Omissão de Lupi poderá ter reflexos na disputa presidencial de 2026

Lupi reconheceu demora do INSS para investigar fraude

Pedro do Coutto

Numa entrevista à repórter Geralda Doca, O Globo, o ministro Carlos Lupi afirmou que sabia o que estava acontecendo no INSS em matéria de descontos ilegais para entidades fictícias, mas que só poderia agir diante de provas concretas dentro de um ritmo que marca questões desse tipo na área do governo federal.

Porém, se ele sabia o que estava acontecendo desde 2023, por que não tomou providências mínimas a respeito do caso? Se havia identificado os pontos de fraude, os empréstimos consignados para entidades que não forneceram recursos, por que ficou em silêncio? A entrevista só piorou a sua situação. Setores do governo defendem a sua demissão e acham que ele deveria tomar a iniciativa de sair até para resguardar o presidente Lula.

ALERTA – A postura de Lupi acendeu o forte sinal de alerta diante do fato que, mesmo que o escândalo tenha começado no governo Bolsonaro, multiplicou-se na gestão petista. Ocupando um cargo de confiança, Carlos Lupi foi informado sobre a fraude no início do governo. Depois, em junho a comunicação sobre a fraude foi registrada em ata – ou seja formalizada.

Os movimentos para conter um esquema de fraude que chegou ao número de R$ 6 bilhões em aposentadorias e pensões do INSS desviados, sendo a maior parte deles no governo petista, foi muito tímida. Lupi foi omisso ao assumir que sabia do caso, aproveitando até para colocar a culpa no próprio governo pela inação e demora.

BOLA FORA – “No governo, tudo é demorado. Eu sabia o que estava acontecendo, das denúncias. Eu sabia que estava havendo um aumento muito grande [dos descontos nas mensalidades], que precisava fazer uma instrução normativa para acabar com isso e comecei a me irritar pela demora. Só que o tempo no governo não é o tempo de uma empresa privada”, afirmou o ministro para a jornalista Geralda Doca.

A declaração aumentou o descontentamento no Palácio do Planalto. O que o mantém no cargo hoje é a fragilidade do governo na relação com o Congresso e proximidade da eleição de 2026.

A Previdência é um setor dos mais críticos, pois os roubos praticados de cifras bilionárias atingiram diretamente aposentados e pensionistas. Os descontos têm esse aspecto cruel. Lupi não se mostra disposto a se demitir, mas a sua posição é insustentável. Ele tinha obrigação de agir e denunciar a trama sinistra que se dissolvia nos porões no INSS.  Foi um desastre para o presidente Lula o que ocorreu na Previdência Social.

Luppi foi alertado sobre golpes em aposentadorias muito antes das investigações

Lupi protelou o máximo para agir contra fraudes

Pedro do Coutto

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, foi informado ainda em junho de 2023 sobre indícios de irregularidades nos descontos aplicados diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Apesar dos alertas apresentados em reunião do Conselho Nacional de Previdência Social, presidido por ele, as providências foram postergadas, e o tema só voltou à pauta quase um ano depois, já sob intensa investigação de órgãos de controle.

Na reunião, a conselheira Tonia Galleti pediu que fosse discutida a situação dos Acordos de Cooperação Técnica firmados entre o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e entidades que realizavam descontos em benefícios. Segundo a ata do encontro, o pedido foi negado com a justificativa de que a pauta já estava previamente definida.

DENÚNCIAS – Diante da negativa, Galleti insistiu, citando a existência de “inúmeras denúncias”, e sugeriu ainda que fossem apresentados dados sobre a quantidade de entidades conveniadas, a evolução no número de associados e propostas de maior regulamentação.

O ministro reconheceu a importância do tema, mas afirmou que seria necessário um “levantamento mais preciso” e prometeu que o assunto seria o primeiro item da próxima reunião. O compromisso, no entanto, não foi cumprido.

A falta de ação permitiu que as suspeitas crescessem sem enfrentamento. O CNPS só retomou o debate em abril de 2024, quando o Tribunal de Contas da União já concluía uma investigação e a Controladoria-Geral da União avançava em auditorias que revelariam um esquema bilionário.

COBRANÇAS – As investigações apontaram que, entre 2019 e 2024, entidades sindicais e associações cobraram indevidamente cerca de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas, segundo a Polícia Federal. A fraude consistia em firmar ACTs com o INSS para descontar mensalidades como se os beneficiários fossem associados às entidades — sem que, na maioria dos casos, houvesse qualquer autorização formal.

Relatórios da CGU identificaram falhas graves nos mecanismos de controle do INSS, incluindo a ausência de verificação rigorosa das autorizações de desconto e indícios de falsificação de documentos. Parte das vítimas sequer teria condições de firmar associações legalmente, como pessoas com deficiência, indígenas analfabetos e cidadãos que residem no exterior.

Embora as entidades justificassem os descontos prometendo supostos serviços e benefícios, como descontos em academias e planos de saúde, muitas sequer tinham estrutura para cumprir o que ofereciam, conforme afirmou o ministro da CGU, Vinícius Carvalho.

SUSPENSÃO – Diante das evidências, o INSS suspendeu novos ACTs e endureceu as regras para parcerias com entidades no segundo semestre de 2023. Ainda assim, foi apenas nesta última semana que 11 entidades tiveram oficialmente seus acordos suspensos por decisão judicial.

O caso lança luz sobre falhas estruturais no sistema de proteção dos aposentados e sobre a demora na resposta institucional, mesmo após alertas explícitos. A evolução das investigações deverá trazer novos desdobramentos sobre responsabilidades administrativas e possíveis omissões no âmbito do Ministério da Previdência Social.

O escândalo que marca a corrupção no INSS funciona para que se tenha uma noção aproximada de como é colossal a roubalheira no Brasil. Se um grupo de criminosos conseguiu se apoderar de R$ 6 bilhões em alguns anos, a quanto atingirá o total do produto do roubo em diversos setores em todo o país ?

Papa Francisco: A sua mensagem ficará marcada através dos tempos

Ausência de fiscalização rigorosa viabilizou a fraude bilionária no INSS

Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

A explosão do roubo organizado pelo bando que atuava no INSS preocupa profundamente o presidente Lula da Silva, pois o assalto foi tão grande e generalizado nos descontos dos aposentados e pensionistas que isso poderá repercutir nas eleições de 2026. É um tema difícil para o presidente se livrar, uma vez que o seu governo foi incapaz de chegar a tempo de estancar a corrupção.

Por isso, as ações que agora se desenvolvem trazem consigo a preocupação do reflexo nas urnas pelo roubo sistemático que envolveu a estrutura do INSS, que por omissão ou não, terminou proporcionando uma situação bastante vulnerável. Entidades de classe, como associações e sindicatos, formalizaram Acordos de Cooperação Técnica com o Instituto Nacional do Seguro Social e esses acordos permitiam que as entidades realizassem descontos de mensalidades associativas diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do INSS, sem a autorização dos beneficiários.

SEM AUTORIZAÇÃO – Segundo relatório da Controladoria-Geral da União, 97% dos beneficiários entrevistados não autorizaram o desconto. Além disso, a CGU identificou que 70% das 29 entidades analisadas não entregaram a documentação completa ao INSS para a assinatura dos ACTs.

Em 2022, o número de entidades que passaram a operar com descontos associativos se ampliou, bem como o quantitativo de valores repassados às associações por força dos descontos. As mensalidades estipuladas pelas entidades associativas chegaram ao valor de R$ 81,57. Seis milhões de aposentados e pensionistas foram lesados. O impacto financeiro com descontos associativos é da ordem de R$ 6,3 bilhões.

A CGU recomendou ao INSS a adoção de uma série de medidas urgentes, entre elas o bloqueio cautelar imediato de novos descontos de mensalidades associativas. Sugeriu ainda o aprimoramento dos procedimentos relacionados à formalização, execução, suspensão e cancelamento dos Acordos de Cooperação Técnica.

FISCALIZAÇÃO – É claro que a ausência de fiscalização rigorosa permitia esse tipo de fraude. Isso ocorreu também em função do aumento do número de descontos, que foi gerando uma bola de neve. Incrível o que aconteceu. Um crime hediondo, pois roubar de aposentados e pensionistas através do desconto em suas contas é algo tão absurdo que se questiona o motivo pelo qual o Instituto não viu a tempo toda a questão que permitiu uma fraude bilionária nos últimos anos.

Os titulares das contas não autorizaram débito algum. Logo, o INSS deveria ter sido capaz de defendê-los. A conivência parece generalizada, sobretudo pela alta cúpula do Instituto. Uma quantia dessa evidentemente deveria ter chamado a atenção dos responsáveis pela fiscalização. A omissão foi enorme e a quantia roubada foi gigantesca.

DÉBITOS – É preciso que Lula continue a agir com firmeza. No caso do INSS não pode haver presunção de inocência tamanha o volume do roubo e de contas atingidas. Por que a direção do Instituto não estranhou tantos débitos nas contas ? Violaram todas as normas da decência e da legalidade.

Os segurados agora se sentem vulneráveis diante de tudo isso.  Agora, as atenções se voltam para a devolução do dinheiro roubado. Basta procurar em que momento foi feito o desconto e a quem se destinou.  É o maior roubo da história feito em bloco. Lula precisa acompanhar a identificação dos lesados para poder ressarci-los.

A bomba no INSS: corrupção, descontos ilegais e a queda de Stefanutto

Pedro Lucas recusa convite para assumir o Ministério das Comunicações

Governo busca ampliar sua base de apoio no Congresso

Pedro do Coutto

O líder do União Brasil na Câmara dos Deputados, Pedro Lucas Fernandes, comunicou oficialmente, na noite da última terça-feira, sua decisão de não aceitar o convite feito pelo presidente Lula da Silva para assumir o Ministério das Comunicações.

Em nota pública, o parlamentar agradeceu a confiança depositada em seu nome, mas afirmou que, neste momento, considera mais adequado permanecer na função que atualmente exerce no Legislativo, onde acredita poder oferecer uma contribuição mais significativa ao país.

CONVICÇÃO – “Tenho plena convicção de que, neste momento, posso contribuir mais com o país e com o próprio governo na função que exerço na Câmara dos Deputados”, declarou Fernandes. Ele ressaltou ainda o papel estratégico de sua liderança no diálogo com diversas correntes políticas e na articulação de consensos em torno de pautas de interesse nacional.

A recusa foi acompanhada de um gesto de respeito institucional. O deputado apresentou suas desculpas ao presidente da República por não poder aceitar o convite, reiterando sua disposição para manter um diálogo institucional permanente e construtivo. “Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil”, afirmou.

O episódio ocorre em um contexto no qual o governo federal busca ampliar sua base de apoio no Congresso Nacional. A eventual presença de lideranças partidárias no Executivo tem sido interpretada como parte da estratégia de consolidação de alianças políticas. Nesse cenário, a decisão de Pedro Lucas Fernandes foi entendida como uma sinalização de que o União Brasil pretende manter e fortalecer sua atuação no Parlamento, onde exerce influência decisiva em votações relevantes.

COMPROMISSO – O deputado reafirmou seu compromisso com a boa prática política e com a defesa dos valores democráticos. “Seguirei lutando pelo bem-estar de todos os brasileiros, especialmente daqueles que mais precisam”, concluiu.

Embora o nome de Fernandes tenha sido previamente anunciado pelo presidente como certo para o cargo, a decisão final do parlamentar, respaldada por sua bancada, revelou divergências na condução do processo por parte do Executivo. A negativa, interpretada como um gesto de firmeza política, lança luz sobre a importância da articulação institucional e da escuta partidária nas decisões de governo, e poderá influenciar futuras nomeações no alto escalão.

Reforma ministerial adiada e os desafios de composição do governo Lula até 2026

Lula deve ‘perder’ mais da metade dos ministros para as eleições

Pedro do Coutto

Com a reforma ministerial ainda indefinida, o presidente Lula da Silva aproxima-se de um cenário praticamente inevitável: a saída de mais da metade dos atuais ministros até abril de 2026, prazo estipulado pela legislação eleitoral para a desincompatibilização de ocupantes de cargos públicos que pretendem disputar as eleições. Dos 38 ministros que atualmente compõem a Esplanada, ao menos 20 manifestam interesse em concorrer a cargos eletivos no pleito do próximo ano.

A decisão do presidente de postergar uma ampla reestruturação ministerial — aguardada desde o final de 2023 — poderá forçá-lo a promover mudanças em um curto intervalo de tempo, sem margem suficiente para articulações políticas consistentes ou substituições estratégicas.

MOMENTO IDEAL – Avaliações internas no governo, ainda que reservadas, indicam que Lula pode ter perdido o momento ideal para uma reformulação substancial de sua equipe. Com o calendário eleitoral se aproximando, a tendência é que as alterações sejam pontuais, priorizando aliados estratégicos ou respondendo a eventuais crises administrativas. Uma reconfiguração mais abrangente deve ocorrer apenas após abril de 2026, quando ficará evidente quais ministros permanecerão até o fim do mandato e quais buscarão novos cargos no Executivo ou no Legislativo.

A legislação eleitoral determina o afastamento de ministros e outros ocupantes de cargos públicos até seis meses antes do pleito — marco que se encerra no início de abril de 2026. Diversos ministros já sinalizaram intenção de disputar cargos como deputado federal, senador ou governador. O caso mais emblemático é o do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que cogita concorrer ao Senado pela Bahia. Já a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, deve retomar sua atuação na Câmara dos Deputados. Para o Partido dos Trabalhadores (PT), a presença de Gleisi no Parlamento é estratégica, tanto por seu capital eleitoral quanto por sua atuação combativa — considerada essencial em um eventual cenário adverso.

Outro nome sob análise é o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Embora ele tenha afirmado que não pretende se candidatar, Lula avalia que Haddad poderia representar uma candidatura competitiva ao Senado por São Paulo. Preocupado com o avanço da oposição, especialmente do bolsonarismo, no Congresso Nacional, o presidente planeja lançar candidaturas de peso nos principais colégios eleitorais. Essa estratégia inclui também o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, que manifesta interesse em disputar o governo paulista, ainda que sua candidatura dependa do apoio do PT.

LICENCIADOS – Entre os ministros em exercício, quatro são senadores licenciados. Apenas Carlos Fávaro (Agricultura) possui mandato com término previsto para 2026 e deve buscar a reeleição. Já Camilo Santana (Educação) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social), com mandatos até 2030, pretendem permanecer no Executivo. Renan Filho (Transportes), também com mandato vigente até 2030, já anunciou que deixará o ministério em abril de 2026. Seu objetivo é compor a chapa de reeleição de Lula como candidato à vice-presidência. Caso isso não se concretize, deve disputar novamente o governo de Alagoas.

As saídas de Simone Tebet (Planejamento) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) são dadas como certas. Tebet pretende disputar o Senado, mas enfrenta resistências no MDB de Mato Grosso do Sul, seu estado de origem. Cogita-se a transferência de seu domicílio eleitoral para São Paulo, alternativa que enfrenta obstáculos, sobretudo pela influência de figuras como Michel Temer e Ricardo Nunes no MDB paulista. Silveira, por sua vez, avalia disputar o Senado ou o governo de Minas Gerais, caso o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, decida não concorrer. Se não for candidato, Silveira poderá coordenar a campanha de Lula no estado, onde o presidente busca ampliar sua base de apoio.

Alguns ministros de perfil político manifestam a intenção de permanecer no cargo até o final do mandato, como Alexandre Padilha (Saúde), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), Carlos Lupi (Previdência), além de Camilo Santana e Wellington Dias. Todavia, esse cenário poderá ser alterado em função de rearranjos partidários e pressões regionais.

RELEVÂNCIA – É necessário destacar que há, no atual quadro ministerial, titulares cujas ações são pouco visíveis ou praticamente desconhecidas da opinião pública. Muitos permanecem no cargo desde o início do governo sem protagonizar iniciativas relevantes que impactem diretamente a melhoria das condições de vida da população. Uma análise criteriosa da atuação de cada ministério revela uma performance aquém das expectativas, o que pode comprometer o capital político do presidente da República e da administração federal como um todo.

Diante desse panorama, seria oportuno que o presidente exigisse de cada ministro um balanço das ações realizadas, com metas e resultados concretos, para que se possa prestar contas à população de forma transparente e efetiva.

Atualmente, o governo empreende uma ofensiva publicitária sob a coordenação do ministro Sidônio Palmeira, titular da Secretaria de Comunicação Social. Entretanto, a estratégia de comunicação tem priorizado uma abordagem estética e institucional, sem atingir diretamente seu público-alvo: os eleitores. A narrativa oficial destaca programas e iniciativas, mas falha em conectar essas ações a resultados tangíveis que sensibilizem a população. A publicidade governamental, embora bem produzida, carece de efetividade ao transmitir uma mensagem que reverbere nas camadas sociais mais amplas, especialmente aquelas que mais dependem das políticas públicas.

Papa Francisco, um humanista que deixa um rastro luminoso na história

O projeto-lei da Anistia e o enfraquecimento da base do governo de Lula

Trump põe em xeque independência do Fed, banco central dos EUA

Trump sobe o tom contra Harvard e ameaça impedir matrícula de estrangeiros

Em campanha para 2026, Lula critica elite e reforça defesa da educação

Trump congela US$ 2,2 bi de Harvard após universidade rejeitar exigências

Inclusão na anistia na pauta não depende somente da vontade de Hugo Motta

Projeto de anistia pode beneficiar até mesmo Bolsonaro

Pedro do Coutto

O problema do projeto de anistia que está preocupando o governo, não deve avançar logo no Congresso. A sua inclusão na pauta depende não só da vontade do deputado Hugo Motta, presidente da Câmara Federal, mas também de uma obrigatória votação no plenário, para confirmar a aceitação do requerimento por maioria absoluta.

Porém, mesmo que os deputados apoiem em plenário o requerimento de urgência urgentísssima,  aprovando a anistia, como se trata de um projeto de lei, terá que ir à sanção do presidente Lula que certamente não o aprovará. Aí, o Congresso teria de derrubar o veto, e depois o Supremo decidiria a constitucionalidade.

O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante, protocolou nesta segunda-feira  um requerimento de urgência à Presidência da Casa para votação do projeto de lei. Na prática, o projeto prevê que a anistia se aplicaria a todas as pessoas envolvidas nos atos de vandalismo e, segundo especialistas, também poderia anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo por sua participação em uma trama golpista após sua derrota nas eleições de 2022.

PRAZO – O Regimento Interno da Câmara dos Deputados não impõe um prazo específico para que o presidente da Casa submeta à deliberação do Plenário um requerimento de urgência. A ausência de um prazo fixado confere ao presidente um papel estratégico na condução da pauta, especialmente diante de matérias sensíveis, como é o caso de projetos de anistia.

O trâmite acelerado do projeto acontecerá apenas se o requerimento for aprovado. Caso isso aconteça, o projeto de lei deve, obrigatoriamente, ser incluído na Ordem do Dia da sessão seguinte e deve ser colocado como o primeiro item da pauta de votações.

O projeto de anistia tem sido alvo de uma disputa política acirrada entre governo e oposição há quase dois anos. De um lado, a oposição, liderada pelo PL, vem defendendo a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. A alegação mais recente do grupo é a de que as penas dadas às centenas de pessoas condenadas pela invasão das sedes dos Três Poderes seriam altas demais.

DEBATE – Do outro lado, integrantes do governo Lula e parte de sua base aliada vêm se posicionando contra a medida. Na semana passada, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, chegou a dizer que o Congresso poderia discutir a aplicação das penas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, mas afirmou ser contra a anistia a pessoas que teriam comandado o suposto plano de golpe de Estado.

“Falar sobre anistia ou mediação de pena, ou redução de pena, enfim, em relação a algumas pessoas do 8 de janeiro, eu acho que é plenamente defensável do ponto de vista de muitos parlamentares que estão ali”, disse a ministra.

Anistiar os que depredaram prédios públicos em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 seria um incentivo a atitudes semelhantes para outros vândalos. Além disso, deixaria um exemplo extremamente grave no campo da impunidade. Não vejo como tal matéria possa ser transformada em lei.

Fila do INSS é fator de grande desgaste para governo federal

Mais de dois miulhões de requerimentos aguardam análise 

Pedro do Coutto

Entre os inúmeros problemas com os quais o governo Lula se defronta, destacam-se a violência urbana, sobretudo no estado do Rio de Janeiro, e a fila de espera INSS que fechou o último ano com 2,042 milhões de requerimentos por benefícios sociais e da Previdência.

Os dados fazem parte do boletim com informações sobre requerimentos e novas concessões de benefícios de dezembro, que só foi publicado agora, em abril. O documento é organizado pelo Ministério da Previdência.

PROMESSA – É o maior número de requerimentos aguardando análise em todo o governo Lula da Silva, que na campanha prometeu acabar com a fila. Dessa forma, os dados mostram um crescimento na fila, já que em novembro eram 1,985 milhão. Não foram atualizados o número de requerimentos na fila, janeiro, fevereiro e março.

Um dos motivos para o aumento da fila do INSS em 2024, foi a greve de servidores. O Atestemed (atestado on-line) também serviu para ampliar o número de requerimentos, embora tenha ajudado a reduzir a despesa.

O mecanismo dispensa a realização de perícia médica para afastamento até 180 dias e com isso, o INSS não precisa pagar o benefício de forma retroativa à data do pedido. Em dezembro de 2023, a fila estava em 1,545 milhão. Em junho do ano seguinte, baixou para 1,353 milhão e depois voltou a subir. Em dezembro do ano passado, acabou o sistema de bônus a servidores, criado no governo Bolsonaro, para reduzir a fila. O benefício não foi renovado este ano.

DESLOCAMENTO – Em julho de 2023, o governo Lula permitiu deslocar funcionários para unidades com maior carência no atendimento e recriava o bônus de produtividade aos servidores e médicos peritos. Segundo o INSS, isso fez a fila cair nos primeiros meses do programa. Porém, voltou a aumentar a partir de julho de 2024 até superar a barreira de 2 milhões. O número representa uma fila interminável. Impressionante examinar-se tal fato para se ter a certeza de que zerar essa força de pressão será uma tarefa para os próximos anos.

O problema parece insolúvel para quem espera um benefício ou aposentadoria a que tem direito por lei. A burocracia estatal precisa prestar atendimento digno a quem necessita de seus serviços, sobretudo quando há relação direta com a renda das famílias.

Os gastos previdenciários em 2024 somaram R$ 111 bilhões, ou R$ 29,9 bilhões acima do estimado. Com o envelhecimento da população, a tendência se agravará. Mas isso justifica não a qualidade sofrível do serviço prestado. O governo precisa dotar o INSS de condições aceitáveis no atendimento. É preciso rever rotinas e sistemas para ganhar eficiência. Tanto para incluir quem precisa receber os benefícios a que tem direito quanto para excluir quem não tem mais direito, mas continua recebendo.

Trump conseguiu implantar uma desordem na economia mundial

Nos EUA, empresários temem que Donald Trump jogue o país em uma recessão

Cresce a incerteza com o abastecimento de produtos

Pedro do Coutto

Empresários americanos temem que o presidente Donald Trump jogue o país em uma recessão. Na sexta-feira, os principais índices da Bolsa de Valores de Wall Street começaram o dia em baixa.

Os investidores avaliavam a repercussão das últimas ações da guerra tarifária, sinalizando acreditarem em uma desaceleração econômica até que haja mais confiança e que a pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas para todos os países, exceto a China, provocará uma incerteza mais longa. É nítido o temor diante de uma possível recessão.

INCERTEZA – A cada dia sem acordos sobre as tarifas, cresce a incerteza nos Estados Unidos em relação ao abastecimento de produtos que vêm de outros países. E a preocupação não é só dos investidores. A confiança do consumidor americano na economia atingiu o nível mais baixo desde 1952, segundo pesquisa da Universidade de Michigan, feita dos dias 25 de março a 8 de abril. O índice ficou abaixo inclusive do que previa o mercado financeiro.

Comerciantes também estão ansiosos, sobretudo em relação à sobrevivência dos pequenos negócios diante do impacto das tarifas. A preocupação chegou ao Banco Central americano. Uma diretora da instituição afirmou ao jornal “Financial Times” que os mercados financeiros continuam funcionando dentro da normalidade por enquanto. Mas admitiu que o FED está preparado para intervir e tentar estabilizar o mercado de dívida pública, se ele ficar em desordem.

A China detém US$ 760 bilhões em títulos americanos – atrás apenas do Japão. Uma das preocupações é que a China se desfaça de maneira maciça desses papéis, obrigando os Estados Unidos a pagarem juros mais altos para se financiarem.

DESENVOLVIMENTO – Numa entrevista à imprensa,  Trump, surpreendente como sempre, afirmou que a guerra de tarifas entre os Estados Unidos e a China vai promover o desenvolvimento econômico no mundo.

Um absurdo total, sobretudo diante de uma possível subida dos preços, pois o comércio mundial ao assumir a compra de produtos de toda a espécie, terá que repassar forçosamente a nova escalada para o consumo. Logo, isso caracteriza uma inflação inevitável, pois ninguém vai produzir para estocar ou para não vender.

O fato especulação entra sempre em cena e como não existe débito sem crédito ou vice-versa, a questão vai desaguar no consumo geral, já que pagamos pelos preços estabelecidos. Atrás de cada aumento de preço está a pressão e o lucro. É questionável dizer que a guerra de tarifas vai promover o desenvolvimento no mundo. É uma atitude irresponsável diante do que está se passando. Enquanto isso, a confusão se generaliza na economia.

Tarifaço pode gerar perdas de até US$ 2 trilhões à economia global este ano

Efeitos já estão sendo sentidos em diversos países

Pedro do Coutto

Realmente, as medidas determinadas pelo presidente Donald Trump a respeito das tarifas comerciais estão abalando não somente os Estados Unidos e a China, mas também se refletindo de forma generalizada em uma série de outros países.  Há uma grande preocupação de como se dará a saída para essa crise iniciada pelo presidente americano e que está criando um grande desequilíbrio no cenário internacional.

As medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos durante o segundo mandato de Donald Trump podem provocar um impacto negativo de até US$ 2 trilhões na economia global apenas neste ano, segundo especialistas. Os efeitos da atual política comercial dos Estados Unidos, centrada na elevação de tarifas de importação, já estão sendo sentidos por meio da desaceleração econômica observada em diversos países.

QUADROS POSSÍVEIS – Caso o cenário se restrinja a um período inferior a um ano, os danos poderão ser contidos e não haja nenhum declínio sério na economia global. Entretanto, a manutenção das tarifas além de 2025 poderá agravar significativamente o cenário econômico internacional e o seu impacto sobre a economia mundial já será mais grave. As perdas anuais poderão variar entre dois e três trilhões de dólares, afetando principalmente os países com maior integração nas cadeias globais de produção e comércio.

O governo Trump justifica a política tarifária como um instrumento para promover a reindustrialização dos Estados Unidos. No entanto, análises de economistas indicam que, ao invés de estimular o crescimento, as medidas adotadas podem desencadear uma recessão global. A crise, neste caso, teria origem nas disputas comerciais entre grandes potências, diferentemente do que ocorreu em 2008, quando o colapso partiu do setor financeiro.

A política de tarifas tem como alvo prioritário a China, maior parceiro comercial dos Estados Unidos. As restrições impostas às importações de produtos chineses afetam também terceiros países, fornecedores de matérias-primas, componentes e serviços inseridos nas cadeias produtivas que abastecem o mercado norte-americano.

REFLEXOS – Os efeitos da guerra tarifária sobre o comércio internacional têm sido acompanhados por instituições multilaterais e observadores do mercado financeiro. Relatórios recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam uma desaceleração no volume de trocas globais, influenciada por políticas protecionistas e pela incerteza nas relações entre os principais blocos econômicos. No setor privado, empresas com atuação transnacional têm enfrentado dificuldades logísticas e operacionais decorrentes da instabilidade nas regras de comércio.

A redefinição de contratos, a adaptação a novas rotas de fornecimento e o aumento dos custos de importação e exportação estão entre os principais reflexos identificados nos últimos meses.  A posição adotada pelos Estados Unidos nas próximas cúpulas econômicas internacionais, incluindo reuniões do G20 e fóruns da OMC, será observada com atenção por analistas e autoridades. O desfecho das negociações poderá influenciar decisões de investimento, políticas industriais e estratégias de integração comercial em diversas regiões.

CUSTOS –  A cada dia o problema se acentua, pois os países que não têm uma economia tão forte, sofrem os impactos das ações envolvendo os EUA e a China. A saída para essa crise que se desenhou não está sendo avaliada totalmente, pois a questão pode evoluir para uma situação gravíssima, atingindo os custos inflacionários. Não há perspectivas à vista, já que a guerra comercial que já se estabeleceu não deve terminar de uma hora para outra.

Os mercados voltaram a cair no mundo no dia de ontem, ameaçando o desenvolvimento econômico de forma generalizada à medida em que o consumo se retrai. A incerteza voltou a predominar após o anúncio da Casa Branca taxando a China em 145%. Os investidores estão em posição de cautela, pois ninguém pode avançar fortemente ou manter o ritmo anterior se não não há certezas sobre o dia de amanhã.

Tarifas dos EUA contra a China somam 145% e mundo aguarda reação

Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

O  presidente Donald Trump conseguiu estabelecer uma confusão no mundo através da política que adotou para fixar tarifas relativas ao comércio exterior. As autoridades chinesas reagiram com firmeza nesta quinta-feira à aplicação de tarifas  sobre produtos do país, anunciada por Trump. Em declarações públicas, porta-vozes do governo da China reforçaram que o país não aceitará pressões unilaterais e está disposto a enfrentar uma guerra comercial caso os Estados Unidos insistam em intensificar o conflito.

“O governo chinês absolutamente não ficará de braços cruzados enquanto outros tentam retirar os direitos e interesses legítimos do povo chinês ou sabotar as regras do comércio internacional e o sistema multilateral”, afirmou Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China. Já o Ministério do Comércio foi mais enfático: “Se os EUA estão determinados a travar uma guerra comercial, a China lutará até o fim”. A pasta acrescentou que qualquer negociação deve ocorrer com base em respeito mútuo e igualdade, rechaçando o que chamou de “pressões, ameaças e chantagens”.

GANHOS EGOÍSTAS –  Pequim também acusou Washington de “armar tarifas para obter ganhos egoístas” e afirmou que suas contramedidas buscam proteger não apenas os próprios interesses, mas também “a justiça internacional e os interesses comuns da comunidade internacional”.

Em paralelo ao tom duro com os EUA, as autoridades chinesas reafirmaram abertura para o diálogo e a cooperação com demais parceiros comerciais. “As relações China-América Latina resistiram ao teste da turbulência internacional e entraram em uma nova fase marcada pela igualdade, benefício mútuo, inovação, abertura e benefícios tangíveis para o povo”, disse Xi em comunicado.

A revolta internacional foi muito grande devido às medidas do presidente americano, que afirmou que iria pausar por 90 dias o programa de tarifas recíprocas, reduzindo para 10% as tarifas de importação contra países, exceto a China.Ontem, a Casa Branca confirmou que a tarifa cumulativa sobre a China totalizaria, na verdade, 145%, muito acima do nível que muitos economistas disseram poder dizimar o comércio entre os EUA e a China.

RETALIAÇÃO – Trump tenta não somente combater o déficit comercial dos EUA com a China, mas também punir Pequim por retaliar contra os impostos de importação americanos. Esse número, divulgado em um memorando da Casa Branca nesta quinta-feira, soma-se à tarifa de 20% imposta no início deste ano devido ao papel da China no tráfico de fentanil. As duras tarifas dos EUA sobre a segunda maior economia do mundo ocorrem em meio a uma guerra comercial crescente de retaliações sucessivas, que tem deixado os mercados financeiros globais em alerta.

O vaivém de Trump em relação a sua política tarifária vem deixando os mercados em polvorosa. As bolsas na Ásia fecharam em forte alta, e as da Europa dispararam, refletindo o anúncio do presidente dos EUA de suspender por 90 dias a maioria das tarifas, em uma trégua na sua guerra comercial. O otimismo, porém, não é acompanhado pelas bolsas de Nova York e do Brasil.

Trump, no fundo, não tem certeza do que está fazendo. Caso contrário, não provocaria a China dessa forma. Os noventa dias aos quais Trump se refere têm características de uma trégua, sobretudo com países da União Europeia que vão respirar ao longo de três meses sob a perspectiva de um novo entendimento com a Casa Branca.

EFEITO GLOBAL –  No episódio ficou configurada uma guerra tarifária de Trump contra o governo de Pequim. Terá efeito global, pois temos que considerar que Estados Unidos e China são responsáveis por 37% do produto mundial bruto, portanto mais de um terço do produto mundial.

Trump, numa entrevista na Casa Branca, disse que está sendo bajulado por vários países possivelmente dispostos a fazer qualquer coisa por um acordo com os Estados Unidos. Logo, de um lado, ele ataca a China e de outro utiliza uma linguagem voltada para humilhar diversas outras nações. O cenário internacional segue sob tensão à espera dos novos movimentos no tabuleiro da economia global.

China responde a tarifaço de Trump e a situação fica complicada

Charge de Allan Yu (Xinhua)

Pedro do Coutto

Como era previsto, a China respondeu às novas tarifas dos Estados Unidos anunciando, nesta quarta-feira, sobretaxas de 84% aos produtos americanos. A medida passa a valer a partir de hoje e representa um novo capítulo da guerra comercial entre as duas principais economias globais.  A resposta veio poucas horas depois que os Estados Unidos impuseram novas tarifas a quase 60 países.

“A escalada tarifária dos Estados Unidos contra a China acumula erros sobre erros e infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China”, disse o Ministério do Comércio chinês , acrescentando que também prejudica o sistema de comércio multilateral baseado em normas.

VULNERABILIDADE – A China quer proteger a sua economia das tarifas americanas com o estímulo do consumo e investimentos em setores cruciais. Porém, analistas afirmam que o país continua muito vulnerável ao reflexo das medidas anunciadas por Donald Trump. Pequim prometeu lutar “até o fim” contra a campanha tarifária de Washington.

Na terça-feira, o primeiro-ministro Li Qiang declarou que a China confia “plenamente” na resistência de seu crescimento econômico. Na prática, a economia chinesa enfrenta problemas mesmo antes das tarifas americanas, com o elevado índice de desemprego entre os jovens e uma crise imobiliária persistente que freia o consumo.

No ano passado, o comércio exterior foi um dos poucos indicadores positivos da economia chinesa, tendo os Estados Unidos como principal destino dos produtos chineses. As exportações do país asiático para os Estados Unidos alcançaram quase U$ 440 bilhões (R$ 2,6 trilhões) em 2024, segundo o Departamento de Comércio americano, muito acima do registrado no sentido contrário de U$ 114,6 bilhões (R$ 688 bilhões).

EXPORTAÇÕES –  A maior parte das exportações é representada por produtos eletrônicos, máquinas e bens de consumo. Uma das razões pelas quais a China poderá enfrentar problemas é que alguns produtos são concebidos especificamente para os mercados americano e europeu.

As consequências dessas medidas impostas por Trump são muito ruins para o mercado global, pois afetará os consumidores dos produtos que foram super taxados. Trump está lidando até com contradições internas de sua equipe, com acusações de incompetência feitas por Elon Musk. A confusão é muito grande estabelecida pelo presidente americano, e agora é muito difícil qualquer recuo na situação. São imprevisíveis os desdobramentos das medidas tarifárias, pois o mercado não pode ser regido por uma lista de produtos, conforme anunciado por Trump.

A suspensão do tarifaço por 90 dias foi um alívio para o mundo, mas a guerra comercial contra a China parece declarada e irrevogável.