Forças Armadas contestam Barroso sobre suposto papelão militar no TSE

Luís Roberto Barroso, ministro do STF e ex-presidente do TSE

Barroso perdeu mais uma boa chance para ficar calado

Rafael Moraes Moura
O Globo

As declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, sobre as Forças Armadas, a quem acusou de terem feito um “papelão” no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao longo da campanha política de 2022, não caíram bem no Exército.

Em palestra na PUC-SP no último dia 4, Barroso também disse que os militares foram “manipulados” e “arremessados na política por más lideranças”, ao fazer referência a uma comissão de transparência do TSE que contou com a participação de oficiais das Forças Armadas durante a última eleição presidencial.

CULPA DE BARROSO – Na cúpula do Exército, que já anda tensa com os desdobramentos da investigação da Polícia Federal sobre a trama golpista para impedir a posse de Lula, oficiais dizem a quem pergunta – e a quem não pergunta também – que quem “mandou mal” na história foi o próprio Barroso, ao chamar os militares para compor a comissão. “Ele se esquece de quem botou a gente nessa história foi ele”, disse reservadamente à equipe da coluna um general.

Barroso presidiu o TSE de maio de 2020 a fevereiro de 2022, período no qual a Corte Eleitoral passou a contar com as Forças Armadas em uma comissão de transparência, criada para ampliar a fiscalização de todas as etapas do processo eleitoral. O grupo foi instituído em setembro de 2021, e os militares de fato foram convidados a fazer parte por Barroso.

Além dos militares, havia também representantes da OAB, Polícia Federal, Congresso Nacional, especialistas de entidades da sociedade civil.

DISCUSSÃO ETERNA – Desde então, a discussão sobre a conveniência de colocar os militares para discutir transparência e confiabilidade das urnas vai e volta, com argumentos pró e contra, e uma ala de críticos afirma que Barroso nunca deveria ter convidado oficiais para a tarefa.

Em sua defesa, Barroso costuma repetir que a decisão foi tomada ainda em 2019 durante a presidência de Rosa Weber, quando uma resolução foi aprovada por unanimidade prevendo a participação das Forças Armadas no processo de fiscalização e auditoria do processo eleitoral.

Conforme a eleição foi se aproximando, porém, a comissão se tornou o epicentro de uma crise que opôs o governo Bolsonaro e os militares de um lado, e Barroso, o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF) de outro.

PERGUNTAS E SUSPEITAS – Desde o início dos trabalhos, os militares fustigaram o TSE com perguntas e suspeitas. Na opinião dos próprios ministros da Corte, a comissão acabou sendo usada pelo governo Bolsonaro como mais uma trincheira da guerra contra as urnas eletrônicas.

O general Heber Garcia Portella, representante das Forças Armadas na comissão, enviou ao TSE uma enxurrada de questionamentos sobre questões técnicas e operacionais das urnas.

Na época em que a presença dos militares foi vista como um “tiro no pé” do tribunal, Barroso costumava dizer que partiu da presunção de que Portella e os demais integrantes do grupo agiriam de boa-fé.

BARROSO SE DEFENDE – Se algum dos membros da comissão se comportou mal, ele costuma dizer, a culpa não é de quem nomeou – e sim de quem não cumpriu a sua missão.

Para Barroso, era natural chamar as Forças Armadas para colaborar nos trabalhos da comissão, já que elas auxiliaram o tribunal na concepção da urna e ajudam a cada dois anos na distribuição logística dos aparelhos.

Dado o trauma com a experiência, porém, o TSE excluiu as Forças Armadas do rol de entidades fiscalizadoras em setembro do ano passado, já sob o comando de Alexandre de Moraes. “Não se mostrou necessário, razoável e eficiente a participação das Forças Armadas no rol de entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação e na comissão de transparência eleitoral”, disse Moraes na ocasião, usando termos mais diplomáticos que os de Barroso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Já comentamos aqui na Tribuna que Barroso segue a linha do genial  Cazuza e mostra ser um tanto “exagerado”. O papel da Comissão da Transparência era justamente levantar dúvidas e suspeitas, para que o TSE então pudesse dirimi-las e afastá-las. Da forma como Barroso fala, ele convidou os militares apenas para manter as aparências. Sinceramente, sua denúncia é infantil e despropositada. Perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado. (C.N.)  

10 thoughts on “Forças Armadas contestam Barroso sobre suposto papelão militar no TSE

  1. As bobagens ditas por políticos eleitos causam polêmica, resultam em votos.

    E as dos políticos sem nenhum voto, como Barroso?

    Apenas atendem à própria vaidade, megalomania, aos egos inflados.

    • Fui mesário, fiscal, dirigente partidário e tb candidato, frequentei as urnas antigas, de lona, e tb as eletrônicas e posso garantir que estas são boas, aliás, representam a única evolução ligada ao sistema político no qual reside o problema e não nas urnas. Votos, é por isso que as forças armadas não podem se enveredar para a politicalha partidária-eleitoral, até porque, como confessou Dilma, por votos faz-se os diabos neste país, valendo lembrar que, segundo Lula, Bolsonaro teria torrado na sua tentativa de reeleição cerca de R$ 300 bilhões, restando a dúvida de quanto já deve estar custando a tentativa de reeleição do Lula para o seu possível quarto mandato. Ademais, o voto, infelizmente, obriga o candidato a fazer coisas que até Deus duvida, que na sua vida normal jamais faria, ser o que ele de fato não é, cheirador de todos os perfumes e bebedor de todas as taças. Daí a necessidade de evoluirmos para a Democracia Direta com Meritocracia, inclusive porque nela todos e todas podem participar ativamente, inclusive os militares, porque não gera a nefasta polarização, nem o nefasto aparelhamento partidário das instituições, tipo corrida de São Silvestre, aberta a todos e todos, de graça, mas apenas os mais qualificados chegarão ao pódio para nos representar, gente igual ou melhor, ou muito melhor, do que nós mesmos e não coisas ainda piores, eleições gerais, mandatos de no máximo 5 anos, sem reeleição, e o resultado será fabuloso, em prol do conjunto da sociedade e não dos donos de partidos, o sistema educacional será o melhor possível e nos fornecerá as melhores cabeças, as mais qualificadas, para nos representar, e conduzir os destinos da nação, estados e municípios.

  2. A realidade é que aparentemente nada se fez para eliminar ou diminuir dúvidas quanto a inviolabilidade do sistema eleitoral na fase pós votação.
    Foram dadas várias alternativas sobre imprimir o voto e o papel cair dentro de um cofre, isto após o eleitor ter verificado que a impressão exprimia sua vontade; e então, se checaria um número “X” de urnas que mostraria de forma estatística a confiabilidade do sistema.
    PS: Vai voltar a mesma lenga-lenga de 2022 com os ‘valdemares’ da vida pedindo recontagem só para presidente.

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