 de Janeiro entraram no Inferno pela porta do STF, submetidos a penas desproporcionais. Moraes assumiu o papel do barqueiro Caronte, remando com ódio contra os bagrinhos. Só faltou ecoar: “Guai a voi anime prave” (que se danem almas perversas).

Na suprema barca da deusa Têmis, alguns ministros começam a sentir uma brisa de bom senso, como demonstram os casos da cabeleireira Débora Rodrigues e de outros 11 presos libertados.

CONSERTAR OS EXAGEROS – Talvez tenham percebido que estão fornecendo material para a polarização incentivada por Bolsonaro, que usa essas decisões para buscar anistia.

Um ponto fundamental, somente o STF poderá consertar os seus exageros. Não é caso de anistia. A pergunta que não quer calar: há outra saída para os bagrinhos além da anistia?

No processo de execução penal, existem incidentes que podem amenizar as penas, como a unificação. No caso dos bagrinhos, as penas por tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado de Direito poderiam ser fundidas em uma única, por consunção. E entraria, também, a ciência chamada Política Criminal para garantir uma pena justa.

Com Eduardo Bolsonaro e Janja, Brasil pode ter uma eleição patética

Imaginem Eduardo e Janja disputando a Presidência….

Elio Gaspari
O Globo

A República tem mais de um século, e o Brasil teve uma recaída dinástica. De um lado, Eduardo Bolsonaro pode sair como candidato a presidente caso seu pai continue inelegível.

Na outra ponta, a caminho do 80º aniversário e com a boca do jacaré aberta, Lula poderia desistir da disputa pela reeleição. Nesse cenário, surgiu uma especulação delirante. Para ganhar perdendo, ele lança a candidatura de sua mulher.

Coisa parecida quem fez foi Juan Perón na Argentina de 1973. Ele ia mal de saúde e elegeu-se com Isabelita como vice. Morreu no ano seguinte e ela assumiu.

Parece delírio, e é, mas Lula já está falando do peso da idade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como já afirmamos aqui na Tribuna da Internet, o objetivo dessa gentalha é transformar o Brasil numa gigantesca Argentina, com uma Janja/Isabelita que gosta de viajar e tudo o mais. Se conseguiram destruir um país rico como a Argentina, no caso do Brasil será muito mais fácil, com governantes ineptos tipo Temer/Marcela, Bolsonaro/Michelle e Lula/Janja. No século passado, a Argentina era o país mais rico da América Latina. Chegou a ser a 9ª economia com maior renda por habitante do mundo, à frente da Dinamarca, Alemanha e França. Agora, está no bagaço, como se dizia antigamente. (C.N.)