Em poucas linhas, Luiz Vieira cantou como ninguém um amor infindo

Show presta homenagem aos 90 anos de Luiz Vieira, que fez sucesso com  'Menino Passarinho' - Estadão

Luiz Vieira, grande compositor e cantor

Paulo Peres
Poemas & Canções

Em poucas linhas, a letra de “Paz do meu amor (Prelúdio nº 2)” é simples e genial, marcando de uma forma poética a conquista do amor infindo pelo radialista, cantor e compositor pernambucano Luiz Rattes Vieira Filho. Um dos maiores sucessos de Luiz Vieira, que ele próprio gravou, em 1963, pela Copacabana.

PAZ DO MEU AMOR (Prelúdio nº 2)
Luiz Vieira

Você é isso: Uma beleza imensa,
Toda recompensa de um amor sem fim.
Você é isso: Uma nuvem calma
No céu de minh’alma; é ternura em mim.

Você é isso: Estrela matutina,
Luz que descortina um mundo encantador.
Você é isso: É parto de ternura,
Lágrima que é pura, paz do meu amor.     

A extraordinária romaria de Renato Teixeira, que emocionou o país

RomariaPaulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paulista Renato Teixeira de Oliveira, um dos mais destacados cantores da música regionalista, na letra de “Romaria” expressa o desejo por dias melhores, de fartura, povoando a mente do fervoroso homem do campo, que com fé luta contra as adversidades de sua dura e solitária rotina. 

A música “Romaria” foi gravada por Elis Regina no LP Elis, em 1977, pela Philips, tornando-se rapidamente sucesso em todo o país.

ROMARIA
Renato Teixeira

E de sonho e de pó
O destino de um só
feito eu perdido em pensamentos
sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira ou jiló
dessa vida cumprida a só

Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Que ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida

O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
meus irmãos perderam-se na vida
a custa de aventuras
Descasei, joguei
investi, desisti
Se há sorte eu não sei nunca vi.

Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Que ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida

Me disseram porém
que eu viesse aqui
pra pedir em romaria e prece
Paz nos desaventos
Como não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar

Sou caipira pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Que ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida

Na tentativa de salvar o amor, um poema bélico de Oswald de Andrade

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral a bordo de um navio Foto: Crédito: Fundo Oswald de Andrade / Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio

Oswald com Tarsila do Amaral, a primeira musa

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, escritor, ensaísta, dramaturgo e poeta paulista José Oswald de Souza Andrade (1890-1954) foi um dos principais articuladores do movimento modernista literário e da célebre Semana de Arte Moderna, marco divisório na história das artes brasileiras, realizada em São Paulo, em 1922.

A rebeldia de Oswald o levava a querer muito mais do que simplesmente revolucionar forma e conteúdo da criação artística. O que ele queria mesmo era uma revolução que transformasse a vida social dos brasileiros, suas instituições e costumes.

Quanto ao amor, Oswald era considerado um sortudo, pois casou com duas das mulheres mais cobiçadas da época. Primeiro, com a pintora Tarsila do Amaral, e depois com Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu,  escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante comunista. 

ALERTA
Oswald de Andrade

Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira

Eles querem matar todo amor
Corromper o pólo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem do flanco, de lado
Por cima, por trás

Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade.

O emocionante poema de despedida que o genial Paulo Leminski nos legou

Nesta vida, pode-se aprender três... Paulo Leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) deixou um emocionante poema de despedida, bem no seu estilo, livre e inovador.

ADEUS
Paulo Leminski 

Adeus, coisas que nunca tive,
dívidas externas, vaidades terrenas,
lupas de detetive, adeus.
Adeus, plenitudes inesperadas,
sustos, ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus, que lá se vão meus ais.
Um dia, quem sabe, sejam seus,
como um dia foram dos meus pais.

Adeus, mamãe, adeus, papai, adeus,
adeus, meus filhos, quem sabe um dia
todos os filhos serão meus.
Adeus, mundo cruel, fábula de papel,
sopro de vento, torre de babel,
adeus, coisas ao léu, adeus.

Três coisas fundamentais desafiavam o poeta Paulo Mendes Campos

Paulo Mendes Campos - Sentimento do tempo - Blog do Castorp

Mendes Campos, um grande poeta 

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O jornalista, escritor e poeta mineiro Paulo Mendes Campos (1922-1991) faz reflexões poéticas sobre as três coisas que mais o incomodavam e desafiavam na vida, mas não consegue chegar a nenhuma conclusão.

TRÊS COISAS
Paulo Mendes Campos

Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido

Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?

Muito medo tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar

O tempo levanta o muro.
A morte será o escuro?
Em teu olhar me procuro.

“Volta! Vem viver outra vez ao meu lado”, pedia o genial Lupicínio Rodrigues

Lupicínio Rodrigues, um brinde ao homem dos nervos de aço - Tempo da  Delicadeza

Lupe, retratado por JBosco de O Liberal

Paulo Peres
Poemas & Canções

O compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Lupe, como era chamado desde pequeno, sempre foi um mestre no emprego do lugar-comum, tal qual ele capta nos versos de “Volta” o imenso vazio das noites que a saudade as torna insones. A música fez um sucesso estrondoso, gravada por muitos intérpretes, inclusive Gal Costa, no LP Índia, em 1973, pela Phonogram.

VOLTA
Lupicínio Rodrigues

Quantas noites não durmo
A rolar-me na cama,
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar
Quando ama.

O calor das cobertas
Não me aquece direito…
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito.

Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado!
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado…

O poeta Márcio Borges nos ensinou que os sonhos não envelhecem

Letrista, Márcio Borges, fala sobre sua composição na música 'Clube da  Esquina' de Milton Nascimento | Programão de Sábado | Rede Globo

Márcio Borges, um poeta portentoso

Paulo Peres
Poemas & Canções

O escritor, diretor do Museu do Clube da Esquina e poeta mineiro Márcio Hilton Fragoso Borges é, sem dúvida, um dos melhores letristas do nosso cancioneiro popular, criador da expressão “os sonhos não envelhecem”.

Na letra de “Clube da Esquina II”, feita com seu irmão Lô e Milton Nascimento, Márcio Borges fala de um tempo que não existe mais, de um tempo de lutas, de persistência, de não se render. Vale ressaltar que a letra casa bem com a luta pela sobrevivência do homem na sociedade com a luta contra os absurdos da ditadura militar, então, vigente no país desde 1964.

Além disso, é um canto de uma juventude que soube compreender seu tempo, seus medos, suas angústias e suas derrotas, mas não desistiu, é um Clube da Esquina, esquina de amigos que estavam tentando vencer na vida, assim como os amigos que tentavam vencer a ditadura, belo paralelo, pois acabou a ditadura, mas o Clube da Esquina, a luta e persistência para vencer na vida e na sociedade é algo sempre presente, por isso essa música será eterna.

A canção foi gravada por Milton & Lô Borges no LP Clube da Esquina, em 1972, pela Odeon.

CLUBE DA ESQUINA II
Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges

Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço…

Por que se chamava homem
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos…

E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio,
De tudo se faz canção
E o coração na curva de um rio, rio, rio…

E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio,
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente, gente.

A viola enluarada dos irmãos Valle jamais será esquecida

Jornal da Franca - “A MÚSICA E OS MÚSICOS” “SAMBA DE VERÃO” - Jornal da  Franca

Paulo Sérgio e Marcos, irmãos na arte

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, instrumentista, arranjador e compositor carioca Marcos Kostenbader Valle e seu irmão Paulo Sérgio retratam na letra de “Viola Enluarada” um protesto contra a ditadura militar, então, vigente no Brasil desde 1964. A música foi gravada por Marcos Valle no LP “Viola Enluarada”, em 1967, pela Odeon.

VIOLA ENLUARADA
Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra,
Mata o mundo, fere a terra.
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino,
Louva à morte.

Viola em noite enluarada
No sertão é como espada,
Esperança de vingança.
O mesmo pé que dança um samba
Se preciso vai à luta,
Capoeira.

Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Mão, violão, canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade,
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade, liberdade, liberdade…

Paixão e arte, sempre presentes na visão poética de Jorge de Lima

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O político, médico, pintor, tradutor, biógrafo, ensaísta, romancista e poeta alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953) explica no soneto “Paixão e Arte” que, para fazer arte, tem que ter paixão, e esta não existe sem o verso, porque ele é a arte do verbo.

PAIXÃO E ARTE
Jorge de Lima

Ter Arte é ter Paixão. Não há Paixão sem Verso…
O verso é a Arte do Verbo – o ritmo do som…
Existe em toda a parte, ao léu da Vida, asperso
E a Música o modula em gradações de tom…

Blasfemador, ardente, amoroso ou perverso
Quando a Paixão que o gera é Marília ou Manon…
Mas é sempre a Paixão que o faz vibrar diverso;
Se o inspira o Ódio é mau, se o gera o amor é bom…

Diz a História Sagrada e a Tradição nos fala
dum amor inocente (o mais alto destino):
A Paixão de Jesus, o perdão a Madalena.

Homem, faze do Verso o teu culto pagão
E canta a tua Dor e talha o alexandrino
A quem te acostumou a ter Arte e Paixão.

Atire a primeira pedra, parceria genial de Mário Lago e Ataulfo Alves

Cifra: Atire a primeira pedra (Ataulfo Alves e Mário Lago) | MúsicaBrasileira.Online

Ataulfo e Lago, amigos e parceiros

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, ator, radialista, poeta e letrista carioca Mário Lago (1911-2002) é autor de alguns clássicos da MPB, entre eles, “Atire a Primeira Pedra”, em parceria com Ataulfo Alves. A letra versa sobre o grande desejo de um homem de se reconciliar com a mulher amada, a despeito do que os demais e até a própria amada, pensem a respeito. O título faz referência às palavras de Jesus Cristo em João 8:7. O samba Atire a Primeira Pedra foi gravado por Orlando Silva, em 1943, pela Odeon.

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
Ataulfo Alves e Mário Lago

Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor

Eu sei que vão censurar meu proceder
Eu sei, mulher
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir            

A musa de olhos verdes que enfeitiçava Machado de Assis

Pin pagePaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Era também um grande poeta, que fazia versos altamente românticos, como em “Musa dos Olhos Verdes”.

 MUSA DOS OLHOS VERDES
 Machado de Assis                                          

Musa dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do ancião no extremo alento,
E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges
C’os fúlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;

Tu que fazes pulsar o seio às virgens;
Tu que às mães carinhosas
Enches o brando, tépido regaço
Com delicadas rosas;

Casta filha do céu, virgem formosa
Do eterno devaneio,
Sê minha amante, os beijos meus recebe,
Acolhe-me em teu seio!

Já cansada de encher lânguidas flores
Com as lágrimas frias,
A noite vê surgir do oriente a aurora
Dourando as serranias.

Asas batendo à luz que as trevas rompe,
Piam noturnas aves,
E a floresta interrompe alegremente
Os seus silêncios graves.

Dentro de mim, a noite escura e fria
Melancólica chora;
Rompe estas sombras que o meu ser povoam;
Musa, sê tu a aurora!

O sonho genial de Egberto Gismonti que o projetou pelo mundo

Egberto Gismonti - Wikipedia

Gismonti tem um estilo todo pessoal

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor musical, arranjador, instrumentista e compositor Egberto Amin Gismonti, natural de Carmo (RJ), na letra de “O Sonho”, viajou pelas maravilhas existentes no espaço até acordar para a realidade. A música foi gravada por Elis Regina no LP Elis – Como e Porque, em 1969, pela Philips. O sucesso foi tamanho que projetou Gismonti no exterior e ele fez carreira na Europa. 

O SONHO
Egberto Gismonti

Sinto que ora salto
Meu foguete some
Queimando espaço
Tudo vejo e abraço
A vaidade
Estou morando em pleno céu
Namorando o azul

Ando no espaço rouco
Meu foguete some
Deixando traços
Entre estrelas vejo
A liberdade
Fotografo todo céu
E revelo paz

Busco cores e imagens
Faltam pássaros e flores
Coração na mão
Corpo solto estou
Entre estrelas
Vou deitar neste luar
Indo de encontro ao riso
Do quarto minguante

E o sol queimando
A pele branca
Despertando, vejo a cama
E meu amor
Acordado estou
Choro, choro, choro….

Cecilia Meireles não plantava lembranças, porque traziam tristeza demais  

Não seja o de hoje. Não suspires por... Cecília Meireles - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Plantaremos Estes Arbustos”, diz que após alguns anos darão flor e fruto, mas não plantaremos jardins de amor, nem plantaremos lembranças porque, imediatamente, acarretam tristeza, saudade e lágrimas.

PLANTAREMOS ESTES ARBUSTOS
Cecília Meireles

Plantaremos estes arbustos
que darão flor apenas
daqui a três anos.

Plantaremos estas árvores
que darão fruto um dia,
mas só depois de dez anos.

Não plantaremos jardins de amor,
porque imediatamente
abrem tristeza e saudade.

Não plantaremos lembranças
porque estão desde já e para sempre
carregadas de lágrimas.

Com a simplicidade dos puros, assim a genial Cora Coralina enfrentava a vida

Cora Coralina: frases e fotos marcantes da poetisa brasileiraPaulo Peres
Poemas & Canções

A poeta Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1880-1985), nasceu em Goiás Velho. Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano, conforme o belo poema “Assim eu vejo a vida”, no qual aceitou as contradições como lições para aprender a viver.

ASSIM EU VEJO A VIDA
Cora Coralina

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa.
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria.

Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes.
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo.
Aprendi a viver.

O roteiro do tempo de Lya Luft é escrito junto com seu destino

Vou procurar um amor bom para mim - no... Lya Luft - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora aposentada, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft (1938-2021), no poema “Não Sou Areia” afirma que, junto com o seu destino, escreve o roteiro para o palco do seu tempo.

NÃO SOU AREIA
Lya Luft

Não sou areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
não sou apenas a pedra que rola
na marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.

Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério.

A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.

As profecias cibernéticas de Gilberto Gil, viajando pela internet em 1997

Gilberto Gil AoVivo - Pela Internet 21 Anos

Cartaz do show de Gil em 1997

Paulo Peres
Poemas & Canções

O grande compositor e cantor Gilberto Gil profetizou na música “Pela Internet”, composta em 1997, gravada no CD Quanta, pela WEA, o que seria o mundo cibernético hoje em dia, visto que a letra objetiva basicamente uma comunicação com o mundo, utilizando várias ferramentas que a cibernética dispõe para fazer a grande viagem na web.

Atualmente, isso pode parecer simples e banal, porém na época em que a música foi lançada, o conhecimento cibernético era uma verdadeira revolução.

PELA INTERNET
Gilberto Gil

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje …

Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante
Da infomaré
Que leve um oriki
Do meu velho orixá
Ao porto de um disquete
De um micro em Taipé…

Um barco que veleje
Nesse infomar
Que aproveite a vazante
Da infomaré
Que leve meu e-mail lá
Até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Aihê! Aihê! Aihê!…

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tiétes
De Connecticut
Eu quero tá na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tiétes
De Connecticut…

De Connecticut de acessar
O chefe da Mac
Milícia de Milão
Um hacker mafioso
Acaba de soltar
Um vírus prá atacar
Programas no Japão…

Eu quero entrar na rede
Prá contactar
Os lares do Nepal
Os bares do Gabão…

Que o chefe da polícia
Carioca, avisa
Pelo celular
Que lá na praça Onze
Tem um video-poquer
Para se jogar…

Jogar ah! ah! ah!…
Ah! ah! ah!
Jogar ah! ah!…
Connect show! Connect show!
Connect show! Connect show!
Connecticut, Connecticut
Connecticut…

Autodefinição poética de Décio Pignatari, sempre criativo e revolucionário

G1 - Poeta Décio Pignatari morre aos 85 anos em São Paulo - notícias em Pop & Arte

Pignatari, um poeta surpreendente

Paulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, ator, professor, tradutor, ensaísta e poeta paulista Décio Pignatari (1927-2012) autodefiniu-se nos versos de seu “Eupoema”.

Décio Pignatari<br/>Beba Coca-Cola, 1957 - Disciplina - Arte###
EUPOEMA

Décio Pignatari

O lugar onde eu nasci nasceu-me
num interstício de marfim,
entre a clareza do início
e a celeuma do fim.

Eu jamais soube ler: meu olhar
de errata a penas deslinda as feias
fauces dos grifos e se refrata:
onde se lê leia-se.

Eu não sou quem escreve,
mas sim o que escrevo:
Algures Alguém
são ecos do enlevo.

Na poesia de Dante Milano, o falso amor é tão forte que acaba sendo verdadeiro

FCO-1159 - Retrato de Dante Milano | Obras | Portinari

Milano, retratado pelo amigo Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Dante Milano (1899-1991), nasceu em Petrópolis (RJ), é um dos poetas representativos da terceira geração do Modernismo. Em “Poema do Falso Amor”, Milano mostra a diferença entre o falso e o verdadeiro amor, para questionar: Qual dos dois é o verdadeiro?

POEMA DO FALSO AMOR
Dante Milano

O falso amor imita o verdadeiro
Com tanta perfeição que a diferença
Existente entre o falso e o verdadeiro 
É nula. O falso amor é verdadeiro
E o verdadeiro falso. A diferença
Onde está? Qual dos dois é o verdadeiro?

Se o verdadeiro amor pode ser falso
E o falso ser o verdadeiro amor,
Isto faz crer que todo amor é falso
Ou crer que é verdadeiro todo amor.
Ó verdadeiro Amor, pensam que és falso!
Pensam que és verdadeiro, ó falso Amor!

A fuga da pomba asa branca, anunciando que a seca chegou no sertão

ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : RELEMBRANDO O COMPOSITOR HUMBERTO TEIXEIRA

Asa Branca foi gravada em 1947 por Gonzagão

Paulo Peres
Poemas & Canções

 O sanfoneiro, cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989), o popular Rei do Baião, compôs em parceria com o advogado, compositor e poeta cearense Humberto Cavalcanti Teixeira (1915-1979) a toada “Asa Branca”, um dos maiores clássicos da MPB, cuja letra traz uma visão romântica, poética e realista do cenário do Nordeste brasileiro.

A seca, que por ser muito intensa, obriga o seu povo a migrar, assim como as aves também, a exemplo da asa branca, que é um tipo de um pombo (columba picazuno) que quando bate asa do sertão anuncia a seca. 

Essa música foi composta em 1947, a seca castigava o sertão, fazendo aflorar o êxodo rural. Em 1947, Luiz Gonzaga gravou a toada “Asa branca”, pela RCA Victor, foi um de seus maiores sucessos e uma das músicas mais conhecidas e veneradas da música popular brasileira, regravada dezenas de vezes ao longo das décadas.

ASA BRANCA
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Um samba genial de Ismael Silva, baseado num pedido de Pixinguinha

IMMuB | Artista - Ismael Silva

Ismael Silva, a elegância do sambista

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor Ismael Silva (1905-1978), nascido em Niterói (RJ), para fazer a letra de “Antonico”, inspirou-se em uma carta de Pixinguinha para Mozart de Araújo, na qual o maestro pedia ao amigo um emprego para o sambista em dificuldade. O samba “Antonico” foi gravado por Alcides Gerardi, em 1950, pela Odeon.

ANTONICO
Ismael Silva

Ô Antonico
Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim

Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo bem feliz, se Deus quiser,
E agradeço pelo que você fizer