
Charge do Jônatas (politicadinamica.com)
Rafaela Gama
O Globo
De um lado, a dúvida lançada sobre a veracidade do ataque a faca sofrido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018. Do outro, a crença de que as eleições que elegeram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022, foram fraudadas. Teorias da conspiração conectadas a temas políticos — ainda que com adesão minoritária na população brasileira como um todo — chegam a convencer, a depender do tópico, mais da metade dos eleitores identificados com a esquerda ou com a direita.
É o que revelam dados inéditos da nova edição da pesquisa “A Cara da Democracia”, que fez 2.510 entrevistas presenciais em todo o país entre 17 e 26 de outubro. O levantamento é uma iniciativa de pesquisadores de universidades como UFMG, Unicamp, UnB, Uerj e Enap, e foi financiado pelo CNPq e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
ATENTADO – Se a falsa alegação de que a facada sofrida por Bolsonaro foi planejada para arquitetar sua vitória em 2018 é classificada como verdadeira por 32% dos entrevistados, quando considerados somente os eleitores que se declaram de esquerda, esse índice salta para 53,3%.
Já a afirmação — também falsa — de que a vitória de Lula na última disputa eleitoral foi fraudada, e a ideia de que existe um plano global da esquerda para tomar o poder, defendidas, respectivamente, por 34,2% e 37,3% dos brasileiros, são apontadas como verdadeiras por 52,2% e 57,7% dos eleitores que se identificam com a direita.
O padrão de respostas muda apenas diante da teoria conspiratória de que o ex-juiz da Operação Lava-Jato e atual senador Sergio Moro (União-PR) seria um “infiltrado dos EUA”. Essa visão tem baixa adesão na população como um todo (13,7%), e também nos dois campos ideológicos mais polarizados (17,4% na esquerda e 14,1% na direita), ainda segundo o levantamento.
CÍRCULOS – Pesquisador e um dos autores do levantamento, o diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, Oswaldo Amaral, afirma que a transmissão dessas ideias se mantém em função da formação de círculos onde as informações transitam apenas internamente.
— Mesmo quando olhamos critérios como escolaridade, a preferência ideológica é importante para explicar a maior probabilidade de acreditar ou não nessas conspirações. Mostramos isso dos dois lados, mas temos trabalhado especificamente com hipóteses de como essas informações circulam na direita, porque esses eleitores tendem a se informar mais pelas redes e ficam mais expostos a elas — diz Amaral.
A pesquisa mostra que a disseminação dessas teorias ocorre em meio a uma mudança na autoidentificação ideológica dos brasileiros desde 2018. Na autodeclaração dos entrevistados a partir de grupos mais à esquerda e à direita, em uma escala de 1 (esquerda) a 10 (direita), houve um crescimento dos que se identificam com os extremos dos dois polos: de 9%, há sete anos, para 24%, entre os que se dizem no grau máximo de direita, e de 6% para 15% entre os que se classificam como o valor máximo de esquerda. Em paralelo, o grupo que se vê como centro ficou praticamente estável.
VISÃO MAIS CONSERVADORA – Se as teorias conspiratórias atingem uma parcela mais localizada da população, o mesmo não ocorre na opinião dos brasileiros sobre temas morais. Os dados reforçam que a população tende a ter majoritariamente posicionamento mais conservador, destaca Lúcio Rennó, professor de Ciência Política da UnB e coautor da pesquisa.
A maioria dos entrevistados se posiciona contra a legalização do aborto (69,6%) e a descriminalização do uso de drogas (65,4%). Também é registrada ampla adesão a propostas de redução da maioridade penal (64,5%), de ensino religioso (80,3%) e de militarização das escolas (55,6%). A população, porém, se divide em temas como o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (48,1% concordam e 44,3% discordam) e o uso de banheiros públicos por pessoas trans (43,6% se dizem favoráveis e 48,3%, contrários).
— Quando olhamos para essas questões no Brasil, percebemos uma forte inclinação da população a posições típicas da direita mais radical. O punitivismo penal, por exemplo, tem forte apelo na sociedade — conclui Rennó.
Prisão não anula o ex-mito na escolha do candidato de oposição a Lula
A prisão preventiva do ex-mito, após a convocação de uma vigília por Flávio Rachadinha, não sela o destino do bolsonarismo nem esvazia seu impacto no pleito de 2026.
O movimento político criado pelo ex-mito é maior que sua condição jurídica e, embora enfraquecido, permanece vivo entre milhões de seguidores.
O ex-mito está sob custódia do Estado, inelegível e condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, mas continua sendo a principal referência política da direita brasileira, à qual hegemonizou.
A prisão reduz seu raio de ação e aumenta sua vulnerabilidade, mas não dispersa de imediato a base eleitoral que construiu nos últimos 10 anos. A “sombra de futuro” do “Mito” contingenciará os candidatos de oposição.
À sombra de Bolsonaro
Dono do maior ativo eleitoral da oposição, o ex-mito segue capaz de arbitrar candidaturas, de transferir votos e de, eventualmente, caso um aliado chegue ao poder, ser beneficiado por uma anistia aprovada por um Congresso conservador ou por um futuro indulto presidencial.
Essa hipótese — de que o líder permanece no jogo, ainda que em posição defensiva — funciona como um estabilizador da própria direita: ninguém rompe com o ex-mito, ninguém se proclamava herdeiro sem sua bênção, todos esperam um gesto do líder.
Fonte: Correio Braziliense, Entrelinhas, 23/11/2025 – 07:56 Por Luiz Carlos Azedo
Sugiro a pergunta como prioritária na proxima pesquisa:
– O Agente Barba e seu regimento, seguem tal agenda determinada por quem ESTRANGEIRO, já que não beneficia em NADA o Brasil e os brasileiros?