Erros da Justiça brasileira consolidam uma imagem altamente desfavorável

A imagem mostra um grupo de pessoas em uma manifestação. Um homem, que está falando ao microfone, usa um boné e uma camiseta escura. Ele levanta a mão em um gesto de fala. Ao fundo, há várias pessoas, incluindo homens com trajes tradicionais indígenas e outros com roupas casuais. Um banner verde é visível, com a frase "monrem a es" parcialmente legível.

Espanha considera Eustáquio como perseguido político

Hélio Schwartsman
Folha

Na mesma semana, Brasil dá asilo a condenada por corrupção no Peru e vê Espanha negar extradição de bolsonarista. A culpa é da Constituição. A contradição em potência dorme lá, no artigo 4º, que enumera os princípios pelos quais o Brasil se rege em suas relações internacionais. Os incisos III e IV mencionam a autodeterminação dos povos e a não intervenção, mas o X estampa a concessão de asilo político.

Inconsistências emergem porque a decisão de dar asilo envolve sempre um juízo qualitativo sobre as instituições do outro país, o que pode ser entendido como uma violação à sua soberania e uma interferência em seu sistema político-judicial.

ASILO A NADINE – Nos últimos dias, assistimos a dois exemplos dessa tensão. O governo Lula concedeu asilo a Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, horas depois de ela ser condenada a 15 anos de prisão. Heredia é mulher do ex-presidente Ollanta Humala, um aliado de Lula que também foi condenado aos mesmos 15 anos por corrupção e já está preso. É um caso ligado à Odebrecht.

Ao conceder o asilo, o recado que o governo Lula, justa ou injustamente, dá a Lima é que não considera seu Judiciário digno de crédito, de modo que permitirá que a ré se furte à aplicação da lei.

Como que a dar materialidade ao dito popular segundo o qual pau que bate em Chico também bate em Francisco, o Judiciário espanhol negou a extradição do blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. A extradição fora pedida por Alexandre de Moraes, do STF. Eustáquio é investigado por crimes contra a democracia.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO – Justa ou injustamente, a Justiça espanhola julgou a brasileira e viu problemas. Para os espanhóis, o caso de Eustáquio tem forte dimensão política e o investigado poderia ter sua situação prejudicada devido a suas opiniões, razão pela qual negaram a extradição.

Não vejo muito como fugir a esse esquema. Na hora de conceder asilo ou mesmo interpretar notícias, é inevitável fazer juízos sobre os sistemas de Justiça. E não dá para pôr em pé de igualdade o Judiciário na Noruega e o de Putin.

Mas nosso STF deve ter ficado surpreso ao constatar que não é visto lá fora como gostaria.

Recurso inicial de Braga Netto contesta vídeos que Moraes usou ilegalmente

Vídeo foi exibido ilegalmente por Alexandre de Moraes

Rayssa Motta
Estadão

A defesa do general Walter Braga Netto foi a primeira a apresentar recurso contra a decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou réus os integrantes do “núcleo crucial” do plano de golpe.

Os advogados deram entrada em um recurso chamado embargo de declaração – usado para questionar eventuais omissões, contradições ou “obscuridades” no acórdão. Os embargos não têm o poder de alterar a essência da decisão, o mérito, e servem apenas para sanar pontos que não ficaram claros ou não foram abordados no julgamento.

VÍDEO INDEVIDO – Um dos questionamentos é sobre os vídeos do 8 de Janeiro de 2023 e do atentado a bomba em Brasília, em dezembro de 2022, exibidos no plenário a pedido do ministro Alexandre de Moraes.

Os advogados José Luís Oliveira Lima, Rodrigo Dall’Acqua, Rogério Costa, Millena Galdiano e Bruno Dallari Oliveira Lima afirmam que os episódios extrapolam os limites da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) e colocam a defesa em uma posição desfavorável.

“Há que se respeitar estritamente os limites da acusação, senão a atuação jurisdicional deixa de ser equidistante e favorece a acusação. É exatamente o que ocorreu ao se trazer aos autos os episódios não narrados na denúncia, em um verdadeiro reforço à materialidade por meio de vídeos desses episódios alheios ao objeto da denúncia”, diz o recurso, em que a defesa pede que as referências sejam suprimidas do acórdão.

ARGUMENTO DESPREZADO – Os advogados também alegam que a Primeira Turma não analisou o argumento de que a delação do tenente-coronel Mauro Cid deve ser anulada por interferência indevida do ministro Alexandre de Moraes.

“O acórdão ora embargado deixou de enfrentar tal tese devidamente, incorrendo em omissão, com o devido respeito”, insistem, ao apontar o desprezo a argumentos da defesa que precisam ser levados em conta e discutidos, para se saber se serão considerados ou não.

Além disso, a defesa reitera que não teve acesso a todas as provas obtidas pela Polícia Federal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGBraga Netto é um golpista oportunista, que manchou o nome das Forças Armadas. Mas isso não permite que o juiz Alexandre de Moraes se exceda na acusação, como ocorreu na exibição ilegal deste vídeo. A defesa tem toda razão de pedir a exclusão dos comentários que prejudiquem ao réu. (C.N.)

Advogado de Filipe Martins pode acabar provocando a condenação do cliente

O desembargador aposentado Sebastião Coelho, advogado do ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, quando foi barrado no Supremo Tribunal Federal (STF)

Advogado gosta de aparecer e pode prejudicar o cliente

Francisco Leali
Estadão

Na volta do feriado da Semana Santa, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal julga mais um capítulo da denúncia sobre uma tentativa de Estado. Na primeira rodada, viraram réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete. Na segunda leva está o pessoal do segundo escalonamento golpista.

Estão nessa lista os ex-assessores da Presidência Filipe Martins e Marcelo Câmara; o general Mário Fernandes; o ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques; o ex-secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal Fernando de Sousa Oliveira; e a ex-subsecretária da pasta Marília de Alencar.

GERENTES DO GOLPE – Esses, segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República, eram como gerentes do golpe. São descritos como ocupantes de “posições profissionais relevantes” responsáveis ​​por coordenar forças policiais para apoiar a manutenção de Bolsonaro na cadeira de presidente.

De todos eles, um ocupa situação de relevância e deve figurar como o protagonista no julgamento que está marcado para começar no STF no dia 22. Filipe Martins, o ex-assessor de assuntos internacionais, é aquele que já foi acusado de fazer gestos da supremacia branca em visita ao Congresso. É o mesmo que reverberou no Palácio do Planalto as ideias do guru Olavo de Carvalho.

Na denúncia em julgamento, Martins é o responsável por colocar na mesa de Bolsonaro a minuta do golpe. A ele é atribuído a redação do texto que previa a anulação da eleição e prisão do eleito Lula e também de ministros do STF como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.

MINUTA DO GOLPE – O documento é uma prova que materializa as ideias de rompimento da ordem democrática. É também o arremedo de um presidente que chegou a ser designado aos comandantes das Forças Armadas, mas só teve a adesão de um deles, o então chefe da Marinha.

Se Filipe Martins é candidato a estar no centro dos votos dos ministros, outro personagem se apresenta como postulante de algum protagonismo na sessão. O advogado Sebastião Coelho, defensor de Martins, é desembargador aposentado e vem atuando em duas frentes: a jurídica e a política. Em postura que difere da maioria dos advogados que atuam no processo – esses preferem se ater ao embate ortodoxo judicial – Sebastião Coelho copia os métodos bolsonaristas e usa as redes para, nas palavras dele, “denunciar” os abusos do Supremo.

ATITUDE NEGATIVA – Coelho foi o advogado que discursou no plenário do Supremo avisando aos ministros da Corte que eles eram pessoas “odiadas” em boa parte do País.

Há quem considere, no mundo jurídico, que advogado que ataca juiz está comprando briga com uma pessoa que vai definir se o cliente é ou não é culpado.

No caso de Filipe Martins, parece não haver outro destino que não o de virar réu e, mais tarde, também condenado. Tem-se, então, a alta probabilidade de o advogado voltar a peitar a Corte e acabar sendo repreendido pelos ministros da Primeira Turma.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNos escritórios de advocacia onde trabalhei, aprendi que não se pode provocar juiz. Muito pelo contrário, é preciso sempre elogiar o magistrado, apontando os erros dele como simples “lapsos”. Assim, se não trocar de advogado, Filipe Martins pode acabar sendo condenado, embora as provas contra ele sejam apenas circunstanciais, sem materialidade. Dizer que ele era um dos “gerentes do golpe”, responsáveis ​​por “coordenar forças policiais”, é uma tremenda Piada do Ano! Mas quem se interessa? (CN)

É hora de Tagliaferro revelar tudo o que sabe sobre ilegalidades de Moraes

Quem é Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do TSE que revelou ter medo de  Alexandre de Moraes - D Marília

Tagliaferro diz que tem medo de ser preso ou morto…

Deu na Gazeta do Povo

O perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor-chefe do Tribunal Superior Eleitoral cujas mensagens, trocadas com dois juízes que assessoravam Alexandre de Moraes no STF e no TSE, revelaram o uso da estrutura do Judiciário para perseguição política a críticos dos tribunais superiores, está prestes a ser o único a pagar por um escândalo que, em um país normal, levaria à queda de todos os envolvidos.

 Mas ele provavelmente sabe muito mais do que veio à tona até agora, por meio de reportagens publicadas no jornal Folha de S.Paulo em 2024. A Gazeta do Povo, também em apuração exclusiva, analisou mensagens trocadas entre Tagliaferro e sua atual esposa, na qual ele afirmou temer por sua vida.

TIRADAS DO AR – As conversas ficaram todas disponíveis para acesso nos sistemas do STF por duas semanas, até que fossem retiradas do ar na tarde desta quarta-feira, dia 16 – até mesmo diálogos entre o ex-assessor e seu advogado haviam sido divulgados, em uma violação grotesca do sigilo profissional.

À atual esposa, Tagliaferro afirmou que “hoje, se eu falar algo, o Ministro [Moraes] me mata ou me prende”, usando o exemplo de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro:

“Veja pelo Cid, falou em um grupo privado, algo que nem seria crime, somente comentou uma verdade, o fdp [outra referência a Moraes] mandou prender ele de novo”.

O PAU DA BARRACA – O assessor ainda acrescentou que “minha vontade, [sic] é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto. Meter o louco e não fazer mais nada, mas não posso, tenho as meninas” – uma referência a duas filhas adolescentes.

Na época das mensagens, Tagliaferro não era mais assessor do TSE, tendo sido demitido da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) em 2023 após ser detido por suposta violência doméstica contra a ex-mulher.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG A Gazeta do Povo tem razão. Em país democrático, nenhum cidadão pode ser blindado e imune a investigações policiais, como está acontecendo com o ministro Alexandre de Moraes. Na vida prática, porém, o perito Tagliaferro tem razão em se manter calado. Se fizer alguma revelação formal, o Judiciário vai persegui-lo de uma maneira verdadeiramente implacável. Afinal, que tem coragem de enfrentar Moraes, o Xandão da tonga da mironga do kabuletê judiciário, como diziam Vinicius e Toquinho? (C.N.)

Milhares de manifestantes vão às ruas contra as decisões tirânicas de Trump

Imagem

Protestos também atingem Musk, que assessora Trump

Jamil Chade
do UOL

“Não nos esconderemos”. Foi com esse slogan que milhares de pessoas tomaram a 5ª avenida em Nova York, para mais um fim de semana de protestos contra Donald Trump. O ato está sendo organizado em todas as principais cidades americanas, alertando para os ataques contra a democracia, ofensivas contra imigrantes e direitos humanos.

Sem uma reação coordenada por parte de grupos políticos e com uma oposição enfraquecida depois da eleição, ativistas apostam no “barulho das ruas” para tentar frear Trump. Organizadores fazem parte do momento Fifty Fifty One, que projetaram atos nos 50 estados do país. Em Nova York, eles estimam em 20 mil o número de pessoas nas ruas neste sábado.

700 EVENTOS – Pelo menos 200 cidades devem organizar atos neste fim de semana de Páscoa, num total de 700 eventos, segundo o site do Fifty Fifty One.

Ao convocar a multidão a marchar até o Central Park, os organizadores apelaram para que os manifestantes não “cedam ao medo”. A ideia é a de colocar, de forma permanente, ativistas, grupos de direitos humanos e a comunidade mais vulnerável para serem ouvidos.

O ato contou com centenas de bandeiras americanas e cartazes que rejeitam a ideia de os EUA terem um “rei”, numa alusão a Trump.

PARTICIPAÇÃO – Até deficientes físicos compareceram. “Não posso ficar em casa diante do que está ocorrendo”, afirmou Mary Collins, de 83 anos, numa cadeira de rodas.

Um segmento importante da manifestação se referia ainda à deportação por engano de um imigrante de El Salvador. “O que estamos alertando é que isso pode acontecer com qualquer um de nós”, disse David, um ativista.

Pela avenida mais conhecida dos EUA não faltaram ainda cartazes sobre Elon Musk e os bilionários no governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Trump é um irresponsável, que está semeando uma gravíssima crise no Brasil e no mundo, pois nunca houve nada igual e ninguém sabe aonde isso pode chegar. A insegurança atinge a todos, não importa se são imigrantes, aposentados e investidores, a esculhambação é ampla, total e irrestrita, igual à anistia que Bolsonaro quer emplacar. (C.N.)

Asilada por Lula, a peruana corrupta escapa da Lava Jato e se sente em casa

Ex-primeira-dama do Peru desembarca em Brasília após receber asilo  diplomático

Espertinha, Nadine Heredia alega que está com câncer…

Mario Sabino
Metrópoles

Jornalistas que ajudaram a enterrar a Lava Jato, como se os procuradores e os juízes da operação anticorrupção tivessem ferido de morte o Estado de Direito, agora se escandalizam porque uma das personagens atingidas pela Lava Jato no exterior recebeu asilo do governo Lula.

Eles dizem que não há justificativa para que a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, tenha sido acolhida no Brasil depois de ter sido sentenciada a 15 anos de prisão, assim como o maridão, o ex-presidente Ollanta Humula, que está em cana. Ambos foram condenados por ter levado uma bola de US$ 3 milhões da Odebrecht para financiar a campanha eleitoral que levou o gajo à presidência do Peru, em 2011.

CANCEROSA? – Nadine Heredia refugiou-se na embaixada brasileira em Lima, alegando perseguição política e a necessidade urgente de tratar um câncer, e escapou para cá, em avião da FAB, com a ligeireza de um delivery de ceviche.

Os seus advogados brasileiros, um deles pertencente àquele intrépido clube do charuto e do vinho conhecido por Prerrogativas, afirmam que Nadine Heredia foi injustiçada pelos promotores e juízes peruanos da mesma forma que os condenados pela Lava Jato o foram pelos procuradores e juízes brasileiros.

É claro que colou, e eu não entendo, juro, qual é a surpresa dos meus colegas jornalistas. Para mim, é lógico que, se colocamos os condenados brasileiros pela Lava Jato na rua, e um deles na Presidência da República, também garantamos liberdade a condenados estrangeiros que foram pegos pela operação nos seus países.

VENHAM A NÓS… – A Lava Jato não era uma “organização criminosa”, como gosta de apregoar por aí o decano do STF e aquele outro integrante do tribunal que não gosta da Transparência Internacional? A Odebrecht e outras empreiteiras não eram dirigidas por gente proba que foi torturada pelos fascistas de Curitiba? O nosso Lula também não foi vítima dessa gente horrorosa? Pois então. Venham a nós as criancinhas colhidas pelos tentáculos internacionais da quadrilha.

Ademais, precisamos fazer valer a antiga tradição de sermos valhacouto de corruptos (tivemos até um paraguaio), ladrões (tivemos até um inglês), traficantes (temos até um búlgaro), terroristas (tivemos até um italiano) e assassinos (o mesmo italiano). Acusados de o serem, quer dizer.

A Lava Jato vigarista também ameaçava o nosso belo histórico de terra da eterna presunção de inocência. Já não ameaça mais, ainda bem, com a graça de Deus e a elegância do STF. Bem-vinda, Nadine Heredia.

‘The Economist’ sabe que Bolsonaro não terá um julgamento imparcial 

The Economist chamou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de "juiz estrela" em matéria publicada nesta quarta-feira, 16.

The Economist diz que Moraes tem um poder excessivo

J.R. Guzzo
Estadão

Até tu, “The Economist”? Sim, até tu, “The Economist”. Tinha de acontecer um dia, mais cedo ou mais tarde, e aconteceu. O semanário inglês, tido como leitura obrigatória dos grandes deste mundo, foi durante mais de 100 anos um dos principais santuários disponíveis para o pensamento conservador com viés racional.

Hoje, antenado na Tábua de Mandamentos do pensamento globalista com viés esquerdoso, serve como um escritório de certificação do que existe de mais politicamente correto na vida pública mundial. Tanto na sua primeira encarnação como na segunda, é visto como um árbitro da virtude dos governos – e esse árbitro acaba de dizer que o STF está nu.

PARCIALIDADE – O que “The Economist” disse, com muita delicadeza e cuidado em cada palavra, mas sem qualquer dúvida para o bom, ou mesmo médio, entendedor, é que o ex-presidente Jair Bolsonaro não vai ter um julgamento imparcial no processo que o STF promove contra ele.

Não dá, realmente, para se dizer que “The Economist” é bolsonarista, como se diz automaticamente de quem afirma a mesma coisa aqui no Brasil – Bolsonaro, ao contrário, é uma “bête noîre” definitiva no seu elenco de maus elementos mundiais.

A conclusão é que o STF, enfim, se vê exposto perante o mundo como aquilo que de fato é: um não-tribunal que se deu poderes totalitários, opera como uma facção política e tornou-se incapaz de fornecer justiça.

ENFIM, JÁ SABEM – Era pouco provável, naturalmente, que o STF continuasse a fazer tudo o que tem feito nos últimos anos sem que ninguém no mundo percebesse, um dia. É o flagrante perpétuo, a prisão provisória por tempo indeterminado e o julgamento dos réus em lotes.

É a anulação de todos os processos de corrupção. É o inquérito policial que continua aberto há seis anos. É a defesa por vídeo. É a nomeação do advogado pessoal do presidente da República para uma cadeira no tribunal.

É o julgamento de Bolsonaro por uma câmara de cinco juízes, e não pelo plenário. É o traficante búlgaro que ganha a proteção do STF por caprichos de vingança de Alexandre de Moraes. É muito mais ainda.

NADA IGUAL – Não existe nada parecido com isso em qualquer sociedade civilizada do planeta. Na verdade, só no Brasil vigora a ficção de que o Supremo Tribunal Federal cumpre a lei, que não há nada de anormal em condenar a 17 anos de cadeia pessoas que participaram de um quebra-quebra e que houve uma tentativa de golpe armado em que a armas eram estilingues, bolas de gude e um batom, no papel de “substância inflamável”.

O que há, no mundo real, é uma fratura que vai ficar cada vez mais exposta até a hora do julgamento. Terão de ser exibidas em juízo as provas do golpe do STF – e aí sim, “The Economist” vai ver o que é a justiça brasileira.

Donald Trump recria um mundo mais perigoso e muito mais decepcionante 

charge trump posse eua world mine again

Chrge do Baggi (Jornal de Brasília

Mario Sabino
Metrópoles

Como vivemos neste planeta, Donald Trump é muito mais relevante do que Lula, anistia a bolsonaristas, desmandos do STF ou qualquer outro assunto brasileiro. No Domingo de Ramos, o exército russo atacou com mísseis balísticos a cidade de Sumy, na Ucrânia, matando 34 civis, inclusive crianças, e ferindo outras 117 que haviam saído de casa para ir à missa. Na última noite, a Rússia voltou a atacar o vizinho, agora em Dnipro, ceifando a vida de mais três civis ucranianos — e outra criança estava entre as vítimas.

Presidido pelo Canadá, o G7 queria condenar formalmente o massacre em Sumy. Os Estados Unidos não concordaram em assinar o documento, em posição semelhante à adotada na ONU, em fevereiro, quando se opuseram a uma resolução elaborada pela Europa que condenava a agressão da Rússia à Ucrânia.

“ERRO RUSSO” – Ao comentar o ataque em Sumy, ocorrido apenas dois dias depois do encontro de cinco horas entre Vladimir Putin e o enviado especial americano a Moscou, Steve Witkoff, para discutir um cessar-fogo na Ucrânia, Donald Trump disse que se tratava de um “erro russo”, e foi só naquele momento.

A Casa Branca justifica a omissão e a tepidez americanas pela necessidade de manter as negociações de paz com os russos. Mas de qual paz está se falando?

A paz negociada por Donald Trump, repita-se pela enésima vez, é a rendição da Ucrânia. Em entrevista à Fox News, Steve Witkoff deu a entender que os Estados Unidos concordariam que os russos conservassem todos os cinco territórios ucranianos ocupados ilegalmente.

AO GOSTO DE PUTIN – Duas potências que discutem territórios de um terceiro país, sem que o principal interessado participe da conversa, é um anacronismo bem ao gosto de Vladimir Putin, nostálgico de antigos imperialismos, assim como de Donald Trump, que gostaria de botar a mão peluda sobre o Canal do Panamá e a Groenlândia dinamarquesa.

A disposição do presidente americano de agradar ao camarada russo é ainda mais comovente, porque ele exclui a Europa das negociações sobre a paz na Ucrânia, embora o seu pau-mandado Marco Rubio (até tu, Rubio?) continue a fazer o teatrinho possível (nesta quinta-feira, o secretário de Estado americano, acompanhado de Steve Witkoff, está em Paris para conversar com Emmanuel Macron).

Não há como negar que Donald Trump tem lado, e esse lado não é o dos ucranianos, e esse lado não é o dos europeus ocidentais, que serão os próximos alvos de Vladimir Putin na sua fronteira leste. Um dia após limitar-se a dizer que o massacre em Sumy era um “erro” dos russos, o presidente americano voltou a reincidir na delinquência de culpar a Ucrânia pela guerra.

NEGANDO APOIO – Ao rejeitar o pedido de Volodymyr Zelensky por mais mísseis de defesa americanos, os Patriot, Donald Trump afirmou que “você não começa uma guerra contra alguém 20 vezes maior do que você e depois espera que as pessoas lhe deem mísseis”. Para piorar, há rumores de que os Estados Unidos também estão pressionando os europeus para que diminuam o fornecimento de armas aos ucranianos.

É fazer o jogo sujo do chantagista Vladimir Putin e dos seus acólitos. Nesta quinta-feira, por exemplo, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, ameaçou a Alemanha por fornecer à Ucrânia mísseis Taurus, capazes de atingir mais profundamente território russo.

Ela disse que “um ataque com esses mísseis seria considerado participação direta da Alemanha em hostilidades ao lado do regime de Kiev, com todas as consequências que isso acarreta”.

MAIS PERIGOSO – O mundo se tornou mais perigoso com Donald Trump e a sua boa vontade com ditaduras e má vontade com democracias. Mais perigoso e mais ridículo. Entre as ridicularias, está a recusa infantil do presidente americano de conversar com a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, seja presencialmente, por telefone ou por sinais de fumaça.

Ursula von der Leyen se vê obrigada a usar a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, como intermediária para tentar negociar as tarifas de importação insanas estabelecidas por Donald Trump contra aliados fiéis, que estão muito longe de ser a China.

COMBINAÇÃO -Antes de Giorgia Meloni ir a Washington para conversar com o presidente americano, ambas combinaram um script. É uma situação completamente anômala que a máxima representante da União Europeia não tenha interlocução com o presidente dos Estados Unidos da América. Achar que conseguirá dividir os europeus com essa birra é só mais uma estupidez gerada pela prepotência.

“O Ocidente, tal como o conhecíamos, já não existe”, disse Ursula von der Leyen ao jornal Die Zeit. O Ocidente expirou nas frentes militar, geopolítica e comercial não com uma explosão, não com um suspiro, mas com risadas de escárnio em Washington e Moscou.

O fim do Ocidente não será um final feliz para ninguém, nem mesmo para quem assinou o seu atestado de óbito.

Bolsonaro tem problema de pressão e segue sem receber alimentação oral

Bolsonaro agradece mensagens após uma semana internado

Bolsonaro ainda não está recebendo alimentação por via oral

Adriana Victorino
Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um episódio de alteração da pressão arterial, que já foi controlado, segundo boletim médico divulgado no início da tarde deste sábado, 19. Ele continua internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, sem previsão de alta.

O relatório médico informou que o ex-presidente continua em jejum oral, se alimentando via corrente sanguínea, já que ainda não apresentou “movimentos intestinais efetivos”. A equipe médica informou que serão intensificadas as sessões de fisioterapia motora e outras medidas de reabilitação.

PÓS-OPERATÓRIO – O ex-presidente passou por uma cirurgia de cerca de 12 horas no último domingo, 13, para desobstruir uma dobra no intestino delgado que dificultava seu trânsito intestinal. Segundo a equipe médica responsável pelo procedimento, o pós-operatório deverá ser “prolongado”.

Bolsonaro foi atendido com urgência na sexta-feira, 11, após sentir fortes dores abdominais durante um evento do PL no Rio Grande do Norte. Ele foi levado de helicóptero a um hospital em Natal e, na noite do sábado seguinte, transferido para Brasília em uma aeronave equipada com UTI aérea.

A família Bolsonaro tem compartilhado registros do pós-operatório nas redes sociais. Na manhã deste sábado, a página de Bolsonaro no Instagram publicou um vídeo em que o ex-presidente agradece o apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que o acompanha durante a internação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Esta é a sexta operação, no mesmo lugar, para corrigir sequelas da facada que Bolsonaro levou em 2018. A equipe médica atual faz um esforço enorme para livrar Bolsonaro de uma nova bolsa de colostomia, que a equipe anterior conseguiu eliminar. O problema agora é que faltam “movimentos intestinais efetivos”, para que Bolsonaro possa voltar a ter alimentação oral, iniciando com caldos, sopas e pastas. Esses movimentos são causados por contrações musculares coordenadas das paredes do intestino, impulsionando o conteúdo intestinal. A combinação de propulsão e segmentação, conhecida como peristaltismo, garante que os alimentos se movam pelo sistema digestivo. Pela falta dessas contrações é que Bolsonaro continua a ser alimentado por via venosa há dez dias, desde quando foi internado. (C.N.) 

Decisões de Trump afetam bolsas e os aposentados entram em pânico nos EUA

A Nvidia despenca 6,80% no pré-mercado após anunciar impacto bilionário com  restrições dos EUA às exportações de chips à China. O setor tech sofre  efeito contágio com Apple e Meta também em

As ações despencam e os aposentados se apavoram

Pedro Dória
O Globo

Na semana passada, a Apple perdeu US$ 770 bilhões em valor de mercado. É consideravelmente mais do que vale a Tesla. Pegue todas as ações da Tesla, seja capaz de vender todas essas ações ao mesmo tempo pelo valor cobrado no momento do fechamento desta coluna, e dá mais ou menos isso. Uns US$ 640 bilhões.

A Visa, operadora de cartões de crédito, está avaliada pelo mercado em algo próximo de US$ 610 bilhões. Essa dinheirama não é pouco. Valer mais que US$ 600 bilhões quer dizer estar entre as 20 maiores companhias de capital aberto nos Estados Unidos. Até a semana passada, a ação da Apple era considerada estável, segura. Investimento conservador para padrões americanos. Donald Trump, com suas tarifas, a fez sangrar.

HORA DO PÂNICO – Aposentadoria, nos Estados Unidos, é responsabilidade individual. Cada indivíduo pode abrir uma conta-corrente de tipo específico, a 401(k), e mensalmente passar para ela um percentual do salário. Esse valor, até um teto que varia de acordo com a idade do contribuinte, é isento de imposto de renda.

É o contribuinte que decide como investir esse dinheiro. Todo americano tem parte de sua aposentadoria investida em Wall Street. É da natureza americana que os cidadãos tenham o hábito de investir suas economias no futuro das empresas americanas. Está entre as forças do país.

O tombo gigante da Apple, que perdeu 23% do valor entre os dias 2 e 8 de abril, foi refletido em cada poupança voltada para a aposentadoria em todo o país.

CLASSE MÉDIA DESABA – Não foi só a Apple que viu dinheiro virar pó. Num país onde o futuro de cada cidadão está atrelado ao valor das empresas, a loucura de Trump custa muito para todos. Só ficam de fora os tão pobres que não conseguem acumular para o futuro.

Não foi à toa que Trump voltou atrás e isentou parcialmente smartphones, computadores e apetrechos digitais em geral. Foi porque a bomba cresceu rápido e explodiria em sua mão. Ainda assim, o imposto de importação saltou de nada para 20%. Não ser 110%, como a Casa Branca estabelecera até a sexta-feira passada, é pouco consolo.

A briga só está começando. Trump ainda não entendeu o tamanho do problema que criou. Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, anunciou que começou a estudar tarifas sobre serviços digitais americanos.

CÁLCULO INFANTIL – Pois é. Na Casa Branca só fazem conta incluindo coisas que pegamos. Querem, num cálculo infantil, ter certeza de que cada país, individualmente, compre mais coisas dos Estados Unidos do que vende para os Estados Unidos. Só que um terço das exportações americanas não se pega com as mãos. São serviços.

Von der Leyen é uma política conservadora alemã para lá de experiente. Serviu como ministra num dos governos mais frios, pacientes e precisos que a Europa viu desde a unificação — aquele comandado por Angela Merkel. Seu último cargo foi como ministra da Defesa. O trabalho era lidar com gente tipo Vladimir Putin.

A Europa taxar serviços quer dizer o seguinte: a publicidade vendida por Meta e Google sentirá. E pode sentir muito pesado. Publicidade na Europa corresponde a 25% do que fatura a Meta e a 30% do que vende a Alphabet, holding do Google.

SENTINDO O BAQUE… – Se os Estados Unidos continuarem jogando pesado, e a Europa retrucar, algo que ainda não fez no nível dos chineses, outras duas gigantes americanas sentirão o baque. Feio. Isso quer dizer que inúmeros americanos próximos da aposentadoria ficarão ainda mais em pânico.

Um pedaço grande do Vale do Silício fez uma aposta: que, ao apoiar a Presidência de Donald Trump, teriam em Washington um parceiro para enfrentar a regulação do mercado digital no exterior. Esperavam que a Casa Branca pusesse todo o peso do Estado americano para forçar União Europeia, Austrália, Canadá, América Latina a não enfrentar as big techs.

Ora, a China não quer enfrentar as big techs. A Apple sozinha representa, dentro da China, uma cadeia que pode chegar a algo como 3 milhões de empregos. (A conta é de Patrick McGee, autor de um livro por lançar chamado “Apple in China”.) Mas a União Europeia quer. E Trump parece facilitar o trabalho em vez de dificultá-lo. À medida que a UE avança, outros a copiarão. Se ficará mais caro exportar para os Estados Unidos, por que não fazer um troco nas costas do Vale do Silício? E ainda não acabou.

“Descansa em teu amor, que bem estás”, ensina Adélia Prado poeticamente

Quero você na minha frente, extático,... Adélia Prado - Pensador

Atenção: “Extático” significa estar caído em êxtase…

Paulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora e poeta mineira Adélia Luzia Prado de Freitas, no poema “Entrevista”, aborda temas ligados ao sexo e à religiosidade.

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ENTREVISTA
Adélia Prado

Um homem do mundo me perguntou:
o que você pensa do sexo?
Um das maravilhas da criação, eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu dissesse maldição,
só porque antes lhe confiara:
o destino do homem é a santidade.
A mulher que me perguntara cheia de ódio:
você raspa lá? Perguntou sorrindo,
achando que assim melhor me assassinava.

Magníficos são o cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.
Santo, santo, santo é o amor de Deus,
não porque uso luva ou navalha.
Que pode contra ele o excremento?
Mesmo a rosa, que pode a seu favor?
“Se cobre a multidão dos pecados e é benigno,
como a morte, duro, como o inferno, tenaz”,
descansa em teu amor, que bem estás.

Suprema Corte dos EUA impede Trump de deportar venezuelanos

Presidente do Supremo dos EUA estará sob holofote... | VEJA

John Roberts, presidente da Suprema Corte, está reagindo

Deu na Folha
Agência France Presse

A Suprema Corte dos Estados Unidos suspendeu neste sábado (18) a deportação de vários supostos membros de gangues venezuelanas, que vivem no Texas, para uma prisão em El Salvador, com base em uma lei do século 18.

O presidente dos EUA, Donald Trump, invocou no mês passado a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 para prender supostos integrantes do Tren de Aragua, uma das principais facções criminosas da Venezuela, e deportá-los para uma prisão de segurança máxima em El Salvador.

TATUAGENS – Advogados de vários venezuelanos já deportados afirmam que seus clientes não faziam parte da organização Tren de Aragua e que não haviam cometido crimes.

Segundo a defesa deles, as autoridades se basearam em tatuagens para determinar se os detidos eram ou não criminosos.

Até então, a lei de 1798 só havia sido usada durante a guerra de 1812 contra o Império Britânico e suas colônias no Canadá, e nas duas guerras mundiais.

SERIAM EXPULSOS – “O governo está proibido de expulsar qualquer membro do suposto grupo de detidos nos Estados Unidos até nova ordem desta corte”, determinou o tribunal. A decisão responde a um pedido de emergência apresentado por advogados de direitos humanos com o objetivo de impedir a deportação de migrantes atualmente detidos em um centro prisional no Texas.

No recurso apresentado na noite de sexta-feira, a União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu, na sigla em inglês) argumentou que o grupo de venezuelanos havia sido informado de que “seriam expulsos de forma iminente” com base nessa lei.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A Justiça americana está dando uma lição ao Supremo brasileiro. O presidente Donald Trump pensa (?) que pode tudo. Com isso, está fazendo papel ridículo e espalhando pânico no país e no mundo. Mas existe a Justiça, que aos poucos, vai repondo as coisas em seus devidos lugares, travando os desvarios do ogro. Aqui na filial, está faltando o Supremo acordar do pesadelo, o que acontecerá mais cedo ou mais tarde. (C.N.)

Reduzir penas é preciso, mas a anistia deve ser considerada um descalabro

Gilmar Fraga / Agência RBSMarcos Augusto Gonçalves
Folha

Há um esforço de setores da ultradireita para fazer a sociedade brasileira engolir um projeto de lei que promova a anistia de envolvidos no ataque à democracia de 8 de janeiro e, por extensão, arrume um jeito — o verdadeiro objetivo — de permitir que Jair Bolsonaro concorra à eleição de 2026.

Entre cenas explícitas de desfaçatez e banditismo parlamentar, o PL, sigla do capitão, arregimenta apoios para abrir a porteira e deixar a boiada passar.

MULHER DO BATOM – Toda a mistificação em torno da cabeleireira Débora Rodrigues, acusada de cinco crimes, presa preventivamente e ora em julgamento pelo STF, tem servido para maquiar a agressão golpista do 8/1. Teria sido um convescote de idosos desocupados e moças a fazer inocentes pichações em estátuas, usando um batom.

A direita tem dado demonstrações de notável capacidade de criar factoides e embrulhar mentiras em celofane de bombons para amplo consumo em redes digitais. A esquerda ainda parece estar distribuindo panfletos, como nos tempos do “agitprop” do século passado.

Entre as movimentações dos dois lados do espectro, os brasileiros, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, não veem na anistia a meliantes antidemocráticos e no perdão a Bolsonaro uma pauta prioritária. São 56% os que se declaram contrários.

RIGOR DEMASIADO – Há, no entanto, hesitações quanto às penas determinadas pelo STF. Esse é um aspecto relevante a considerar. As divergências jurídicas sobre a cumulação dos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado foram objeto de discussão no próprio tribunal.

Terminou por vencer a índole justiceira do superministro Alexandre de Moraes. A favor do Supremo, foi oferecida e concedida medida alternativa a centenas de indiciados.

Entretanto, ficou no ar uma sensação de sentenças exageradas que, embora não endossada na pesquisa pela maioria, dá margem a proselitismo e toca parte influente da opinião pública. Não vou me furtar a opinar, sem reivindicar razão ou sapiência jurídica: compartilho dessa impressão, as penas desde o início me pareceram fora da curva.

TARIFAÇO PENAL – O fato é que este suposto e controverso tarifaço penal virou possível moeda de troca, como aventou a ministra Gleisi Hoffmann, que, diga-se, deixou claro tratar-se de tema passível de discussão, mas da alçada do STF.

Que o Judiciário faça política é um segredo de polichinelo: não é que dá a impressão aqui e ali ou pareça que faz. Faz. Em muitos casos de forma oportuna, ainda que em outros oportunista.

O quadro de pressões congressuais da direita reacionária vai se tornando difícil para o governo Lula administrar, em seu déficit de popularidade e de hegemonia parlamentar.

MONSTRENGO DA ANISTIA – Não é, em nenhum aspecto, aceitável que a proposta prospere e esse monstrengo da anistia venha a ser aprovado. Seria um retrocesso em tudo nocivo à democracia e uma desmoralização nacional.

O Congresso empoderado dos últimos tempos está se transformando ou já se transformou numa disfunção política que atinge o gangsterismo deslavado.

O novo presidente da Câmara, Hugo Motta, está sendo chantageado à luz do dia para pautar um salvo-contudo para golpistas. É preciso que as forças democráticas demonstrem inteligência, articulação e resiliência para barrar esse descalabro.

Brasil, o país da impunidade, dá asilo a políticos corruptos e a narcotraficantes

Novo questiona Itamaraty após Moraes suspender extradição de traficante por  'reciprocidade' - Estadão

Moraes mandou para casa o traficante dos 52 quilos

Merval Pereira
O Globo

Quando a política se mistura com as decisões jurídicas, não há chance de dar certo. Esta semana, instituições brasileiras depararam com impasses nas relações internacionais do Brasil que evidenciaram erros cometidos anteriormente. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, deu outra prova de que decide mais com o fígado que com a legislação pertinente.

Como o governo da Espanha recusou-se a repatriar ao Brasil o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, foragido da polícia brasileira e acusado de ter tido comportamento radicalizado no seu blog para desacreditar as urnas eletrônicas, Moraes, alegando uma reciprocidade inexistente, liberou um cidadão búlgaro, traficante internacional de drogas, preso com 52 quilos de cocaína — a Espanha queria julgá-lo lá.

PRISÃO DOMICILIAR – Contrariado com o fato de a Justiça espanhola não considerar crime o que ele considera, simplesmente mandou o traficante para casa com uma tornozeleira eletrônica. Ora, se uma decisão esdrúxula dessas não é eivada de espírito de revanche, não sei o que mais é. Noutro caso, que envolve diretamente o presidente Lula, a situação é ainda mais grave.

Dois ex-presidentes do Peru já foram presos por causa da Operação Lava-Jato — e um outro, Alan García, se suicidou quando viu que ia para a cadeia.

Todos estão envolvidos no mesmo esquema da empreiteira brasileira Odebrecht, hoje renomeada Novonor, de financiamento a campanhas políticas em toda a América Latina, e foram condenados em seus países, em decorrência da investigação iniciada na Justiça brasileira.

ASILO À CORRUPÇÃO – A mulher do ex-presidente peruano Ollanta Humala, preso por ter recebido propina do esquema da empreiteira, pediu asilo político ao Brasil, dizendo-se perseguida. O governo brasileiro não apenas concedeu o asilo, como mandou um avião da FAB pegar a ex-primeira-dama, fundadora do partido político do ex-presidente. Longe de ser apenas uma dona de casa, ela é uma política ativa.

O grave não é apenas aceitar dar proteção a uma acusada de corrupção. O pior é que Marcelo Odebrecht, à época do escândalo revelado pela Operação Lava-Jato, afirmou em sua delação que o pedido para que US$ 3 milhões fossem doados à campanha de Humala foi feito pessoalmente pelo então presidente Lula.

Só no Brasil, origem da investigação, decidiu-se que não houve nada, todos os processos foram anulados ou prescreveram. No resto da América Latina, ex-presidentes de Peru, do Panamá e El Salvador foram presos.

PAÍS DE IMPUNIDADE – É um mau sinal o Brasil aceitar dar asilo a acusados de corrupção — como Nadine Heredia, mulher do presidente peruano indiciada — no mesmo movimento que aconteceu aqui, envolvendo até o presidente Lula. Aqui alegam que houve abuso de autoridade, conluio entre o juiz Moro e os procuradores de Curitiba.

A decisão da Segunda Turma, conforme garantia do ministro Gilmar Mendes, era apenas referente ao triplex do Guarujá. Os demais processos continuariam noutras instâncias. Nenhum deles, porém, foi à frente.

Além do mais, não tem lógica conceder o asilo, muito menos mandar um avião pegar em Lima uma refugiada comprovadamente envolvida em corrupção.

CONTRA LULA – A decisão se enquadra na visão política dos que consideram que a Lava-Jato foi uma ação de perseguição contra Lula, empresários e políticos governistas daquela ocasião.

A ex-primeira-dama peruana deve ter sido considerada perseguida política, nos termos em que as delações premiadas da Lava-Jato foram consideradas, por decisões monocráticas de juízes do Supremo, inválidas porque feitas sob tortura psicológica.

A delação do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que também incriminava o então presidente peruano, foi anulada pelo ministro Dias Toffoli. As delações, porém, valem no Peru e noutros países. Como dar asilo a alguém acusado de corrupção? Acusação de corrupção não tem nada a ver com política — ou tem, na visão do PT.

Deputado quer ouvir Tagliaferro sobre as ameaças que Moraes teria feito a ele

Chegou a hora de Tagliaferro contar tudo o que sabe

Deu na CNN

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) protocolou nesta quarta-feira (16) um requerimento que pede o convite a Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, para prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. 

Em requerimento, o deputado cita uma notícia veiculada por um jornal que teria revelado mensagens de Tagliaferro em que ele afirma ter medo de “ser preso ou morto” caso tornasse públicas informações sobre sua atuação como assessor do ministro Moraes. 

APENAS CONVITE – Por se tratar de convite, e não convocação, Tagliaferro não é obrigado a comparecer à Câmara dos Deputados mesmo se o requerimento for aprovado pela Comissão. 

Tagliaferro chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre agosto de 2022 e maio de 2023, sob a presidência de Alexandre de Moraes. O assessor era responsável pela produção de relatórios sobre políticos, influenciadores e veículos de comunicação que publicavam desinformação sobre as Instituições Públicas e as eleições. 

Em abril deste ano, o Tagliaferro foi indiciado pela Polícia Federal por violação de sigilo funcional com dano à administração pública após divulgar diálogos do ministro com servidores do TSE e do STF.

VAZAMENTO PROPOSITAL – No documento de 21 páginas, a PF reuniu arquivos do celular do ex-assessor para apontar que o vazamento ocorreu de forma proposital.

O inquérito foi enviado ao Supremo Tribunal Federal e ainda precisa passar por avaliação da Procuradoria-Geral da República (PGR). 

O relator é o próprio ministro Moraes, a quem Eduardo Tagliaferro assessorava no TSE.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– É inexplicável, injustificável e estranhável o fato de Moraes continuar a ser relator de projetos em que se inclui como vítima ou interessado. E ainda há quem chame isso de Justiça. (C.N.)

Trump recicla a própria ignorância e deve perder seu quintal para Pequim

Balão com a imagem do presidente dos EUA, Donald Trump, durante protesto contra o governo em Los Angeles

Trump virou boneco numa manifestação em Los Angeles

Elio Gaspari
O Globo

Não se pode exigir que os presidentes dos Estados Unidos conheçam a América do Sul. Franklin D. Roosevelt (1933-1945) chamou Getúlio Vargas de general, e George W. Bush (2001-2009) perguntou a Fernando Henrique Cardoso se havia negros no Brasil. A ignorância pontual é uma condição do gênero humano. Afinal, ninguém é obrigado a saber tudo, mas o problema se agrava quando o sujeito recicla a própria ignorância e acredita ter conseguido sabedoria. Esse é o caso de Donald Trump e de sua turma.

O secretário de Defesa, Pete Hegseth, disse que “o governo Obama (…) permitiu que a China se infiltrasse em toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural”, e acrescentou: — Estamos retomando o nosso quintal.

O doutor falava do Canal do Panamá, onde empresas chinesas se estabeleceram no vácuo deixado pelos interesses comerciais dos Estados Unidos.

ESTILO CHINÊS – A China investe em matérias-primas e na infraestrutura na Ásia, África e América Latina de acordo com seus interesses. Não há um só caso de iniciativa chinesa contra a vontade de um país. (O Canal do Panamá foi arrancado da Colômbia no início do século XX.)

A miopia de Trump e sua turma está em querer fazer uma política a um só tempo isolacionista e expansionista, avançando sobre o Panamá, a Groenlândia, o Canadá e “retomando o nosso quintal”. Querem curar ressaca tomando mais um gole.

Deixando de lado considerações genéricas, pode-se ir ao mundo dos fatos. Enquanto os Estados Unidos estrangulam centros de estudo como o Wilson Center, de Washington, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) se reunirá em maio. Onde? Pequim.

CARA DE GAROTO – O Império do Meio é paciente, metódico e discreto. Em 1996, enquanto Donald Trump cuidava de imóveis a cassinos, a China mandou uma missão comercial a Fortaleza. Nela, mais magro e com cara de garoto, estava o vice-governador da Província de Fujian, Xi Jinping. Voltou em 2014, para uma reunião do Brics. Xi já esteve com três presidentes brasileiros e voltará a se encontrar com Lula no evento da Celac.

O governo americano teve, mas não tem mais, uma diplomacia atuante na América Latina. Roosevelt achou que Getúlio Vargas era um general, mas mandou Adolf Berle, um de seus principais assessores, para a embaixada no Rio.

Hoje, os laços culturais dos Estados Unidos com seu “quintal” continuam fortes, mas o trumpismo hostiliza estudantes estrangeiros e avacalha suas universidades. Tudo bem. Foi-se o tempo em que Ralph Della Cava corria pelo Ceará estudando a vida do Padre Cícero e Alfred Stepan estava no Rio pesquisando a política dos militares.

TUDO MUDOU – Veio o novo tempo, com a intimidação das universidades americanas e o objetivo de silenciar um pensamento radical. Vá lá, mas o problema está em outro lugar.

O agronegócio brasileiro deve parte de sua prosperidade às vendas que faz para a China (perto de US$ 50 bilhões em 2024).

Quando Della Cava e Stepan eram jovens pesquisadores, um dos grandes frigoríficos que operavam no Brasil era o Armour, com o nome do magnata que ajudou a revolucionar a indústria de alimentos dos Estados Unidos no século XIX, para onde Trump quer levar seu país e, junto, o “quintal”.

Bolsonaro caminha e faz exercícios, mas continua sem receber alimentação oral

Ex-presidente Jair Bolsonaro caminha em hospital no DF

Cinco dias depois, Bolsonaro é alimentado por via venosa

Deu em O Globo

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que segue internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, postou vídeo nas redes sociais caminhando pelos corredores e fazendo exercícios de fisioterapia. O último boletim médico indicou que ele mantém “boa evolução clínica, sem dor e sem outras intercorrências”.

“O Hospital DF Star informa que o ex-Presidente Jair Bolsonaro permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em acompanhamento pós-operatório. Mantém boa evolução clínica, sem dor e sem outras intercorrências. Apresenta também melhora dos exames laboratoriais.

JEJUM ORAL – Segue em jejum oral, com nutrição parenteral exclusiva. Nesta sexta-feira continuou o programa de fisioterapia motora (caminhada fora do leito) e respiratória. “Persiste a recomendação de não receber visitas e não há previsão de alta da UTI”, afirmou o último boletim médico.

Em publicação nas redes sociais, Bolsonaro agradeceu as manifestações de apoio que tem recebido, inclusive de “ex-presidentes de países aliados”, “ministros das relações exteriores” e parlamentares dos Estados Unidos. Ele, contudo, não cita nomes.

“Os últimos dias têm exigido de mim silêncio, paciência e dedicação total à recuperação. Mesmo na UTI, sigo firme, amparado por uma equipe médica extremamente dedicada, pela minha família e pelas orações de milhares de brasileiros”, disse ele na mensagem.

GRANDE PORTE  – No último domingo, o ex-presidente precisou passar por uma cirurgia de mais de 12 horas para desobstruir parte do intestino. A intervenção foi considerada de “grande porte” e teve o objetivo de descolar as chamadas “aderências” no órgão e reconstruir a parede abdominal.

A expectativa é que seja uma internação hospitalar de pelo menos duas semanas. Até o momento, Bolsonaro está se alimentando por via intravenosa.

O ex-presidente passou por uma “laparotomia exploradora”, procedimento que consiste em cortar o abdome para examinar os órgãos internos. No caso de Bolsonaro, houve o diagnóstico de retenção do trânsito do intestino. O objetivo, então, foi desfazer as “aderências” que bloquearam a digestão do paciente. Depois, houve a reconstrução da parede abdominal, feita para reforçar a musculatura dessa parte do corpo.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGVejam como é delicada a situação de Bolsonaro. Cinco dias depois da “cirurgia de grande porte”, conforme relata o boletim médico, Bolsonaro continua sem alimentação via oral. Isso significa que há uma grande expectativa em relação ao funcionamento de seu intestino. A operação somente será considerada bem sucedida quando a alimentação sólida for restabelecida e o intestino voltar a funcionar novamente. Até lá, continua o clima de expectativa. (C.N.)

Bertrand Russell e Henri Poincaré, num duelo de gigantes no amor à Matemática

Bertrand Russell nascia há 149 anos - Fundação Editora Unesp

Russel, um nobre inglês que casou quatro vezes

Marcelo Viana
Folha

De um lado, Bertrand Russell (1872–1970): matemático, lógico, filósofo, intelectual e ativista, aristocrata inglês, membro da Casa dos Lordes, que casou quatro vezes e viveu até os 98 anos de idade. Do outro, Henri Poincaré (1854–1912): um dos maiores matemáticos de todos os tempos, físico, engenheiro, filósofo, oriundo da burguesia intelectual francesa —seu primo Raymond foi presidente da França—, saúde frágil por toda a vida, o que o tornou vítima de bullying na escola.

BUSCA DO INFINITO – Russell queria aprimorar a teoria dos conjuntos do alemão Georg Cantor, para livrá-la das contradições resultantes do uso dos conjuntos infinitos. Poincaré dizia que “as gerações futuras considerarão a teoria dos conjuntos uma doença, da qual conseguiram se livrar”, acrescentando que “o infinito atual não existe: o que chamamos infinito é apenas a possibilidade sem fim de criar novos objetos, sem importar quantos objetos existem já”.

Para Russell, “a matemática e a lógica são a mesma coisa”, pois “toda a matemática segue premissas lógicas e usa apenas conceitos que podem ser definidos em termos lógicos”.

Poincaré respondia que “é pela lógica que provamos, mas é pela intuição que descobrimos” e “a lógica é estéril, a menos que seja irrigada pela intuição”.

SEMPRE RIVAIS – É claro que estavam condenados a serem adversários. O que surpreende é que Poincaré tenha ficado em silêncio por tanto tempo, mesmo depois que, em 1903, Russell publicou o primeiro volume do seu livro “Princípios da Matemática”.

Poincare

Poincare, primo de um presidente francês,

Mas quando, em março de 1906, Russell expôs as suas ideias na revista científica Proceedings of the London Mathematical Society, Poincaré partiu para o ataque: em artigo publicado na revista Revue de Méthaphysique et Morale, ele desmontou a teoria de Russell. Foi o início de um duelo que durou anos.

Um duelo respeitoso. Russell era um lorde britânico e de Poincaré foi dito que “entre os cientistas que viveram no século passado, apenas ele conseguiu o milagre de nunca ter feito um único inimigo, uma única pessoa hostil a ele na ciência”. Mas nem por isso os dois adversários economizaram “socos” no plano das ideias.

TROCA DE ATAQUES – Em setembro do mesmo ano, Russell não hesita em jogar na casa do adversário: em publicação na Revue afirma que “Monsieur Poincaré não gosta porque não entende”. Poincaré rebate em artigo na mesma revista, a que Russell responde, em 1908, no American Journal of Mathematics.

De volta à Revue, em 1909, Poincaré publica “A lógica do infinito”, a que Russell replica, em 1910, com “A teoria dos tipos lógicos”.

Poderiam ter continuado assim por anos, se não fosse pelo fato de que Poincaré adoeceu e, devido a complicações na sequência de uma cirurgia, faleceu pouco depois.

TEXTO INALTERADO – Russell voltou a esses temas bem mais tarde, em 1938, no prefácio da republicação dos “Princípios da Matemática”. Sabendo que muita coisa mudou, reconhece que “a esta altura, o interesse deste livro é sobretudo histórico” e mantém o texto inalterado.

A acusação de que “a lógica é estéril” ainda dói, mas Russell está menos confiante de que suas ideias acabarão triunfando.

Por uma boa razão: no meio tempo, em 1931, o austríaco Kurt Gödel (1906–1978) mostrou que a ausência de contradições na matemática nunca poderá ser provada de forma rigorosa.

O mundo que minha filha vai encontrar será diferente daquele em que eu cresci

Charge do Zé Dassilva: no futuro - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Na quarta-feira passada nasceu minha filha mais nova. Talvez seja o caos global do governo Trump; talvez sejam os meus 40 anos se aproximando; o fato é que só nesta, que é minha filha número 4, me dei conta de como o mundo que a espera é diferente daquele em que eu cresci.

Na minha adolescência nos anos 1990 e início dos anos 2000, parecia haver consenso. E não era para menos: por um breve período de uns 20 anos, os EUA não tinham quem lhe fizesse frente. A Rússia parecia se democratizar e entrar na ordem liberal e da China se esperava que, conforme enriquecesse, também se liberalizasse.

LIBERALISMO – A globalização era inevitável. A democracia liberal era o modelo vencedor. Com ela vinha um pacote de valores universais: ciência, direitos humanos, secularismo, tolerância, igualdade. Com a internet nascente, as divergências se resolveriam pela abundância da informação. O único espaço para discussão seria a fronteira da ciência, domínio de especialistas, a quem caberia cada vez mais o governo do mundo. Isso era não apenas justo e eficiente, como inevitável.

Hoje o quadro se inverteu. Vivemos a desglobalização econômica, a corrosão democrática, a ascensão de conservadorismos e fundamentalismos, a emergência ambiental —embora nos impacte diretamente— tratada com ceticismo. A inteligência artificial ameaça o trabalho intelectual.

E o custo de vida, a sobrecarga mental e a escassez de tempo empurram as taxas de fecundidade para os níveis mais baixos da história.

BOLHAS SOCIAIS – A revolta contra aquela ordem veio de dentro das próprias democracias. A liberdade de expressão somada à revolução na tecnologia de comunicação virou o velho mundo de cabeça para baixo. O sonho da conexão global nos levou à divisão interna.

As redes sociais uniram pessoas por afinidades e as isolaram em bolhas. Em vez de um consenso iluminado por especialistas, tivemos a multiplicação de vozes e de verdades selecionadas sob medida para os interesses e identidades de cada um.

O otimismo que hoje se projeta, no entanto, nos anos 1990 não necessariamente era sentido por todos. A ideia de progresso e valores universais era a ilusão criada por uma elite cultural que detinha o monopólio da voz.

FALTAVA ALGO – Para o meu eu adolescente, a promessa de uma vida de especialista dentro da engrenagem tecnocrática inspirava mais tédio e ansiedade do que esperança. Faltava algo. Um elemento fundamental da vida humana —e, mais especificamente, da política— tinha quase desaparecido: o conflito. Havia eficiência demais e significado de menos.

Nesse novo mundo, minha filha conseguirá ver valor em algo fora do apelo cada vez mais irresistível das telas? E mesmo se tiver interesses, terá emprego? Seus direitos como mulher estarão garantidos? Não sei dizer, e isso também traz uma boa dose de ansiedade, embora não de tédio. Sei que ela não poderá ser uma espectadora passiva do que virá; terá que lutar por seu espaço.

Não há o que lamentar. O mundo que minha filha encontrará é mais incerto e, por isso mesmo, mais aberto aos indivíduos. Capacidade de pensar com autonomia e criatividade para agir sem um caminho pré-traçado serão virtudes mais necessárias do que qualquer conteúdo específico. É isso que espero poder ensinar a ela.

“Não tenho intenção de sair da Espanha”, disse Eustáquio sobre a decisão judicial

Oswaldo Eustáquio: defesa diz que Brasil perdeu prazo em processo de  extradição

Eustáquio diz que prefere continuar vivendo na Europa

Elijonas Maia
da CNN

O jornalista brasileiro Oswaldo Eustáquio, foragido na Espanha desde 2023, disse em entrevista à CNN que não pretende deixar o país europeu. A conversa por telefone acontece um dia após a Audiência Nacional do país europeu, mais alta Corte constitucional, negar a extradição dele ao Brasil.

“Não tenho a intenção de sair da Espanha. Embora eu tenha conseguido visto para os Estados Unidos. Meu próximo passo é: estou em Santiago de Compostela para agradecer a Deus por essa benção”, declarou na manhã desta quarta-feira (16).

CAMINHADA – Eustáquio também declarou que fará uma caminhada de dez dias pela cidade “para comemorar essa vitória” e, segundo ele, pedir anistia aos presos pelos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro no Brasil.

Oswaldo Eustáquio tem dois pedidos de prisão em aberto no Brasil. Um de 2022 por tentativa de golpe de Estado e outro de 2024 por ameaça e corrupção de menores.

Já foragido das autoridades brasileiras e proibido de usar redes sociais, a Polícia Federal (PF) identificou que ele usou o perfil da filha menor de idade para divulgar informações sigilosas de um delegado da PF, que é responsável pelo inquérito do plano de golpe. Dados pessoais foram divulgados e também uma foto do servidor, que passou a receber ameaças.

EM OUTROS PAÍSES – Nessa época, o jornalista estava na Inglaterra. Antes, foi foragido no Paraguai. Os dois países foram base de Eustáquio antes de ele conseguir se instalar na Espanha.

Esse segundo mandado de prisão, não cumprido, ensejou o pedido de extradição às autoridades espanholas, que concluíram haver motivação política do pedido do Brasil e, dessa forma, negaram a extradição, seguindo o artigo 4 do acordo bilateral.

O governo espanhol, porém, foi a favor da extradição, como noticiou a CNN em janeiro. Mas o caso seguiu para o Judiciário, que entendeu de forma diferente nesta semana.

DISSE EUSTÁQUIO – “Vencemos o Supremo, o executivo brasileiro e o governo espanhol”, diz Eustáquio, se referindo ao pedido do governo brasileiro, passando pelo Ministério da Justiça, com chancela do Supremo Tribunal Federal (STF).

O Ministério da Justiça brasileiro informou que vai recorrer de todas as formas possíveis para que a extradição de Eustáquio seja realizada.

E o ministro Alexandre de Moraes mobilizou sua equipe para trabalhar no recurso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGOs países realmente democráticos têm orgulho de defender perseguidos políticos. Aqui no Brasil, estamos costeando o alambrado da democracia, como dizia Brizola, que morou no Uruguai e nos Estados Unidos, quando era perseguido político. (C.N.)