Rosa, a mulher inesquecível que enfeitiçou Pixinguinha e Otavio de Sousa

Galeria dos Bambas: Pixinguinha - Kandyru

Pixinguinha era um compositor extraordinário

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O compositor e mecânico Otávio de Sousa, na letra de “Rosa”, parceria com Pixinguinha, expressa o mais alto refinamento do romantismo do início do século XX. Esta valsa foi gravada por Orlando Silva, em 1937, pela RCA Victor.

ROSA
Pixinguinha e Otávio de Sousa

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer

Um poema de Adélia Prado começado do fim, no caminho do céu

A nossa gigante @euadeliaprado sobre receber o prêmio Camões. Divina! ❤️ #frase #poesia #poema #citação #adeliapradoPaulo Peres
Poemas & Canções

A extraordinária professora, escritora e poeta mineira Adélia Luzia Prado de Freitas não teve dúvidas ao afirmar que, um “Poema Começado do Fim” pode levar até a estrada do céu.

POEMA COMEÇADO DO FIM
Adélia Prado

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.

“Metade”, uma poesia de Montenegro, que Ferreira Gullar julgou que fosse sua…

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Oswaldo Montenegro, grande cantor e poeta

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Oswaldo Viveiros Montenegro compôs a espetacular canção “Metade”, que traduz nossa dualidade na existência, ou seja, somente somos completos no amor. Na época, o poeta e acadêmico Ferreira Gullar (1930/2016), chegou a afirmar que a música seria inspirada em seu famoso poema “Traduzir-se”, mas estava enganado.

Oswaldo Montenegro mostrou que “Metade” era anterior ao poema “Traduzir-se”, porque a letra foi impressa no libreto do show “João Sem Nome”, em 1974, quando começou a ser cantada por Montenegro, enquanto o poema “Traduzir-se”, de Gullar, só foi publicado em 1980.

Em seguida, Raimundo Fagner musicou e gravou “Traduzir-se”, e tudo acabou numa boa.

“METADE”
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é plateia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

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“TRADUZIR-SE”
Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Um poema saudando a saudade, na sensibilidade de Alice Ruiz de

Artistas e pesquisadores debatem a canção popular | Unicamp

Alice Ruiz fez de sua vida um poema

Paulo Peres
Poemas & Canções

A publicitária, tradutora, compositora e poeta curitibana, Alice Ruiz Scherone, criou um poema muito especial para fazer sua “Saudação da Saudade”.

SAUDAÇÃO DA SAUDADE
Alice Ruiz

Minha saudade
saúda tua ida
mesmo sabendo
que uma vida
só é possível
noutra vida

Aqui, no reino
do escuro
e do silêncio
minha saudade
absurda e muda
procura às cegas
te trazer à luz

Ali, onde
nem mesmo você
sabe mais
talvez, enfim
nos espere
o esquecimento

Aí, ainda assim
minha saudade
te saúda
e se despede
de mim

Para o poeta Álvares de Azevedo, o amor era um sentimento arrebatador

Feliz daquele que no livro d'alma não... Álvares de Azevedo - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, ensaísta, contista e poeta paulista Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852) declara que, através do “Amor”, deseja viver todos os momentos junto de sua amada.

AMOR
Álvares de Azevedo

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Uma desesperada canção de amor, na poesia realista de Ana Cristina Cesar

Tribuna da Internet | Ana Cristina Cesar, genial poeta, em busca de um amor cada vez mais difícilPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da chamada geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. No poema “Samba-Canção”, Ana Cristina revela que fez tudo para conquistar seu amado, mas acabou sendo demais.

SAMBA-CANÇÃO
Ana Cristina César

Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário,
cara pálida que desconhece

o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz…

Um belo argumento de Paulinho da Viola, em defesa do tradicional samba de raiz

Paulinho da Viola: 'Bolsonaro joga brasileiros... | VEJA RIO

Paulinho da Viola, grande mestre do samba

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola, é tido como um dos mais talentosos representantes da MPB. A letra de “Argumento” é um protesto contra a inclusão do piano nos sambas, que Benito de Paula colocava, naquela época, em que os sambistas clássicos não aceitavam a falta dos instrumentos essenciais, como cavaco, pandeiro e tamborim. Este samba, com várias gravações, faz parte do CD Meus Momentos, de Paulinho da Viola, gravado em 1999.

ARGUMENTO
Paulinho da Viola

Tá legal
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
De quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar

Os três momentos de liberdade no amor, na poesia de Antonio Cícero

Maria Padilha - Antonio Cicero compositor, poeta, ensaísta, crítico  literário, filósofo e escritor brasileiro. compôs: Fullgás, À Francesa,  Maresia e Ultimo Romântico, entre outras. Meu grande amigo e uma das  pessoas maisPaulo Peres
Poemas & Canções

O filósofo, escritor, letrista e poeta carioca Antonio Cícero Correa Lima (1945-2024), da Academia Brasileira de Letras, ao final de “Três” momentos, revela sua ânsia de liberdade no amor e no sexo.

TRÊS
Antonio Cícero

Um
Foi grande o meu amor
não sei o que deu
quem inventou fui eu
fiz de você o sol
da noite primordial
e o mundo fora nós
se resumia a tédio e pó
quando em você
tudo se complicou

Dois
Se você quer amar
não basta um só amor
não sei como explicar
um só é sempre demais
pra seres como nós
sujeitos a jogar
as fichas todas de uma vez
sem temer naufragar
não há lugar para lamúrias
essas não caem bem
não há lugar para calúnias
mas por que não
nos reinventar

Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com o seu sexo
Junto ao mar

Veja o que o poeta Paulo Leminski achava que nunca iríamos saber

Você nunca vai saber o que vem depois... paulo leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) expressa no poema “Objeto Sujeito” tudo quanto nunca saberemos.

OBJETO SUJEITO                                                Paulo Leminski

Você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra Pasárgada
Xanadu ou Shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olhe lá

As pombas de Raymundo Corrêa voltam, mas seus sonhos não voltam jamais…

Biografia dos Patronos: Raymundo Correia

Correa, um dos fundadores da Academia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O magistrado, professor, diplomata e poeta maranhense Raymundo da Motta de Azevedo Corrêa Sobrinho (1859-1911) no soneto “As Pombas” cria uma relação entre a rapidez da adolescência e o tempo. Neste sentido, o (pombal) significa as pessoas na adolescência e as pombas são os sonhos destes jovens.

Logo, trata-se de um soneto pessimista, já que aparece a angústia do autor perante a passagem rápida do tempo, tendo em vista os tempos bons e as paixões da adolescência. 

AS POMBAS
Raimundo Corrêa

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
raia sanguínea e fresca a madrugada…

E à tarde, quando a rígida nortada
sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
ruflando as asas, sacudindo as penas,
voltam todas em bando e em revoada…

Também dos corações onde abotoam,
os sonhos, um por um, céleres voam,
como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
e eles aos corações não voltam mais…

O tempo que marca a eternidade da poesia de Paulo Mendes Campos

Um desesperado e florido poema de amor, na obra de Paulo Mendes Campos -  Flávio ChavesPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, escritor e poeta mineiro Paulo Mendes Campos (1922-1991) explica que o instante é tudo, no soneto “Tempo e Eternidade”. Em seus olhos, o tempo é uma cegueira e a eternidade uma bandeira aberta à solidão.

TEMPO E ETERNIDADE
Paulo Mendes Campos

O instante é tudo para mim que ausente
Do segredo que os dias encadeia
Me abismo na canção que pastoreia
As infinitas nuvens do presente.

Pobre do tempo, fico transparente
À luz desta canção que me rodeia
Como se a carne se fizesse alheia
À nossa opacidade descontente.

Nos meus olhos o tempo é uma cegueira
E a minha eternidade uma bandeira
Aberta em céu azul de solidões.

Sem margens, sem destino, sem história
O tempo que se esvai é minha glória
E o susto de minh’alma sem razões.

Nuvens no céu são ateliê do vento, na visão poética de Paulo Peres

Tribuna da Internet | No colo da mãe natureza, Paulo Peres criou versos nas  nuvens do ateliê do vento

Paulo Peres, grande poeta e compositor

Carlos Newton

O advogado, jornalista, analista judiciário aposentado do Tribunal de Justiça (RJ), compositor e poeta carioca Paulo Roberto Peres, inspirou-se na natureza para escrever o poema “Nuvens, Ateliê do Vento”.

NUVENS, ATELIÊ DO VENTO
Paulo Peres

A caneta do vento escreveu
Poemas de Nuvens

O cinzel do vento esculpiu
Mulheres de Nuvens

O pincel do vento pintou
Jardins de Nuvens

A caneta, o cinzel e o pincel
São veios infindos do vento

Qual estro, nos astros vagueiam
Raios de sonhos tangentes

Nuvens no céu,
Ateliê do vento,
No colo da mãe natureza

“Nada a temer senão o correr da luta, nada a fazer senão esquecer o medo…”

A vida do menino que vendia balas e emocionou Luiz Carlos Sá - Flávio Chaves

Luiz Carlos Sá, grande compositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, cantor e compositor carioca Luiz Carlos Pereira de Sá, o Sá do trio Sá, Rodrix e Guarabira, com seu parceiro Sergio Magrão, fala na letra de “Caçador de Mim” sobre os polos da vida: momentos de doçura, bondade, ferocidade e agressividade.

Portanto, a vida tornou o compositor um “buscador” de si mesmo, à procura daquilo que, realmente,  faz-lhe sentir-se em paz e harmonia consigo mesmo.

A música “Caçador de Mim” transformou-se em um grande sucesso, gravada por Milton Nascimento, em 1981, no LP Caçador de Mim, pela Ariola.

CAÇADOR DE MIM
 Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá

Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções, entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar longe do meu lugar
Eu caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito à força numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu caçador de mim.

Uma poesia mais livre e espontânea ansiada por Rachel de Queiróz

Quando se houverem acabado os soldados... Rachel de Queiroz - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A romancista, contista, tradutora, jornalista e poeta cearense Rachel de Queiróz (1910-2003), em “Geometria dos Ventos”, mostra a poesia livre, sem limites de idioma, espontânea.

GEOMETRIA DOS VENTOS
Rachel de Queiróz

Eis que temos aqui a Poesia, a grande Poesia.
Que não oferece signos nem linguagem específica,
não respeita sequer os limites do idioma.

Ela flui, como um rio. como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada –
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável da sua lapidação.

Onde se conta uma história, onde se vive um delírio;
onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério
ao mesmo tempo fácil e insolúvel da sua tragédia.

Sim, é o encontro com a Poesia.

Um prelúdio para a paz do amor, na inspiração de Luiz Vieira

Luiz Vieira - Musicas E Videos

Luiz Vieira foi criador de muitos sucessos

Paulo Peres
Poemas & Canções

A letra de “Paz do meu amor (Prelúdio nº 2)” idolatra de uma forma poética a conquista do amor infindo pelo radialista, cantor e compositor pernambucano Luiz Rattes Vieira Filho (1928-2020), o famoso Luiz Vieira. A música foi um de seus maiores sucessos, que ele próprio gravou, em 1963, pela Copacabana.

PAZ DO MEU AMOR (Prelúdio nº 2)
Luiz Vieira

Você é isso:
Uma beleza imensa,
Toda recompensa
de um amor sem fim.

Você é isso:
Uma nuvem calma
No céu de minh’alma;
é ternura em mim.

Você é isso:
Estrela matutina,
Luz que descortina
um mundo encantador.

Você é isso: É
parto de ternura,
Lágrima que é pura,
paz do meu amor.

O grande poeta Márcio Borges e seus sonhos que não envelhecem…

Letrista, Márcio Borges, fala sobre sua composição na música 'Clube da  Esquina' de Milton Nascimento | Programão de Sábado | Rede Globo

Borges, o poeta que nos ensinou a sonhar

Paulo Peres
Poemas & Canções

O escritor, diretor do Museu do Clube da Esquina e poeta mineiro Márcio Hilton Fragoso Borges é, sem dúvida, um dos melhores letristas do nosso cancioneiro popular, criador da expressão “os sonhos não envelhecem”.

Na letra de “Clube da Esquina II”, feita com seu irmão Lô e Milton Nascimento, Márcio Borges fala de um tempo que não existe mais, de um tempo de lutas, de persistência, de não se render. Vale ressaltar que a letra casa bem com a luta pela sobrevivência do homem na sociedade com a luta contra os absurdos da ditadura militar, então, vigente no país desde 1964.

Além disso, é um canto de uma juventude que soube compreender seu tempo, seus medos, suas angústias e suas derrotas, mas não desistiu, é um Clube da Esquina, esquina de amigos que estavam tentando vencer na vida, assim como os amigos que tentavam vencer a ditadura, belo paralelo, pois acabou a ditadura, mas o Clube da Esquina, a luta e persistência para vencer na vida, sociedade é algo sempre presente, por isso a música “Clube da Esquina II” será eterna.

A música “Clube da Esquina II” foi gravada por Milton & Lô Borges no LP Clube da Esquina, em 1972, pela Odeon.

CLUBE DA ESQUINA II
Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges

Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço…

Por que se chamava homem
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos…

E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio,
De tudo se faz canção
E o coração na curva de um rio, rio…

E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio,
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente, gente.

Um poema perplexo com o final de um amor que parecia perfeito

Autores friburguenses se destacam na FLINF : Nova Friburgo em Foco – Portal de Notícias

Marina e Affonso, eternos namorados

Paulo Peres
Poemas & Canções

Eles formavam o mais famoso casal da literatura Brasília, num casamento perfeito, até que a jornalista, escritora e editora de TV Marina Colasanti se foi, aos 87 anos, vítima de pneumonia, em 28 de janeiro. Algumas semanas depois, em 4 de março, o escritor e poeta Affonso Romano de Sant’Anna foi se juntar a ela, também aos 87 anos, com problemas neurológicos.

Deixaram vasta obra, que para sempre será lembrada, como esse “Separação”, com tudo que acontece quando se desmonta a casa e o amor: sentimentos, momentos, conversas, filhos, vizinhos, perplexidade, futuro, indecisão etc.

SEPARAÇÃO
Affonso Romano de Sant’Anna

Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
após a tempestade
das conversas.
O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermeio.

Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juizo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã
ante os destroços junto à porta:
– pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se
de pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
modo de botar a mesa. Amou-se
um certo modo de amar.

No entanto, o amor bate em retirada
com suas roupas amassadas, trocas de insultos,
malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendem
numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora,
envergonhado.

Erguerá outra casa, o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta afora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
mais que uma mala de chumbo.

Amar a morte como quem ama a vida, recomendava Mário de Andrade

Retrato de Mário de Andrade, por Lasar Segall

Paulo Peres
Poemas & Canções

O romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte, fotógrafo e poeta paulista Mário Raul de Moraes Andrade (1893-1945) confessa, no poema “Quarenta Anos”, que pretende amar a morte com o semelhante engano que amou a vida.

QUARENTA ANOS
Mário de Andrade

A vida é para mim, está se vendo, 
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar… Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado… Horrendo

Seria agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!…Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

Uma menina dançando sozinha, junto com o vento, na poesia de Quintana 

Esta vida é uma estranha hospedaria, De... Mario Quintana - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, tradutor e poeta gaúcho Mário de Miranda Quintana (1906-1994) inspirou-se na “Dança” solitária de uma menina, cujo par era o vento.

DANÇA
Mário Quintana

A menina dança sozinha
por um momento.

A menina dança sozinha
com o vento, com o ar, com
o sonho de olhos imensos…

A forma grácil de suas pernas
ele é que as plasma,
o seu par de ar, de vento,
o seu par fantasma…

Menina de olhos imensos,
tu, agora, paras,
mas a mão ainda erguida
segura ainda no ar
o hastil invisível
deste poema!

“Todo morro entendeu quando o Zelão chorou”, cantava Sérgio Ricardo

Sérgio Ricardo foi incompreendido e pouco ouvido, diz jornalista – Jornal  da USP

Sérgio Ricardo foi um grande artista multimídia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cineasta, artista plástico, instrumentista, cantor e compositor paulista João Lutfi (1932-2020), que adotou o pseudônimo de Sérgio Ricardo, afirma que a letra da música  ”Zelão” já apresentava uma ruptura com a temática da bossa nova, pois saiu do perímetro da classe média para atingir a favela. “Zelão” ajudou a abrir as consciências de seu tempo, em torno do engajamento da arte com a justiça social. A música faz parte do LP A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo, lançado em 1960 pela Odeon.

ZELÃO
Sérgio Ricardo

Todo morro entendeu
Quando o Zelão chorou
Ninguém riu nem brincou
E era carnaval

No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só

Mas assim mesmo Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre
Até melhorar

Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração

Todo morro entendeu
Quando o Zelão chorou
Ninguém riu nem brincou
E era carnaval