Romeu Zema, um desastre que, politicamente, fortalece Lula ainda mais

Zema demonstrou a mais absoluta insensatez em sua crítica

Pedro do Coutto

Ao criticar o Nordeste e defender uma união econômica entre o Sul e o Sudeste, o que inclui evidentemente Minas Gerais, o governador Romeu Zema cometeu um absurdo completo, uma falta de ética total, e terminou de forma indireta fortalecendo o presidente Lula ainda mais junto ao eleitorado, sobretudo na medida em que foi o Nordeste que nas urnas de outubro assegurou a vitória do atual presidente da República.

As reações contra Romeu Zema foram intensas, surgindo de todos os lados e deixando o governador numa situação entre o desastre e o ridículo de sua colocação. Na edição desta terça-feira de O Globo, Merval Pereira coloca muito bem a questão quando acentua que, para dizer o mínimo, Zema revelou uma visão distorcida da realidade brasileira. No final da tarde de segunda-feira, Natuza Nery na GloboNews havia focalizado amplamente o absurdo unindo também as opiniões de Fernando Gabeira e de Gérson Camarotti.

INSENSATEZ – Foi um acontecimento político totalmente negativo para o governador que teve um momento de absoluta insensatez, não medindo os reflexos de sua opinião e com isso distanciou-se de maneira definitiva do quadro de aspirantes à sucessão presidencial de 2026. Deixou o espaço aberto para Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que, sem dúvida, no panorama de hoje, é o mais cotado para enfrentar Lula da Silva, candidato natural à reeleição.

O Nordeste foi decisivo para a vitória em 2022 e torna-se novamente de importância estratégica para as eleições de daqui a três anos. Esse tempo passa rápido, mas na política acontecem mudanças inesperadas. A Folha de S. Paulo publicou reportagem sobre as declarações, incluindo comentários de João Gabriel e Igor Gielow.

O desastre do governador de Minas Gerais não podia ser maior. Colocou-o num plano menor no quadro geral da política brasileira e ampliou a força eleitoral de Lula, do PT e demais partidos que formaram a coligação vitoriosa nas urnas de outubro do ano passado. Os próprios correligionários de Romeu Zema ficaram imobilizados. Gol contra que ele marcou.

DREX  – Reportagem de Stefane Rigamonti, Folha de S. Paulo de ontem, destaca amplamente uma ideia que está surgindo no Banco Central de criar o real digital, com o nome de Drex, moeda eletrônica, uma etapa posterior a do Pix que permite transações no mercado financeiro. Na minha opinião não tem ligação efetiva com o processo de desenvolvimento econômico.

Teria, inclusive, uma de suas bases no mercado de criptomoedas, explica Fábio Araújo, autor do projeto original que o Bacen pretende lançar em 2024. Araújo, acentua a reportagem, explica as etapas e os degraus para que a moeda eletrônica chegue ao mercado. No fundo, penso, trata-se de um projeto voltado para fortalecer as aplicações financeiras, proporcionando a todos um acesso direto ao setor de capitais. Será uma ilusão? Ou um lance cujas consequências estarão restritas ao mercado financeiro?

PETRÓLEO – Os autores e interessados na exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, projeto já condenado pelo Ibama e pela ministra Marina Silva, retornaram à ofensiva e agora, revelam Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura, O Globo, estão tentando obter um parecer da Advocacia-Geral da União. Os interesses envolvidos são muito fortes, mas os reflexos políticos também, uma vez que novamente iniciativas como essa chocam-se com o meio ambiente.

Em caso de êxito, acarretaria a provável demissão da ministra Marina Silva, que defendeu e defende o veto do Ibama. O caso teria também reflexo internacional, uma vez que o meio ambiente está se tornando cada vez mais um ponto nevrálgico na visão de um grande número de países. O Brasil perderia pontos na escala internacional por colocar em risco o meio ambiente e a população amazônica.

Uma genial canção de Chico Buarque, que servia ao amor e também era protesto contra a ditadura

Blog do Mello: Domingo com Música. Chico e Milton, 'O que será, À For da Pele'

Chico gravou esta música em dueto com Milton

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, escritor, poeta e compositor carioca Chico Buarque de Hollanda, na música “O Que Será (À Flor da Pele)”, usou temas diferentes para fazer a letra. Na primeira estrofe, “O Que Será”, refere-se ao período da ditadura militar, então, vigente no Brasil, quando tudo era censurado e o governo tramava às escondidas formas de repressão ao povo. Enquanto que a segunda estrofe “O que será (À Flor da Pele)”, foi feita para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, razão pela qual fala de sexo, mas de forma sensível e romântica, ou seja, mostra o desejo e a necessidade do amor literalmente à flor da pele. A música foi gravada por Chico Buarque, cantada em dueto com Milton Nascimento, no Lp Meus Caros Amigos em 1976, pela Phonogram.

O QUE SERÁ (À Flor da Pele)
CHICO BUARQUE

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho…

O que será, que será?
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos…

Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido…

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Por que todos os risos vão desafiar
Por que todos os sinos irão repicar
Por que todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo…

II

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
E nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo      

Ao julgar os vândalos, o Supremo caminha para o maior erro judiciário de sua história

Senado fará exposição sobre os 100 dias da invasão aos Poderes | Metrópoles

Todos os manifestantes são acusados de serem “terroristas”

Carlos Newton

Na História da Humanidade, desde os primórdios da era em que os principais direitos passaram a ser respeitados, com o fabuloso Código de Hamurabi, no século XVIII a.C., é exigido que os operadores de direito e juízes tenham discernimento, razoabilidade, bom senso e prudência, para evitar erros judiciários que muitas vezes são mais graves do que o crime em análise e julgamento.

Bem, pode-se dizer que, 40 séculos depois, continua a haver a mesma preocupação com a ocorrência de erros judiciários, porque é preciso formar uma conscientização coletiva a respeito, para aperfeiçoar cada vez mais o sistema.

ATIVISMO DO JUDICIÁRIO – Este problema atinge a Humanidade como um todo, mas aqui no Brasil as ocorrências se tornam mais visíveis, devido ao chamado ativismo do Judiciário — leia-se: Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, que são faces da mesma moeda, e também a Procuradoria-Geral da República, que resolveu buscar seu lugar ao sol neste “deserto de homens e ideias” que o portentoso estadista Oswaldo Aranha identificou à primeira-vista.

Nesta segunda-feira, dia 7, a Procuradoria-Geral da República surpreendentemente pediu que 40 réus investigados pelos atos do 8 de janeiro sejam condenados a penas pesadas, de até 30 anos, sob argumento de que as punições deveriam ser “exemplares”.

Os réus são acusados de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência, e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. São cinco crimes da pesada, que poderiam ser condensados em um só — terrorismo.

SEM ATENUANTES – O mais absurdo e revoltante é que estão sendo julgados como iguais (todos tidos como “terroristas) réus que são absolutamente desiguais em tudo na vida — como sexo, formação, idade, profissão e antecedentes. É como se todos realmente fizessem parte de um grupo terrorista e tivessem se reunido, planejado, discutido e financiado os atentados, a serem cometidos em conjunto.

Caramba! Que investigação foi essa, que levou a tão errônea e antijurídica conclusão? O que pretendem o ministério público federal e o juiz de instrução Alexandre Torres, ao promoverem acusações tão pesadas?

Não encontraram nenhuma circunstância atenuante? Não perceberam que são apenas pessoas do povo, cidadãos iludidos por políticos mal intencionados e sem caráter? Não notaram que a imensa maioria não tem antecedentes criminais, jamais entraram numa delegacia. Porém, nos autos, todos são iguais e acusados dos mesmos crimes.

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P.S. 1 –
Em minha longa carreira de jornalista, jamais vi nada igual em nenhum país que se possa ser chamado de democrático. Acreditaria nesse tipo de Justiça em Cuba, na China, na Venezuela, na Guiné Ocidental, na Nicaraguá e em outros países falsamente democráticos. Mas no Brasil? Como aceitar que o Supremo caminhe para perpetrar um erro judiciário de tamanho primarismo?

P.S. 2A imprensa amestrada pode apoiar ou se calar. Mas aqui na Tribuna, sob o signo da liberdade, vamos protestar até o fim contra esse tipo de justiçamento coletivo, sem o devido direito de defesa, até porque a investigação do 08 de janeiro ainda está longe de ser concluída. E sem que se termine essa investigação, que está sendo propositadamente postergada, nenhum dos 1.390 réus denunciados pela Procuradoria-Geral da República pode ir a julgamento num país que se julgue democrático. (C.N.)

Não perca amanhã:

POR QUE NÃO CONCLUÍRAM A INVESTIGAÇÃO
SOBRE OS ATENTADOS DE 08 DE JANEIRO?

Consumo de drogas, uma ameaça social que também coloca armas nas mãos de bandidos

A questão cercada pela violência preocupa as famílias brasileiras

Pedro do Coutto

Um dos problemas mais graves, não só do Brasil, mas de uma série de países, é o consumo de drogas ilícitas que atinge a existência humana de forma terrível, abalando fortemente a saúde e colocando em risco a própria vida. Além disso, funciona para colocar armas nas mãos dos bandidos na luta que se prolonga pelos pontos de venda e de terror.

Na edição de O Globo desta segunda-feira, Demétrio Magnoli escreveu um bom artigo sobre a questão focalizando o tema em pauta no Supremo Tribunal Federal sobre a diferença entre o consumidor e o traficante.  A divisão merece ser levada em prática, sobretudo porque, no caso da maconha, se não for observado o limite sinuoso, jovens serão levados à prisão agravando um problema que já se apresenta como fortemente dramático. A questão preocupa bastante as famílias brasileiras já que os pontos, tão tóxicos quanto intoxicantes, são cada vez mais cercados pela violência.

FRONTEIRA – A decisão do Supremo Tribunal Federal fixando uma fronteira frágil entre o traficante e o consumidor, é claro, não resolverá o problema, mas de qualquer forma o reduz numa proporção, que embora pequena, é suficiente para respeitar a vontade de quem se vê levado ao entorpecimento de si próprio. A questão, entretanto, é mais ampla e difícil.

Veja-se o exemplo da substituição de malas que levaram duas brasileiras a uma terrível prisão na Alemanha por um transporte de cocaína em relação ao qual não tinham a menor dose de culpa. Sinal de que o torpe mercado está atingindo sofisticações que ameaçam a todos além dos consumidores que derrotam a si mesmos.

Acredito que somente uma campanha publicitária bem feita, como foi o caso da campanha contra o fumo, pode levar a um bom grau de êxito. O consumo de fumo baixou acentuadamente e o uso do cigarro passou a causar uma rejeição generalizada na população. Hoje não se admite fumar em restaurantes, em transportes públicos, em reuniões de todos os tipos. Sucesso semelhante pode ser atingido no combate ao consumo de drogas.

RESULTADOS –  Infelizmente, parcelas da juventude enveredaram por esse caminho. E os resultados são os que observamos hoje, com conflitos em áreas de operações dos bandidos, confrontos diários também com a polícia e milhares de vidas cortadas por balas que se consideram perdidas no espaço da tragédia. O problema no mercado de consumo de drogas é imenso.

A solução para tal descontrole é múltipla e complexa. Só uma publicidade massiva será capaz de reduzir substancialmente o mercado sinistro do impulso tão destrutivo quanto autodestrutivo que a rigor ameaça o próprio planeta.

CONTRATAÇÃO DE CRÉDITOS –  Reportagem de Vitor da Costa, O Globo, revela que empresas brasileiras, inclusive estatais, e o próprio governo do país, contrataram este ano créditos no montante de R$ US$ 5,8 bilhões no mercado internacional. Considerando-se, entretanto, a emissão de títulos do próprio governo em abril, o total até julho alcança US$ 8,1 bilhões.

Esse total, porém, é menor do que o volume contratado de 2019 a 2022,  durante o governo Jair Bolsonaro, quando as emissões de títulos em dólar superaram a escala de US$ 20 bilhões. Estão na lista das empresas que contrataram os créditos, a Vale, a Petrobras, a Braskem, a Azul, o Banco do Brasil, a Cosan e o próprio Tesouro Nacional.

O Tesouro Nacional, por exemplo, lançou papéis este ano de US$ 2,2 bilhões no mercado externo. Uma das razões, acredito, está nos juros menores em dólar do que a Selic em reais.  A comparação feita com a moeda americana dará uma diferença significativa porque os juros da Selic estão agora em 13,25% e os juros americanos em 5,5%. É fato também que a contratação de créditos externos estabelece o risco de câmbio.

Um poema de Gilberto Freyre que homenageia as velhas janelas do Recife e de Olinda

Gilberto Freyre: biografia e Casa-Grande & Senzala - Toda Matéria

Freyre, ligado na beleza das janelas dos velhos casarões

Paulo Peres
Poemas & Canções

O  sociólogo, antropólogo, historiador, pintor, escritor e poeta pernambucano Gilberto de Mello Freyre (1900-1987), além de se consagrar como um estudioso da história e da cultura brasileiras, também dedicou-se à poesia, conforme esta sua visão poética das “Velhas janelas do Recife e de Olinda”.

VELHAS JANELAS DO RECIFE E DE OLINDA
Gilberto Freyre

Velhas janelas do Recife e de Olinda
últimos olhos para as cidades que se transformam.

Da janela escancarada no nicho da Igreja do Livramento,
todas as noites desce sobre o bairro, sobre o Recife todo um
longo olhar de queixa; e outro olho de queixa é o do nicho
do Convento do Carmo, que às vezes também se escancara
e se ilumina.

Nas ruas napolitanas
do bairro de São José
com as roupas a secar
ainda se encntram antigas
janelas quadriculadas
os xadrezes dos postigos
que outrora amouriscavam
todo o Recife.

Em Olinda, na rua do Amparo,
existe o abalcoado levantino
que romantiza toda a rua, à noite.
Na varanda parece debruçar-se
doce figura de mulher que chama
o cauteloso amante em capa negra
para um encontro como nas estampas
do tempo de Romeu e Julieta.
Através do xadrez
dessas velhas janelas
as mulheres de outrora
de um saber quase árabe
gulosamente olhavam
o que ia lá fora.

Essas velhas janelas
tomavam ar de festa
apenas durante os
dias de procissão.
Botavam-lhe as sanefas
de damasco e de seda,
ou de veludo, orgulho
das arcas e baús
dessas casas fidalgas,
as mulheres então
olhavam nas varandas
ou ficavam de joelhos
sobre os abalcoados
benzendo-se e rezando
diante da procissão.

Imagens tristes de Nossos Senhores
e de Nossas Senhoras cujos olhos
eram de queixa e dor; santos, andores,
padres gordos de murças e de rendas;
frades com seus cordões, os irmãos de opas
e escapulários de variadas cores.

Ficavam na varanda
e no abalcoado, as mulheres
entre o pelo-sinal
e entre a rua e as sanefas.
Essas velhas janelas…

Se tribunais fossem julgados por seus atos, o STF jamais seria considerado “inocente”

Fux deixa presidência do STF com promessas não cumpridas - 10/09/2022 - Poder - Folha

Fux, o único ministro a votar contra “decisões políticas”

Carlos Newton

Quando o tempo assentar a poeira dessa época pateticamente conturbada, caberá aos historiadores e cientistas políticos analisar e julgar os marcantes episódios da condenação, prisão e soltura do presidente Lula da Silva, como líder do maior esquema de corrupção já investigado no mundo e que levou à prisão de oito presidentes latino-americanos e ao suicídio de um deles, o peruano Alan Garcia, que não aceitou ser preso.

Recorde-se que, enquanto a Operação Lava Jato atingia apenas políticos do PT e de partidos a ele ligados, o Supremo Tribunal Federal teve um comportamento linear, condenando os envolvidos, na forma da lei, conforme seria de se esperar. Até que as coisas começaram a mudar.

NOVA REALIDADE – A Justiça de primeira instância começou a pegar os políticos da elite, de grandes partidos, especialmente do PMDB e do PSDB, porque no Brasil e na América Latina a corrupção é contagiosa e não respeita opções partidárias ou ideológicas, cai tudo no mesmo saco.  

A partir daí, ouve uma mudança de comportamento dos ministros do Supremo, como se as três instâncias inferiores estivessem ultrapassando determinados limites que passavam imperceptíveis. E o quadro jurídico começou a se alterar, com as primeiras críticas ao rigor da Lava Jato.

Até que, em 7 de novembro de 2019, o plenário julgou uma condição jurídica já cristalizadas em todos os 193 países da ONU — a presunção de inocência. O nome de Lula da Silva nem era mencionado nas ações em pauta, mas era ele quem estava em julgamento.

DECISÃO APERTADA – O extemporâneo e estranho julgamento discutia se a execução da pena após a condenação em segunda instância violaria o princípio da presunção de inocência. Seis ministros votaram a favor dessa ultrapassada tese, enquanto apenas cinco defenderam o entendimento jurídico unânime de todos os demais países da ONU.

Para garantir a soltura de Lula, já condenado pelo STJ, o presidente Dias Toffoli, sem colocar o tema em julgamento, teve de determinar que a presunção de inocência só desapareceria após a quarta instância (STF), embora a maioria dos países do mundo tenha apenas três instâncias. E Lula foi solto.

Um ano e meio depois, em 15 de abril de 2021, mais uma inovação jurídica do Supremo, ao anular todas as condenações de Lula, a pretexto de terem sido julgadas numa Vara fora do local da prática dos crimes.

GRANDE SURPRESA – Apesar de se tratar de um contrassenso, pois em nenhum país do mundo existe “incompetência territorial absoluta’, oito ministros do Supremo votaram para anular as condenações de Lula, que foram decididas por unanimidade em três instâncias.  

A decisão era tão absurda que os ministros nem conseguiram definir qual seria a “competência” correta. Tiverem de marcar nova sessão, para decidir se os processos contra Lula seriam remetidos para a Justiça Federal do DF ou para a de São Paulo, vejam a que ponto chegamos, mas o que importava é que Lula poderia voltar à política.

Na sequência, em outro julgamento foi aprovada por oito a três a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, uma ação já inepta, devido à anulação das condenações de Lula, a alma mais honesta deste país, é bom lembrar.

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P. S.
1 Bem, depois que a porta da legalidade foi arrombada, outras decisões políticas passaram a ser adotadas, inclusive no TSE, com a cassação irregular do deputado Deltan Dallagnon, jogando na lata do lixo os 345 mil votos por ele recebidos, e a condenação de Jair Bolsonaro, por ter reunido embaixadores no Alvorada, após Edson Fachin ter feito o mesmo no TSE. Foi uma condenação apressada e desnecessária, porque Bolsonaro responde a processos bem mais sérios e procedentes, o TSE poderia ter esperado.

P. S. 2Por fim, historiadores e cientistas políticos, ao analisar essa etapa da Justiça brasileira, perceberão que no Supremo apenas um ministro votou contra todas essas decisões políticas. Foi Luiz Fux, que chegou a ponto de chamar atenção do plenário para o fato de Moro estar sendo condenado com base em provas inteiramente ilegais. Mas não adiantou nada. Fux ficou falando sozinho. (C.N.)

Orçamento deve ser de R$ 5,8 trilhões para 2024 e a dívida pública vai aumentar

Proposta orçamentária deve deixar de ser uma peça de ficção

Pedro do Coutto

O governo Lula da Silva tem prazo até o próximo dia 31 deste mês para enviar ao Congresso o projeto de orçamento federal para o exercício de 2024 que deve ser 3% maior do que o que se encontra em vigor este ano pois a lei estabelece o reajuste automático de acordo com a inflação do IBGE.

O importante para o projeto do ministro Fernando Haddad de déficit zero no próximo ano é que a proposta orçamentária deixe de ser uma peça de ficção como tem acontecido através do tempo e se enquadre numa realidade financeira mais rígida e efetiva. Não é tarefa fácil, inclusive porque todos devemos levar em conta que a população do país de um ano para outro reúne cerca de mais duas milhões de pessoas.

PAGAMENTO DE JUROS – Além disso, tornando a ficção uma realidade irremovível, basta dizer que o pagamento de juros agora de 13,25% ao ano, taxa Selic, para rolar a dívida interna de R$ 6 trilhões, não é considerado uma despesa no chamado desempenho primário das contas públicas. Assim, vamos considerar  que o esforço para pagar os juros da dívida é algo que atravessa o tempo como se ele não existisse e pesasse nos dispêndios públicos.

Com esse aspecto pouco comentado pelos especialistas na matéria econômica, devemos chegar todos à conclusão de que o ficcionismo vai permanecer, pois não existe a menor possibilidade de o Brasil poder liquidar R$ 6 trilhões resgatando os títulos do Tesouro corrigidos anualmente pela Selic. Assim permanecerá oculta a verdadeira realidade do orçamento por um artifício que pertence ao estoque acumulado pelo ministro Delfim Netto nos governos Costa e Silva e Garrastazu Médici.

Delfim era o czar absoluto das finanças e depois do governo Médici foi embaixador em Paris e se elegeu deputado federal. Representava as correntes conservadoras que lideravam a Fiesp. Não tinha interesse algum num processo de redistribuição de renda. Pelo contrário, defendeu a tese de que primeiro teria que se fazer crescer o bolo para depois dividir os pedaços. A população brasileira está aguardando até hoje o fatiamento. Foi o grande manipulador da realidade.

APRECIAÇÃO- O déficit primário, ou superávit, dependendo das contas, de qualquer forma não refletia e nem reflete a realidade econômica brasileira. E continuará assim, acredito que pelo menos por mais um ou dois séculos. Mas essa é outra questão.O fato é que os números orçamentários são muito bons de serem apreciados no papel ou nas telas dos computadores, pois existe um déficit social que vai muito além das escalas de qualquer orçamento.

O ponto máximo do déficit social acumulado está na fome diária de 30 milhões de homens e mulheres, na falta de saneamento, nos becos das favelas, nos esgotos a céu aberto, na falta de água potável e também na incerteza de milhões de famílias se vão ter ou não condições de se alimentar no dia seguinte.

REPETIÇÃO –  O Orçamento do país apresenta-se permanentemente incompleto. O que será elaborado agora pelo ministro Fernando Haddad vai inevitavelmente repetir o drama das peças anteriores. Estará essencialmente fora da realidade porque não acredito que na escala das contas públicas apareça a despesa decorrente dos juros que desabam sobre a sociedade, mas que não tem culpa alguma do déficit gigantesco produzido no tempo.

Como o país não possui recursos para sequer pagar os juros anuais, a saída vem sendo emitir mais títulos para lastreá-los e daí a importância para os bancos, para os fundos de investimento e para os fundos de pensão das estatais a taxa da Selic que remunera as detentores do capital e tributa de forma agora direta a população brasileira.  A reportagem sobre o tema é de Idiana Tomazelli e Thiago Resende, Folha de S. Paulo deste domingo.

STF se contradiz e aprova prisão imediata após segunda instância (em júri popular)

TRIBUNA DA INTERNET | Supremo tem muita culpa na esculhambação institucional que o Brasil suporta hoje

Charge do Tacho (Jornal Novo Hamburgo)

Carlos Newton

Não mais que de repente, diria Vinicius de Moraes, vem a furo mais uma contradição do Supremo Tribunal Federal, que na semana passada formou maioria para permitir que réus condenados em júri popular cumpram a pena após a decisão dos jurados. Notem que essa decisão acontece três anos e meio depois de o Supremo ter feito exatamente o contrário, ao proibir cumprimento de pena após condenação criminal em segunda instância, em decisão que determinou a libertação de Lula da Silva em novembro de 2019.

Como indagaria Machado de Assis, mudou o Natal, mudou o Supremo ou mudamos nós? Na verdade, na Justiça tudo está de cabeça para baixo, ou ponta cabeça, como dizem os paulistas. E reina a insegurança jurídica.

NÃO PODE ERRAR – Como é o último a julgar, o Supremo não pode nem deve errar. E foi um gravíssimo erro mudar a jurisprudência em 2019 para soltar Lula, porque em consequência também deixou em liberdade um número enorme de políticos, empresários, estelionatários, doleiros e pilantras de todo tipo, envolvidos em corrupção, improbidade, lavagem de dinheiro e outras ilegalidades.

Com isso, o Brasil se tornou o único dos 193 países da ONU que não prende criminosos após segunda instância. E o que é pior, só prende após quarta instância, que nem existe na maioria das nações, pois dispõem apenas de três instâncias

Para soltar Lula, os ministros tiveram de estender a impunidade até a quarta instância, porque o petista já estava condenado unanimemente na terceira instância, o Superior Tribunal de Justiça, e não teria direito à soltura.

SEM IRONIA… – Por favor, não argumentem que o resto do mundo está errado e só o Brasil está certo. Minha ironia não chega a tanto.

Agora, mesmo sem admitir ter cometido erro em 2019, o Supremo acaba de decidir o contrário, determinando que os réus têm de cumprir pena após condenação no Tribunal do Júri, para não espalhar pelas ruas criminosos de alta periculosidade. Nesta segunda-feira, os ministros vão decidir se validam a execução da pena caso a condenação seja igual ou superior a 15 anos, ou se ela pode acontecer independentemente do total da pena aplicada.

Seria uma bela oportunidade para o Supremo corrigir o erro de 2019 e não continuar envergonhando o Brasil perante as outras 192 nações que integram a ONU, mas os ministros estão mantendo a presunção de inocência até quarta instância, cujo codinome poderia ser impunidade das elites.

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P.S. –
Como esse instigante, intrigante e inquietante tema “erros do STF” só é tratado aqui na Tribuna, pois passa batido nos demais meios de comunicação, vamos voltar ao assunto amanhã.

Será uma homenagem ao único ministro do Supremo a votar contra todas as recentes “decisões políticas”, que reinterpretaram equivocamente leis, regras e jurisprudências adotadas no mundo inteiro, como a presunção de inocência e a incompetência territorial absoluta. Até amanhã. (C.N.)

Um Rolex por testemunha! Cid assegurou para Bolsonaro e para si um péssimo lugar na História

Charge de Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

Não há dúvida de que o episódio em que se envolveu o tenente-coronel Mauro Cid, tentando vender por US$ 60 mil um Rolex de platina e brilhantes recebido pelo ex-presidente Bolsonaro da Arábia Saudita, assegurou para o ex-ajudante de ordens e para o próprio governo que terminou em 2022 um péssimo lugar na história do Brasil. Creio até que quanto à forma significa um fato sem precedentes e que dificilmente encontrará repetições através dos próximos séculos.

A matéria obteve grande destaque nas edições deste sábado no O Globo,  na Folha de S.Paulo e no Estado de S.Paulo. Incrível. Como é possível que o tenente-coronel Mauro Cid pudesse articular a venda de uma doação internacional, incluindo a participação da assessora do governo passado Maria Farani Rodrigues ?

INTERMEDIAÇÃO – Segundo ela própria disse, por ser fluente em inglês, foi encarregada por Mauro Cid de viabilizar a venda no exterior. Não conseguiu. Motivos não devem ter faltado, mas a intenção ficou marcada e o destino do relógio foi o patrimônio nacional entregue depois de cobrança pública ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

O tenente-coronel Mauro Cid transformou-se em um personagem estranho na administração do país. Era encarregado por Bolsonaro de resolver os problemas. Mas também tomava iniciativas. Não se sabe se todas ordenadas por Bolsonaro ou se algumas partiam de sua própria imaginação, como acontece em casos palacianos e nas áreas de poder.

O caso do Rolex é de uma importância singular, sobretudo pela forma arquitetada que foi montada a tentativa de venda que fracassou, mas que atingiu Bolsonaro junto a uma parte de apoiadores. Os vândalos de 8 de janeiro, pelo menos uma parte deles, não podiam fazer ideia a que ponto chegaria a atuação e a desenvoltura do tenente-coronel Mauro Cid.

SEM PARALELO – O perfil do ex-ajudante de ordens fantasticamente indicado no crepúsculo de 2022 para comandar uma unidade militar em Brasília, não encontra paralelo na estrada do poder, não só pela ousadia criminosa, mas também pela desfaçatez que o levou a acionar a assessora Maria Farani Rodrigues, deixando claro que comportamentos semelhantes já haviam sido realizados.

O caso se reveste de várias faces, como num jogo de dados. Francamente, receber um presente oficial, não recolhê-lo ao patrimônio da União, o que acabou tendo de fazer, e tentar vendê-lo no mercado secundário é estarrecedor. O episódio Bolsonaro, Mauro Cid, Rolex, reveste-se de uma carga extremamente negativa e revela um comportamento social que não respeitava os limites da lei.

No O Globo, a reportagem é de Camila Turtelli, Lauriberto Pompeu e Eduardo Gonçalves. Na Folha de S. Paulo é de Thaís Augusto e Gabriel Vinhal. No Estado de S.Paulo, de Júlia Afonso e Gabriel de Sousa. O episódio também foi amplamente focalizado na noite de sexta-feira pela TV Globo e pela GloboNews.

COMPORTAMENTO  – A repercussão está sendo enorme e crescerá ainda mais, sobretudo porque inevitavelmente alcança o comportamento de um militar do Exército que não só sabia, mas mandava demais. Esse perigo envolve os que detém o poder.

Mauro Cid falsificou atestados de vacinas, manteve diálogos com outros militares investidos no projeto golpista contra a democracia e tentou em vão liberar jóias femininas. Mauro Cid atropelou tudo. Saiu da galeria dos robôs para tentar atuação própria nos fatos do Planalto e fora dele.

ARRANHÃO – Sem dúvida, o sentimento maior do Exército foi arranhado por um dos seus integrantes que se encontra preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes. Mauro Cid tinha também em seu poder uma cópia do projeto de decreto redigido pelo ex-ministro Anderson Torres voltado para uma intervenção na Justiça Eleitoral e no próprio Supremo Tribunal Federal, já que o presidente do TSE é o próprio ministro Alexandre de Moraes.

Jair Bolsonaro e Mauro Cid protagonizaram uma verdadeira tragicomédia na política brasileira e ficaram há poucos metros de uma tragédia gigantesca com as depredações de Brasília. Tenho a impressão de que seu tempo se esgotou, marcado pelos ponteiros de um Rolex luxuoso.

Vitória de Trump na eleição em 2024 pode significar a queda do império americano

Trump acompanha os protestos no Irã e alerta governo | O Popular

Trump é uma ameaça concreta ao regime democrático

Roberto Nascimento

A hipótese absurda da eleição de Donald Trump no ano que vem significará a queda do império americano. Denunciado três vezes, por tentativa de golpe de Estado, tentativa de cancelar as eleições e por estimular a invasão do Congresso, Trump ainda escondeu documentos secretos do Estado, num cômodo da mansão do ogro na Flórida.

Caso Trump derrote Biden em 2024, o juiz que prolatar a sentença da prisão dele correrá risco de vida, será boicotado de todas as formas. Acredito até que Trump invista contra mantenha a independência do Poder Judiciário.

ATAQUE AO JUDICIÁRIO – O entorno fascista de Trump, no Partido Republicano, já ensaia uma reforma do Judiciário ainda mais ampla do que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro eterno de Israel, conseguiu votar em primeiro turno.

Se tiver maioria no Parlamento, a reforma de Trump será avassaladora, permitindo a hegemonia do Executivo, sob as ordens do presidente. Na prática seria uma ditadura nos EUA, com o fim do mito da maior democracia mundial.

Essa política de tirar a independência do Judiciário vem sendo aplicada pela Nova Direita Mundial e também pela Esquerda Latina, além de Beijamim Netanyahu estar conseguindo em Israel, Erdogan na Turquia, Nicolas Maduro na Venezuela e Daniel Ortega na mesma toada, todos controlando o Judiciário.

CHAMAR DE SEU – Bolsonaro tentou controlar também, mas não obteve apoio do Congresso na tentativa de aumentar o número de ministros do STF, dos atuais 11 ministros para 16 ministros. Bolsonaro nomearia cinco ministros e controlaria o Supremo. Bolsonaro teria um Supremo para chamar de seu.

Pior seria para o Brasil se o golpe de estado, tentado em 12 dezembro de 2022 e em 8 de janeiro de 2023, tivesse obtido êxito. Além do Judiciário, o Congresso seria fechado e as prisões e torturas seriam uma prática corriqueira, sem direito ao habeas corpus. Os advogados, que insistissem, correriam sérios riscos de amargarem as prisões junto com seus clientes.

LEMBRANDO MUSSOLINI – Esses fatos escabrosos, de tentativa de massacrar o regime democrático de direito, trouxeram–me à lembrança uma frase de Benito Mussolini, o ditador italiano: ” Eu não inventei o Fascismo, apenas dei voz aos fascistas que estavam dormitando nas almas dos italianos”.

Aqui no Brasil, desde o Movimento Integralista, capitaneado por Plínio Salgado, há um expressivo contingente de brasileiros fascistas, que um certo senhor conseguiu trazer das cavernas e emergiu com toda a força, nas eleições de 2018 e permanece ativo, pela continuidade nas eleições de 2022.

Que ninguém pense que ficamos livres de nova tentativa de golpe de estado. A vigilância nunca foi tão necessária. É imperioso estar atento e forte.

Se for condenado, Trump não poderá ser candidato; uma questão moral de bom senso

Trump tentou  impedir a proclamação da vitória de Biden

Pedro do Coutto

Comentaristas da política americana têm levantado dúvidas se mesmo condenado pela Justiça (processos não faltam), o ex-presidente Donald Trump poderá concorrer às eleições de novembro de 2024 e ser eleito para um novo mandato na Casa Branca. Baseiam-se no fato de a Constituição dos Estados Unidos não prever a hipótese de tal impedimento.

Mas isso conduz a um universo interpretativo baseado num princípio moral de bom senso que impede que o homem que tentou fraudar as eleições de 2020 e impedir a proclamação da vitória de Joe Biden, possa novamente disputar a Presidência da República. Um absurdo completo que é facilmente identificado no princípio substantivo do bom senso e do direito comparado, pois se um criminoso comum é privado da liberdade, como proporcionar a um condenado incomum a liberdade de governar o país?

BOM SENSO – Não faz o menor sentido quando se pensa objetivamente sobre a atmosfera que envolveria a maior economia do planeta sob o comando de alguém que poderia encontrar-se recolhido à prisão. Direito, como disse há pouco, é uma questão de bom senso e que, naturalmente, fixa limites no comportamento humano. Não é possível, portanto, que um prisioneiro da Justiça encontre-se livre para dialogar – aqui vai apenas um exemplo – com presidentes de outros países. Como será possível um presidente prisioneiro encaminhar a mensagem anual ao Congresso do país?

Portanto, passando da hipótese não prevista na Constituição a que tal lacuna possa ser preenchida na prática, equivaleria, sem dúvida, a permitir a qualquer condenado judicialmente a ser candidato a algum cargo político. Não tem cabimento. Os leitores e as leitoras certamente já sentiram a atmosfera que seria gerada não só nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro, se Donald Trump, condenado e preso, concorresse pelo partido Republicano e vencesse as eleições.

A sua posição no partido Republicano é bastante sólida. Pesquisas apontam um índice de aceitação de 61%. Mas, mesmo na hipótese de vencer a convenção partidária, levaria para a campanha eleitoral uma divisão capaz de derrotá-lo no caminho das urnas. Há divisões no Partido Republicano que poderiam abrir uma dissidência nas eleições que ele, Trump, ambiciona.

ACUSAÇÃO – Mas não é apenas este o caso. A questão é que Trump é acusado de buscar na Geórgia – estado de Jimmy Carter, que já foi presidente dos Estados Unidos –  votos fraudados para levá-lo a conquistar esse colégio importante para o desfecho final das eleições. A mais grave acusação contra ele está na invasão do Capitólio e no esforço para impedir a diplomação do vencedor, Joe Biden. No episódio, é bom lembrar, morreram cinco pessoas e o ato causou um repúdio geral nos países democráticos, exceção do Brasil, de Jair Bolsonaro à época, cujas correntes repetiram a investidas dois anos depois em nosso país.

Por todos esses fatores, sou de opinião que nem tudo que não está escrito na Constituição e nas leis pode ser praticado. Não há dispositivos, tampouco poderia haver, destinados a impedir crimes de morte, de roubo, de peculato, de assaltos. Não está escrito, mas as penas existem. Logo, o impedimento está caracterizado pelo fato em si, não pelo texto legal que os impede. Se assim não fosse, as Constituições dos países seriam livros intermináveis, estabelecendo minuciosamente todas as impossibilidades que caracterizam as sociedades organizadas e civilizadas.

A candidatura de Donald Trump torna-se impossível, não apenas em face do que o Partido Republicano vier a decidir, mas sim em função do que a Suprema Corte inevitavelmente venha a resolver. Os conflitos humanos são de uma amplitude enorme, mas as suas soluções dentro da lei têm que ser decididas pelo Poder Judiciário. Não é porque a lei não impede isso ou aquilo que homens e mulheres possam se julgar imunes aos princípios morais e éticos que regem o relacionamento entre as pessoas e também o relacionamento entre o poder e a sociedade. Trump infringiu e ultrapassou os limites do impossível. Com isso, tornou a sua nova candidatura inviável.  

CRÉDITO ROTATIVO – Numa reportagem na edição desta sexta-feira do Estado de S. Paulo, Bianca Lima focaliza divergências entre os bancos e as lojas comerciais de varejo quanto às taxas cobradas (absurdas) pelo sistema bancário. Os cartões de crédito chegaram este ano a cobrar juros de 437% por 12 meses. Não há quem consiga pagar dívidas assim.

Os casos de inadimplência se multiplicam, abrangendo 74 milhões de homens e mulheres. O governo tenta mediar o assunto, mas nessa escala de juros qualquer acordo torna-se impossível. É perder tempo. Medidas executivas têm que ser colocadas em prática.

Ferreira Gullar avisava que determinadas coisas importantes não cabem em seu poema

Artes Depressão on Twitter: ""A arte existe porque a vida não basta"  Ferreira Gullar #ArtesDepressão #RIPGullar https://t.co/bvEUBUQG1H" /  TwitterPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico de arte, teatrólogo, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e poeta maranhense José Ribamar Ferreira, o famoso Ferreira Gullar (1930-2016), explica por que “Não Há Vagas” para os dramas diários.

NÃO HÁ VAGAS
Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia
de aço e carvão
nas oficinas escuras.
– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Na nuvem do Banco Central, Selic e inflação descem, mas juros reais sobem

Charge do Sinfrônio (humornanet.com)

Pedro do Coutto

O Banco Central reduziu de 13,75% para 13,25% os juros da taxa Selic que se mantinham elevados há praticamente três anos. O voto de desempate, surpreendentemente, foi de Roberto Campos Neto, que comandava a resistência a qualquer recuo da taxa. Tornou-se assim alvo do presidente Lula e do governo, pois se transformou num verdadeiro líder da oposição no universo monetário no país.

À primeira vista, a decisão foi recebida com alívio, um avanço para facilitar o acesso ao crédito tanto por parte das empresas que querem investir quanto da população que deseja consumir. Entretanto, examinando-se bem a questão, verifica-se que a influência da redução de 0,5% não alcançará efeito concreto na distensão de uma política de concentração de renda. Isso porque vamos comparar os números mais recentes entre a inflação e a Selic fixada pelo BC.

JUROS REAIS – Dentro da relatividade, constatamos que em 2021 para uma inflação de 10,6%, a Selic alcançou 13,75%. Logo, os juros reais estão em cerca de 3%. Em 2022, o IBGE estimou a inflação em 5,7%, e a Selic continuou em 13,75%. Os juros reais foram de 8% ao ano. Agora, na previsão para 2023, a inflação está calculada em 3,2%. A Selic passou para 13,25%. Portanto, os juros reais do mercado subiram e não desceram, atingindo dez pontos percentuais. Não há como negar esse resultado. Continua a ser ótimo para que o pequeno grupo de empresas e pessoas mantenham lucros elevados fomentando a política de concentração de renda.

A posição assumida por Campos Neto, elogiada por Fernando Haddad, é apenas uma cortina de fumaça para ocultar a verdadeira face da questão. Devemos observar paralelamente que o governo Lula não tocou em salários e a remuneração do trabalho humano. Pelo menos numa escala que não perca para o processo inflacionário é fator decisivo para o combate à fome, à insegurança alimentar e para o desenvolvimento social do país.

A compressão social era tão grande que se refletiu no número de 74 milhões de pessoas com dívidas vencidas a pagar. O governo teve que desencadear a operação “Desenrola” para aliviar uma situação que também inclui o risco de se eternizar, pois uma vez reabilitados no crédito, uma tendência inevitável será a de que uma parcela muito grande da população venha a contrair novas dívidas. A propaganda é intensa nesse sentido e os apelos são fortíssimos ao consumo e ao acesso aos cartões de crédito.

OFENSIVA – Os bancos mantêm a ofensiva da oferta dos cartões, não se incomodando muito com o cadastro das pessoas que possam contratá-los. O problema, assim, continua e a nuvem sobre o Bacen, a qual me refiro, assemelha-se às nuvens brancas do inverno que tornam o panorama de rara beleza em que permitem que o sol chegue suavemente nas praias, nas praças e nas ruas das cidades.  

A sensação do sol de inverno assemelha-se à da redução nominal dos juros da Selic, mas é preciso confrontar os juros da Selic com a inflação, uma vez que eles são feitos para remunerar credores e investidores dos títulos que lastreiam uma dívida interna de R$ 6 trilhões. A resolução do problema social brasileiro não avançou com a falsa diminuição dos juros cobrados. Ao contrário, representa um artifício conservador para transmitir uma sensação de falso avanço nas contas públicas.

ASPECTO POSITIVO – As reportagens foram amplamente publicadas na imprensa. Na Folha de S. Paulo, foi de Nathalia Garcia, no O Globo, de Renan Monteiro, e no Estado de S. Paulo, de Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues. Míriam Leitão em seu artigo no O Globo, focaliza bem o tema e destaca como um aspecto positivo a perspectiva de reduções seguidas de meio ponto percentual.

Cada meio ponto percentual, acentuo, equivale a uma redução de R$ 30 bilhões nas despesas do Tesouro com os juros da dívida. A projeção de juros até o final deste ano é observada também por Juliana Causin e João Sorima Neto, O Globo. A perspectiva é favorável, creio, inclusive, que seja a única possível. A força do mercado é muito grande e esse mercado, conforme já me referi, pode ser simbolizado na mão de um tigre.

ZAMBELLI – A deputada Carla Zambelli levou o hacker Walter Delgatti ao encontro do ex-presidente Jair Bolsonaro numa tentativa de fraudar as urnas das eleições de outubro e de preparar uma armadilha para o ministro Alexandre de Moraes. A Polícia Federal, diante das afirmações de Zambelli, quer ouvir novamente o ex-presidente da República.

No O Globo, a reportagem é de Paola Serra, Daniel Gullino, Eduardo Gonçalves e Daniel Saboya. Na Folha de S. Paulo, de Fábio Serapião. No Estado de S. Paulo, escreveram Pepita Ortega e Levi Teles.

ENCONTRO – Walter Delgatti, inclusive, diz ter se encontrado com Jair Bolsonaro no Palácio Alvorada, levado por Carla Zambelli. Delgatti é investigado por vazamento de dados da Lava Jato e outras atividades ilegais na internet. Não conseguiu penetrar nas urnas eletrônicas, principalmente porque elas não estão interligadas ao sistema eletrônico das redes sociais.

Estava tentando, sem conseguir, acessar dados pessoais do ministro Alexandre de Moraes. Como é possível, cabe a pergunta, o então presidente da República receber o hacker no Palácio Alvorada? Surgem novos caminhos que levam à invasão de Brasília e à tentativa de um golpe contra o presidente Lula.

Um dia melancólico na História do STF, com a posse do ministro Cristiano Zanin 

Lula e Janja cumprimentam Zanin em posse no STF

Nesta foto, faltou o sogro de Zanin, que não foi convidado

Carlos Newton

Desta vez, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, nem fez o discurso protocolar sobre a chegada do novo ministro, o advogado Cristiano Zanin, alçado à função pela amizade ao presidente Lula da Silva, que sem dúvida será eterno devedor desses dois magistrados. E trata-se de dívidas que jamais conseguem ser pagas.

Em 2019, foi o voto de Rosa Weber que tirou Lula da cadeia e colocou o Brasil na humilhante situação de ser o único membro da ONU que não prende condenados em segunda instância, algo somente concebível na Idade Média, quando criminosos de elite jamais cumpriam penas.

Quanto à dívida de Lula com Zanin, seria até pequena, porque na verdade seu maior advogado no Supremo foi o ministro Edson Fachin, que em 2021 interpretou às avessas a legislação e criou no Brasil a “incompetência territorial absoluta”, uma circunstância jurídica que não existe em nenhum outro país.

MUITOS ELOGIOS – Embora Cristiano Zanin não tenha o notório saber exigido, durante a solenidade de posse a presidente Rosa Webwe destacou a trajetória e experiência do novo integrante para ocupar a cadeira deixada pelo ministro aposentado Ricardo Lewandowski.

Para a magistrada, Zanin tem “cultura jurídica, preparo técnico e experiência”, que, segundo ela, enriquecerão o tribunal. Será mesmo?

O presidente Lula dizia estar muito feliz, o que compreensível, com a Justiça transformada em sucursal do Planalto. Mas a cerimônia foi tão deprimente que não houve discurso dos ministros e nem do novo integrante. Realmente, não se trata de uma data a ser lembrada.  

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P.S. –
Ah, Dr. Adaucto Lúcio Cardoso… Saudades dos tempos em que o Supremo representava o “crème de la crème”, como diziam os franceses. Mas isso é apenas um passado que talvez nem volte mais. E o mais triste de todos, barrado na festa, era o advogado Roberto Teixeira, aquele velho amigo de Lula, que lhe cedeu uma casa para morar nos tempos de dureza.

Zanin casou com a filha de Teixeira e foi acolhido no escritório dele. Recentemente, Zanin brigou com o sogro por causa da divisão dos honorário$$$ e abriu um escritório próprio. Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)

Lula ainda não tem um projeto de governo e nem um plano de metas

Charge do galvão Bertazzi (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Há mais de seis meses no Palácio do Planalto, o presidente Lula da Silva, cuja popularidade segue em boa escala, não tem ainda um projeto integrado de governo e muito menos um plano de metas através do qual possa cobrar os desempenhos de sua equipe, incluindo além dos ministérios, as principais empresas estatais.

Ontem mesmo, quarta-feira, em artigo no O Globo, Vera Magalhães destacou a pressão de Lula sobre a administração da Petrobras para que funcione alinhada com os interesses do país. Portanto, na visão da jornalista, Lula ainda não considera a Petrobras integrada com os seus objetivos econômicos e sociais.

REFLEXOS – Mais uma vez, entra em foco, a questão dos preços tanto do petróleo quanto de seus derivados como a gasolina, o óleo diesel e o gás de modo geral. Com a política de preços que vinha sendo adotada no governo Bolsonaro, a estatal alcançou grandes lucros e distribuiu muitos dividendos. Mas seus resultados não refletiram numa melhoria das condições de vida da população. Pode-se dizer que a Petrobras atuou como uma empresa privada voltada para o lucro e para a sua acumulação.

Na realidade ela é uma empresa estatal e, por isso, tem que se encontrar vinculada a uma política de governo. Caso contrário, não faria sentido ela ter a União como a sua principal acionista. A questão do petróleo sempre foi motivo de amplo debate e de pressões externas e internas. A criação da Petrobras em 1953 é um exemplo. Mas isso pertence ao passado.

No presente é indispensável que o presidente Lula da Silva consiga traçar uma política definida claramente para a Petrobras e para o país. O presidente da República toca em pontos isolados da administração e não consegue fechar uma rede de iniciativas decorrentes de seus próprios conceitos.

ATAQUES –  Há meses, por exemplo, ele atacou fortemente a privatização da Eletrobras, dizendo, inclusive, que o processo foi marcado por uma “bandidagem”. Afirmação gravíssima, atingindo a segunda maior estatal do país. Mas não houve sequência para o combate à bandidagem que o próprio presidente identificou.

O programa Bolsa-Família permanece, mas não vem à tona os seus principais resultados, talvez por consequência da falta de divulgação profissional e gratuita sobre o trabalho do governo. Na edição de ontem de O Globo, Sérgio Roxo destaca um aspecto importante que acentua uma falta de articulação.

São anúncios do presidente Lula que surpreendem ministros do seu próprio governo. Isso aconteceu em vários casos, incluindo o programa de incentivos para a aquisição de eletrodomésticos. Há também o caso de passagens aéreas a preços reduzidos, além do financiamento de automóveis populares, que de populares só têm o nome.

ANTECEDÊNCIA – Trata-se não apenas que ministros contestem as iniciativas, mas que sejam avisados com antecedência. Agora mesmo, ocorreu o caso da nomeação de Marcio Pochmann para o IBGE, episódio que o presidente da República diz ter avisado à ministra Simone Tebet. É possível que em alguns casos, consequência do acúmulo de trabalho e responsabilidade, Lula possa fazer alguma confusão sobre os assuntos, mas isso não elimina a existência de uma descoordenação bastante visível.

Jeniffer Gularte, O Globo, destaca que a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, reuniu-se com o ministro Alexandre Padilha e com Marcio Macedo, secretário-geral da Presidência, num esforço para se manter no posto para o qual foi nomeada no início do atual governo. A permanência de titulares de cargos importantes, entre eles o da Petrobras, não deve continuar sendo uma consequência de pressões políticas que surgem repentinamente de vários ângulos. Tem que ser resultado de uma política integral do próprio Poder Executivo.

PGR – O presidente Lula da Silva, pelas suas próprias declarações e o seu ângulo de visão, está procurando um novo procurador-geral da República.  O tema é objeto de excelente reportagem de Jeniffer Gularte, Marianna Muniz, Alice Cravo e Paola Serra, O Globo. Lula deixou claro que substituirá Augusto Aras no momento em que disse que fará um pente-fino nos nomes cotados.

Pretende ouvir, sustenta a reportagem, os ministros Flávio Dino, Jorge Messias, Alexandre Padilha e o líder no Senado, Jaques Wagner. Ele já conversou sobre o assunto com os ministros do Supremo Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. De fato, a substituição de Augusto Aras sempre pareceu inevitável, sobretudo em função dos atritos que manteve com o STF.

A lista tríplice parece estar ultrapassada no pensamento do presidente da República. Mas isso não impede que algum procurador bem aceito por seus pares não termine sendo indicado para o posto. Como se observa, há vacilações demais e decisões de menos no Palácio do Planalto.

COPA FEMININA –  Foi uma partida difícil a que a seleção brasileira enfrentou diante da Jamaica que conseguiu neutralizar os ataques da seleção dourada que precisava da vitória. O empate classificou a Jamaica. Mais uma Copa se foi, mas outras Copas virão.

É do futebol, é do esporte em geral. Na minha opinião faltou comando à treinadora da equipe, Pia Sundhage.

Na poesia de Flora Figueiredo, um amor abençoado pela oração “Ave Maria dos amantes”

Retrospectiva | Um poema de Flora Figueiredo - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

A tradutora, cronista e poeta paulista Flora Figueiredo, no poema “Reza”, suplica pela existência de um espaço em que o cotidiano do amor e suas contradições possam coexistir, abençoados por uma oração “Ave Maria dos amantes”.

REZA
Flora Figueiredo

Tem que haver um espaço pra nós dois
onde caibam nossos amores,
nossos temores,
nossos dilemas.

Tem que haver pra nós um tema
que fale de flores.
Tem que haver uma canção
de versos sofridos, amargos e doces.

Tem que haver uma oração
que fale de ciúme, de saudade, de perdão,
que abençoe os beijos
e os desejos retumbantes.

Para quando declinada ao fim do dia,
possa ser a Ave Maria dos amantes.

Se não fizer muita burrice, Tarcísio será favorito na eleição presidencial de 2026

Bolsonaro pede que Tarcísio empregue mãe de sua neta em cargo nos Estados  Unidos - Brasil 247

Tarcísio aprendeu a fazer política e sabe agradar Bolsonaro

Carlos Newton

Sob condições normais de temperatura e pressão, poder-se-ia dizer que as carreiras políticas de Carla Zambelli e Jair Bolsonaro estariam destruídas, devido à contratação do hacker Walter Delgatti Neto para invadir os computadores da Justiça Federal e do ministro Alexandre de Moraes. Mas não é assim que a banda toca no Brasil.

No caso da atrevida, inconsequente e irresponsável Carla Zambelli, por exemplo, se ela não for processada e condenada pelo Supremo Tribunal Federal, tendo a cassação do mandato como consequência, continuará a ser eleita indefinidamente. E o motivo é um só — a impressionante aversão que grande parte do eleitorado dedica ao petismo e a Lula.

POLARIZAÇÃO – Se Lula e Bolsonaro fossem mais jovens, fica claro que essa sinistra polarização tão cedo não iria acabar, mas o tempo não para, dizia Cazuza, e os dois principais líderes políticos do Brasil estão com prazo de validade quase vencido.

Por coincidência, ambos têm um passado de superação de graves problemas de saúde e estão com inevitáveis cirurgias a curto prazo — Lula, para conseguir andar normalmente, e Bolsonaro, para remendar a tela implantada na parede de seu abdome.

Apesar dos problemas de saúde, a vaidade fala mais alto e Lula já admite tentar a reeleição, caso se aguente em pé até 2026, mas Bolsonaro só pode se candidatar em 2030, caso não seja novamente condenado, e já terá 75 anos.

MAIS PROVÁVEL – O futuro a Deus pertence, como dizia Armando Falcão, um ex-deputado cearense que Roberto Marinho conseguiu emplacar na pasta da Justiça no governo Geisel. Assim, o mais provável é que Lula, cansado de guerra e quase chegando aos 81 anos, desista da reeleição em 2026.

Sem os dois na disputa, a disputa terá uma polarização mitigada, livre da radicalização de sempre. E a sucessão será novamente decidida pelos eleitores de centro, que em 2022 apoiaram o petista.

Se Lula não disputar a reeleição e seu governo Lula não conseguir um desempenho espetacular, o candidato a ser apoiado por Bolsonaro deve ganhar com facilidade, caso conquiste os votos do centro, porque o sentimento antipetista ainda será muito forte em 2026.

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P.S. –
Esses prognósticos pouco valem, são apenas indicadores de circunstâncias. Em tradução simultânea, porém, pode-se dizer que o governador paulista Tarcísio de Freitas só perde a sucessão de 2026 se der muita bobeira. Ele continua ligado a Bolsonaro, que tem filhos, mas nenhum deles é seu herdeiro político. Além disso, Tarcísio de Freitas tem espaço e jogo de cintura para conquistar os votos do centro e da chamada terceira via. Posso estar errado, é claro, mas… (C.N.)

É impossível evitar hackers, mas estamos convictos de que não conseguirão nos derrotar

Charges do Denny: • Hackers

Charge do Denny (Arquivo Google)

Carlos Newton

O político aposentado Paulo Maluf é um dos homens mais práticos que já surgiram no país. Certa vez, ao falar sobre violência sexual, fez o seguinte apelo aos criminosos: “Estupra, mas não mata!”. E a ex-prefeita Marta Suplicy, com sua experiência de “sexóloga” da TV Globo, foi mais longe ainda, ao sugerir: “Se o estupro é inevitável, relaxa e goza”.

Bem, lembrei essas declarações estúpidas na manhã desta terça-feira, dia 1º de agosto, quando o blog da Tribuna da Internet deu umas falhadas, voltando a exibir a assustadora advertência “Error 502 Bad Gateway”. Caramba! Uma semana depois de termos conseguido retornar à internet, com o entusiasmo de sempre, de súbito já aparece essa mensagem na telinha, sinalizando que tempos piores podem vir…

SEM ILUSÕES – É claro que não temos ilusões quando o assunto é a capacidade dos hackers. São verdadeiramente geniais e ainda não se conseguiu encontrar uma maneira de contê-los. Como todos sabem, se já conseguiram entrar até nos computadores do Pentágono, conforme admitiu o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o resto é moleza.

Sabemos que a Tribuna da Internet e qualquer outro portal, site ou blog está sujeito a invasões de toda sorte. Servidores gigantescos, como o UOL que nos hospeda, não tem como evitá-los.

Assim, estamos convivendo com hackers desde 2009, quando a Tribuna da Imprensa parou de circular e começamos a publicar com exclusividade as colunas de Helio Fernandes, Carlos Chagas, Sebastião Nery e outros destaques do jornalismo independente.

FORÇA TOTAL – Progressivamente, à proporção que fomos ganhando força e audiência, os ataques foram aumentando de intensidade. Atingiram força total em 2022, quando nos tiraram do ar por vários dias e destruíram nossos arquivos.

Para dificultar a busca, sumiram os títulos dos artigos e os textos foram corrompidos. Mesmo assim, o jornalista e desenvolvedor Marcelo Copelli, que nos apoia nessas crises, ainda conseguiu recompor parte deles, mas é um serviço penoso e demorado.

Para evitar problemas futuros, Copelli sugere que cada articulista da Tribuna passe a arquivar os próprios textos, para estar livre de novos ataques de hackers. Estamos conscientes de que jamais conseguirão nos tirar do ar definitivamente, porque sempre poderemos voltar em outra plataforma. E assim, entre tapas e beijos, continuaremos perseguindo essa utopia de manter um espaço verdadeiramente livre na web.

BALANÇO DE JULHO – Como sempre fazemos, vamos publicar o balanço das contribuições que nos permitem seguir nessa trilha, sob o signo da liberdade.

Primeiro, agradecemos os depósitos na Caixa Econômica Federal:

DIA  REGISTRO    OPERAÇÃO             VALOR
07    O71357        DP DIN LOT……….. 200,00
11    112337         CRED PIX…………… 100,00

Agora, as contribuições no Banco Itaú Unibanco:

03    PIX TRANSF JOSE FR………………. 100,00
03    PIX TRANSF PAULO R……………… 100,00
04    TED 001.3097.HENRIQUE A……. 150,00
06    PIX TRANSF ANTONIO…………….. 100,00
10    TBI 6695.02702-6…………………….. 50,00
10    TED 033.3885.JOAO A D G………. 50,00
14    PIX TRANSF ANTONIO………………. 50,00
14    TED 001.4416.MARIO ACRO…… 250,00
20    TED 001.5977.JOSE A P J………… 300,20
27    TBI 7028.28905-1DUBER……….. 178,00
31    TED 033.3591.ROBERTO S N….. 200,00

Por fim, no Bradesco:

11   TRANSF LUIZ C B PAIM ……………. 300,00

Assim, agradecendo muitíssimo aos amigos e amigas que compartilham conosco essa utopia de manter um espaço independente na internet, vamos em frente, sempre juntos. Se deixarem, é claro. (C.N.)  

Aumenta a pressão contra Campos Neto; se o Bacen não reduzir juros, a crise se aprofundará

Governo e lideranças da indústria pressionam pela queda de juros

Pedro do Coutto

Na reunião do Comitê de Política Monetária que foi iniciada ontem, terça-feira, e será concluída hoje, a pressão contra Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, elevou-se sensivelmente e, com isso, pode-se avaliar que se os juros da Selic não descerem, tal fato desencadeará uma crise de grandes proporções no setor monetário do governo com reflexo inevitável no país.

A atmosfera tornou-se mais densa e tanto ministros do governo quanto lideranças do setor industrial passaram a pressionar pela queda de juros da Selic. Isso porque os juros altos demais desviam recursos de investimentos econômicos para aplicações financeiras cujos reflexos não incidem sobre o mercado de empregos e, portanto, sobre o consumo, restringindo-se à concentração de renda cada vez maior pelos aplicadores de capital.

LUCROS MAIS FÁCEIS  – Os juros altos atraem recursos financeiros que buscam, como é sabido, lucros mais fáceis, mais elevados e com risco zero. A pressão se concentrou e ao meu ver é difícil a posição de Campos Neto. Se os juros forem reduzidos, por menor que seja a parcela, significará uma perda política de pontos para o presidente do Bacen. E se os juros não descerem, neste caso então as consequências econômicas e monetárias irão se tornar explosivas.

Reportagem da Folha de S. Paulo, do O Globo e do Estado de S. Paulo, destacam que haverá um recuo que pode variar entre 0,25% a 0,5%. Meio por cento significará por mês uma diminuição de R$ 30 bilhões nos juros pagos pela rolagem da dívida interna que é, como se tem divulgado, da ordem de R$ 6 trilhões. É só projetar 13,75% sobre R$ 6 trilhões. Amanhã, diante da decisão, vamos observar os resultados e reflexos. De qualquer forma, porém, Roberto Campos Neto perdeu espaço.

INQUÉRITO –  É um verdadeiro absurdo a conclusão do Inquérito Policial Militar sobre a depredação de Brasília no dia 8 de janeiro atribuindo responsabilidade ao governo Lula por não ter previsto e combatido as ações selvagens, mais até do que a própria invasão de bárbaros contra o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

É estranho que num episódio de extrema gravidade seja atribuída uma dose maior de culpa à não identificação do movimento do que ao próprio movimento do vandalismo.  Quer dizer, alguém é culpado por não ter reagido e mais culpado do que os próprios agressores.

Uma coisa não elimina a outra. Além disso, analisando-se logicamente o episódio verifica-se que o grau de culpa e intenção destrutiva partiu de uma invasão organizada e financiada como revela o inquérito do STF. A deputada Grace Hoffmann, presidente do PT, e o diretor-geral da Polícia federal, Andrey Rodrigues, contestaram as conclusões do IPM, cujo objetivo – fica nítido – é evitar que uma parcela de culpa se desloque sobre a área militar sediada em Brasília. Na Folha de S.Paulo a reportagem é de Thaíssa Oliveira e também de Flávio Ferreira. No O Globo, de Nicolas Iory.

A beleza agreste de uma menina do interior, inspirando Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

TRIBUNA DA INTERNET | No tempo em que Carlos Fernando era menino e brincava  tangendo carneiros no sertão

Carlos Fernando, compositor pernambucano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor, compositor e cantor pernambucano Carlos Fernando (1938-2013), na letra de “Beleza do Agreste”, celebra os encantos de uma menina do interior do Nordeste. Essa música faz parte do CD Raízes e Frutos lançado por Geraldo Azevedo, em 1998, pela BMG.

BELEZA AGRESTE
Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

Sempre bonita
Sempre cantando
Sempre na dela
Essa menina vai ficando
Sempre sorrindo
Sempre chorando
Sempre naquela
Essa menina vai levando

Nos corações
Na onda azul
Dos carnavais
À flor da pele
Os impulsos naturais
A olho nu
Vertentes
Claras tropicais
Fluindo a vida
Banhando o mundo
Vasto mundo
Seu Raimundo
O poeta já falou

Valença
Gema de ovo
Branco leite
De uma vaca cor de rosa
Qualquer dia mamarei
Beleza agreste
Cheirinho gostoso de fazenda
O aveloz do pé da serra
Tem a cor do seu olhar

Tem a cor do teu viver
Tem a cor do teu cantar
Tem a cor do mestre Rina
Numa noite de luar
A cor do teu sofrer
A cor do teu penar
Tem a cor de Ringo e Lennon
Num galope à beira mar