Acabou nosso carnaval e nos corações saudades e cinzas foi o que restou…

A parceria começou em 1961, quando o... - Vinicius de Moraes | Facebook

Vinicius e Lyra, parceiros e amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, advogado, jornalista, dramaturgo, compositor e poeta carioca Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes (1913-1980) escreveu com Carlos Lyra (1933-2023) , em 1963, a “Marcha da quarta-feira de cinzas”. O lirismo melancólico dos foliões a espera do próximo carnaval, que imperava na letra, depois serviu também como música de protesto contra a ditadura militar de 1964. Embora consagrada pela voz de Nara Leão, essa marcha-rancho foi gravada, inicialmente, por Jorge Goulart, em 1963, pela Copacabana.

MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Carlos Lyra e Vinícius de Moraes

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade…

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.

Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe…

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.

Na Noite dos Mascarados, uma saudade eterna dos velhos carnavais

Baile de Máscaras da Revista Elitte resgatará tradição em Lavras - Curta  Lavras - Uma cidade que dá certo

Quem é você, diga logo que eu quero saber o seu jogo…

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, escritor, poeta e compositor carioca Chico Buarque de Holanda, na letra de “Noite dos Mascarados”, descreve o encontro de duas pessoas no carnaval que procuram um grande amor. Essa marcha-rancho foi gravada no LP Chico Buarque de Holanda – Vol. 2, em 1966, pela RGE.

NOITE DOS MASCARADOS
Chico Buarque

– Quem é você?
– Adivinha, se gosta de mim!
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
– Quem é você, diga logo…
– Que eu quero saber o seu jogo…
– Que eu quero morrer no seu bloco…
– Que eu quero me arder no seu fogo.
– Eu sou seresteiro,
Poeta e cantor.
– O meu tempo inteiro
Só zombo do amor.
– Eu tenho um pandeiro.
– Só quero um violão.
– Eu nado em dinheiro.
– Não tenho um tostão.
– Fui porta-estandarte,
Não sei mais dançar.
– Eu, modéstia à parte,
Nasci pra sambar.
– Eu sou tão menina…
– Meu tempo passou…
– Eu sou Colombina!
– Eu sou Pierrô!
Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser! 

A velhice da porta-bandeira provoca um drama que só o desfile desfaz…

Ficheiro:Selminha Sorriso porta bandeira da Beija Flor.jpg ...

Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e poeta carioca Paulo César Francisco Pinheiro, na letra de “A velhice da porta-bandeira”, em parceria com Eduardo Gudin, registra que a vida partilha alegrias e tristezas enquanto o tempo passa e, nas escolas de samba, há sempre outra porta-bandeira a espreitar. Esse samba foi gravado no LP “O importante é que a nossa emoção sobreviva”, em 1974, pela Odeon, por Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiro e a cantora Márcia, alcançando repercussão nacional com o disco e os shows realizados por diversos estados.

A VELHICE DA PORTA-BANDEIRA
Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro

Ela renunciou
A Mangueira saiu, ela ficou
Era porta-bandeira
Desde a primeira vez
Por que terá sido isso que ela fez?

Não, ninguém saberá
Ela se demitiu, outra virá
Ninguém a viu chorando
Coisa tão singular
Quando a bandeira tremeu no ar

Ô… quando toda avenida sambou
O seu mundo desmoronou
Ela se emocionou
Perto dela ela ouviu, alguém gritou:
“Viva a porta-bandeira”,
“Sou eu”, ela pensou
Mas foi a outra quem se curvou
Ô… quando toda avenida sambou
O seu mundo desmoronou
Ô… quando a porta-bandeira passou
Quem viu
Ela se levantou e aplaudiu

Dois poemas de Paulo Peres que nos contam a História do Carnaval

Carnaval 2025: escolas de samba decidem por desfiles 10 minutos mais longos

A apoteose do carnaval está nas escolas de samba

Carlos Newton

O advogado, jornalista, analista judiciário aposentado do Tribunal de Justiça (RJ), compositor, letrista e poeta carioca Paulo Roberto Peres, nos poemas “Samba Na Escola e Zeca-José, fala de partes históricas do carnaval carioca.

SAMBA NA ESCOLA
Paulo Peres

Grandes sociedades, ranchos, blocos e cordões
Através da organização, tal realeza dos salões,…
Criaram as Escolas de samba no Rio de Janeiro.
Ópera do sonho-folia do carnaval brasileiro.

Deixa Falar, primeira escola fundada
No Estácio, local de bamba, abençoada
Pelo samba de afro-baiana origem
E tempero carioca, democratizou a imagem.

Na Praça Onze, casa da Tia Ciata,
O batuque, compasso 2/4, reuniu a nata
Da malandragem, hoje, sambistas geniais.

O surdo e o tamborim ritmaram os usuais
Instrumentos e cantos, tal marcação harmonia
Fez do samba uma escola desfilando poesia.

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ZECA-JOSÉ
Paulo Peres

Viva o Zé Pereira
Viva o carnaval
Batucada feiticeira
Na folia Imperial

Na memória do Brasil
Festas vindas de Portugal
Zé Pereira substituiu
O Entrudo inicial

A história transformou
Zé Pereira em José
Zeca então referendou
Seu destino (vai-e-tem)

Tal Zeca pedreiro
E José batuqueiro
Ele vai vivendo
E filhos nascendo

Tijolo em tijolo
Sonhando subir
O samba é o consolo
Pra vida curtir

Acorda o sentido
No passar repetido
Da escola de samba,
Brasileiro bamba

No trem é pingente
É Zeca pedreiro
No samba é expoente
É José batuqueiro

Vai fantasiado de fome
E de medo
Procura o seu nome
No meio do enredo

Na praça, um domingo que não existe mais, para o poeta Mauro Mota

Tribuna da Internet | Category | Paulo Peres | Page 7Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, jornalista, professor, memorialista, cronista, ensaísta e poeta pernambucano Mauro Ramos da Mota e Albuquerque (1911-1984) , membro da Academia Brasileira de Letras, tenta festejar na praça um domingo que não existe mais.  

DOMINGO NA PRAÇA
Mauro Mota

Na praça, este domingo
não é de hoje: é antigo.

O banco, o lago, a relva
para onde é que me levam?
Ai, dezembro de acácias,
esta praça não passa.

E essa gente depressa
(a moça e a bicicleta)
passa para deixar-se
um pouco nesta tarde.

Ai, dezembro de acácias,
este cheiro, esta música…
Sou, domingo na praça,
um momento o que fui.

O comportamento geral do brasileiro, no protesto de Gonzaguinha

Completam-se 30 anos, nesta quinta, da morte de Gonzaguinha em acidente -  Diário do Poder

Um abraço do Gonzagão no Gonzaguinha

Paulo Peres
Poemas & Canções

O economista, cantor e compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Junior (1945-1991) , mais conhecido como Gonzaguinha é, sem dúvida, um dos maiores talentos da Música Brasileira em seus diversos estilos populares. Sua obra teve, inicialmente, como característica sua postura de crítica à ditadura militar, conforme mostra a letra da música “Comportamento Geral”, gravada no LP Luiz Gonzaga Junior (Gonzaguinha), em 1973, pela Odeon.

COMPORTAMENTO GERAL
Gonzaguinha

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: “Muito obrigado”
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal

E um Fuscão no juízo final
Você merece, você merece

E diploma de bem comportado
Você merece, você merece

Esqueça que está desempregado
Você merece, você merece

Tudo vai bem, tudo legal

Quase todos os petistas e eleitores de Lula não sabem na verdade quem ele é…

Quem era o Lula preso em 1980

Lula foi preso em 1980 com intuito de se fortalecer como sindicalista

Paulo Peres

Não podemos esquecer que a quase totalidade dos petistas e dos eleitores do PT não sabem quem é o verdadeiro Lula da Silva, que é tido como um líder esquerdista. No entanto, aqui na Tribuna da Internet, nós conhecemos a verdadeira versão da trajetória do criador do PT, através desse artigo de Antonio Santos Aquino, que foi apagado dos arquivos de nosso Blog. Mas tomei o cuidado de fazer uma cópia, para que possamos republicá-lo.

Aquino é oficial da Marinha, ligado ao almirante-de-esquadra Júlio de Sá Bierrenbach. da ala legalista das Forças Armadas, que jamais aceitaram a ditadura militar.

Leiam esse relato histórico de um brasileiro de verdade. 

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LULA É UM PRODUTO CRIADO PELO REGIME MILITAR
Antonio Santos Aquino (Tribuna da Internet)

Poucos sabem que Luiz Inacio Lula da Silva é produto pronto e acabado da Revolução (golpe de 1964). Foi protegido desde que os irmãos Villares, empresários do ramo metalúrgico naval, o apresentaram como sindicalista confiável aos militares. Desde então foi protegido pelo general Golbery do Couto e Silva, ideólogo da Revolução de 1964.

Lula fez curso numa escola paga pelos americanos em 1963 em São Paulo, para formar líderes sindicais. Em 1972/73 foi para os Estados Unidos tomar aulas de “sindicalismo” na central sindical AFL-CIO e na Johns Hopkins University.

BRIZOLA DE VOLTA – Lula foi preparado para se contrapor a Leonel Brizola que voltava do exílio depois de 15 anos e ainda metia medo aos militares com a tal “República Sindicalista” que nunca existiu e nunca foi cogitada. Foi até um pretexto para o golpe planejado nos Estados Unidos em 1964 (isso é conhecido e provado).

Lula deve saber alguma coisa dos militares e muitas coisas pesadas de políticos, corrupção e crimes, inclusive.

Já ouvi falar nisso ao jogar “dama” com outros cascudos como eu, na Praça Cruz Vermelha, e que têm filhos que exercem funções de destaque no governo, inclusive oficiais das Forças Armadas. Não são daquela época, mas ouvem muitas coisas e relatam aos pais.

PERGUNTEM POR ELE – O que sei é que Lula é um líder fabricado para enfrentar Brizola e impedir a volta do trabalhismo, uma linha ideológica brasileira que nada tem de comunismo. Aliás, o próprio Lula e o PT também nem sabem o que significa comunismo. No partido, o que tem de pilantras e bandidos que comeram do fruto proibido e estão posando de vestais é impensável.

Perguntem quem é Lula ao José Sarney, ao filho de Tuma, ao ministro aposentado Almir Pazzianoto e ao representante da Volkswagen na Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores0, Mário Garneiro, a jornalistas e historiadores que escreveram livros sobre ele, como José Nêumanne, Marco Antonio Villa, Felipe Recondo e Ivo Patarra.

Há quem diga que Lula e o PT são comunistas, mas isso representa a maior ignorância. É coisa de analfabeto político.

A saudade eterna dos sambistas Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

NOSSA BRASILIDADE | » João Bosco canta “Minha Festa” de Nelson Cavaquinho e  Guilherme de Brito

Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho

Paulo Peres
Poemas & Canções

O pintor, escultor, cantor e compositor carioca Guilherme de Brito Bollhorst (1922-2006), na letra de “Quando Eu Me Chamar Saudade”, parceria com Nelson Cavaquinho, pede aos amigos que façam tudo quanto quiserem fazer por ele, somente enquanto estiver vivo. Este samba foi gravado por Nora Ney no LP “Tire Seu Sorriso Do Caminho, Que Eu Quero Passar Com A Minha Dor”, em 1972, pela Som Livre.

QUANDO EU ME CHAMAR SAUDADE
Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão

Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora

Me dê as flores em vida
O carinho
A mão amiga
Para aliviar meus ais
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais

Um auto-retrato que não se constrói, na poesia de Moacyr Félix

Folha Online - Ilustrada - Poeta Moacyr Félix de Oliveira morre aos 79 anos  no Rio - 26/10/2005

Félix traçou um instigante auto-retrato

Paulo Peres
Poemas & Canções

O editor, escritor e poeta carioca Moacyr Félix de Oliveira (1926-2005) mostra uma estranha aventura em seu poema “Auto-Retrato”.

AUTO-RETRATO
Moacyr Félix

Certa vez,
numa aventura estranha,
fugi do estreito túmulo
em que me estorcia
para uma ampliação sem fim.

Quando voltei
e senti, de novo, ferindo-me,
o peso dos grilhões,
então não mais sabia quem eu era.
E nunca mais soube quem eu sou.
Talvez a sombra triste
de um sonho de poeta.
Talvez a misteriosa alma
de uma estrela a guardar
ainda no profundo cerne
a ilógica saudade
de um passado astral.

Os vestígios da beleza, marcados na lembrança apaixonada de Bilac

Frases, Mensagens e Poesia on X: "15 Citações de Olavo Bilac: Reflexões  Sobre Amor, Vida e Educação https://t.co/APRTRbEu24  https://t.co/7Jd5AOc6tz" / XPaulo Peres
Poemas e Canções

Neste apaixonado soneto, o jornalista e poeta carioca Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918) vê em seu amor os “vestígios” daquela beleza outrora existente.

VESTÍGIOS
Olavo Bilac

Foram-te os anos consumindo aquela
Beleza outrora viva e hoje perdida…
Porém teu rosto de passada vida
Inda uns vestígios trêmulos revela.

Assim, dos rudes furacões batida,
Velha, exposta aos furores da procela,
Uma árvore de pé, serena e bela,
Inda se ostenta, na floresta erguida.

Raivoso o ,raio a lasca, e a estala, e a fende…
Racha-lhe o tronco anoso… Mas, em cima,
Verde folhagem triunfal se estende.

Mal segura no chão, vacila…Embora!
Inda os ninhos conserva e se reanima
Ao chilrear dos pássaros de outrora…

Os três “Reis Magros”, no soneto bem-humorado de Olegário Mariano

FCO-1192 - Retrato de Olegário Mariano | Obras | Portinari

Mariano, retratado por Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, político e poeta pernambucano Olegário Mariano Carneiro da Cunha (1889-1958), num soneto bem-humorado, afirma ter uma mulher amado “Os Três Reis Magros”, ou seja,   três peraltas, cada qual pior, na opinião do poeta, membro da Academia Brasileira de Letras .

OS TRÊS REIS MAGROS
Olegário Mariano

Amas a três peraltas. Dividida
tua alma é deles. Cada qual pior.
Andam-se engalfinhando toda a vida…
Gaspar e Baltasar e Melchior.

Este joga foot-ball. É um rei do sport,
difícil de levar-se de vencida.
Aquele tem uma barata Ford.
E o outro é um bate-calçadas da Avenida.

Isso é um nunca acabar! De luta em luta,
de mentira em mentira, esperta e astuta,
vais a vida levando…Mas bem vês:

tornas teus dias cada vez mais agros
e, dando o coração aos três reis magros,
ficas mais magra do que todos três.

Um mundo hostil para o negro, na poesia realista de Cruz e Sousa

Tribuna da Internet | Não há nada que domine e vença a alma romântica do  poeta, dizia Cruz e SousaPaulo Peres 
Poemas & Canções

O poeta João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, atual Florianópolis, tornou-se conhecido como o “cisne negro” de nosso Simbolismo, seu “arcanjo rebelde”, seu “esteta sofredor”, seu “divino mestre”. Procurou na arte a transfiguração da dor de viver e de enfrentar os duros problemas decorrentes da discriminação racial e social, características contidas no soneto “Vida Obscura”.

VIDA OBSCURA
Cruz e Sousa

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Uma parceria vencedora, na criatividade de Tom Jobim e Chico Buarque

Tom Jobim morria há 30 anos: o dia em que o Maracanãzinho fez compositor chorar - BBC News Brasil

Tom e Chico, vitoriosos no Festival

Paulo Peres
Poemas & Canções

Os compositores e amigos Tom Jobim (1927-1994) e  Chico Buarque de Holanda deixaram a sua genialidade invocar inspiração para fazer a letra de “Sabiá”, que fala sobre o amor à pátria e dialoga com a famosa “Canção do Exílio” (Gonçalves Dias), tanto que ambas apresentam palavras como “sabiá”, “palmeiras”, “noite”, “flor” etc.

Quanto à ideia principal, mostra a paixão que temos pela nossa terra e a vontade de voltar para ela, mesmo que já não seja mais como antes (o que é mostrado nos trechos: Vou deitar à sombra/ De um palmeira/ Que já não há/ Colher a flor/ Que já não dá).

Chico Buarque e Tom Jobim receberam uma vaia ao ganharem o III Festival da Canção com essa música. 1968. Isso porque a população, em plena ditadura, queria que a música “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” de Geraldo Vandré, (na qual é explícita a aversão à ditadura) fosse a vencedora.

A música “Sabiá” foi gravada pelo MPB 4 no LP III Festival Internacional da Canção Popular – Vol. III, em 1968, pela Philips.

SABIÁ
Tom Jobim e Chico Buarque

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor
Talvez possa espantar

As noites que eu não queira
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar

“Álibi”, a canção de Djavan sobre um amor que era mais que um desejo

Djavan traz 'Vesúvio' para o Recife, em maio - Folha PE

Djavan, grande nome da MPB

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e produtor musical alagoano Djavan Caetano Viana revela na letra de “Álibi” o ser apaixonado e não correspondido, tal como ele gostaria que fosse, inclusive, já não se sacia com força do beijo, mesmo que o sexo seja intenso, frequente e vadio.

A música tornou-se um dos maiores sucessos do cantor e faz parte do LP Djavan Ao Vivo, lançado em 1999, pela Epic/Sony Music.

ÁLIBI
Djavan

Havia mais que um desejo
A força do beijo
Por mais que vadia
Não sacia mais

Meus olhos lacrimejam teu corpo
Exposto à mentira do calor da ira
No afã de um desejo que não contraíra.
No amor, a tortura está por um triz
Mas gente atura e até se mostra feliz

Quando se tem o álibi
De ter nascido ávido
E convivido inválido
Mesmo sem ter havido, havido

Quando se tem o álibi
De ter nascido ávido
E convivido inválido
Mesmo sem ter havido, havido
Havia mais que um desejo

Receita poética de Hilda Hist para curar os ferimentos do tempo

Revista CULT - Hilda Hilst (1930 - 2004) | FacebookPaulo Peres
Poemas & Canções 

A ficcionista, dramaturga, cronista e poeta paulista Hilda Hilst (1930-2004) usa o poema “Penso Linhos e Unguentos”, para os ferimentos que o tempo produz no coração.

PENSO LINHOS E UNGUENTOS
Hilda Hilst

Penso linhos e unguentos
para o coração machucado de tempo.
Penso bilhas e pátios
Pela comoção de contemplá-los.
(E de te ver ali à luz da geometria de teus atos)

Penso-te
Pensando-me em agonia. E não estou.
Estou apenas densa
Recolhendo aroma, passo
O refulgente de ti que me restou.

O tempo é um fio bastante frágil, na poesia de Henriqueta Lisboa

www.antoniomiranda.com.br - Brasil Sempre - Poesia Henriqueta Lisboa

Henriqueta, retratada por Nássara

Paulo Peres
Poemas & Canções

A poeta mineira Henriqueta Lisboa (1901-1985), em 1963, foi a primeira mulher eleita membro da Academia Mineira de Letras. Em 1984, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Intelectual sensível, dedicou sua vida à poesia e sustentava que “O Tempo é Um Fio” e com bastante fragilidade  precisa ser sustentado e vivido.

O TEMPO É UM FIO
Henriqueta Lisboa

O tempo é um fio
bastante frágil
Um fio fino
que à toa escapa.

O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro
com gentileza.

Com mais empenho
franças espessas.
Malhas e redes
com mais astúcia.

O tempo é um fio
que vale muito.

Franças espessas
carregam frutos.
Malhas e redes
apanham peixes.

O tempo é um fio
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.

Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa.

Mas ainda é tempo!

Soltai os potros
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
voltai com o tempo
que já se foi!…

Vasculhando os escombros da alma, o poeta consegue a transformação

Tribuna da Internet | Bom de briga, o poema de Limongi vai em busca do afago do infinito

Limongi escreve poemas arrebatados

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, poetizou as transformações que acontecem sendo ele “Parceiro da Solidão”. 

PARCEIRO DA SOLIDÃO
Vicente Limongi Netto
 

Os escombros da alma
transformei em argila
para abrigar pássaros carente. 

O medo do coração
no corpo rude
transformei em silêncio noturno.           

O eco do desamor
transformei em lâminas floridas
E os trapos da imaginação
transformei em comovidos
gritos de pirilampos,
que ninguém consegue ouvi

“Fim de Caso”, uma canção de Dolores Duran que jamais será esquecida

Os 85 anos de Dolores Duran - Jornal GGN

Dolores foi namorada de João Donato

Paulo Peres
Poemas & Canções 

A pianista, cantora e compositora carioca Adiléa da Silva Rosa (1930-1959), conhecida como Dolores Duran, foi uma das maiores representantes do samba-canção, gênero musical onde prevaleciam a “fossa e a dor de cotovelo” nos anos 50 e 60. Uma de suas obras principais é o samba-canção “ Fim de Caso”, gravado por Dolores Duran, em 1959, pela Copacabana.

FIM DE CASO
Dolores Duran

Eu desconfio,
Que nosso caso está na hora de acabar.
Há um adeus em cada gesto, em cada olhar,
O que não temos é coragem de falar.

Nos já tivemos a nossa fase de carinho apaixonado
De fazer verso,
De viver sempre abraçados.
Naquela base do eu só vou se você for.

Mas de repente,
fomos ficando cada dia mais sozinhos.
Embora juntos,
cada qual tem seu caminho.
E já não temos nem vontade de brigar…

Tenho pensado,
E Deus permita que eu esteja errada.
Ah, eu estou.
Eu estou desconfiada
que o nosso caso está na hora de acabar…

Um poema bem-humorado de João Cabral  sobre como pontuar a vida

Bola de futebol... é um utensílio... João Cabral de Melo Neto - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), no poema “Questão de Pontuação”, afirma que o homem que pontuar a sua vida é aceito por todos, mas ele só discorda do ponto final.

QUESTÃO DE PONTUAÇÃO
João Cabral de Melo Neto

Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida: 
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);
viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia); 
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):
o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal: 
que use, na frase que ele vive, 
o inevitável ponto final.

O argumento de defesa de Bastos Tigre é politicamente incorreto hoje em dia

Tribuna da Internet | Bastos Tigre se defende da acusação de uma mulher que  ele teria difamadoPaulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, bibliotecário, humorista, jornalista, compositor e poeta pernambucano Manoel Bastos Tigre (1882-1957) no soneto “Argumento de Defesa” ao ser acusado de caluniar uma senhora, apresenta o seu melhor argumento de defesa, embora preconceituoso, ou seja,  ele sempre achou-a feia demais para não ser honesta.

ARGUMENTO DE DEFESA
Bastos Tigre

Disse alguém, por maldade ou por intriga,
que eu de Vossa Excelência mal dissera:
que tinha amantes, que era “fácil”, que era
da virtude doméstica, inimiga.

Maldito seja o cérebro que gera
infâmias tais que, em cólera, maldigo!
Se eu disser tal, que tenha por castigo
o beijo de uma sogra ou de outra fera!

Ponho a mão espalmada na consciência
e ela, senhora, impávida, protesta
contra essa intriga da maledicência!

Indague a amigos meus: qualquer atesta
que eu acho e sempre achei Vossa Excelência
feia demais para não ser honesta…