Na patologia brasileira, nossos governantes conseguem representar apenas as minorias

Minorias: conheça quem faz parte dessa realidade - Mundo Educação

Ilustração reproduzida do Mundo Educação/UOL

Marcus André Melo
Folha

Que tipo de arranjo institucional garante melhor governança política? Por muito tempo o debate girou em torno de duas opções polares: parlamentarismo e presidencialismo. Sua formulação clássica está em Bagehot, “The English Constitution”, publicada em 1867. Bagehot está mais perto de nós do que o (a) leitor (a) desconfia. Era jurista e jornalista, fundador do The Economist. Joaquim Nabuco a descobriu nas novidades da livraria Lailhacar em Recife, já em 1869.

O fascínio que exerceu sobre Nabuco é tamanho que ele intitulou o segundo capítulo do seu Minha Formação, “Bagehot”. Foi a semente de suas ideias e toda uma geração, o que inclui Rui Barbosa.

EFICIÊNCIA E CLAREZA – Para Bagehot o parlamentarismo era um modelo superior por duas razões: a eficiência e a clareza de responsabilidade que permitia. A eficiência resultava do “segredo eficiente”: a fusão de Poderes Executivo-Legislativo no governo de gabinete, garantindo eficiência e governabilidade.

Os partidos ofertavam plataformas distintas, até que os humores da opinião pública se voltassem contra ela, levando à alternância de Poder. A concentração de autoridade política tinha como contrapartida a maximização da responsabilização por que os pontos de veto são mínimos.

O presidencialismo, argumentava, separava os Poderes, dividia o governo criando impasses nas relações Executivo-Legislativo. A clareza de responsabilidade ficava comprometida por não se saber quem é responsável politicamente (Presidente? Legislativo? Judiciário?).

MODELO HEGEMÔNICO – Esse ideal normativo de “Governo Responsável” foi hegemônico na ciência política até os anos 1970.

A discussão sobre sistemas de governo foi substituída pelo confronto entre modelos majoritários (o Reino Unido é paradigma) versus os chamados “consociativos” ou “consensuais”, caracterizados por multipartidarismo, grandes coalizões, Judiciário poderoso e arranjos descentralizados (Ex: Alemanha ou Dinamarca).

O novo ideal normativo predominante é que a barganha e consenso garantem menos volatilidade nas políticas públicas. Os ganhos de eficiência ocorrem no longo prazo; a maior inclusividade gera déficit de responsabilidade e mais consenso. Lijphart e muitos outros cientistas políticos fizeram trabalhos empíricos sobre os dois modelos.

SISTEMA HÍBRIDO – O Brasil adota sistema híbrido com forte predominância dos traços consociativos. Mas entre nós destacam-se formas degeneradas de ambos.

O consociativismo cria a percepção de conluio generalizado e imobilismo. Um sistema orientado para a captura de rendas e baixíssima clareza de responsabilidade.

A nossa patologia majoritária são os executivos que abusam do poder e que supõe serem representantes da nação como um todo, e não apenas de minorias.

União Europeia ilude Mercusul e disfarça seu protecionismo com a tal “preocupação verde”

Da esquerda para a direita, Mario Abdo Benítez, presidente do Paraguai, Alberto Fernández, presidente da Argentina, Lula e Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai

Presidentes do Mercosul sabem que a UE está embromando

Sylvia Colombo
Folha

Em passagem pelo Brasil há duas semanas, o presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, afirmou que compartilhava a irritação demonstrada por Luiz Inácio Lula da Silva em sua visita mais recente à Roma. O assunto esteve na pauta do encontro de ambos em Brasília.

Na ocasião, o brasileiro disse serem “inaceitáveis” alguns pontos da chamada “side letter”, ou “anexo ambiental”, enviado pela União Europeia como requisito para seguir adiante com o que seria a etapa final do acordo com o Mercosul —ainda que já houvesse um texto pré-aprovado em 2019.

PRECONCEITOS – “Também fiquei irritado com isso, tenho simpatia pela posição de Lula, e porque muitas vezes no exterior se fala de nossos problemas sem conhecerem bem a situação”, afirmou Peña. E acrescentou: “Acontece o mesmo quando sempre se associa o Paraguai com o contrabando e o narcotráfico na Tríplice Fronteira. Só que a região não é só do Paraguai, são três países. E há muito o que dizer sobre os intercâmbios comerciais legais e positivos que passam por ali.”

A coluna teve acesso, em colaboração com o jornal paraguaio ABC Color, à “side letter” que até agora não havia sido divulgada e circulava apenas entre os negociadores.

O texto, de tom duro, exige que o Acordo de Paris seja cumprido, sob risco de punição em caso contrário — algo que não constava do texto original, e a meta mencionada sequer foi alcançada por vários países europeus.

MAIS EXIGÊNCIAS – Outro requisito é “interromper e reverter a perda florestal e a degradação da terra até 2030, ao mesmo tempo que se promova o desenvolvimento sustentável e se impulsione uma transformação rural inclusiva”. Para isso, diz o texto, haverá uma “meta intermediária de redução do desmatamento de pelo menos 50% em relação aos níveis atuais até 2025”. Ou seja, um prazo curtíssimo para solucionar questões históricas dos países.

Também em um tom de exigência, a União Europeia diz que o acordo implicará que os países não possam “reduzir seus padrões ambientais ou trabalhistas com a intenção de atrair comércio ou investimento estrangeiro”.

O documento também fala de compartilhamento de informações sobre metas nacionais e monitoramento sobre o cumprimento delas.

IMPOSSÍVEL CUMPRIR – Uma fonte do governo paraguaio afirmou que se trata de um documento de cumprimento quase impossível, com muitas cascas de banana; que é preciso ainda trabalhar muito, porque contempla convenções ou disposições que não competem ou não contemplam o Mercosul, nem mesmo a muitos Estados-membros da União Europeia.

Outra fonte, do lado brasileiro, afirmou que a avaliação é de que o novo documento não dá espaço para que o Mercosul discuta o que a União Europeia quer e coloca o bloco sul-americano como mero acompanhante dessas exigências.

As negociações para tentar fechar o acordo UE-Mercosul se arrastam há mais de 20 anos. E o Brasil pedirá que o acordo se dê mais na base da colaboração mútua do que na de exigências.

RESISTÊNCIA CRESCENTE – Mesmo com um texto aprovado em 2019, o acordo não entrou ainda em vigor porque precisa ser ratificado pelos Parlamentos de todos os 31 países. Há uma resistência crescente com relação a produtores agrícolas em alguns países, como a França.

O adendo contém finalidades nobres e temas de fato urgentes ante a mudança climática e com relação à preservação do meio ambiente.

Por outro lado, tem um tom quase hostil que sugere que, na verdade, o que a União Europeia deseja mesmo é adiar uma decisão. Seria o protecionismo de sempre, só que agora disfarçado de preocupação verde.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula está certíssimo ao entrar de sola na negociação do acordo com a União Europeia. A cúpula da UE está embromando o Mercosul, porque seus produtores rurais vivem de subsídios e não têm a menor condições de concorrer com o moderno agrobusiness de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, em termos de preço e produtividade. Este acordo “non ecziste”, diria Padre Quevedo. (C.N.)

Leite defende criação do bloco Sul-Sudeste, mas outros governadores falam em “cisão”

Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Eduardo Leite, governador gaúcho, explica os objetivos

Daniel Weterman
Estadão

O anúncio feito pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de uma frente para “protagonismo” das regiões Sul e Sudeste, colocou de lados opostos os gestores estaduais do Norte e Nordeste e os colegas das outras regiões. O nome do governador mineiro foi o tema de política mais comentado do País no Twitter.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), saiu em defesa da frente anunciada por Zema. O tucano foi um dos líderes apontados pelo mineiro como potencial candidato à Presidência nas próximas eleições. De acordo com Leite, o que o grupo quer é agir por mais equilíbrio na reforma tributária e não “discriminar” nenhuma região.

FOI UM EXEMPLO – “Nunca achamos que os Estados do Norte e Nordeste haviam se unido contra os demais Estados. Ao contrário: a união deles em torno de pautas de seus interesses serviu de inspiração para que, finalmente, possamos fazer o mesmo, nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante aos estados do Sul e Sudeste”, disse o governador gaúcho à reportagem.

Pelas redes sociais, Eduardo Leite afirmou que a frente não tem nada a ver com “Estado contra Estado, ou região contra região”.

 Zema afirmou que os governadores do Sul e do Sudeste querem mais “protagonismo” na política e na economia e vão agir em bloco para evitar perdas econômicas contra as outras regiões. Além disso, o governador de Minas estimulou o lançamento de um candidato de direita do grupo à Presidência nas eleições de 2026.

REFORMA TRIBUTÁRIA – “Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, afirmou Zema.

Já o governador da Paraíba e presidente do Consórcio Nordeste, João Azevêdo (PSB), afirmou que Zema cometeu equívocos e foi “infeliz” nas declarações. Para Azevêdo, o governador mineiro estimula uma divisão entre as regiões no País e não deve ter o apoio dos demais gestores estaduais na mobilização.

A fala de Zema também foi criticada pelo governador capixaba Renato Casagrande (PSB). “O Espírito Santo participa do Sul/Sudeste para que ele seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Zema se excedeu e vai ficar levando pancada. Se o Norte/Nordeste tem Consórcio, é clara que Sul/Sudeste está na mesma condição. Conforme já comentamos aqui, esta união Sul/Sudeste será importantíssima na próxima sucessão presidencial, se indicar um candidato para enfrentar Lula e o PT. O resto é folclore, como diz Sebastião Nery. (C.N.)

Nas redações, os verdadeiros jornalistas precisam se livrar da influência da imprensa amestrada

O fator imprensa | VESPEIRO

Charge do Moa (Arquivo Google)

Gilberto Clementino

Antigamente, ao colocar o papel direcionando os dedos para o teclado da Remington ou Olivetti, por exemplo, todas as pesquisas possíveis, preliminarmente, tinham sido feitas, fontes checadas e, na maioria esmagadora dos profissionais, o compromisso com a verdade seria a base para a formulação do conteúdo publicado em forma de matéria, que chegaria aos leitores garantindo a informação de qualidade.

Avançamos, certamente, e hoje são as teclas do computador e do celular. O caminho mudou muito, mas as teclas estão presentes para utilização do processamento de texto. De lá para cá, diferente das teclas e comportamento de pessoas físicas e jurídicas, jornalistas e imprensa, mudou o “modus operandi”, vamos dizer assim.

HARAQUIRI NA MÍDIA – A velha imprensa e jornalistas amestrados estão cometendo um verdadeiro haraquiri. Portanto, vamos ser claros, no velho e bom português, lembrando que o haraquiri é aquela técnica de suicídio praticada por tradicionais guerreiros japoneses.

No caso da velha imprensa e jornalistas amestrados, suplico, afastemos o adjetivo guerreiros. Não, realmente hoje não o são, mas respiram sob aparelhos em bases sólidas e históricas de verdadeiros guerreiros, que marcaram o jornalismo brasileiro. Falo de Carlos Chagas, Helio Fernandes, Barbosa Lima Sobrinho, dentre muitos outros que nem diploma de jornalismo tinham, mas marcaram seu nome na história da imprensa brasileira com dignidade, ética e profissionalismo.

COMPROMETIMENTO – O Brasil precisa do comprometimento de todos para sair do atraso e recuperar sua capacidade de desenvolvimento com geração de empregos e avanços socioeconômicos. Mas as análises da velha imprensa sobre a política brasileira estão pecando de modo perigoso.

A missão da imprensa, do jornalismo, vai muito além do que está acontecendo, com determinados comportamentos perigosos, mortais para a credibilidade e confiabilidade. Esse binômio precisa existir para justificar o objetivo profissional.

Precisam lembrar o que juraram: “Prometo, no exercício da profissão de jornalista, assumir meu compromisso com a verdade e com a informação e empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para a construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade”.

LIBERDADE, SEMPRE – A imprensa não pode ficar a serviço de governantes ou facções políticas. Apesar da existência de um número enorme de jornalistas amestrados, ainda há grandes profissionais nas redações que podem redirecionar as pautas para uma obrigatória neutralidade, que resulta na divulgação praticamente diária de escândalos de corrupção e outras irregularidades.  

Como diz o editor da TI: mas quem se interessa? A meu ver, com toda certeza, há muitos brasileiros que se importam com o desvirtuamento de setores do jornalismo.

Podemos dizer, com otimismo: ainda bem que sobrou muita coisa de qualidade na imprensa e há jornalistas brasileiros que garantem a legitimidade de boas publicações, o que ajuda a evitar que cheguemos ao fundo do poço.

Na Câmara, não há condições para cassar Carla Zambelli pelo Conselho de Ética

Zambelli enfrenta Conselho de Ética no mesmo dia em que é alvo da PF |  Metrópoles

Processo depende da comprovação de pagamento ao hacker

Victoria Azevedo e João Gabriel
Folha

Uma eventual cassação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) tem mais chances de ocorrer pelo caminho da Justiça do que por um processo contra ela no Conselho de Ética da Câmara, avaliam parlamentares ouvidos pela Folha. Deputados veem que, apesar de ela estar enfraquecida, ao menos por enquanto não há clima para que sua cassação aconteça em plenário.

Zambelli foi alvo na manhã de quarta-feira (2) de uma operação da PF (Polícia Federal), que cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços residenciais e em seu gabinete na Câmara. Os agentes prenderam ainda Walter Delgatti, conhecido como o hacker da “Vaza Jato”.

A ACUSAÇÃO – A deputada e Delgatti são suspeitos de atuarem em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão.

Ela não responde a processo no Conselho de Ética por causa da investigação da PF. No momento, ela é alvo de uma representação por xingamentos proferidos contra o deputado Duarte Jr. (PSB-MA).

O PT avalia que o melhor é esperar o avanço das apurações na Justiça para iniciar um processo contra Zambelli no conselho sobre a trama contra Moraes. O entendimento de deputados é que a cassação de Zambelli deverá ocorrer mais cedo ou mais tarde na Justiça, uma vez que a investigação sobre o caso do hacker da “Vaza Jato” dificilmente a deixará impune.

MUITO DESGASTE – Apesar de não preverem uma cassação em plenário, parlamentares opinam que Zambelli está desgastada politicamente, após uma série de escândalos desde as eleições, sem grande apoio até entre seus pares — mesmo entre membros do seu partido ou da família Bolsonaro.

O único dos políticos da família do ex-presidente a defender publicamente Zambelli foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também tratou de tentar blindar o pai.

Deputados afirmam que a cassação pela Câmara é uma medida drástica e que é preciso considerar que ela teve votação expressiva nas últimas eleições. Ela se reelegeu com 946 mil votos, se tornando a terceira mais votada do país, à frente de nomes como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Ricardo Salles (PL-SP).

AÇÕES DE CASSAÇÃO – Além da operação na última quarta, a deputada enfrenta ao menos quatro ações na Justiça Eleitoral que podem resultar na cassação de seu mandato. Duas tramitam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e duas foram protocoladas no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo.

Ela é alvo de quatro Aijes (ação de investigação judicial eleitoral), que, além da cassação, têm como possível consequência a sua inelegibilidade por oito anos, a contar das eleições de 2022.

Deputados também lembram que o caso do ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ), que teve o mandato suspenso pelo Conselho de Ética no ano passado, repercutiu bastante dentro da Casa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Tudo vai depender da quebra dos sigilos. Se forem constatados pagamento ao hacker Walter Delgatti ou alguém ligado a ele, o caso vai se complicar mesmo, para Zambelli e também para Bolsonaro. Vamos aguardar. (C.N.)

Nova guerra fria na disputa de EUA, Rússia e China pelas terras derretidas do Ártico

Impasse militar na guerra na Ucrânia exige negociações de paz, dizem analistas | O Popular

Imprensa alemã já fala em próximo cessar-fogo na Ucrânia

Nelson de Sá
Folha

Na manchete “exclusiva” do Wall Street Journal deste domingo, “quatro contratorpedeiros dos EUA foram despachados para monitorar navios russos e chineses” perto do Alasca, no que “parece ter sido a maior flotilha desse tipo a se aproximar da costa americana”. Foram 11, contra os sete avistados em setembro.

Na avaliação do jornal, “as patrulhas conjuntas são parte da competição de grandes potências no Ártico, que está virando território contestado”. Há uma semana, com o mapa acima, o WSJ já havia publicado que os “militares dos EUA estão atrás da Rússia e da China na corrida pelo Ártico que derrete”.

ÁGUAS INTERNACIONAIS – Um porta-voz militar dos EUA disse que a nova “patrulha conjunta permaneceu em águas internacionais e não foi considerada ameaça”.

Já um senador pelo Alasca, que havia criticado a reação em setembro, agora “aplaudiu a resposta robusta” ao “lembrete de que os EUA entraram numa era de agressão autoritária”.

A mudança no noticiário americano vem três semanas após a confirmação de Suécia e Finlândia na Otan — o que analistas e veículos explicaram então pela “rivalidade crescente no Ártico”, contra Rússia e China. No trocadilho usado então, é “uma guerra fria de verdade” que pode levar a uma “crise no Ártico”.

ARMAS PARA TAIWAN – Quanto à guerra na Europa, o Financial Times manchetou no meio da semana outra notícia “exclusiva” baseada em fontes anônimas, “Joe Biden pedirá ao Congresso que financie armas para Taiwan por meio do orçamento da Ucrânia”. Como no caso do Ártico, a justificativa dada foi uma “ameaça cada vez maior da China”.

O New York Times acrescentou que, como “a indústria de armas do Ocidente tem dificuldade para acompanhar a demanda” constante do país, “a Ucrânia acelerou a sua própria produção”.

O jornal informa ainda que, após insucessos, “o exército ucraniano colocou de lado os métodos de combate dos EUA”.

NA ALEMANHA – O Bild noticiou que um relatório da Bundeswehr, as forças unificadas da Alemanha, criticou os militares ucranianos por não seguirem o treinamento da Otan. E destacou que Berlim teme uma “escalada russa”. O também alemão Die Welt manchetou que até o final do ano o “Ocidente vai pressionar a Ucrânia para um cessar-fogo”.

WSJ e outros salientaram, das conversas sobre a guerra mediadas pela Arábia Saudita, a participação da China.

O enviado de Pequim para a paz, Li Hui, se reuniu com o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e a subsecretária de Estado, Victoria Nuland.

Publicar versos de Camões contra censura poderia ser tido como ‘ato antidemocrático’ 

Lições d'Os Lusíadas – Centro Atlântico

Versos de Camões substituíam todos os textos censurados

J.R. Guzzo
Estadão

Completam-se 50 anos, hoje, desde que O Estado de S.Paulo, num gesto de coragem que se tornaria parte da história mundial da liberdade de imprensa, passou a publicar versos dos “Lusíadas” nos espaços deixados em branco pelos artigos que a censura do regime militar obrigava o jornal a cortar.

Era proibido, pelos que então detinham a força armada, dizer que que havia censura – eles censuravam, mas queriam manter de pé a fantasia de que não havia censura no Brasil. Também não era permitido deixar espaços em branco, porque ficaria na cara que estava acontecendo alguma coisa errada com o jornal.

VERSOS DE CAMÕES –  O Estado, que vivia submetido à censura prévia desde agosto de 1972, com a presença diária de censores na redação, decidiu então publicar os versos de Camões no lugar do material que havia sido censurado.

 Os leitores logo perceberam que o jornal estava sob censura – na verdade, o País inteiro ficou sabendo.

Ao todo, 655 trechos apareceram para substituir o que a ditadura cortava. A luta de o Estado em favor do direito de expressão tornou-se conhecida através do mundo. A censura foi suspensa pelo governo no começo de 1975; no ano anterior, o diretor Júlio de Mesquita Neto havia recebido a “Pena de Ouro” da Federação Internacional dos Editores de Jornal.

IMPRENSA LIVRE – O Estado de S. Paulo ensinou, 50 anos atrás, que não pode existir democracia, nem o direito do cidadão se expressar livremente, sem que haja liberdade de imprensa. É o que está na Constituição. É o que a moral, a ética e a decência esperam de uma sociedade civilizada. Mas é, ao mesmo tempo, uma ideia cada vez mais hostilizada no Brasil de hoje.

Tornou-se moda, sobretudo entre as milícias mais iradas na defesa do “Estado democrático de Direito”, agredir a liberdade de expressão.

A ferramenta que usam para fazer isso é repetir, a cada cinco minutos, que “não pode haver liberdade absoluta”, e que “a sociedade” tem o direito de se defender contra “abusos”.

LIMITAR A LIBERDADE? – É argumento falso. Toda essa conversa tem como único objetivo reduzir ou suprimir a liberdade de expressão no Brasil.

A liberdade de expressão jamais foi absoluta: é perfeitamente limitada, com sanções penais, pelas leis já em vigor no país. Quando dizem que há “abusos”, é porque querem calar a sua boca.

Não está claro, no Brasil de Lula, de Flávio Dino e de Alexandre de Moraes, se O Estado de S.Paulo seria autorizado hoje a publicar versos dos Lusíadas. Poderia ser um “ato antidemocrático”. A Polícia Federal poderia fazer “busca e apreensão” dos livros de Camões. O STF poderia impor uma multa de R$ 100 milhões a cada dia que os versos fossem publicados. Quem diria, não é? Essa vida é mesmo cheia de surpresas.

Um Rolex por testemunha! Cid assegurou para Bolsonaro e para si um péssimo lugar na História

Charge de Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

Não há dúvida de que o episódio em que se envolveu o tenente-coronel Mauro Cid, tentando vender por US$ 60 mil um Rolex de platina e brilhantes recebido pelo ex-presidente Bolsonaro da Arábia Saudita, assegurou para o ex-ajudante de ordens e para o próprio governo que terminou em 2022 um péssimo lugar na história do Brasil. Creio até que quanto à forma significa um fato sem precedentes e que dificilmente encontrará repetições através dos próximos séculos.

A matéria obteve grande destaque nas edições deste sábado no O Globo,  na Folha de S.Paulo e no Estado de S.Paulo. Incrível. Como é possível que o tenente-coronel Mauro Cid pudesse articular a venda de uma doação internacional, incluindo a participação da assessora do governo passado Maria Farani Rodrigues ?

INTERMEDIAÇÃO – Segundo ela própria disse, por ser fluente em inglês, foi encarregada por Mauro Cid de viabilizar a venda no exterior. Não conseguiu. Motivos não devem ter faltado, mas a intenção ficou marcada e o destino do relógio foi o patrimônio nacional entregue depois de cobrança pública ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

O tenente-coronel Mauro Cid transformou-se em um personagem estranho na administração do país. Era encarregado por Bolsonaro de resolver os problemas. Mas também tomava iniciativas. Não se sabe se todas ordenadas por Bolsonaro ou se algumas partiam de sua própria imaginação, como acontece em casos palacianos e nas áreas de poder.

O caso do Rolex é de uma importância singular, sobretudo pela forma arquitetada que foi montada a tentativa de venda que fracassou, mas que atingiu Bolsonaro junto a uma parte de apoiadores. Os vândalos de 8 de janeiro, pelo menos uma parte deles, não podiam fazer ideia a que ponto chegaria a atuação e a desenvoltura do tenente-coronel Mauro Cid.

SEM PARALELO – O perfil do ex-ajudante de ordens fantasticamente indicado no crepúsculo de 2022 para comandar uma unidade militar em Brasília, não encontra paralelo na estrada do poder, não só pela ousadia criminosa, mas também pela desfaçatez que o levou a acionar a assessora Maria Farani Rodrigues, deixando claro que comportamentos semelhantes já haviam sido realizados.

O caso se reveste de várias faces, como num jogo de dados. Francamente, receber um presente oficial, não recolhê-lo ao patrimônio da União, o que acabou tendo de fazer, e tentar vendê-lo no mercado secundário é estarrecedor. O episódio Bolsonaro, Mauro Cid, Rolex, reveste-se de uma carga extremamente negativa e revela um comportamento social que não respeitava os limites da lei.

No O Globo, a reportagem é de Camila Turtelli, Lauriberto Pompeu e Eduardo Gonçalves. Na Folha de S. Paulo é de Thaís Augusto e Gabriel Vinhal. No Estado de S.Paulo, de Júlia Afonso e Gabriel de Sousa. O episódio também foi amplamente focalizado na noite de sexta-feira pela TV Globo e pela GloboNews.

COMPORTAMENTO  – A repercussão está sendo enorme e crescerá ainda mais, sobretudo porque inevitavelmente alcança o comportamento de um militar do Exército que não só sabia, mas mandava demais. Esse perigo envolve os que detém o poder.

Mauro Cid falsificou atestados de vacinas, manteve diálogos com outros militares investidos no projeto golpista contra a democracia e tentou em vão liberar jóias femininas. Mauro Cid atropelou tudo. Saiu da galeria dos robôs para tentar atuação própria nos fatos do Planalto e fora dele.

ARRANHÃO – Sem dúvida, o sentimento maior do Exército foi arranhado por um dos seus integrantes que se encontra preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes. Mauro Cid tinha também em seu poder uma cópia do projeto de decreto redigido pelo ex-ministro Anderson Torres voltado para uma intervenção na Justiça Eleitoral e no próprio Supremo Tribunal Federal, já que o presidente do TSE é o próprio ministro Alexandre de Moraes.

Jair Bolsonaro e Mauro Cid protagonizaram uma verdadeira tragicomédia na política brasileira e ficaram há poucos metros de uma tragédia gigantesca com as depredações de Brasília. Tenho a impressão de que seu tempo se esgotou, marcado pelos ponteiros de um Rolex luxuoso.

Zema anuncia frente política do Sul-Sudeste, com direita unida contra esquerda em 2026

Governador de MG, Romeu Zema, concede entrevista em uma confeitaria de São Paulo

Zema afirma que o grupo Sul/Sudeste é coeso e pragmático

Monica Gugliano e Andreza Matais
Estadão

Passa pouco das cinco horas da tarde, quando o governador Romeu Zema (Novo) chega à confeitaria onde marcamos esta entrevista no bairro do Ibirapuera, em São Paulo. Os assessores que o acompanham usam paletó e gravata. Ele veste uma camisa azul clara com um distintivo da bandeira de Minas Gerais. Nesta conversa de mais de uma hora com o Estadão, Zema come um croissant de queijo e toma um café expresso.

Define-se como um político liberal e de direita. Mas diz que o Brasil precisa manter programas como o Bolsa Família. Afirma que, se não puder ser de direita por apoiar políticas compensatórias, ele então será de centro-direita. Mas acha que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro ficou devendo aos liberais. “Na área econômica, pode ter sido bom. Mas pouco avançou em desestatização e em economia verde”.

ORGANIZAR A DIREITA – O grande legado de Bolsonaro, para Zema, foi o de ter organizado a direita. Ele crê que a figura do ex-presidente foi de fundamental importância nesse sentido. Daria nota 8 ao governo do ex-presidente, mas 5 para a comunicação de suas ações. A

inda assim, pondera que não é “bem essa direita” que os eleitores buscam e atribui a isso o fato de “terem despontado nomes mais produtivos politicamente” como o dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e até do Rio Grande Sul, o tucano Eduardo Leite.

“Tudo vai passar por um processo da direita tentar se unir e encontrar um nome que tenha apoio. Mas se for para lançar dois, três nomes em 2026, aí é para dar de mão beijada a reeleição ao adversário”, prevê.

PAÍS DIVIDIDO – Embora ainda falte muito para a eleição de 2026, Zema diz que só pensa na hipótese de ser candidato se achar que “poderá fazer alguma coisa”. Se não, prefere apoiar outro nome. De qualquer forma ele antevê uma eleição polarizada, em um pais dividido e crê que o apoio de Bolsonaro, inelegível por oito anos, será fundamental.

Por isso, os governadores do Sul, Sudeste – maciçamente de oposição – já se preparam e se organizaram no Consórcio Sul-Sudeste (Cossud). A entidade agora é presidida pelo governador Ratinho Junior e, pela primeira vez, formalmente constituída promete dar trabalho ao governo federal e atuar em bloco no Congresso sempre que possível.

“Temos 256 deputados – metade da Câmara – 70% da economia e 56% da população do País. Não é pouco, nê? Já decidimos que, além do protagonismo econômico que temos, nós queremos protagonismo político, que nunca tivemos”, avisa.

PESO EQUIVALENTE – “Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, disse, acrescentando:

“Esse grupo é coeso. Não é mais informal, tem CNPJ e vamos ter um escritório de representação em Brasília. E, pela primeira vez, um dia antes da reforma tributária ser votada nós convidamos todos os 256 deputados federais (metade da Câmara dos Deputados) do Sul e do Sudeste. Os do Norte e Nordeste estão muito na nossa frente”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vai dar uma confusão danada. No início, vai ser considerada uma iniciativa separatista, mas não é por aí. É uma união política tão importante que pode decidir a sucessão de 2026. Nos sete estados do Sul/Sudeste há quatro pré-candidatos à Presidência – Eduardo Leite (PSDB-RS), Ratinho Jr. (PSD-PA), Tarcísio de Freitas (PR-SP) e Romeu Zema (Novo-MG). Caso se unam e tiverem apoio de Cláudio Castro (PL-RJ), Renato Casagrande (PSB-ES) e Jorginho Melo (PL-SC), a coisa fica feia para os adversários (C.N.)

Vitória de Trump na eleição em 2024 pode significar a queda do império americano

Trump acompanha os protestos no Irã e alerta governo | O Popular

Trump é uma ameaça concreta ao regime democrático

Roberto Nascimento

A hipótese absurda da eleição de Donald Trump no ano que vem significará a queda do império americano. Denunciado três vezes, por tentativa de golpe de Estado, tentativa de cancelar as eleições e por estimular a invasão do Congresso, Trump ainda escondeu documentos secretos do Estado, num cômodo da mansão do ogro na Flórida.

Caso Trump derrote Biden em 2024, o juiz que prolatar a sentença da prisão dele correrá risco de vida, será boicotado de todas as formas. Acredito até que Trump invista contra mantenha a independência do Poder Judiciário.

ATAQUE AO JUDICIÁRIO – O entorno fascista de Trump, no Partido Republicano, já ensaia uma reforma do Judiciário ainda mais ampla do que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro eterno de Israel, conseguiu votar em primeiro turno.

Se tiver maioria no Parlamento, a reforma de Trump será avassaladora, permitindo a hegemonia do Executivo, sob as ordens do presidente. Na prática seria uma ditadura nos EUA, com o fim do mito da maior democracia mundial.

Essa política de tirar a independência do Judiciário vem sendo aplicada pela Nova Direita Mundial e também pela Esquerda Latina, além de Beijamim Netanyahu estar conseguindo em Israel, Erdogan na Turquia, Nicolas Maduro na Venezuela e Daniel Ortega na mesma toada, todos controlando o Judiciário.

CHAMAR DE SEU – Bolsonaro tentou controlar também, mas não obteve apoio do Congresso na tentativa de aumentar o número de ministros do STF, dos atuais 11 ministros para 16 ministros. Bolsonaro nomearia cinco ministros e controlaria o Supremo. Bolsonaro teria um Supremo para chamar de seu.

Pior seria para o Brasil se o golpe de estado, tentado em 12 dezembro de 2022 e em 8 de janeiro de 2023, tivesse obtido êxito. Além do Judiciário, o Congresso seria fechado e as prisões e torturas seriam uma prática corriqueira, sem direito ao habeas corpus. Os advogados, que insistissem, correriam sérios riscos de amargarem as prisões junto com seus clientes.

LEMBRANDO MUSSOLINI – Esses fatos escabrosos, de tentativa de massacrar o regime democrático de direito, trouxeram–me à lembrança uma frase de Benito Mussolini, o ditador italiano: ” Eu não inventei o Fascismo, apenas dei voz aos fascistas que estavam dormitando nas almas dos italianos”.

Aqui no Brasil, desde o Movimento Integralista, capitaneado por Plínio Salgado, há um expressivo contingente de brasileiros fascistas, que um certo senhor conseguiu trazer das cavernas e emergiu com toda a força, nas eleições de 2018 e permanece ativo, pela continuidade nas eleições de 2022.

Que ninguém pense que ficamos livres de nova tentativa de golpe de estado. A vigilância nunca foi tão necessária. É imperioso estar atento e forte.

“Ontem, ao Luar”, uma dilacerante canção de amor, gravada em 1917 por Vicente Celestino

CD VICENTE CELESTINO - VOLUMES 1, 2 E 3

Celestino era o mais famoso cantor e ator

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e poeta maranhense Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), na letra de “Ontem ao Luar”, tenta explicar através de uma lágrima o que é a dor de uma paixão. A música foi gravada por Vicente Celestino, em 1917, pela Odeon.

ONTEM AO LUAR
Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense

Ontem, ao luar, nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer

A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que eu só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta, ao luar, do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão

Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte á beira mar, ao luar
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor silente, universal
E a dor maior, que é a dor de Deus

Deputado compra carro com verbas da Câmara e não acontece nada, rigorosamente nada

Do jeito que está indo, Vicentinho acaba virando ministro

Tácio Lorran
Estadão

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), silenciou sobre o desvio de dinheiro público por um correligionário e colega de Casa. O Estadão revelou nesta sexta-feira, 4, que o deputado federal Vicentinho Júnior (PP-TO) usou verba da cota parlamentar para comprar um carro avaliado em R$ 100 mil e dar de presente para a irmã. Procurado por meio de sua assessoria, Lira não comentou o caso.

O corregedor da Câmara, Domingos Neto (PSD-CE), o presidente da Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, Leur Lomanto Júnior (União-BA), e o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), partido do deputado, também optaram por não comentar o assunto. “A Corregedoria da Câmara informa que não foi acionada sobre o caso e não tem prerrogativa para agir de ofício”, foi a resposta.

DIRIGENTE DO PP – Vicentinho Júnior é atual presidente do PP de Tocantins, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e está no terceiro mandato como deputado federal.

Como mostrou o Estadão, ele usou a cota parlamentar para, em um primeiro momento, alugar um Toyota Corolla branco. Pagou 21 parcelas de R$ 6 mil, entre janeiro de 2018 e setembro de 2019, e, depois desse período, adquiriu o veículo, o que é proibido por regras internas da Câmara. O carro foi repassado diretamente para o nome da irmã do parlamentar, a médica Mariana Alice.

O Ministério Público Federal (MPF) já sabe que dez das mensalidades foram bancadas com dinheiro da cota parlamentar, o que dá R$ 60 mil. Os investigadores suspeitam que as outras 11 prestações também foram pagas com dinheiro público.

IMPROBIDADE – Um inquérito civil na Procuradoria da República do Distrito Federal está em andamento. Vicentinho Júnior pode responder por improbidade administrativa. O 10º artigo do Ato da Mesa 43/2009 da Câmara diz que:

“Os contratos de locação de bens móveis não poderão conter cláusulas que admitam a possibilidade de aquisição do bem mediante utilização da cota [parlamentar]”.

Por meio de sua assessoria, o deputado disse que sempre se pautou pela transparência. “Se houve equívoco em qualquer interpretação, será corrigido”, alegou. Após a publicação da reportagem, o deputado publicou um vídeo em suas redes sociais. Ele não explicou o motivo de ter usado dinheiro público para comprar o carro. Mas pediu “confiança” e “tempo” aos seus seguidores.

DIZ O DEPUTADO – “Me deem tempo e confiança, para que, respeitando as instituições, respeitando o processo que tem que ser feito da forma correta, eu vá provar mais uma vez a minha inocência, as minhas práticas e a minha verdade. Dessa maneira eu peço tempo para que a paciência o acompanhe e confiança para que a nossa amizade a nossa rotina de mandato continua do jeito que sempre coloquei a serviço e à disposição do Estado de Tocantins”, disse.

Após a publicação do vídeo, o deputado recebeu uma série de críticas nos comentários. E um outro parlamentar que tem o mesmo nome se prepara para rebater críticas. É o veterano líder metalúrgico Vicentinho, deputado federal pelo (PT-SP). “Diz aí que eu não sou o Vicentinho Junior, pois muita gente vai começar a me xingar”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Pode-se até acreditar que o deputado comprou o veículo sem saber que era proibido. O mais importante é que não há o menor controle nos gastos das verbas parlamentares. Quando foi senadora, a Sra. Eliane Nogueira, suplente do filho Ciro Nogueira, pagava o combustível do jatinho do rebento com verba do Senado, e nunca ninguém reclamou. Como todos sabem, promiscuidade e esculhambação são as marcas registradas das instituições públicas brasileiras.  (C.N.)

Bolsonaristas admitem que situação de Mauro Cid se complicou devido ao Rolex

A FORTUNA AMERICANA DA FAMÍLIA CID | Metrópoles

Esta é a principal mansão da família Cid nos Estados Unidos

Igor Gadelha
Metrópoles

Bolsonaristas admitem nos bastidores que a situação jurídica do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tem se complicado cada dia mais, depois de ter sido depoente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura os acontecimentos do 8 de janeiro.

A percepção, dizem, piorou após a revelação, nesta sexta-feira (4/8), de que o militar tentou vender um relógio da marca Rolex recebido pelo então presidente Jair Bolsonaro em viagem oficial à Arábia Saudita.

TROCA DE E-MAILS – A negociação veio à tona por meio de documentos enviados à CPMI do 8 de Janeiro com a troca de e-mails oficiais feitas por Cid para vender o relógio. O caso foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela coluna.

Em conversas reservadas, bolsonaristas avaliam que as evidências dos possíveis crimes cometidos contra o ex-ajudante de ordens são fortes e tornam o militar cada vez mais “indefensável”.

Além da negociação do relógio, a CPMI teve acesso a relatório do Coaf que aponta movimentação financeira atípica de R$ 3,2 milhões do ex-ajudante de ordens em apenas sete meses.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Além de Mauro Cid, também fica em má situação o próprio Jair Bolsonaro, por ter autorizado a venda de um presente recebido do governo da Arábia Saudita, que pertence à União. A CPMI está analisando os e-mails em que Cid negocia a venda do Rolex e também as explicações dos advogados dele sobre as remessas aos EUA reveladas pelo Coaf.

Junto com seu pai, o general Lorena Cid e seu irmão Daniel Cid, o tenente-coronel é dono de uma empresa milionária nos Estados Unidos, a Cid Family Trust, que possui muitos bens, que incluem uma mansão hollywoodiana na Califórnia e uma casa luxuosa em Miami. E a Piada do Ano é a explicação dos advogados. Eles dizem que a família Cid tem esses bens nos Estados Unidos porque são ricos… (C.N.)

No Brasil, chegou a vez dos srs. Luva de Pedreiro, Cara de Sapato, Gil do Vigor, Yuri do Paredão etc.

Gil do Vigor no casamento de Lula fez parte de uma ...

Gil do Vigor e a mãe, convidados especiais de Lula e Janja…

Ruy Castro
Folha

Ibrahim Sued, que era pobre e ficou rico com sua coluna social, dizia que sua dinastia começava com ele. Isso de fato aconteceu, mas, quando Ibrahim morreu, em 1995, sua dinastia morreu com ele. Por sorte, o Brasil tinha dinastias mais sólidas, com aqueles nomes compostos que todos sabiam pertencer aos capitães da indústria, das finanças ou do society, como os Monteiro de Carvalho, os Peixoto de Castro, os Mello Alves, os Guilherme da Silveira, os Orleans e Bragança. Mas elas também sumiram.

Os colunistas de hoje estão mais atentos aos líderes das possíveis novas dinastias, todos já com admiradores na casa dos milhões.

DESTAQUES – Vide o sr. Iran Luva de Pedreiro, youtuber e influenciador internacional, na flor dos seus 21 anos; o sr. Antonio Cara de Sapato, ex-BBB e ex-lutador de MMA; e o sr. Gil do Vigor, também ex-BBB, criador da dança do tchaki-tchaki e autor do livro “Tem que Vigorar! Como me Aceitei, Venci na Vida e Realizei Meus Sonhos”. Dizem que o sr. Vigor tem aspirações à Presidência.

Políticos há vários notáveis. O sr. Yuri do Paredão, no noticiário há dias ao ser convidado a desligar-se do PL por ter feito um “L” pelo presidente Lula. O sr. Emerson Boca Aberta, cujo filho, sr. Boca Aberta Jr., é também político.
Há pouco, o sr. Boca Aberta se destacou por sua querela física com o deputado sr. Arthur Mamãe Falei, pelas ruas de Londrina.

DOIS FUFUCAS – E, claro, o sr. André Fufuca, dito Fufuquinha, filho do sr. Fufuca Dantas, atual prefeito de Alto Alegre do Pindaré (MA). O sr. Fufuca é um forte ministeriável de Lula.

Promissora dinastia é a da sra. Dani do Waguinho, ex-ministra do Turismo e casada com o sr. Waguinho, prefeito de Belford Roxo (RJ), que tem como secretária da Cidadania sua irmã Fabiana do Waguinho. E não se pode esquecer, claro, o governador do Paraná, sr. Ratinho Jr., filho do sr. Ratinho, estimado animador de auditório.

É o novo Brasil!

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nosso querido amigo Ruy Castro esqueceu um fato significativa. No casamento fechado e exclusivo de Lula e Janja da Silva, que teve apenas 150 convidados, um dos mais festejados pelo casal e pela imprensa era justamente o sr. Gil do Vigor, que fez questão de levar a mãe e foi atendido. (C.N.)

Reparações históricas e desculpas oficiais sempre vêm na rabeira da própria História

Emmett Till And His Mother Are Back In Mississippi For An Exhibition  Sharing Their Story With A New Generation

Amparada pela mãe, Emmet no velório do filho trucidado

Dorrit Harazim
O Globo

Há duas semanas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a criação de um Monumento Nacional em memória do menino negro Emmett Till e de sua mãe, Mamie Till-Mobley. Na verdade, serão três os monumentos que evocarão o assassinato de Emmett, com requintes de selvageria, por supremacistas brancos nos idos de 1955.

O primeiro será erguido na igreja de Chicago onde o garoto fora velado; o segundo, na ravina do Rio Tallahatchie, no Mississippi, onde encontraram seu corpo brutalizado; e um terceiro, certamente o mais significativo, na entrada do tribunal onde os matadores confessos, dois irmãos graúdos, foram rapidamente absolvidos por um júri branco.

EM CAIXÃO ABERTO – À época, a mãe-coragem de Emmett obrigara o país a encarar o que restara do filho: uma massa disforme e desumanizada exposta em caixão aberto, sem retoques. Como já relatado neste espaço, a atrocidade serviu de catalisador para o Movimento pelos Direitos Civis que galvanizaria o país na década seguinte.

Passaram-se quase 70 anos. Desde então, 12 presidentes ocuparam a Casa Branca. Ainda assim, Biden achou necessário explicar ao país o motivo de um memorial nacional para os dois corpos negros.

— Vivemos tempos em que se tenta banir livros, enterrar a História — disse o presidente. — Por isso queremos deixar bem claro e cristalino: embora a treva e o negacionismo possam esconder muita coisa, não conseguem apagar nada. Não devemos aprender somente aquilo que queremos saber. Devemos poder aprender o que é preciso saber.

NA RABEIRA DA HISTÓRIA – Reparações históricas e desculpas oficiais costumam vir na rabeira da própria História. E com frequência nada reparam. Ainda assim, acabam compondo um retrato das feridas de cada nação. No caso atual, a iniciativa de Biden não deve ser descartada como mero artifício eleitoreiro visando ao pleito de 2024.

Há também uma real preocupação com um surto de apagamento histórico em curso na América profunda e retrógrada. Quando governadores extremados como Ron DeSantis, da Flórida, ou Greg Abbott, do Texas, ordenam escolas e bibliotecas públicas a varrer das estantes clássicos da literatura negra e LGBTQIA+, um monumento nacional à coragem de Mamie Till chega em boa hora.

Para a população negra dos Estados Unidos, existe uma ferida coletiva que nenhuma reparação ainda conseguiu cicatrizar. Ela tem nome extenso: Estudo Tuskegee de Sífilis Não Tratada no Homem Negro. Trata-se do mais longo experimento não terapêutico em seres humanos da História da medicina.

POR 40 ANOS – O experimento durou de 1932 até 1972 e teve como propósito estudar os efeitos da sífilis em corpos negros. Por meio de concorridos convites divulgados em igrejas e plantações de algodão, o Instituto de Saúde Pública da época selecionou 600 homens, todos filhos ou netos de escravizados.

A grande maioria nunca tinha se consultado com médico. No grupo, 399 estavam contaminados pela doença, e 201 eram sadios. Aos contaminados foi informado apenas serem portadores de “sangue ruim”. Como o estudo visava à observação da doença até o “ponto final” — a autópsia —, os doentes foram ficando cegos, dementes e morreram sem conhecer a penicilina, que a partir dos anos 1940 se tornou o tratamento de referência para sifilíticos. A família dos que morriam recebia US$ 50 para cobrir o enterro. A pesquisa só foi interrompida em 1972, quando o jornalismo da Associated Press revelou a história, levando o governo americano a pagar US$ 10 milhões em acordo coletivo com os sobreviventes.

DISSE CLINTON – Oito deles, já quase nonagenários, estavam no Salão Leste da Casa Branca em maio de 1997 quando o então presidente Bill Clinton pediu desculpas públicas pelo horror cometido. Em discurso marcante, falou em nome do povo americano:

— O que foi feito não pode ser desfeito. Mas podemos acabar com o silêncio, parar de desviar do assunto. Podemos olhá-los de frente para finalmente dizer que o que o governo dos Estados Unidos fez foi uma ignomínia, e eu peço desculpas.

Ainda assim, passado menos de um ano, nova barbárie experimental veio à luz, desta vez com cem meninos negros e hispânicos de Nova York arrebanhados por três instituições de renome científico. Todos eram irmãos caçulas de delinquentes juvenis e tinham idade entre 6 e 11 anos.

VIOLÊNCIA HUMANA – O estudo pretendia demonstrar a correlação entre determinados marcadores biológicos e o comportamento violento em humanos. Para isso, aplicaram nas crianças injeções intravenosas de fenfluramina, substância posteriormente associada a danos à válvula mitral. Às mães que os levavam ao local do experimento foi oferecida uma recompensa de US$ 125.

Tudo isso e muito mais faz parte do pesado histórico de abuso de corpos negros, até mesmo em nome da ciência. Não espanta, portanto, a rejeição quase atávica à obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19 manifestada pela população negra em tempos recentes. A retirada de circulação ou dificuldade de acesso a livros que narram essas vivências deveria ser impensável em 2023. É sinal de uma sociedade adoecida pelo medo de livros.

Atividades de alto custo social, como jogos e drogas, deveriam pagar impostos mais altos

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Iotti (Gaúcha/Zero Hora)

Hélio Schwartsman
Folha

Moralismo não é o meu forte. Não me oponho ao jogo, nem às drogas, nem à prostituição. Desde que as partes não sejam forçadas por terceiros a fazer o que não desejem, não é função do Estado determinar o que as pessoas fazem com seu dinheiro, suas mentes ou seus corpos.

Daí não decorre que o poder público seja um completo desinteressado nessas matérias. Muitas vezes, é a coletividade que paga por decisões individuais que se mostrem custosas. O caso mais notório é o da utilização de drogas. Uma parte dos usuários acaba desenvolvendo problemas mais sérios, que incluem agravos à saúde física e mental e redução da produtividade.

É JUSTO TRIBUTAR – Como não me parece que seja o caso de abandonar dependentes químicos à própria sorte, deixando-os na sarjeta, acho que é mais justo tributar mais fortemente as atividades econômicas que geram esse tipo de problema do que jogar a totalidade dos ônus no caixa geral.

 Não é uma solução perfeita, mas é melhor que os usuários de drogas paguem proporcionalmente mais do que o conjunto da sociedade pelos problemas que elas causam.

Algo parecido vale para o jogo. Apostadores patológicos acabam gerando custos para o erário. É mais justo que a maior fatia dessa conta seja dividida com outros jogadores do que empurrada para o conjunto dos contribuintes, incluindo aqueles que não jogam.

ERRO DE CÁLCULO – Parece-me equivocada assim a MP do governo que estabelece para as apostas esportivas uma alíquota de impostos inferior à cobrada de atividades com menor custo social.

Pela proposta do governo, os jogadores pagarão uma alíquota de 18% sobre as receitas das apostas, descontados os prêmios. Pelo andar da reforma tributária, hospitais privados terão uma alíquota de 25%.

Se a ideia da reforma tributária é imprimir racionalidade ao sistema de impostos, começamos mal. Na maior parte do mundo civilizado, jogos e drogas pagam mais tributos do que atividades essenciais como a saúde.

De olho no futuro, vários partidos já abrem a disputa pela sucessão de Lira em 2025

Lula e Lira se reúnem às véspera de votação de PEC da Transição

Lula sabe que não aprova nada sem ter o apoio de Lira

Tatiana Azevedo
Gazeta do Povo

Partidos já começaram a se articular para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados, mesmo faltando um ano e meio para a próxima eleição que definirá o comando da Casa. Nomes do Republicanos e do União Brasil já despontam como os mais cotados e a tendência é que Lira consiga fazer um sucessor com apoio do governo petista.

Ninguém ainda fala abertamente sobre o assunto, mas a presidência da Câmara já é tema informal de algumas reuniões e conversas de bastidores, como nas rodas de bate-papo no Salão Verde da Câmara.

DOIS NOMES – Um deputado do Republicanos, que integra o bloco formado com MDB, PSD, PSC e Podemos e é próximo às lideranças, disse à Gazeta do Povo, em condição de anonimato, que já despontam nos bastidores os nomes do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), e do líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que integra o outro grande bloco formado por PP, União Brasil, Federação PSDB-Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota.

Nascimento, segundo ele, seria o preferido de Lira por ser do mesmo bloco partidário e amigo pessoal do atual presidente da Câmara – e do próprio governo.

Além disso, o líder do União foi um dos convidados por Lula para a comemoração realizada no Palácio da Alvorada depois de concluídas as votações da reforma tributária e do Carf.

FORAM PRÉ-CANDIDATOS – Tanto Pereira quanto Nascimento almejam a presidência da Câmara já há algum tempo. Eles se apresentaram como pré-candidatos nas eleições em 2021, mas acabaram apoiando Arthur Lira.

Os dois deputados não são garantia de “apoio” a Lula na Câmara, mas têm feito esforços para se aproximar do governo nos últimos tempos. Nascimento foi fundamental no convencimento da bancada do União horas antes da votação da reforma tributária.

O partido estava no centro da disputa pelo ministério do Turismo, e, depois de um anúncio da permanência de Daniela Carneiro no cargo, ameaçou adiar a votação.

FINAL FELIZ – Mas a resistência foi contornada em seguida pela confirmação da troca da ministra por Celso Sabino (PA), e Elmar Nascimento conseguiu garantir os votos de 48 dos 59 deputados da bancada, em favor da reforma.

E na disputa da sucessão de Lira ainda correm por fora os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), e do PDT, André Figueiredo (CE), que tentam ganhar espaço na corrida pela presidência e são presenças fortes no Centrão.

Para o deputado do Republicanos ouvido pela reportagem, essa divisão de candidatos dentro do mesmo bloco partidário pode acabar gerando um “racha” nos blocos e embolando a disputa.

(Reportagem enviada por Mário Assis Causanilhas)

Livre-debate não pode aceitar participantes que tenham comportamento do tipo “robô”

Cartuns Alpino (cartunsalpino) - Profile | Pinterest

Charge do Alpino (Arquivo Google)

Duarte Bertolini

Contraditório, para mim, é a defesa de ideias diversas, com argumentos e fatos (se possível) ou então com valores e ideias. Aqui na Tribuna há muitos debatedores com um comportamento tipo robô, adotando posicionamento incondicional contra ou a favor de um dos ídolos polarizantes – Lula ou Bolsonaro.

Interessante é que todos os que não se alinham automaticamente a uma dessas duas maravilhosas opções a que chegamos no Brasil são imediatamente acusados de serem do outro lado, conforme a facção de quem está fazendo a crítica.

BARCA FURADA – Já disse muitas vezes. Eu era militante ativo do PT. Quando percebi a barca furada em que estava (pós 2002/2003) fui gradativamente abandonando a participação alinhada ao petismo, suas ideias e ideais.

Em 2018, votei em Bolsonaro pela convicção de que era necessário parar a soberba, a arrogância e a voracidade do PT. Foi outro erro de igual calibre, mas, pelo menos, interrompeu a consolidação da estrela no firmamento brasileiro.

Mas eis que na sua volta redentora, em 2022, tive a ilusão de que o PT e sua turma poderiam estar mudados e representar um prejuízo um pouco menor do que a continuação trágica de Bolsonaro.

NÃO APRENDEU NADA – Porém, como dizia Maluf, o PT “não esqueceu nada e não aprendeu nada”. A arrogância, a soberba, a militância agressiva e feroz, tudo isso continua ativo, e agora talvez mais azeitado, mais deplorável.

Bolsonaro está com seus direitos políticos cassados e, em consequência, com pouco poder e margem de manobra. Inclusive é réu de vários processos. Já condenado em um deles e com direitos políticos suspensos, é carta fora do baralho, pois a Justiça, a Polícia Federal e a imprensa não dão sossego, buscando lhe imputar os crimes praticados e também os imaginados…

Flávio Dino é ministro da Justiça e homem forte nessa política de vingança e terra arrasada contra quem ousou enfrentar a onda “democrática”. Seu papel é o de vingar Lula e livrar o PT de todos os dissabores, como se o ministro também fosse refém do passado petista. É pena.

Se for condenado, Trump não poderá ser candidato; uma questão moral de bom senso

Trump tentou  impedir a proclamação da vitória de Biden

Pedro do Coutto

Comentaristas da política americana têm levantado dúvidas se mesmo condenado pela Justiça (processos não faltam), o ex-presidente Donald Trump poderá concorrer às eleições de novembro de 2024 e ser eleito para um novo mandato na Casa Branca. Baseiam-se no fato de a Constituição dos Estados Unidos não prever a hipótese de tal impedimento.

Mas isso conduz a um universo interpretativo baseado num princípio moral de bom senso que impede que o homem que tentou fraudar as eleições de 2020 e impedir a proclamação da vitória de Joe Biden, possa novamente disputar a Presidência da República. Um absurdo completo que é facilmente identificado no princípio substantivo do bom senso e do direito comparado, pois se um criminoso comum é privado da liberdade, como proporcionar a um condenado incomum a liberdade de governar o país?

BOM SENSO – Não faz o menor sentido quando se pensa objetivamente sobre a atmosfera que envolveria a maior economia do planeta sob o comando de alguém que poderia encontrar-se recolhido à prisão. Direito, como disse há pouco, é uma questão de bom senso e que, naturalmente, fixa limites no comportamento humano. Não é possível, portanto, que um prisioneiro da Justiça encontre-se livre para dialogar – aqui vai apenas um exemplo – com presidentes de outros países. Como será possível um presidente prisioneiro encaminhar a mensagem anual ao Congresso do país?

Portanto, passando da hipótese não prevista na Constituição a que tal lacuna possa ser preenchida na prática, equivaleria, sem dúvida, a permitir a qualquer condenado judicialmente a ser candidato a algum cargo político. Não tem cabimento. Os leitores e as leitoras certamente já sentiram a atmosfera que seria gerada não só nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro, se Donald Trump, condenado e preso, concorresse pelo partido Republicano e vencesse as eleições.

A sua posição no partido Republicano é bastante sólida. Pesquisas apontam um índice de aceitação de 61%. Mas, mesmo na hipótese de vencer a convenção partidária, levaria para a campanha eleitoral uma divisão capaz de derrotá-lo no caminho das urnas. Há divisões no Partido Republicano que poderiam abrir uma dissidência nas eleições que ele, Trump, ambiciona.

ACUSAÇÃO – Mas não é apenas este o caso. A questão é que Trump é acusado de buscar na Geórgia – estado de Jimmy Carter, que já foi presidente dos Estados Unidos –  votos fraudados para levá-lo a conquistar esse colégio importante para o desfecho final das eleições. A mais grave acusação contra ele está na invasão do Capitólio e no esforço para impedir a diplomação do vencedor, Joe Biden. No episódio, é bom lembrar, morreram cinco pessoas e o ato causou um repúdio geral nos países democráticos, exceção do Brasil, de Jair Bolsonaro à época, cujas correntes repetiram a investidas dois anos depois em nosso país.

Por todos esses fatores, sou de opinião que nem tudo que não está escrito na Constituição e nas leis pode ser praticado. Não há dispositivos, tampouco poderia haver, destinados a impedir crimes de morte, de roubo, de peculato, de assaltos. Não está escrito, mas as penas existem. Logo, o impedimento está caracterizado pelo fato em si, não pelo texto legal que os impede. Se assim não fosse, as Constituições dos países seriam livros intermináveis, estabelecendo minuciosamente todas as impossibilidades que caracterizam as sociedades organizadas e civilizadas.

A candidatura de Donald Trump torna-se impossível, não apenas em face do que o Partido Republicano vier a decidir, mas sim em função do que a Suprema Corte inevitavelmente venha a resolver. Os conflitos humanos são de uma amplitude enorme, mas as suas soluções dentro da lei têm que ser decididas pelo Poder Judiciário. Não é porque a lei não impede isso ou aquilo que homens e mulheres possam se julgar imunes aos princípios morais e éticos que regem o relacionamento entre as pessoas e também o relacionamento entre o poder e a sociedade. Trump infringiu e ultrapassou os limites do impossível. Com isso, tornou a sua nova candidatura inviável.  

CRÉDITO ROTATIVO – Numa reportagem na edição desta sexta-feira do Estado de S. Paulo, Bianca Lima focaliza divergências entre os bancos e as lojas comerciais de varejo quanto às taxas cobradas (absurdas) pelo sistema bancário. Os cartões de crédito chegaram este ano a cobrar juros de 437% por 12 meses. Não há quem consiga pagar dívidas assim.

Os casos de inadimplência se multiplicam, abrangendo 74 milhões de homens e mulheres. O governo tenta mediar o assunto, mas nessa escala de juros qualquer acordo torna-se impossível. É perder tempo. Medidas executivas têm que ser colocadas em prática.

Campos Neto é o melhor gestor público do Brasil e isso é insuportável para Lula

Campos Neto já ganhou reconhecimento internacional

J.R. Guzzo
Gazeta do Povo

O Banco Central decidiu reduzir a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, depois de uma longa e paciente caminhada para combater as ameaças de disparada da inflação que apareceram junto com a Covid. Foi um combate extremamente bem-sucedido – pela primeira vez na história, a inflação anual do Brasil, em 2022, ficou abaixo da inflação dos Estados Unidos, da Alemanha e de outros exemplos mundiais de seriedade econômica.

Hoje está menor ainda. Pode haver uma prova mais clara de competência na gestão de um Banco Central? Os números mostram que não.

APROVAÇÃO MUNDIAL – A comunidade financeira mundial, que tem um julgamento neutro sobre as questões de estabilidade da moeda – e trabalha apenas com realidades, não com demagogia – deu aprovação unânime e vigorosa a tudo o que o Brasil tem feito para enfrentar a inflação.

Seu presidente, Roberto Campos Neto, foi eleito em 2022 como o melhor presidente de banco central da América Latina, por seu desempenho diante da desgraça geral da pandemia, da guerra da Ucrânia e outros traumas da economia global. O real é hoje uma das moedas mais estáveis do mundo, e as reservas internacionais do Brasil em divisas, atualmente em 350 bilhões de dólares, estão entre as dez maiores do planeta.

No Brasil de Lula, do PT e dos “economistas de esquerda”, porém, Campos é amaldiçoado todos os dias como o responsável único e direto por todos os problemas que possam existir na sociedade. Não há, naturalmente, fundamento técnico nenhum para essas agressões. O que há, desde o primeiro dia, é a desonestidade, a má fé e o uso deliberado da fraude como método de ação política que estão na alma de todos os governos Lula.

O JUDAS DO BRASIL – Lula decidiu, e o cardume de bajuladores-raiz que tem em volta de si foi atrás automaticamente, que o presidente do Banco Central tinha de ser o judas do Brasil. Jogam em cima dele todas as culpas por sua própria incompetência – e a sua incapacidade fundamental em resolver qualquer das dificuldades do Brasil, sobretudo as que eles próprios criaram.

Está ruim? A culpa não é nossa. É “do Campos”. Nunca tiveram a menor intenção de fazer um debate sério em relação aos juros, ou de apresentarem uma única ideia útil para a política monetária.

Em vez de discordar com respeito e com a sugestão de alternativas, o que seria a obrigação elementar de um presidente da República, Lula e o PT só fizeram insultos. Campos, a um momento, foi chamado de “este cidadão” por Lula.

CULPEM O CAMPOS NETO – No Brasil de Lula, do PT e dos “economistas de esquerda”, porém, Campos é amaldiçoado todos os dias como o responsável único e direto por todos os problemas que possam existir na sociedade

O problema do presidente do Banco Central é que ele é hoje, disparado, o melhor gestor público do Brasil – e não foi nomeado por Lula, não precisa dele para nada e, por lei, trabalha com autonomia em relação ao governo.

O rancor básico que comanda a cabeça de Lula, e a inveja rasteira que faz parte do seu DNA, o levaram a surtar de novo, no mesmo dia em que o BC baixava os juros – aliás, com o voto decisivo de Campos a favor na redução.

ENTENDER DE BRASIL? – O presidente da República acusou o presidente do BC de não entender nada “de Brasil” e “do povo”; disse, também, que não sabe quais os “interesses” que ele “defende”.

O presidente do Banco Central, para o interesse do cidadão, não tem de entender “de Brasil”. Tem de entender de estabilidade monetária – é esse o seu trabalho, e ele está fazendo seu trabalho melhor do que ninguém.

“O Banco Central brasileiro conseguiu um feito que tem sido perseguido por todas as autoridades monetárias globais: um pouso suave da economia, com controle da inflação”, disse a Goldman Sachs, um termômetro básico do consenso financeiro mundial. Lula não suporta ouvir essas coisas.

(Artigo enviado por Celso Serra)